sábado, 20 de abril de 2013
De Orlando Nunes
O conheci em 2005, na comunidade Perguntas Cristãs Complexas. Era uma comunidade do Orkut de debates religiosos que se distinguia por sua proposta democrática, variedade de participantes, pluralidade e pelo elevado nível dos debates. Mais do que tudo, era um espaço único, no qual pessoas de diferentes credos podiam interagir, comparar seus dogmas, ver os pontos fracos e fortes de cada vertente teológica.
Os debates eram muito variados. Desde temas do "dia a dia" como sexo, vestuário, alimentação, comportamento e política, até pequenas abstrações filosóficas impalpáveis, mas teologicamente essenciais.
Nessa época eu me classificava como "espírita kardecista". Ainda o digo quando perguntada por alunos. Foi no período de amadurecimento teológico durante o qual participei desta comunidade que me descobri Noachide. Na comunidade, ao assim começar a me dizer, os membros entendiam a o que eu me referia. Seu eu me declarar "filha de Noé" aos meus alunos, seria muito difícil fazê-los entender do que tal se trata. E o Noachidismo pode nem ser considerado uma "religião", mas uma derivação do Judaísmo.
Orlando Nunes era calvinista. Protestante histórico seguidor de João Calvino, o célebre reformador franco-suíço. Se destacava por ser, ou aparentar ser, uma pessoa madura, equilibrada, pluralista, e de profundo conhecimento teológico. Por sua postura sempre ilibada, todos os membros lhe dedicavam o mais alto respeito, eu inclusa. Até o admirava por sua seriedade e simpatia.
Ainda na PCComplexas tivemos alguns debates memoráveis. Um ponto que exploramos até a exaustão foi se, ao ser suspenso no madeiro (a cruz) o corpo de Jesus se tornou maldito, conforme:
Deuteronômio 21:
22 Se um homem sentenciado à pena de morte, for executado e suspenso a uma árvore, 23 seu cadáver não poderá permanecer na árvore durante a noite. Você deverá sepultá-lo no mesmo dia, pois quem é suspenso torna-se um maldito de HaShem. Desse modo, você não tornará impuro o solo que o eterno seu D'us lhe dará como herança.
Gálatas 3:
13 Cristo nos resgatou da maldição da Lei, tornando-se ele próprio maldição por nós, como diz a Escritura: «Maldito seja todo aquele que for suspenso no madeiro.»
Orlando simplesmente não podia conceber a idéia de seu deus e messias ter se tornado maldito ao morrer. E, tecnicamente, Jesus foi suspenso num madeiro ao ser crucificado, tornando-se, assim "maldito" de acordo com as Escrituras, o que para ele era uma interpretação herética. Podia ser blasfema para ele, mas essa acepção tem amplo respaldo, com duplo testemunho, na Bíblia que ele próprio considerava sagrada. Também debatemos, provavelmente por meses, a questão do livre arbítrio, que os calvinistas negam existir, e que é fundamental para 90% das outras vertentes cristãs.
Debatíamos, discordávamos, refutávamos um ao outro. E ambos tirávamos grande prazer disso. Tudo ia muito bem até que o "clima político" da PCCplex foi pesando por diversas efemérides, mas especialmente por a proposta de "Democracia plena" não se concretizar, e algumas atitudes questionáveis do grupo de moderadores.
A coisa foi crescendo a um ponto que muitos dos membros "chave" pensavam em debandar em protesto. Nesta circunstância, Orlando Nunes me mandou um e-mail com uma proposta muito interessante: a de fundarmos nosso próprio espaço, convidando os dissidentes, uma nova comunidade de Perguntas Cristãs, essa sim democrática, aberta, plural e transparente.
Incluímos nesta troca de e-mails tb ao grande amigo que fizemos na PCX Alex "Aleph" de Paula, cristão evangélico neopentecostal da Assembléia de Deus. E Aleph prontamente aderiu ao projeto. Detalhe bastante significativo é que tanto Orlando Nunes como Aleph são pastores evangélicos certificados, ainda que não o exerçam. E ambos me viam em nível de igualdade com eles para dar início a um projeto, para nós, tão importante. Nem posso dizer como me senti honrada, em minha pequenez cheia de defeitos, de que pessoas com tão alto prestígio no "meio religioso" tanto virtual como físico, me vendo como "no mesmo nível" deles!
Tb convidamos para ser membro fundador conosco ao biólogo, naturista, defensor dos Direitos Humanos, budista e jedi Arthur "Dogbert" Golgo Lucas, mas por uma série de desencontros virtuais, ele se tornou membro, mas não com tanta participação.
