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terça-feira, 14 de junho de 2016

A história de Cacau



Há mais de três anos, desde que passou o luto por minha avó, eu não atualizava este blog. Por diversos motivos, que ainda explicitarei. Mas sobretudo por estar a esperar por algo de realmente bom para escrever.

Há alguns meses atualizei meus perfis incluindo a descrição "noachide operária de 'tikkun olam' e um pseudo projeto de 'boddisattva'." "Tikkun Olam" se traduz por "retificação do mundo". E mais do que ganhar dinheiro , ter sucesso ou "felicidade" isso é o que sempre tive como objetivo principal a atingir em minha vida. E é a respeito de uma pequena contribuição neste sentido que escrevo agora.


No começo deste 2016 na atribuição de aulas escolhi, além de minha escola sede, voltar a dar aulas numa escola que eu já conhecia de anos anteriores, situada num distrito afastado 6 kms da cidade, chamado Assistência, entre Rio Claro e Piracicaba. Tivera boas experiências lá na outra vez. 

Começando a dar aulas, vi que a escola alimentava com restos de merenda a uma cachorrinha, branca com manchas marrons. Como sempre tive e gosto de cachorros, peguei simpatia por ela, e aos poucos a fui observando. Dois meses depois de iniciadas as aulas, outra cachorrinha, pretinha, com gravidez a termo, meio que "invadiu" a escola, e pariu na sala de informática. Em alguns dias o Canil Municipal, pressionado, a buscou com seus filhotes.

Ouvi conversas aqui e ali que a outra, branquinha, precisava ir embora antes que aparecesse grávida. Um aluno disse que de final de semana ela ia pedir comida no bar, e às vezes apanhava dos bêbados do boteco. Isso cortou meu coração. E passei a observá-la mais de perto.

Ela sempre ficava ao lado da inspetora. Comecei a cogitar abrigá-la para ser castrada. Perguntei a esta inspetora, Bete, se a cachorrinha tinha nome. Disse que a chamava de "Maria Encrenca". Não era um bom nome. Tirei uma foto e publiquei num grupo do Facebook perguntando como poderia castrar uma cachorra de rua gratuitamente.

Me indicaram o centro de Zoonoses de RC, liguei e me deram seis meses de prazo. Me casdastrei, pensando se em seis meses a cachorrinha ainda estaria na escola.

Foi então que um grupo de protetoras de animais, que nunca me viram pessoalmente até agora, se dispuseram a pagar pela castração da cachorrinha, se eu me dispusesse a lhe dar abrigo, "lar temporário", no jargão dos protetores. Morando sozinha num apartamento de dois quartos, topei. Era uma sexta-feira.

Na segunda, alto outono, trouxe a cachorrinha pra minha casa e lhe escolhi um nome que acreditei não só lhe cabia como lhe traria bons augúrios: Cacau, pois era branca e marrom, como um bombom de chocolate branco, e igualmente doce. No mesmo dia, horas depois, Rio Claro teve uma enorme tempestade. Na mesma semana levei Cacau para castrar, mas descobrimos que já  era castrada, então as protetoras da AICA de RC trocaram o pagamento da castração pela vacina V10, que tem duas doses.

Compartilhei, e comigo diversas pessoas, a foto da Cacau para adoção, e apareceu uma família interessada, levei Cacau até a casa deles de carro, pois queria me certificar das condições e com quais pessoas ficaria. Era um casal com duas crianças, uma delas bebê, numa casa de classe média baixa. Senti firmeza e lá deixei Cacau com o compromisso de ir buscá-la se qualquer coisa desse errado.

Fiquei feliz, segura que Cacau  estava em seu lar definitivo e até compartilhei pros meus amigos a notícia de que Cacau tinha tido um final feliz. Porém, uma semana depois, me mandaram ir buscá-la alegando que ela não tinha se dado bem com a filha menor do casal. A busquei em menos de 24 horas, de volta ao meu apartamento.

Já sabia a essa altura que Cacau era inteligente e de boa índole. E que estava disposta a fazer todo o possível para se agarrar a esta chance que lhe estava dando, de ser uma "cachorrinha de família ", e não mais uma cachorra de rua, à mercê das maldades dos bêbados. A cada momento percebi que Cacau estava bem disposta, a dar o seu melhor, a aprender, evoluir, mesmo com o choque de do nada deixar de ser uma cachorra de rua e virar uma cachorra de apartamento.

Não roeu nada. Nada destruiu ou sujou a toa. Não se entendeu muito bem com Amy, e pôr isso não pensei em mantê-la. Mas sempre por culpa da Amy, que a pentelhava e enchia o saco. Cacau nunca foi de sua parte agressiva ou hostil com minha Amy. Mas amizade entre elas não ia rolar.

Depois de sua primeira devolução, decidi divulgá-la aos meus alunos, imprimi um cartaz e passei em uma sala. Falei dela em outras. Alguns alunos se interessaram. Lhes dei meu telefone. Dois dias depois veio um aluno, feliz e sorridente:

- Professora, falei com meus pais, e eles concordaram em ficar com a Cacau!

Combinamos certinho, ele me passou o endereço, e fui lá entregar Cacau num sábado de manhã. Dei os mesmos alertas que à família anterior, que a buscaria se houvesse qualquer probelma. Era uma casa um tanto menos favorecida materialmente que a anterior. Na segunda-feira seguinte seria a segunda dose da vacina v10 da Cacau e deixei combinado de ir buscá-la. Qualquer problema já a devolveriam.

Qual não foi minha surpresa, ao chegar e perguntar à mãe do aluno, e ela muito mais receptiva, dizer que a Cacau era ótima, muito dócil, estava dando tudo certo. Só me pediu se poderia comprar uma casinha, pois não tinha condições. Comprei a casinha, levei pra vacinar, comprei coleira com medalhinha de identificação com o telefone celular dela.

A fui decolver quando o aluno, Davi, estava chegando da escola. Ele literalmente deu alguns pulos de alegria quando me viu tirar do porta malas do meu Uno Mille a casinha da Cacau. Grande, de compensado de TetraPak. Mas o suficiente para ela se esquentar. Adicionei um colchonete que já usava no meu apartamento, que coube perfeitamente dentro da casinha.

Há um mês "Maria Encrenca" estava na rua, passando frio e fome, sendo agredida por bêbados. Hoje, Cacau está vacinada, vermifugada e medicada, em uma casinha quentinha e fofa, cuidada por uma família, e especialmente por um menino de onze anos chamado Davi. E o fato de que eu de alguma forma propiciei que todo esse bem acontecesse a Cacau me traz profunda alegria e a sensação de que vim ao mundo para fazer coisas deste tipo, e que mais coisas assim quero fazer. É este tipo de história que quero contar a respeito de minha vida e de minha presença neste mundo. Espero que Deus me ajude a ter muitas mais histórias como essa para contar.






sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Brasil é um país cheio de boas intenções

Nascer no Brasil é uma verdadeira bênção, constantemente pouco reconhecida. Não é à toa q inúmeros estrangeiros escolhem aqui morar. Clima tropical, solo fértil, povo acolhedor, oportunidades múltiplas. Seguramente nem tudo é bom, como exemplos: a corrupção, péssimos serviços públicos, pobreza, criminalidade.

Creio q grande parte dos problemas brasileiros são resultado de um descompasso, uma falta de sintonia, entre a "alta cultura" dos eruditos e a "cultura popular" da "plebe", algo profundamente marcado pelas questões étnico-raciais entre "brancos" e "negros".

Tanto "brancos" como "negros" entre aspas pois os "brancos" muitas vezes não são propriamente brancos, mas o querem ser, e os "negros" muitas vezes não se vêm como negros, devido à grande miscigenação e racismo não-declarado; preferindo ver-se como "semi-brancos". Inúmeras vezes me vi diante de pessoas claramente negras q se declaravam brancas, e se ofendiam se alguém lhes dissesse q não eram brancas.

Como dizia um professor meu, "nos EUA uma gota de sangue negro faz de alguém aparentemente branco um negro. No Brasil, uma gota de sangue branco faz de alguém aparentemente negro um branco."

A elite branca brasileira parece posicionar-se sócio-culturalmente como se estivesse numa "missão civilizatória" visando "melhorar, instruir, ou educar" a "plebe inculta e mestiça". E isso pode ser demonstrado por esta elite tentar "iluminar o povo com a alta cultura (européia, é claro)". Neste texto explorarei 2 exemplos disto: nosso hino nacional e nossos parâmetros curriculares federais.

Numa avaliação internacional feita por músicos e maestros, o Hino Nacional Brasileiro foi eleito como o segundo mais belo do mundo, atrás apenas de "La Marseillaise", o célebre hino francês. Seguramente é belíssimo nosso hino. Porém, tem um "pequeno" problema: poucos brasileiros o sabem cantar.

Este hino é cheio de palavras belíssimas, como plácido, fúlgido, impávido, clave, flâmula, brado etcs. Termos eruditos completamente estranhos ao "povão". Sua melodia é riquíssima, mas não reflete nenhum ritmo brasileiro, popular. Não há nada em nosso hino nacional q faça "o povo brasileiro" se identificar com ele. O hino não foi feito pelo povo, nem para o povo. Mas sim pela elite, para a elite.