Nas conversas por e-mail entre mim, Orlando Nunes e Aleph foi decidido que "reciclaríamos" uma comunidade quase inativa do Orlando Nunes, a "Cristianismo Puro e Simples", a rebatizaríamos de "Religião & Vida", promulgaríamos regras democráticas (a parte de criar esta legislação ficou, com muito gosto, na minha responsabilidade), convidaríamos os membros da PCC-plex e de outras comunidades de debate religioso, fazendo da nossa comunidade o que a PCComplexas deveria ter sido.
No começo, foi tudo muito bem. A comunidade bombou. Muitos membros de outras comunidades além da PCComplexas aderiram e participavam ativamente da nossa. Nessa época, eu já trabalhava, e não podia mais, como antes, dar longos plantões nos debates de que tanto gostava. Mas diversos tópicos interessantes pululavam em comentários. Rapidamente a comunidade ultrapassou mil membros. Até moderadores que haviam motivado nossa saída da PCX "faziam as honras" de ir até nossa comunidade para debater conosco. Na nossa comunidade, as regras que eu elaborara e colocara em votação protegiam a liberdade de expressão de todos muito melhor que as regras da PCX que nos haviam feito sair de lá.
Ainda nessa época em que tudo eram flores, eu estive em São Paulo, e conversei com o Orlando para nos encontrarmos pessoalmente. Falei com ele ao telefone, combinamos de finalmente nos conhecer no Conjunto Nacional, na esquina da Avenida Paulista com a rua Augusta. Perto da hora acertada fui a um Cyber Café, só para "dar um tempo" e vi uma mensagem sua com alguma desculpa ou justificativa de que ele não poderia ir. Isso deveria ter levantado um sinal de alerta, mas não o percebi. O coloquei na conta dos "bolos comuns" que as pessoas nos dão por conta de algum "imprevisto", e não mais me preocupei a respeito. Deveria.
Tudo continuou a ir muito bem na comunidade... Até que... Começaram a surgir os problemas. Orlando começou a demonstrar incômodo com o teor e o rumo "liberal", "blasfemo" ou "não edificante" (no seu ver) dos debates. Começou a criticar os demais moderadores e a querer "mandar mais" que eu e o Aleph. Com nossos protestos, Orlando tirou da manga o trunfo que jamais pensei que tinha guardado: que ele era o "dono" anterior da comunidade, portanto, ela lhe pertencia mais do que a nós.
Debatemos isso num tópico. Sabendo que ele estava a usar um argumento falacioso, copiei e colei os trechos dos e-mails que trocamos combinando os termos da fundação da R&V. E ressaltei em negrito todas as vezes que ele colocou, por escrito, "NOSSA comunidade". E lhe disse: "se em cada vez que vc escreveu NOSSA COMUNIDADE vc tivesse escrito MINHA COMUNIDADE, eu não teria aderido ao seu projeto."
Ao invés de perceber seu erro, ele ficou "ofendidinho" por eu estar divulgando o teor dos e-mails que havíamos trocado. Logo o Aleph renunciou ao seu posto de moderador. Em solidariedade a ele e por já estar bem de saco cheio de tudo aquilo, muito frustrada e me sentindo lograda, tb renunciei, no mesmo dia. Orlando manifestou estar se sentindo traído.
Depois disso meio que "larguei mão" e não ia mais todo dia lá debater, apenas dava uma "conferida no fórum" esporádica, sem me engajar muito. Depois de um tempo, não sei bem como ou pq o próprio Orlando renunciou a prosseguir moderando "nosso/seu" grupo, repassando-o a outros moderadores. Por vários meses assim ficou a comunidade.
Até que... Sumiu!
Demorou para cair a ficha. Por algumas semanas, eu entrava no Orkut, acessava o link dos favoritos da R&V e ele simplesmente não abria. Eu tinha certeza que era algum erro temporário até que entrei em contato com Jarson Brenner e ele me disse o que havia acontecido. Inadvertidamente Orlando Nunes havia, não sei tecnicamente como, reativado sua condição de "dono" da R&V e simplesmente a DELETADO. Sem explicação, sem justificativa, sem saída, sem registro. Por debaixo dos panos, ele havia desaparecido sumariamente com uma comunidade muito ativa, deixando órfãos, perdidos e desnorteados seus mais de mil membros. Que nome se dá a isso?