Muitos acham q o povo brasileiro não conhece nem canta o hino por falta de patriotismo. Creio q o problema é outro. O povo não o canta pois não se reconhece nele, não sente q este hino seja verdadeiramente "nacional", mas apenas representa aquela parcela "branca, educada, elitista" da população. Há um claro descompasso entre as aspirações, o folclore, a lírica e a musicalidade populares, em relação às representações "oficiais" da cultura brasileira. O hino não atende ao povo, por isso ele o rejeita.

Outra demonstração clara do desencontro entre as intenções da elite e as aspirações do povo são os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação pública. Sou professora de História e usarei esta disciplina como exemplo.

O Currículo educacional brasileiro é tão maravilhoso quanto nosso hino. Muito bem-estudado, elaboradíssimo, abarca todo o conhecimento da História Universal, do ponto de vista europeu. Lendo-o me perguntei: "provavelmente quem escreveu isso é PhD em Coimbra, Oxford ou Harvard". E produziu parâmetros visando colocar os alunos brasileiros em condições de disputar vagas nestas instituições.

De acordo com estes parâmetros, eu deveria formar alunos na oitava série, com 14 anos, na posse de todo o conhecimento da História Universal, desde a pré-História até o fim da Guerra Fria. Q maravilha! Quem lê este documento ACHA q isto é posto em prática, transformado em realidade. Vã ilusão.

Os alunos estão "se lixando" para a Grécia, Roma, o Feudalismo, a Revolução Francesa. Nada disso faz parte do seu cotidiano e seu horizonte cultural. Querem aprender coisas palpáveis, práticas, úteis. E essas coisas não fazem parte do currículo.

A disciplina de "História" tenta fazer do aluno um mini-historiador, e não ensinar-lhe sobre cidadania, Direitos Humanos, relações inter-raciais. Não procura, em nenhum momento, ensinar a instrumentalizar o conhecimento histórico para a compreensão do hoje. Não há nenhum conteúdo q me instrua a ensinar-lhes sobre documentos, imposto de renda, política, atualidades, as coisas q os estudantes realmente precisam e querem aprender.

Ao invés de educá-los para a vida e a cidadania, os PCN's me dizem q eu devo prepará-los para o vestibular da USP. O "pequeno" problema é, como todos sabem, q raramente um aluno egresso de escola pública entrará na USP. Seguramente, menos de 1 por sala. E em prol deste 1, q entraria na USP de qquer forma, eu sacrifico os outros 40, q deixam de aprender coisas úteis para "perder tempo" não aprendendo coisas q, para eles, seriam muito úteis.

Outro exemplo é a disciplina de Química, q tenta fazer dum aluno um mini-químico, calculando elétrons, ligações covalentes e mols. Em nenhum momento pretende prepará-los para usar estes conhecimentos no cotidiano. Nada lhes ensina sobre higiene pessoal, limpeza doméstica, farmacologia e interação medicamentosa, agricultura e pesticidas. Os alunos perdem tempo não aprendendo a ser mini-químicos, enquanto poderiam estar aprendendo química instrumental, para usar no dia-a-dia, beneficiando sua saúde.

Os burocratas, q ganham como juízes, e trabalham em Brasília no ar condicionado, representantes da "elite branca" não vêm a realidade pois nunca deram sequer uma aula na rede pública. Quem realmente sabe do q está falando, pois lida cotidianamente com a realidade existente e não imaginada, freqüentemente manifesta os problemas curriculares.

Apenas para obter como resposta q o currículo é ótimo, foi elaborado por um PhD pela Sorbonne, e q se ele não funciona é por incapacidade dos professores. Meio q dizem "quem são vcs, meros professorinhos da rede pública, para achar q podem dizem para nós, professores doutores, o q deve ser ensinado?"

Respondo: "nós somos aqueles q têm CONHECIMENTO DE CAUSA para falar disso, somos nós que ensinamos, somos nós q sabemos o q funciona e o q é ruim. Vcs, burocratas de terno italiano e sapatos Louboutin, não têm a menor idéia da realidade. Vcs criam leis para um país q não existe." Estes burocratas podem estar cheios de boas intenções, mas elas mais atrapalham do q ajudam quem de fato trabalha no dia a dia escolar.

É necessário romper com essa noção de q a elite deve "civilizar" a plebe inculta. O povo não precisa "ser civilizado na cultura européia", mas instrumentalizado para serem agentes interventores e conscientes na realidade brasileira.

Não é o povo q tem q "melhorar" para poder cantar nosso elaboradíssimo hino. É o hino q tem q ser mudado para refletir a cultura, e o povo brasileiro. Não são os estudantes, nem os professores, q têm q "melhorar" para cumprir o currículo. São os PCN's q têm q melhorar para atender as demandas dos alunos, para ensinar-lhes coisas úteis, cotidianas, e não abstratas, distantes, estranhas à cultura brasileira.

As "boas intenções" são ótimas até falharem no teste da realidade. Até percebermos q elas apenas aparentam ser boas. Na verdade são perniciosas, pois nos fazem desperdiçar anos e anos digressando sobre Roma enquanto os alunos não sabem a diferença entre o CPF e o RG, não têm a menor idéia do q é carga tributária, quais são seus direitos trabalhistas e pq são obrigados a votar a cada 2 anos.

Como diz o famoso ditado "de boas intenções o inferno está cheio", pois não basta ter "boas intenções"; é necessário q, no teste prático, elas sejam validadas como boas. Se o teste prático não as valida, estas intenções mais são uma camisa de força q limita as ações dos professores, q se vêm como um Napoleão de hospício, digressando longamente sobre assuntos q, para os alunos, são tresloucados, irreais e inúteis.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Da Humildade, ou da Modestia

Humildade é um conceito complexo, e muitas vezes difícil de compreender. Muitas pessoas confundem humildade com fraqueza, auto-desvalorização, falta de confiança em si próprio.

Muitos acham q a humildade é uma espécie de "máscara social" q as pessoas aprendem a usar de acordo com a conveniência, para "se sair bem" e não parecerem arrogantes quando elogiados.

Por exemplo, quando uma pessoa é muito bonita, ou inteligente, ao ser elogiada por essas características "pega mal" ela concordar com quem a elogiou dizendo "é verdade, eu sou um gato; ou eu sou um gênio". E fica muito melhor, socialmente, ela dizer "imagina, é q hj me arrumei um pouquinho" ou então "ah, eu sou burra em diversas coisas".

Mas a verdadeira humildade não existe "para ficar bem com os outros", não parte de uma preocupação consigo próprio. A verdadeira modéstia nasce da percepção do mundo q nos cerca. Uma pessoa bonita não deve dizer o supracitado para evitar parecer arrogante, mas pelo apercebimento objetivo de q existem milhões de pessoas mais belas q ela. Uma pessoa inteligente não deve dizer o supracitado para evitar q seus amigos invejem suas capacidades intelectuais, mas por saber q na verdade, comparada ao verdadeiros gênios, tem uma capacidade cognitiva quase mediana.

Uma pessoa extremamente bonita e inteligente se achará o ápice da espécie humana até amadurecer, ganhar experiência, e pela vida encontrar dezenas de pessoas melhores q ela. E mais humildes, modestas, a este respeito do q ela. Apenas quando saímos do nosso casulo da segurança individual, ganhamos experiência de vida, sucessivamente quebramos a cara e nos decepcionamos, passamos a ser mais observadores, aprendemos mais a ouvir do q falar, percebemos nossa pequenez, nossos limites, nossa visão parcial e limitada ao que queremos ver.

Para ilustrar o q pretendo expor vou usar um exemplo. O exemplo do maior profeta q o povo de Israel já teve, Moshe (Moisés). Há várias formas de responder pq, dentre todos os israelitas, justamente foi ele o escolhido para ter uma intimidade tão grande com HaShem. Há quem diga q foi por sua linhagem, há quem diga q foi por seu zelo e coragem.

Eu acredito q foi por sua humildade. Q ele foi escolhido por "não se achar grande coisa". Pois, se ele fosse cheio de si, não obedeceria cegamente, se acharia no direito de fazer "a sua Lei" e não estaria propenso a obedecer em tudo, cegamente, o q lhe era ordenado. Vejamos algumas passagens de sua vida.

Ex 3:
11 Então Moisés disse a D'us: «Quem sou eu para ir até o Faraó e tirar os filhos de Israel lá do Egito?»

Ex 4:
10 Moisés insistiu com D'us: «Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar, nem ontem, nem anteontem, nem depois que falaste ao teu servo; minha boca e minha língua são pesadas». 11 D'us replicou: «Quem dá a boca para o homem? Quem o torna mudo ou surdo, capaz de ver ou cego? Não sou eu, HaShem? 12 Agora vá, e eu estarei em sua boca e lhe ensinarei o que você há de falar».

13 Moisés, porém, insistiu: «Não, meu Senhor, envia o intermediário que quiseres». 14 D'us ficou irritado com Moisés e lhe disse: «Você não tem o seu irmão Aarão, o levita? Sei que ele sabe falar bem. Ele está vindo ao seu encontro e ficará alegre em ver você.

Moisés é tão modesto, "acha" tão pouco de si q isso até irrita a D'us. Mesmo diretamente recrutado, pessoalmente, pelo Criador, Moisés não se acha digno da tarefa. Pede q HaShem escolha outro em seu lugar, não se acha capaz, expõe seus defeitos.

Caso Moisés fosse o tipo de pessoa q nessa situação dissesse "realmente, eu sou muito santo, um líder nato, o Senhor não poderia ter escolhido melhor" ele não teria sido escolhido para tarefa tão importante. Pois se fosse esse tipo de pessoa tão "convencida e cheia de si" colocaria o próprio ego, os próprios interesses e conveniências, acima das ordens q recebia.

Na Torah há diversos alertas para o povo não ficar "convencido" e cheio de si, vejam 2:

Dt 8:
17 Portanto, não vá pensar: ‘Foi a minha força e o poder de minhas mãos que me conquistaram essas riquezas’.

Dt 9:
4 Quando Javé seu D'us os tiver expulsado da sua frente, não vá pensar: ‘Foi por causa da minha justiça que D'us me fez entrar e tomar posse desta terra’. Não. É por causa da injustiça dessas nações que D'us as expulsará da sua frente. 5 Se você vai conquistar essas terras, não é por causa da sua justiça e honradez, e sim porque HaShem seu D'us vai expulsá-las da sua frente por causa da injustiça delas, e também para cumprir a promessa que ele havia jurado a seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó. 6 Saiba, portanto: não é por causa da justiça de você que HaShem seu D'us lhe concede possuir esta terra boa, pois você é um povo de cabeça dura.

Muitas vezes, quando nos deparamos com pessoas q têm um conhecimento menor q o nosso, é comum sermos arrogantes, "superiores" e professorais no sentido "percebi q vc não sabe nada, só fala bobagem; agora cale-se e aprenda com quem realmente sabe". Tudo o q for dito depois disso pode ser até bom e elaborado, mas já nasce com um vício original. Foi plantado de forma adversa, diz muito mais sobre o quanto quem o expõe "se acha o máximo e gosta de usar seu conhecimento para se exibir, diminuir e humilhar os outros." O q demonstra q essa pessoa pode até entender muito de teoria, mas seus conhecimentos não são usados na prática.

Ao explicar, ou argumentar com pessoas q achamos ter menor conhecimento, devemos ter o cuidado de nos expressar de forma q a mensagem seja recebida de forma propícia, não como uma crítica, não de forma a "diminuir" o outro. Não devemos agir como se estivéssemos encastelados numa imaculada torre de marfim, devemos "ficar no mesmo nível", explicar de forma q a outra pessoa compreenda.

Exemplo fácil. Vc vê uma criança pequena colocando o dedo na tomada. De nada adianta falar-lhe "vc é muito burra, assim vc vai morrer" ou então dar uma explicação técnica sobre elétrons e correntes alternadas. É necessário ser maduro, não agir com a mesma infantilidade da criança, explicar-lhe de forma q ela entenda "assim vc vai fazer dodói, da tomada sai um 'raio' q machuca se vc colocar o dedo".

É preciso explicar cada coisa da forma mais calorosa, paciente, e apropriada à compreensão do destinatário, de forma q essa explicação lhe acrescente, faça com q ele cresça. Devemos perceber q explicar uma coisa para alguém não é uma oportunidade de exibirmos nossa erudição, nossos "grandes conhecimentos", mas sim é uma chance de contribuir com a evolução dos q nos cercam.

Devemos ter consciência de q, por mais q saibamos (ou achamos q sabemos) há pelo menos 5 mil pessoas no mundo q sabem sobre isso muito mais q nós, com maior profundidade, e q elas não se gabam disso. E não se gabam justamente pq elas próprias sabem q existem outras mil pessoas q sabem mais q elas próprias. E mesmo a mais sábia dentre essas mil pessoas, se perguntada, agirá justamente como Moisés; dirá "quem sou eu para tão grande responsabilidade? Há outros muito melhores q eu!"

Concluindo, acredito q HaShem escolheu Moisés, q passou a ser referido por "Moshe Rabenu" (Moisés, nosso pai), justamente por saber q ele teria a maturidade, a experiência, a compreensão "psicológica" do outro, para orientar de forma adequada, com as palavras corretas, pacientemente, ao povo de Israel. Por saber q ele não se colocaria àfrente do povo, mas sim o povo àfrente se si (cf Ex 32:32; Dt 9: 8, 14, 26).

Moisés não foi escolhido por ser o q melhor guardava a Lei, por saber todas as regras de cashrut, por sua eloquência, por nunca ter se contaminado com a idolatria (afinal, ele era um príncipe do Egito), por nunca ter pecado (vcs lembram do egípcio q ele matou? Cf Ex 2:12), por ser um "líder nato", por ter sido "preparado" para isso.

Acredito q o motivo fundamental q fez HaShem escolher Moisés foi justamente este:

Nm 12:
3 Moisés era o homem mais humilde entre todos os homens da terra.

E este foi o grande diferencial deste grande homem: sendo grande, achava-se pequeno. Mesmo quando HaShem o convocou pessoalmente, achou-se pouco digno, pouco preparado, aquém, incapaz de cumprir tão importante tarefa.

E é por isso que

Dt 34:
10 Em Israel nunca mais surgiu outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia face a face.

domingo, 3 de junho de 2012

Causos escolares: aborto e covardia

Recentemente ouvi um relato de uma aluna q me tocou profundamente por sua sinceridade e delicadeza. Foi numa sétima série da EJA, a aluna é uma mulher negra de mais de 40 anos, com o semblante sofrido das pessoas q trabalham desde sempre por um salário miserável. Durante a aula eu havia comentado algo sobre o reconhecimento de paternidade e naqueles 5 minutos finais ela espontaneamente começou a contar essa história. Espero ser capaz de reproduzí-la dignamente. Apenas para fins didáticos, a relatarei do ponto de vista da aluna.

- Sabe, professora, eu tenho uma filha q não tem o nome do pai da certidão. Eu nem vou atrás disso nem de pensão, hj sou casada e meu marido é um verdadeiro pai pra minha filha.

- Mas vc deve ir atrás disso. O dinheiro da pensão não é para vc, é para a menina. Mesmo q vc não precise ou não queira tocar no dinheiro, entre na Justiça e exija a pensão a q sua filha tem direito. Se vc quiser, pode deixar esse dinheiro no banco e ela pode sacar quando ficar maior de idade, assim ela vai ter um dinheiro pra fazer faculdade, ou até comprar um carro.

- Mas é q me disseram q se o pai pagar pensão vai ter direito de levar ela nos finais de semana.

- Sim, é um direito. Quando a pensão alimentícia é acertada, o juiz também determina os dias de visitação. Se o pai estiver pagando pensão, tem direito a passar alguns finais de semana com a menina.

- Professora, é justamente isso q eu não quero. A senhora não sabe o quanto esse homem me fez sofrer. Quando eu engravidei, ele falou q não queria o bebê, q eu já tinha 2 filhos, do meu ex-marido q tb nunca pagou pensão, q ele estava desempregado, q eu era faxineira e ganhava salário mínimo. Um dia ele chegou com uma cartela de remédio na mão, me mandou tomar e disse q isso ia "resolver o problema". Nem sei dizer como eu me senti.

Eu olhava pros meus filhos e sentia uma dor, nem sei onde, pensando se eu tivesse abortado eles, matado eles e eles não estivessem naquela hora sorrindo pra mim. Não sou religiosa nem nada, nunca tinha pensado em fazer um aborto, mas vendo meus filhos, mesmo naquela situação, não tive coragem. Sabe, se um homem tivesse me pegado à força talvez eu tivesse coragem, mas tinha feito aquele bebê apaixonada. O bebê não tinha culpa se agora eu descobria q o pai dela não era um homem de verdade.

Não tive coragem, professora. O meu namorado largou de mim quando eu disse q não ia abortar. Nunca mais olhou na minha cara nem quis saber da criança. Eu chorei a gravidez inteira, sem saber o q seria de mim, sozinha e com 3 filhos pequenos pra criar, sem marido pra me ajudar. Quando fui contar pros meus patrões, tive medo de ser demitida, mas eles me deram força, ainda mais quando contei o q o pai da criança tinha sugerido. Mesmo levando a gravidez adiante, não estava feliz, não fazia planos, não conseguia pensar num nome, o bebê era mais motivo de preocupação do q de alegria, e assim foi os 9 meses.

Mas sabe, professora, quando a gente tá no fundo do poço a gente vê como Deus não nos abandona e nos dá força quando a gente mais precisa. Entrei em trabalho de parto justamente na festa de Reveillon. Q apuros! Comecei a sentir as contrações e meu pensamento foi "Agora para melhorar tudo não vou conseguir q ninguém me socorra, ninguém vai trocar a festa de Reveillon por uma noite no hospital, talvez nem tenha médico pra fazer o parto!"

Mas um vizinho me ajudou na hora, me levou pra Santa Casa e minha filha nasceu assim q o ano virou, perfeita e saudável. Minha filha foi o primeiro bebê a nascer em Rio Claro em 20**. Todas as enfermeiras e médicos ficaram emocionados, veio todo mundo me dar os parabéns. Até um jornalista tirou foto da gente e perguntou o nome da bebê. Eu ainda não tinha decidido, mas naquela hora o nome dela veio direto na minha cabeça e não tive nenhuma dúvida: "O nome dela é Vitória".