Me falaram que o Orlando provavelmente tencionava se tornar um "líder religioso" e fazer da R&V "sua congregação virtual ", na qual ele arregimentaria adeptos para sua visão teológica. E quando viu falhar o projeto de fazer dessa comunidade seu "trampolim" para construir um bom nome no meio religioso, decidiu, sumariamente, deletá-la, sem nenhum respeito aos membros ativos e aos membros fundadores, que tantas horas e tanta dedicação haviam destinado a esta comunidade virtual.
Nem sei se consigo adjetivar de forma justa este ato, nem como ele me surpreendeu da pior forma possível. Por todos os anos de convivência com Orlando, pelo tanto que eu o respeitava e achava que o conhecia, e pelo próprio discurso que ele fizera quando da fundação da comunidade, nenhum de nós suspeitava que ele seria capaz de um ato tão baixo, tão vil. Eu não havia jamais visto nenhum "sinal de alerta" de que ele seria capaz de nos dar uma rasteira tão inesperada.
Orlando Nunes foi a pior decepção que já tive na Internet.
De certa forma, ter uma boa memória pode ser considerado uma maldição...
Lara Fabian - Love by Grace http://youtu.be/Kjqa_Csf29Q
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quarta-feira, 27 de março de 2013
O Getsêmani, o cálice e o pêndulo
Eu já lera boa parte da Bíblia, já concluíra diversas disciplinas de cultura e história judaicas na Letras da USP. Queria interagir com outras pessoas interessadas nestes mesmos assuntos. Queria "testar hipóteses", debater, tentar levar a exegese aos seus limites. Pesquisei por "perguntas cristãs" (à época eu me considerava cristã, hj sei que nunca fui) e o primeiro resultado, de uma comunidade à época com 30 mil membros, foi a "Perguntas Cristãs Complicadas".
Interessante. Entrei. Logo percebi que aquela era uma comunidade confessional direcionada a cristãos evangélicos. E que eles passavam boa parte do tempo tentando debater com diversos malabarismos de copiar e colar, enxertando Cântico dos Cânticos no meio da Torah, com umas pitadas de profetas, tudo temperado pelo Apocalipse. Uma salada mista, pra quem vinha da Academia e procurava debates refinados. E grande parte destes malabarismos era para tentar decidir qual dentre as milhares de vertentes evangélicas é a "única e verdadeira". Também apreciavam bastante menosprezar a Igreja Católica, como se o Papa fosse o anti-Cristo, e desrespeitar a Maria de Nazaré de todas as formas possíveis.
Logo ao começar a apresentar perguntas e oferecer respostas, percebi que minhas posições afrontavam diretamente as interpretações religiosas deles. E não apenas eu percebia esse mal-estar. Diversos outros membros "se estranhavam" com o moderador Shaylon, que sumariamente expulsava as pessoas que ele achava que não estavam lá para "edificar a fé". Devido às suas ações intransigentes, outros membros que estavam lá há mais tempo resolveram debandar e criar sua própria comunidade dissidente: a Perguntas Cristãs Complexas.
Recebi um scrap de Leandro Moreira com um convite, e migrei. Na PCComplexas a proposta era de um ambiente democrático, com moderadores eleitos pela comunidade, e com plena liberdade de expressão. Era uma comunidade muito ativa e diversa: com ateus, budistas, espíritas, evangélicos de todas as vertentes imagináveis, católicos e outros tipos de protestantes, inclusive os tais dos "judeus messiânicos". Tínhamos até um seguidor de Inri Cristo. Não era piada, o Unamundo era uma pessoa racional e esclarecida, que defendia que Inri Cristo de fato era uma reencarnação de Jesus.
Logo os tópicos pegaram fogo. A participação era tanta, que eu chegava a meio que "dar plantão" nos finais de semana, finalmente debatendo cada pequeno meandro do texto bíblico, com pessoas das mais diferentes formações, para meu grande deleite intelectual. Um tópico em especial foi um hit instantâneo, com o tema: "sexo antes do casamento é pecado mesmo? Onde isso está escrito?"
Um prato cheio pra mim, que sempre gostei de "esgarçar" as interpretações da Torah até o limite máximo de sua liberalidade. Construi uma argumentação amparada em diversas passagens, mas sobretudo nesta:
Ex:22
15 Se alguém seduzir uma virgem solteira e se deitar com ela, pagará o dote e se casará com ela. 16 Se o pai dela não quiser dá-la, o sedutor pagará em dinheiro, conforme o dote das virgens.
Essa passagem diz: se uma moça se entregar de boa vontade "seduzida" por seu namorado, não há obrigatoriedade de casamento, apenas uma indicação. Se o pai não concordar com o casamento, ele não se realizará. O pai deve ser indenizado por ter "sua propriedade avariada". Fora a "multa", NENHUMA punição é prescrita a nenhum dos enamorados, e não é dito que eles estejam a partir daí proibidos de contrair matrimônio com terceiros.
Há mais uma dezena de outras passagens bíblicas que me autorizam a defender que, pela Torah, essa "neurose" cristã com a virgindade não tem respaldo legal. Debate vai, debate vem, um membro em especial, Sílvio, que era mórmon, se demonstrava revoltado com, na sua forma de pensar, eu estar a "estimular a promiscuidade" e de eu estar usando a própria Bíblia para isso.
Ao longo de uns 400 comentários o debate foi cada vez pegando mais fogo até que... Até que certo dia o tal Sílvio foi ao perfil moderacional e deixou 2 ou 3 scraps lá reclamando de a comunidade dar espaço para, nas suas palavras textuais, "uma garota de programa enrustida".
Imediatamente o moderador Marcel Vasconcelos excluiu o membro, fez um screenshot e deletou os scraps. No dia seguinte a comunidade estava em polvorosa, sem que os membros soubessem exatamente o que tinha acontecido, e os amigos do Sílvio questionando sua retirada. A moderação da PCCplex explicou a todos que o conteúdo da postagem que resultara na expulsão do Sílvio era altamente ofensivo, e portanto não seria posto à vista de todos.
Me mandaram uma cópia do screenshot e ao ler que eu havia sido chamada de "garota de programa" (pra quem não sabe, isso se refere às prostitutas) meu sangue imediatamente gelou nas veias, e me senti profundamente ultrajada. Eu jamais tinha imaginado que por passar minhas noites e finais de semana pendurada na internet debatendo Teologia eu poderia ser acusada de fazer sexo a dinheiro.
Pois, obviamente, se eu fizesse sexo a dinheiro, primeiro que não debateria Teologia, segundo que se eu fosse deste métier, nas noites e feriados eu estaria ocupada demais para ficar em casa madrugadas a fio debatendo pequenos detalhes da Lei de Moisés. Então a pessoa que me ofendeu, e se dizia um mórmon muito dedicado à sua religião, sabia a princípio que estava levantando falso testemunho contra mim, o que sim é pecado claramente expresso no Decálogo (Cf. Ex 20:16).
Mas o Sílvio prosseguiu a reclamar, e a incitar os membros que lhe eram próximos contra a moderação da PCX. A Moderação então franqueou que ele nomeasse um "advogado", um membro da comunidade no qual ele confiasse para o representar. Ele escolheu Orlando Nunes José, que à época era amplamente respeitado por todos, até por mim (posteriormente ele se revelou uma das maiores decepções que eu já tive na Internet, mas isso fica para outro texto).
Mandaram a Orlando Nunes o screenshot. E, sabiamente, ele deu razão à Moderação. Concordou que a expulsão do Sílvio era sim justa. Mesmo tendo sido nomeado por Sílvio como defensor, não havia como ele defender seu amigo diante da forma como este me ofendera. Sílvio engoliu o sapo e não mais nos incomodou por alguns meses.
Tempos depois, ele pediu para voltar, e a Moderação me consultou. Minha posição foi: que ele volte, mas que se desculpe publicamente pelo que fez. Se a ofensa foi pública, igualmente deveria ser a retratação. E ele o fez, criou um tópico chamado "O Getsêmani, o cálice e o pêndulo", no qual se mortificava pelo que havia feito. Li, não me convenci de sua sinceridade, mas me dei por satisfeita. Posteriormente até cheguei a voltar a debater com ele outras questões.
Depois de muito tempo, sanadas todas as feridas, hoje este episódio me traz um certo "orgulho", como o que um soldado sente a respeito de suas cicatrizes de guerra. Foi algo, completamente inesperado, que me marcou muito. Tanto pela ofensa como pela proteção que o grupo de moderadores me deu. Foram rápidos, eficientes, e agiram da melhor forma possível à época. Depois tivemos nossos entreveros sobre a não realização da proposta de "democracia plena", mas isso tb fica para outro texto.
Muitas mulheres são acusadas de ter um comportamento sexual desregrado, ofendidas como "garotas de programas" e tratadas como prostitutas, sem o ser.
Mas poucas podem dizer que passaram por isso porque gastavam todas as suas horas livres, varando madrugadas e finais de semana, a debater Teologia.