Minha filha foi a minha vitória na vida, e percebi q ela tinha nascido naquele momento pra me trazer de volta a esperança. Senti um pouco de vergonha de ter passado a gravidez tão triste, preocupada e sem esperanças, pois segurando minha filhinha no colo vi q ela era um presente de Deus e q me traria muitas alegrias no futuro. E como ela saiu no jornal, virou o xodó da vizinhança e ganhei um monte de roupinhas e fraldas q eu não teria condições de comprar.

O pai dela nem quis saber. Ele mora perto de mim até hoje, e quando a gente se cruza na rua ele vira a cara, muda de calçada, dá um jeito de fingir q não nos conhece. Alguns anos depois me casei de novo, e meu atual marido é um verdadeiro pai para a Vitória.

Se eu for pedir pensão pra minha filha, ela vai me perguntar pq me separei do pai dela, pq ele nunca quis saber dela. E eu não quero contar pra ela. Eu não quero q ela saiba q o pai quis q ela fosse abortada. Acho melhor ela não saber, pois se ela souber q o pai dela existe e quis q ela não existisse ela pode ficar revoltada, e com razão.

Às vezes quando ela está brincando, percebo q ela fantasia com o pai imaginário, q seria um grande herói. Quando ela me perguntou quem é o seu pai disse q ele mora em outra cidade, e a gente não tem mais contato. Não sei o q vou dizer quando ela crescer, ou se alguém apontar o pai dela na rua, pois eles são muito parecidos. Não quero q ela saiba q um dia não foi desejada, pois ela, junto com meus outros filhos, é a maior alegria q eu tenho, e meu motivo de viver. Nem sei como eu me sentiria hoje se tivesse sido covarde e matado minha filhinha. Não quero q ela jamais venha a saber disso.


- Acho q vc está mais q certa. Parabéns pela sua coragem. - disse eu, percebendo q naquela aula ela havia ensinado a mim mais do q eu poderia ensinar a ela. Não sobre História, mas sobre Vida, Coragem, Ética e Amor.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O inferno das boas intencoes

"De boas intenções o inferno está cheio". Esse é um dito popular muito conhecido e q guarda uma ampla sabedoria experimental. Normalmente isso é dito quando alguém faz uma coisa cujo resultado ruim não foi previsto. Quando alguém faz algo pensando q está a fazer algo bom, mas os desdobramentos da ação são negativos.

Pela vida, fui me deparando com inúmeras situações em q o ditado se verificou. E creio q em muitas delas isso foi resultado do descompasso entre duas coisas essencialmente diferentes: a teoria e a prática. Na teoria, tudo e fácil, pois o papel aceita tudo. No papel, todos os projetos parecem ótimos e factíveis. Todas as novas idéias parecem ser capazes de iniciar uma revolução.

Porém, quando saímos da bolha de papel acadêmica e nos deparamos com o dia a dia, rapidamente aprendemos q "na prática, a teoria é outra" e q todos aqueles lindos projetos elaborados em linguagem grandiloquente não servem para nada.

Quando alguém falha em perceber isso se verá lançado ao inferno das boas intenções. Como sou professora, da rede pública, usarei exemplos deste universo.

Cada vez mais o ambiente escolar tem sido contaminado pela cultura empresarial. Economistas, administradores e mesmo pedagogos q nunca pisaram numa sala de aula da rede básica, cheios de boas intenções e sem nenhuma noção do q é a "realidade" frequentemente acham q está ao seu alcance modificar radicalmente o ensino público.

Cada novo secretário de educação quer "mostrar serviço", deixar sua marca, declarando na imprensa q dará um "choque de gestão" q elevará o patamar de qualidade da rede de ensino... Um intenção ótima... E infernal. Infernal pq esses "choques de gestão", via de regra, servem apenas para desorganizar o q já existia e desorientar os verdadeiros gestores, q não estão sentados num escritório com ar condicionado, mas q ralam no dia-a-dia da escola.

A cada novo gestor, vêm novos decretos, novas regras, novas siglas, novo material didático. Muita novidade ao mesmo tempo. Tudo isso até poderia ser bom, não fosse o detalhe da inconstância política, pois quando dá-se o tempo de todas as "novidades bem-intencionadas" serem digeridas, o antigo secretário já "caiu" e outro assumiu seu posto.

E é claro q o novo secretário tb quer "mostrar serviço, deixar sua marca e fazer seu choque de gestão", o q envolve descartar todas as iniciativas do seu predecessor. Desfaz-se tudo, remudam-se os decretos, as siglas, o material didático, desnorteando mais uma vez todos os profissionais q efetivamente trabalham na sala de aula.

E a cada nova mudança, inventam mais relatórios e formulários, cuja intenção teórica é ótima, mas q na prática resultam em "roubar" tempo precioso, do qual professor faria muito melhor uso se nele trabalhasse em prol de seus alunos, e não preenchendo papéis inúteis, q nunca ninguém vai ler.

Não duvido q cada novo secretário ou ministro da Educação tenha a melhor das intenções ao iniciar seu "choque de gestão". O q duvido é q qualquer um destes "choques de gestão" resulte em qquer melhora na educação. A única pessoa capaz de fazer a Educação pública melhorar é o próprio professor. E enquanto houver a percepção pelo professor de q os políticos q nos gerenciam desconfiam de nossa capacidade, nos desrespeitam em nossos direitos trabalhistas, não nos valorizam, nenhuma iniciativa de mudança de gestão resultará na melhora do ensino.

Ademais, como a carreira do professor é longa, rapidamente descobrimos q, ano vai, ano vem, muda o secretário de educação, e com ele as políticas de educação; portanto, nenhuma delas é "realmente séria" e se simplesmente ignorarmos ou "fingirmos q estamos seguindo as novas diretrizes", o secretário mudará antes q alguém perceba q as "novas/antigas diretrizes" não foram efetivadas. E quando isso se dá, a gestão q era nova já é velha, e não precisa mais ser obedecida.

Além dessa balela de q seria possível de cima, com um decreto, melhorar a Educação, há o problema do próprio currículo. No Brasil, temos os PCN's, Parâmetros Curriculares Nacionais. Muito bem intencionados. No papel, a Educação brasileira é ótima. Na teoria, nossos alunos aprendem um currículo muito mais vasto e diversificado em relação mesmo ao q é ensinado nos países desenvolvidos. Partirei do exemplo q me é melhor conhecido: a disciplina de História.

De acordo com os PCN's, eu formo meus alunos de 14 anos no Ensino Fundamental com todo o conhecimento sobre a História Humana, desde a pré-História até o século XXI. Quer dizer, eu assino um papel q afirma isso. Um papel q não tem nenhuma correspondência prática. Por acaso acho q o currículo brasileiro do ensino de História seja ruim? Não, ele é ótimo. Na verdade, seria ótimo. Para a Suíça. Para a Suécia. Para a Finlândia. É um currículo vasto, profundo, completo... E infernal.

Infernal pois, para seguir este currículo, gasto centenas de horas digressando sobre a Revolução Francesa, o Feudalismo, a Cultura greco-romana. Conteúdos ótimos, mas com resultado pífio. Meus alunos decoram os fatos e datas para a prova, e após ela rapidamente esquecem tudo. O q ensino é abstrato, longínquo, impalpável e, portanto, desinteressante.

Os alunos deixam de aprender coisas realmente importantes para seu cotidiano, q não fazem parte do currículo, mas exige-se q aprendam conteúdos intrincados e vários patamares acima da sua real capacidade, ou interesse, de aprendizado. Para os burocratas, ministros e secretários, q nunca deram aula na rede básica, o currículo é ótimo. Para o professor, q lida com a realidade, o currículo é uma "jaula de ouro" q prende não uma Fênix, mas um pardal.

Já passou da hora dos políticos q têm a ilusão de serem capazes de dar um "choque de gestão" terem um "choque de realidade" e descobrirem q suas boas intenções podem até ser ótimas, porém q não será na canetada, com um decreto, q a realidade mudará. Não precisamos de novos paradigmas administrativos. Não precisamos de relatórios e de rankeamento. Precisamos de valorização. Q a voz dos q efetivamente conhecem como se dá o processo educativo seja ouvida, não q um economista venha dizer ao vigário como se reza a missa.

Nem sempre boas iniciativas são realmente boas. Raras teorias vencem o teste da prática, da realidade. E, se vc é político de carreira, economista, administrador ou mesmo pedagogo de escritório, pare de achar q os papéis q vc assina com novas diretrizes melhorarão a Educação, pois eles não irão: apenas desorganizarão o q já está aí, na verdade atrapalhando o real processo educativo.

Na prática aprendi q os secretários de Educação não têm em vista a melhora da Educação: objetivam usar essa pasta como um trampolim para suas ambições políticas pessoais. Intenção, convenhamos, nem tão boa assim. Achar q os professores irão simplesmente aquiescer como cordeiros a este propósito é ilusão. Secretários, ministros, vêm e vão. E com isso todas as suas "boas intenções" vão pro lixo. E a Educação enquanto isso segue girando em falso, sem saber aonde vai, qual é seu propósito, completamente sem norte nem melhora.

domingo, 22 de abril de 2012

Por uma Matematica util

Para começar preciso avisar q sofro de analfabetismo matemático, ou "anadigitismo" num neologismo inventado. E creio q grande parte disso é devido ao ensino escolar dessa disciplina, pelo menos da maneira como me foi administrado.

Desde a quinta série, quando o "X" foi inserido no meu universo matemático, nada do q aprendi fez nenhum sentido. Até fui capaz de passar nas provas, achando infinitas vezes o valor de um X cujo significado eu ignorava. Entre a quinta série do Ensino Fundamental e a terceira série do Ensino Médio encontrei inúmeros X, Y, Z e até Deltas q para mim nunca significaram nada, apenas uma gigantesca chatice e decoreba. Passada a prova, as fórmulas eram mais do q rapidamente esquecidas. O q aprendi na matéria escolar de "Matemática" nunca me pareceu nem pretendeu me ensinar nada q eu pudesse usar "na prática" em meu cotidiano. Tudo abstrato, impalpável, no "mundo das idéias".

Lembrei-me disso recentemente quando um colega professor relatou sua desolação com o aprendizado dos alunos. Disse q numa prova apresentara uma pergunta muito simples: "Se o médico prescreve um medicamento para ser tomado a cada 4 horas, quantos remédios serão tomados por dia?" E nenhum, absolutamente nenhum, aluno respondera corretamente à questão, numa oitava série.

Mais do q alarmante, isso é assustador, não apenas da falha aprendizagem dos alunos como também de como a Matemática escolar é vista como completamente inútil e sem propósito pelo corpo discente.

Uma conta tão simples como um 24 dividido por 4 não é feita pelos alunos pois a forma como a Matemática é ensinada não propõe q estes conhecimentos interfiram no cotidiano dos alunos. Não se ensina "Matemática para a Cidadania", mas "Matemática pela Matemática", como se todos os alunos almejassem uma graduação nesta área.

Nos 8 anos de estudo em q fui obrigada a atender a esta matéria nunca nenhum professor ensinou "regra de 3", nem a simples, muito menos a composta. Nunca me ensinaram a calcular juros, simples ou compostos. Nenhuma palavra sobre taxas, imposto de renda, carga tributária, partilha de herança.

Cálculo de área? Só de figuras geométricas abstratas, nunca de um terreno, de uma casa ou cidade. Cálculo de volume? Só de sólidos abstratos, nunca de uma garrafa de refrigerante, do porta-malas de um carro ou uma geladeira. Na escola jamais aprendi nesta disciplina nada q se propusesse a me ajudar nos meus problemas cotidianos.

Se vc é professor de Matemática e acha q estou exagerando, faça o teste. Pergunte a seus alunos:
* Quantos dias tem um bimestre?
* Quantas horas tem uma semana?
* Se alguém trabalha 8 horas por dia, quantas horas trabalha num mês?

Todas essas perguntas são muito simples e deveriam ser respondidas sem problemas mesmo por quem só cursou até a quarta série. Contudo, posso afirmar com relativa segurança q menos de 50% dos alunos com diploma de ensino fundamental serão capazes de respondê-las.

Isso nada diz a respeito da capacidade intelectual desses alunos. Mas fala muito a respeito da forma vã, vazia e inócua como a Matemática tem sido ensinada no Brasil. Defendo uma Matemática útil. Q pare de calcular tantos X e Y completamente inúteis e ensine aos alunos habilidades q usarão no dia-a-dia. Q os faça compreender como é feito o cálculo das contribuições ao INSS, como funcionam os juros do "cheque especial", como é feita a partilha da herança num espólio, como calcular quantos ladrilhos preciso comprar para cobrir uma parede.

Professor de Matemática, saia do mundo das idéias e nos ensine coisas sobre o mundo real! Sei q os PCN's (Parâmetros Curriculares Nacionais) propõe esse tal "currículo". Mas mais importante q "seguir o currículo" é "ensinar". E o aluno só se aplica em aprender quando vê q esta aprendizagem será útil. O q a Matemática escolar não se propõe a fazer. Esqueça o q os burocratas de Brasília q nunca pisaram numa sala de aula te mandam fazer. Ensine o q seus alunos precisam aprender.

sábado, 24 de março de 2012

Aos meus caros alunos

Gostaria de iniciar esse texto dizendo: eu já fui um de vcs. Quando eu mesma era aluna, fazia as mesmas coisas q vcs: matava aula, pulava muro, desdenhava da escola e dos professores. Crescer não é fácil, e nossa infância e adolescência não nos preparam para sermos adultos. Mas a adultez, inadiavelmente, chega. E se não nos prepararmos para ela durante a adolescência pagaremos um alto preço durante toda a vida.

Muitas coisas essenciais para vida ninguém me disse, só aprendi dando muita cara na porta e murro em ponta de faca. A vida não tem manual nem atalhos, cada um constroi seu caminho. E é na adolescência que fazemos, sem nos darmos conta, escolhas q repercutirão pelo resto de nossas vidas.

Vocês tem a chance, agora, de construir para vcs um futuro melhor, próspero. Daqui a 5 anos pode ser tarde demais. Não percam o bonde da vida, não fiquem para trás.

Pergunto: vcs pretendem andar de bicicleta ou motinho 125 o resto de suas vidas? Vcs querem ter o mesmo nível de vida dos seus pais? Querem morar de favor ou pagar aluguel para sempre? Quem ter q abaixar a cabeça e obedecer ordens pelo resto de suas vidas?

Em caso negativo, devo alertá-los: vcs precisarão matar um leão por dia. Terão q se esforçar, fazer das tripas coração para viver. Mas agora q vcs são jovens, tem uma escolha: fazer isso apenas pelos próximos 5, 7 anos; ou pelo resto de suas vidas. Explico de forma simples: seu salário será diretamente proporcional aos seus anos de estudo, e à qualidade da faculdade q vc fizer.

Se pra vc ganhar salário mínimo pelo resto da vida está bom, pode parar de prestar atenção agora. Vc se arrependerá disso amargamente, depois de adulto. Se pra vc ganhar "mil reais" está bom, tb não precisa me escutar, faça qquer "UniEsquina" da vida e só depois de formado perceberá q seu diploma vale muito pouco.

Mas caso vc queira vencer na vida, preste atenção.

Quando eu estava prestando vestibular vi escrito numa camiseta de formandos: "Enquanto vc está aí brincando, tem um japonês estudando". Nunca esqueci disso, ainda mais ao atestar in loco q na Engenharia da USP quase só entra "japonês". Pq os japoneses sejam naturalmente mais inteligentes q os "brasileiros"? Não! Pq a cultura japonesa prioriza o estudo. Desde o berço os "japoneses" tem bem claro q o fazer uma boa faculdade é a chave para um futuro próspero.

Há um texto do Bill Gates q diz "Seja legal com os nerds. Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles". E é verdade. Os "bonzões" da minha época do colegial hj estão lavando carros e assentando tijolos; no máximo dizendo "pois não, senhor?" atrás de um balcão. É isso q vc quer: uma vidinha medíocre?

Muitos de vcs pensam q a vida julgará vcs com os mesmos parâmetros da escola... Na escola, não pq eu queira, ma pq o governo quer economizar, todo mundo passa. A escola não julga ninguém. Quem julgará vcs será a vida, e o mercado de trabalho. Aí a coisa vai apertar, e se vc não tiver aproveitado esta oportunidade, mesmo com um diploma na mão, vc será reprovado. O conhecimento é uma riqueza q nunca ninguém tirará de vc, e é o grande diferencial da espécie humana. A competição no mercado de trabalho é feroz, e só os mais aptos se darão bem.

O mundo todo está aí para você o conquistar. O mundo é muito maior q a cidadezinha onde vc mora. Vc quer nascer, viver e morrer sem nunca ter saído da sua cidade, ou quer para vc um horizonte bem maior?

Eu sei q o conteúdo q eu ensino é chato e vcs não vêem propósito nele. Eu tb não via na idade de vcs. Foi só quando prestei, e bombei, em meu primeiro vestibular q percebi sua importância. Ainda hj, várias vezes percebo q conteúdos de Matemática, Química, Biologia, q não quis aprender, me fazem falta. O ser humano precisa ser completo, polivalente.

Comece agora a projetar e a construir seu futuro. Se vc deixar para depois pode ser tarde demais. Eu poderia fazer muito mais por vcs, poderia ensinar coisas muito mais profundas. Eu não estou aqui contra vcs, mas por e para vcs. A maior felicidade de um professor é encontrar um ex-aluno bem sucedido. Esse é minha intenção aqui: fazer o meu melhor para q vcs sejam o seu melhor.

Agora é com vc: vai ficar de brincadeirinha até se arrepender daqui a 10 anosou vai escolher acordar para a vida agora? Seu futuro só depende de vc. Espero q todos vcs tenham um futuro maravilhoso, q todos vcs vençam na vida!

Eu espero q um dia eu tenha q chamar vcs por "senhor", ou "doutor".

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bill Gates - 11 Coisas que a escola não ensina

Bill Gates fala sobre a "Política educacional de vida fácil para as crianças", que tem criado uma geração sem conceito da realidade, e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas após a escola.

Ele fez uma palestra em uma escola, dizendo aos estudantes 11 coisas que eles não aprenderiam na escola.

Todos esperavam que ele falasse mais de uma hora, ele falou cinco minutos e foi aplaudido durante 10 minutos. Agradeceu e foi embora em seu helicóptero.

Eis o discurso:

1 - A vida não é fácil, acostume-se com isso.

2 - O mundo não está preocupado com sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele, antes de sentir-se bem com você mesmo.

3 - Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.

4 - Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.

5 - Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo de sua posição social, seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.

6 - Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.

7 - Antes de você nascer seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar suas contas,l avar suas roupas, e ouvir você dizer que eles são ridículos. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração de seus pais, tente limpar seu própio quarto.

8 - Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente nada na vida real. Se pisar na bola, está despedido, RUA!!! Faça certo da primeira vez.

9 - A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.

10 - Televisão não é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.

11 - Seja legal com os nerds. Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles.

sábado, 10 de setembro de 2011

O Onze de Setembro de 2001

Formiguinhas históricas que somos, normalmente não nos damos conta dos fatos determinantes que se desenrolam no espaço de tempo em que vivemos. A História com agá maiúsculo se descreve na longa duração braudeliana, e nossas consciências são como lanternas fracas que iluminam apenas uma pequena fração da realidade, que está diante dos nossos olhos, e cuja configuração é deformada pelo lusco-fusco de nossos conceitos.

Por estarmos tão perto, atados ao dia-a-dia, não vemos a curva, a parábola que descreve a longa duração, e menos ainda os picos e quedas das conjunturas. Vemos apenas os pequenos pontinhos dos acontecimentos, sem perceber que se nos afastarmos alguns passos veremos que estes pontinhos das efemérides descrevem zigue-zagues de conjunturas. E se andarmos muitos mais passos atrás, veremos, talvez, a longa curva descrita pelas conjunturas e na qual os acontecimentos individuais, embora integrantes, perdem sua definição detalhada diante do “esquema geral”.

Escrevo isso justamente para estabelecer que nós, testemunhas oculares da História, gostamos de dar maior relevo aos acontecimentos que nos são contemporâneos do que eles realmente merecem.

Após o 11 de setembro, muitos foram os alarmistas e até “profetas do Apocalipse” que viram neste fato algo parecido com os grandes eventos históricos secularmente sedimentados, que alteraram determinante os rumos da História. A respeito disso, lembro-me de uma cena curiosa passada no ano de 2003.

Eu estava cursando História, e fazendo Iniciação Científica com o Professor Doutor István Jancsó. Professor Titular da USP, diretor do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros “Sérgio Buarque de Hollanda”, apesar de húngaro, István era um brasilianista e intelectual muito respeitado e requisitado pela imprensa para entrevistas.

Nesta feita, estávamos em sua sala pessoal no Departamento de História (sala que não mais existe, foi desfeita numa reforma) quando o telefone tocou. Por nosso orientador, todos nós do grupo de Iniciação (que em sua máxima extensão abarcou, além de mim a André Nicacio Lima, “Godinho ou Gêngis”, Mainá Pereira Prada Rodrigues, “Mainas”, Andréa Paula Placitte, “Dea”, Bruno Fabris Estefanes, “Garfield”, Maria Inês Panzoldo de Carvalho, Júlia Relva Basso e Henrique Palazzo) tínhamos alta deferência, e lhe facilitávamos a vida nas pequenas coisas que podíamos, como ir buscar um café, uma xerox e atender ao telefone. Neste dia o atendi durante uma reunião com o professor. Do outro lado disseram:

- Boa tarde, aqui é da [revista] Caros Amigos. Gostaríamos de entrevistar o doutor István para uma matéria. Ele está disponível?

Passei o telefone para ele, e ficamos observando sua conversa ao telefone. Após a secretária transferir a ligação para o jornalista, István abiu seu típico sorriso e falou eu seu característico sotaque que nada tinha de húngaro, e muito da indolência baiana:

- Oi, meu amigo! Pode falar!... Hum... Não, não, de jeito nenhum! Vocês jornalistas... Ah, você conhece a história daquele menino que ficava avisando toda hora que tinha um lobo à espreita? Pois é... Não, ainda não, você ainda não pode escrever isso. Faz o seguinte, passa amanhã no IEB e a gente conversa melhor. Te espero então. Tchau.

Desligou enquanto dava um sorriso búdico. Balançou complacentemente a cabeça numa expressão negativa dum avô cheio de doçura que vê o netinho fazer uma traquinagem. Soltou uma risada solta, calma e pausada, Levantou seu indicador no ar, como lhe era tão típico ao ter um ponto que pretendia explicar. Seguiu-se a pausa dramática que todos conhecíamos e amávamos enquanto ele articulava a primeira sílaba vocal de seu pensamento abstrato, talvez em húngaro. Nos disse:

- Esses jornalistas, sempre tão desesperados, alarmistas, quase histéricos... rsrsrs. Sabem o que ele me perguntou? Se podia escrever em sua matéria que os Atentados de 11 de setembro são o fato que porá fim à História Contemporânea e iniciará uma nova era... rsrsrs... Ele estava querendo decretar o pentapartismo, e não mais o quadripartismo histórico... rsrsrs... Amanhã vou mandar ele ler Filipe II” de Fernand Braudel e tentar lhe explicar a diferença entre estrutura, conjuntura e acontecimentos...

O jornalista, que embora escrevesse na respeitadíssima Caros Amigos, não tinha a menor idéia do que é História para achar que podia, 2 anos depois, dizer que os ataques perpetrados pela Al Quaeda eram tão importantes quanto a Invenção da Escrita (circa 4000 a.C.), a Queda de Roma (476 d.C.), a Queda de Constantinopla (1453) e a Revolução Francesa (1789). Citei estes fatos pois estes foram estabelecidos como as marcas que separam as 4 divisões do quadripartismo histórico nas seguintes eras: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Esta última iniciada pela Revolução Francesa e que, dizem os historiadores, continua em nossos dias, e queria o jornalista decretar encerrada. Risos para sua pretensão.

Hoje, véspera de completarem-se 10 anos dos piores atentados terroristas da história, pelo menos dos Estados Unidos, ainda é grande a leva dos alarmistas e profetas do Apocalipse. E como historiadora, tentando dar alguns passos atrás para divisar melhor a “imagem geral” desenhada pelos acontecimentos, é fácil compreender o porquê disso, pó-lo em perspectiva, e até “justificar” essa postura.

Como cada um de nós acha que o próprio umbigo é o centro em torno do qual o mundo gira, nos considerados testemunhas privilegiadas da História, e destinados e testemunhar acontecimento mais importantes que todos os que se desenrolaram antes de nós. O que não vemos perde importância. O que testemunhamos, já que nós somos tão importantes, tem que ser igualmente um fato chave, que alterará a História do Mundo, tanto quanto, achamos, nossa própria existência o fará. O nome disso é “Síndrome de Messias”, algo que o Cristianismo implementou profundamente em nossas estruturas psicológicas da longa-duração. Desde que Jesus morreu sucederam-se pelo menos 80 gerações. E cada uma delas teve certeza de ser a última, aquela que testemunharia as convulsões apocalípticas do “Juízo Final”. Eu, que vivi a virada do segundo para o terceiro milênio, a pretensa passagem para a “era de Aquário”, testemunhei o messianismo de meus contemporâneos e sua expectativa de que o mundo acabasse em 2000, depois em 2001 no “Bug do Milênio”, e agora se aguarda ansiosamente pelo 2012 profetizado pelos maias. Risos para nossa pretensão.

Como não há como eu mesma projetar-me fora da curva, pois minha consciência individual é apenas uma lanterninha fraca que ilumina muito pouco, para encerrar este texto redigirei meu próprio testemunho pessoal de como os atentados às Torres Gêmeas do World Trade Center me impactaram pessoalmente. No futuro, creio que todos serão perguntados “Onde você estava quando aconteceram os atentados do Bin Laden?”. E todos, seguramente, se lembrarão vividamente de sua experiência pessoal. A minha segue abaixo.

Eu tinha 18 anos. O fuso horário oficial de Brasília conta uma hora a menos que em Nova York. Era manhã e eu estava assistindo a aula no cursinho pré-vestibular. Um dia muito comum. No horário do intervalo, lá pelas 9 e meia, quando o primeiro avião atingiu a primeira torre, os atendentes da cantina nos disseram que um avião havia batido contra “um prédio alto” em Nova Iorque. A princípio, claro, todos achamos que teria sido um acidente. E nesse nível foram os comentários durante as aulas que faltavam até o meio-dia. Terminado o turno escolar, corri para casa e liguei na CNN.

Eu vi o fim do mundo.

Eu vi o Inominável. Eu vi o Horror, o Horror.

Ao vivo, live, diante de meus olhos, eu vi o começo da tão temida Terceira Guerra Mundial. Eu vi ruírem todos os esforços diplomáticos da segunda metade do século XX.

Chocante. Inesperado. Só quem acompanhou em real time os acontecimentos deste dia pode dimensionar o impacto psicológico dos atentados. E como o “imponderável” conspirou a favor de nossos maiores medos. Quem só sabe deste fato bem sedimentado pelos anos não carregará, felizmente, o trauma do desastre em cada ínfimo e escabroso detalhe. Não carregará em sua memória centenas de horas de jornalismo mostrando as pessoas assando nos prédios ainda em pé. Sacudindo panos nas janelas. Se espatifando, às dezenas, em torno do prédio.

E, muito pior, as cenas, minuto a minuto, dos prédios ruindo, um após o outro. A poeira tomando Manhattan, cobrindo os engravatados, os ricos e poderosos, aqueles que regem o mundo a partir de Wall Street. Milhares de nova-iorquinos peregrinando à pé pela ilha, chocados, machucados, respirando ar contaminado, indo, mas sem saber para onde.

Quem souber dos atentados de 2001 apenas por ler ou “ouvir dizer” seguramente perderá a dimensão de um detalhe que não escapou às testemunhas contemporâneas: absolutamente ninguém considerava possível que os prédios ruíssem. Esse “absolutamente” é, de fato, absoluto. Por isso supracitei o termo “imponderável”. O objetivo calculado por bin Laden era apenas “ferir” às torres gêmeas. Símbolos do Comércio Mundial, os mais altos prédios da Capital do Mundo Ocidental, tal qual Roma foi um dia, pareciam tão sólidos quanto a economia capitalista neo-liberal. Nada, nem bombas nem aviões pareciam capazes de as derrubar. Destruir as torres não era o intento da Al Quaeda. Sequer os terroristas foram capazes de dimensionar as conseqüências e a severidade de seus atentados.

Tanto ninguém achava que qualquer das torres pudesse ruir que parte dos mortos não estava nas torres quando os aviões as atingiram: são bombeiros e socorristas que acorreram ao Ground Zero para ajudar às vítimas. Subiram pelos prédios sem considerar o “imponderável”. Mas este sobreveio e a segunda torre a ser atingida foi a primeira a ruir, sepultando centenas de bombeiros heróicos do NYFD – New York Fire Department.

Muito mais impressionante que o fato de dois aviões de passageiros terem sido lançados contra o símbolo máximo do capitalismo yankee foi o colapso posterior das torres. Isto desnudou a fragilidade do sistema que considerávamos pétreo. O colapso demonstrou que as estruturas do Capitalismo, que achávamos sólidas e à prova de tudo, eram muito mais frágeis do que nossos medos antecipavam, e que poderiam ir facilmente ao chão. Não sob o ataque de um elefante, mas pela picada de um mosquito que ninguém achava tão virulento.

Nunca tínhamos ouvido falar de Osama bin Laden ou da al Quaeda. Descobrimos que muito mais perigosos são os inimigos que desconhecemos, ou que não levamos em consideração.

Não testemunhei aos “Treze dias que abalaram o mundo” na crise dos mísseis de 1962, mas teleassisti ao dia que sacudiu o mundo, como eu o conhecia. Vi a Grande Potência que emergiu da Guerra Fria e unipolarizou o mundo após 1991 colocada de joelhos, agora não pela vizinha Cuba e pelo Comunismo, mas por um grupo terrorista sediado no longínquo e (até então) facilmente esquecível Afeganistão e pelo fundamentalismo religioso islâmico. E este novo inimigo é muito mais difícil de combater que “os vermelhos”.

Durante a Guerra Fria assistimos à disputa de dois Estados, legítimos, governos constituídos, signatários de convenções internacionais, que se sentavam em mesas para negociar, que atendiam ao telefone. Inimigos equivalentes com os quais se podia dialogar. Liderados por chefes de Estado responsáveis, que não desejavam levar o mundo a um holocausto nuclear, que seria a Terceira Guerra Mundial entre EUA e URSS, que pareceu tão próxima entre as décadas de 1960 e 1970...

Essa “guerra tradicional” entre elefantes poderosos estatais não mais existe. Nossa guerra do século XXI é assimétrica, de guerrilha, do tipo que os americanos sempre perderam, dede o Vietnã. Não há comparação entre os “atentados de 11 de setembro” e a batalha de Waterloo, por exemplo. Nem Osama bin Laden nem George W, Bush chegam a poucos centímertos da estatura de Napoleão Bonaparte nem do duque de Welington.

Os atentados de 11 de setembro não foram levados a cabo pelo governo do estado do Afeganistão contra o governo dos Estados Unidos da América. Os atentados são responsabilidade de uma (múltiplos risos) ONG – Organização não-Governamental. “Organizada” em células terroristas. Com as quais não há negociação. Que não assina nem respeita ratados. Que talvez até tencione acelerar o “apocalipse”, ansiando pela chegada de seu próprio messias, o Mahdi.

Só para arrematar, quem em 2001 dissesse que hoje o presidente americano teria por nome do meio um “Hussein” igual ao de Saddam e por sobrenome um “Obama” tão parecido com o prenome de Osama, e que ainda por cima seria negro e havaiano, seguramente seria considerado completamente louco e fora de si. Talvez tanto quanto consideramos desprovidos de razão aqueles que viram no 11 de setembro de 2001 um fato histórico digno de iniciar uma nova era.

Apenas a longa duração poderá dizer quem é o louco e quem é o lúcido. Vamos aguardar.


Cássia Eller - O Segundo Sol

Melancholia

π (pi/1998)

Nós que aqui estamos por vós esperamos

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

De como levei meu primeiro chifre

Chifre”, hoje em dia, é símbolo de traição, adultério. Enquanto digito isso lembro-me de uma estátua confeccionada por Michelangelo Buonarotti, de Moisés chifrudo. E de como isso nada diz a respeito da fidelidade de Séfora de Midiã, mas muito a respeito da força e poder de Moshe Rabenu. Até o significado dos cornos são historicamente determinados!

No português brasileiro corrente, “chifrar” não é o ato de um animal ferir com seu chifre a outrém (Êxodo 21: 28-31), mas equivale-se ao “pular a cerca”,pastar na grama do vizinho”. É um dito popular que o chifre é uma coisa que não existe, mas que os outros colocam na sua cabeça. E também diz-se que aquilo que os olhos não vêem o coração não sente.

Agora algo escolada nas frugais intermitências da vida, consciente da falta de orientação e do machismo familiarmente incutido em meus alunos, digo em toda oportunidade que apresenta-se, já desde a quinta série que o chifre é como a morte, muito democrático. Que todo mundo, um dia, levará, e dará uma chifrada em alguém, adicionando ao ditado corrente das certezas da vida: a morte, os impostos e ser, ao menos uma vez, chifrado. Talvez isso algum dia impeça um crime passional, por isso não perco a oportunidade de banalizar tal fato, afirmando que não é algo “tão grave assim”. Não pretendo com isso estimular nenhum adultério, apenas tento quiçá prevenir alguns acionamentos futuros da lei Maria da Penha ao despir meus alunos de um centímetro de sua misoginia latinamente implementada.

Levei meu primeiro chifre (do qual soube) creio que à esta altura dos meses, dez anos atrás. Vivo hoje os últimos dias de meus 27 anos considerando-me já algo adulta. Escrevendo do meu presente, se eu fosse colocar minha vida em balanço, J foi o grande amor da minha vida, e meu mais longo relacionamento, de longe. Tive outros namoros e amores, de 8 meses, de 6 meses, de 1 ano e meio; mas nenhum deles marcou-me tanto como este, de 4 anos, entre meus 17 e 21 anos, que chegou a materializar-se numa coabitação de muitos meses. Por isso considero a J meu ex-marido, embora não me renda pensão alimentícia. :D Orgulho-me de nunca ter havido vil metal a nos separar, unir ou macular.

Sob a égide de J deixei a adolescência, entrei na faculdade, emancipei-me, tornei-me Mulher e muito mais Humana. Por isso eternamente reputar-lhe-ei ser meu mito fundador. Orgulho-me dele, meu gigante com voz de trovão. E orgulho-me que tenha permitido-me ser parte de sua vida, e sustê-lo enquanto claudicava entre o luto por seu pai, seu divórcio e a morte de sua mãe. Orgulho-me ainda mais de ter sido capaz de dar conta de todo o seu espírito erudito acromegálico, de todos os seus 120 quilos e seu 1 metro e 95. Fui mulher suficiente para sua estatura gigante não apenas física, mas também moral. Fui mulher deste entre heróico, macho-alfa e super Ser Humano de coração pungente e imenso. Se a alguém confiaria fazer o discurso em meu funeral, seria a J, sabendo que com toda a sua eloqüência improvisar-me-ia bela e poética elegia. Órfã de pai, mãe e avô que sou, se a alguém pediria que me conduzisse ao altar, seria a J, que belíssimo ficaria, grisalho, num terno, e que me entregaria com amor paterno a quem sabe aquele que está inscrito em meu Destino. Quem sabe um dia...

Com tristeza reconheço que de J levei e a J dei meu primeiro chifre, em represália. O chifre que lhe dei, confessei-lhe desafiadoramente, explicando que apenas o fizera em retaliação. O chifre que deu-me, flagrei-lhe, ao menos em um. Namorávamos há 1 ou 2 meses, e eu debatia-me numa desesperada e enlouquecida obsessão romântica idealizada por tudo que evocava vagamente a J.

No dia do flagrante adultério sofrido que surpreendi, J disse-me que estava cansado e não sairia à noite. Conformei-me e fui depois convidada por uma colega de sala, Aline, a ir encontrá-la no fliperama Lord’s na rua Coelho Lisboa, esquina com a Cantagalo, em frente ao Shopping Sílvio Romero, no Tatuapé velho de guerra, palco de minha adolescência. Como eu estava triste de não poder encontrar meu amado, aceitei seu convite. Meia hora antes do combinado, saí, a pé, de minha casa e trilhei os caminhos que conheço ainda hoje até de olhos fechados pelas Padre Estêvão Pernet, Itapura, Tijuco Preto, Serra de Bragança, Serra de Juréia, que levam até à praça Sílvio Romero, “centro” do Tatuapé.

Na esquina desta praça, entre a Serra de Bragança e Coelho Lisboa, havia um bar temático de futebol, ao qual J já me levara e tornaria, cruelmente, a levar depois deste episódio. Nesta creio que sexta-feira do flagra, dobrei com meu comum passo apressado esta esquina, e já na Coelho Lisboa olhei, despretensiosamente, para dentro do bar. Procurava divisar à mesa na qual sentara-me, apaixonada, ao lado de J. Não costumo “olhar para os lados” nem procurar rostos enquanto ando, apressada, pela rua. Mas neste dia fugi a meu comportamento habitual e tive uma das mais desagradáveis surpresas de minha vida.

Divisei a mesa na qual sentara-me há 2 ou 3 semanas. E nela vi sentado J. Pisquei. Ele continuava lá, e via-me reciprocamente caminhando na calçada. Sentada à sua frente estava G, uma conhecida comum, assoberbante mulata cadeiruda, digna de ser madrinha de bateria, do grupo de acesso, 15 anos mais velha e escolada que eu, e ainda por cima Policial Militar feminina, pesando em músculos 20 quilos mais que eu em atonicidade.

Um milhão de virtualidades pulsaram em minhas veias catalisadas pela adrenalina que já sentia inundar-me. Sem alterar num micrômetro o compasso de minha pressa, cogitei adentrar o bar e dar um barraco daqueles, jogar bebida no rosto dos dois e virar cadeiras. Pensei em entrar no bar, ir até eles e desejar-lhes cinicamente todas as felicidades do mundo. Pensei também que talvez eu estivesse tendo uma alucinação ou ilusão oriunda de meu fresco, imenso e desmedido amor. Não, se tal fosse, eu não teria o trajeto de meu olhar interceptado pelo rubor na face ao mesmo tempo pálida e mulata de J. Por fim decidi prosseguir orgulhosamente em meu passo resoluto. Cingi-me da dignidade que prematura e injustificadamente sempre procurei ostentar. E, sobretudo, raciocinei que armar um barraco, ou chutar-lhe o pau, não serviria de nada à reiteração ampliada que pretendia para esta minha paixão. E eu não pretendia, sequer vagamente, transigir da presença de J em minha vida, por mais que eu precisasse engolir secamente meu orgulho e minha dignidade para tal.

Dados 7 passos, sabendo-me eclipsada ao olhar de J, parei e pensei em dar alguns passos atrás para furtivamente certificar-me de que eu não alucinara, mas que de fato meu amado idealizado estava sentado à mesma mesa à qual me levara, agora com outra mulher. Mas não. Parei meio segundo e prossegui. A 80 metros encontrei Aline, em frente ao Lord’s. Sem cumprimentá-la, quase a desmaiar, agarrei seu braço e disse:

- Faz um favor imenso pra mim? Vai no bar da outra esquina e olha se o J está lá com a G, por favor!

Compreendendo meu estado emocional alterado, Ela sentou-me no Lord’s e foi rapidamente cumprir o que lhe pedira. Retornou 4 longos e excruciantes minutos depois e disse-me:

- É, ele não estava no bar, mas na calçada, vi ele olhando pros lados, como se procurasse alguém. Parecia que tinha acabado de pagar a conta e... ... a G estava do lado dele...

Eu não alucinara. Foi adstringente e amarrou-me a boca tal qual pedra hume o sabor do primeiro chifre que levei, aos 17 anos, do então e até agora grande amor de minha vida. Naquela noite, ao lado de Aline, permiti-me um porre homérico de tequila. Depois desta noite, nunca mais tomei tequila, o destilado de agave mexicano, por temer sentir o gosto adstringente de adultério que seu bouquet me suscita.

Engoli a seco a tequila e o chifre desta noite. E meu amor com J durou por mais 4 anos, sem os quais tenho certeza que hoje eu não teria meia estatura do que sou. Às vezes precisamos engolir muitos sapos para poder beijar o ilusório e amado príncipe.


Legião Urbana - Eu sei


Pato Fu - Eu sei


Eric Clapton & BB King- Riding With The King


Eric Clapton & B.B. King- Come Rain Or Come Shine


Alanis Morissette - Flinch


Postagem posterior complementar: O flagrante que nunca foi

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Causos escolares – o sem festa de aniversário

Quando, leitor, é o seu aniversário?

Essa é uma das respostas mais rápidas e certeiras que qualquer um acima de 7 anos sabe responder com segurança e presteza. E este dado, curiosamente, em nossa sociedade, de certa forma é atachado à própria identidade do indivíduo, tendo que ser citado inúmeras vezes em todas as mais variadas situações em escolas, postos de saúde, na Justiça Eleitoral, na delegacia de polícia e afins.

Pois é, costumamos, como se diz em inglês “take for granted” que todos têm direito, anualmente, à celebração de seu aniversário, mesmo que simbólica por conta da pobreza. Pois é, nem todos. Isso aprendi boquifechada na FEBEM.

Certo dia, ao final do ano, levei revistas e cartolinas para fazer cartazes com os internos da Fundação CASA na qual trabalhava. Nesta sala do ensino fundamental, franqueei as revistas para que os alunos as folheassem à cata de algum assunto que despertasse sua atenção.

Um deles, de posse de uma Superinteressante com uma matéria cheia de gráficos lindos sobre Astronomia e Astrologia, apontando as folhas disse:

- Vamos fazer um cartaz sobre o céu e as estrelas?

Percebi que para eles, presos num internato à beira da estrada na zona rural, as estrelas abundantes no Céu noturno representavam um suspiro de liberdade, sonho, poesia. Uma certa intuição de que a vida prosseguia, resoluta e livre, além das grades.

Gostei da idéia. Disse então que os demais principiassem a procurar nas outras revistas palavras e imagens referentes a estrelas e, pq não, aos signos do zodíaco.

Como forma de diversificar e verticalizar o assunto, levantei com eles a questão dos signos zodiacais.

- Meu signo é Capricórnio, e o de vcs?

Eram 12 alunos. 11 disseram seus respectivos signos. O um que falta, Fernando, lombrosiano, analfabeto, permaneceu mudo sem interagir com a atividade. Sentei-me ao seu lado e perguntei:

- Fala, qual é o seu signo?

Atalhou num tom mau-humorado: - Não sei.

Abrindo um sorriso como se eu estivesse diante de uma criança que desconhece uma informação simples, retruquei-lhe:

- Ora, eu conheço bastante de signos. É só vc me dizer em que dia vc faz aniversário que eu te digo qual é o seu signo!

Não entendi os segundos de silêncio que se seguiram. Ao cabo deste estranhamento, Fernando, traficante de renome, olhou-me diretamente nos olhos de forma fugidia, assustada, de como quem confessa um pecado há muito cometido e sussurrou, soslaiando para assegurar-se de que mais ninguém ouvia:

- ...sabe... ...é que... ...eu não sei... ...quando eu faço aniversário...

Constri meus lábios entre os dentes tal qual fazem os centenários na ausência da dentadura. Permaneci atônita e reticentemente emudecida, sem saber se eu falava mais alguma coisa ou mais nada. Como percebi o constrangimento de meu xará apenas no nome e em mais nenhuma circunstância além de nossa espécie e nacionalidade comuns, e seu aceno em não querer prolongar o assunto, levantei-me e afastei-me dele, tentando colocar em stand by o meu choque social.

Terminados a aula e o cartaz, encaminhei-me diretamente ao funcionário responsável pela papelada dos “menores”, sr. M, de cabelos imaculadamente brancos. Mais-que-pálida, relatei-lhe o ocorrido e terminei com um:

- O senhor poderia olhar na papelada dele e me dizer qual é a data de seu aniversário?

Sr. M. contraiu seus lábios tal qual eu meia hora antes. Disse a olhar para suas gavetas transbordantes:

- Pois é, eu também não tenho a data do aniversário dele, na verdade, só tenho seu R.G. expedido quando da sua prisão, com esta data de registro, com o nome que ele declarou, de pai e mãe desconhecidos. Ele foi preso sem documentos... Na verdade, provavelmente, nunca os teve...

Arqueei da forma mais ampla possível minhas sobrancelhas num lance de dúvida e inacreditável certeza. Sequer o Estado tinha certeza do nome, idade, data de nascimento, de Fernando, além dele próprio. Embora ele sequer fosse depositário de uma identidade, isso em nenhum momento tolheu o Estado de puni-lo, sem sequer dar-se ao trabalho de ir atrás de sua documentação original, se é que ela existia.

Caro leitor, passe brevemente em suas lembranças todas as vezes em que vc soprou velinhas, sempre na mesma data. Fernando nunca soprou e provavelmente nunca soprará nenhuma vela em nenhum bolo de aniversário. Vc consegue agora, talvez, vê-lo por um outro prisma, quiçá mais... humano?


Como exigir "normalidade", pelo nosso parâmetro, de quem nunca teve uma vida "normal", de acordo com "nosso" próprio parâmetro... ?

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