Tópico do orkut - http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?tid=2442448414765242414&cmm=6452454&hl=pt-BR
http://pccomplexas6452454.blogspot.com.br/2006/03/o-getsemani-o-clice-e-o-pendulo-annimo.html
Depeche Mode - Personal Jesus http://youtu.be/cNd4eocq2K0
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sábado, 12 de janeiro de 2013
De como comecei a fumar
O tabagismo futuramente será considerado uma das mais sui generis excentricidades da espécie humana. Me aventurando na insidiosa senda da futurologia, creio q o futuro será dominado pela ditadura de tudo q é saudável e politicamente correto, e não haverá mais fumantes.
Fumar era um vício meso-americano, rapidamente trasladado ao Velho Mundo, como coisa "sofisticada", de gentis-homens. Já no século XIX, tb as mulheres "da alta sociedade" começaram a fumar, munidas de longas piteiras cheias de charme. Ao fumar publicamente, uma mulher apresentava uma declaração de liberdade, auto-determinação, expunha sua verve avant-garde.
Já no século XX, aparentemente "todos" os homens eram fumantes. Poetas, escritores, nobres, jornalistas, artistas, políticos. Fumar era "chic", marca dos boêmios e bon-vivants. Não havia "área de fumantes" pois podia-se fumar em todos os lugares: corredores, elevadores, salas de reunião, aviões, restaurantes, hospitais (célebre é a imagem do pai, ao nascimento do filho, distribuir charutos a todos os amigos; e da mesma forma q é "falta de educação" ser servido numa taça e não beber, era receber um charuto e não fumá-lo).
Nas fotos de grandes eventos históricos, era freqüente vermos todos os "figurões" da política munidos de seus cigarros e charutos, posando alegremente. Àquela época, ostentar um charuto era símbolo de status e elegância, como tb eram a bengala, o monóculo e a cartola.
Foi no ocaso deste cenário histórico, ao fim da Guerra Fria, q principiei a fumar. O ano era 1997. Eu tinha 14 anos e começava a "sair de balada" com minhas amigas de escola. Queríamos ser "prafrentex", modernas, antenadas, transgressoras, rebeldes. E era necessário demonstrar isso exteriormente, através de nossas roupas, atitude, linguajar, penteado, postura.
Éramos adolescentes, e para provar a nós mesmas q não mais éramos crianças, queríamos degustar pequenos aperitivos da "vida adulta": salto alto, saia curta, decote, bebida alcoólica, beijar os rapazes, sair à noite e fumar. Queríamos deixar bem vincada a linha q nos separava de nossos pais "chatos e antiquados". E ter pequenos segredos entre nós era parte importante disso.
Diz-se q os adolescentes são altamente influenciáveis pelos "amigos", e é verdade. Quando a primeira de nós começou a fumar, o hábito se disseminou rapidamente em todo o grupo, como um vírus. Entramos "na onda" da galera. Do grupo de 5, 3 tornaram-se fumantes convictas, uma fuma bem de vez em quando, e a outra jamais pegou gosto pelo cigarro.
Dei meu primeiro trago num cigarro na boate Stravaganza, situada à rua Henrique Schaumann, em Pinheiros. Fui lá algumas vezes, na companhia de Thaís, Maristela, Gisele e Aline. Tínhamos todas a mesma idade, na plena efervescência hormonal de nossos 14 anos. Queríamos "pagar de gatinhas descoladas" e, como todos os "transgressores e rebeldes" fumavam, nós tb queríamos.
Naquela época fumávamos Gudang Garang, cigarro de cravo interminável com filtro adocicado. O maço era caro e o comprávamos coletivamente, fumando só para "fazer charme" para os garotos. Logo a diversão ocasional transformou-se em hábito quando entramos no Ensino Médio.
Àquela época só havia 2 tipos de Marlboro: o vermelho "estoura peito" e o "light", dourado. O maço custava algo como 1 real e sessenta centavos, o q naquela época era dinheiro, com o Real valorizado. E assim já aos 15 anos comecei a comprar meus próprios maços de cigarro.
Todo o meu quarteto do colegial, completado por Chico, Romeu e Maristela, era fumante. Apenas eu tinha dinheiro, ou coragem, pra comprar maços de cigarro. Em nossas muitas aulas vagas, ficávamos sentados num canto do pátio fumando, e eu vendia-lhes cada cigarro a dez centavos. Sob protestos de q eu seria algum tipo de mercenária por lucrar 2 ou 3 centavos em cada um, me repassavam a moedinha, e ríamos, fumando despreocupadamente, sem sermos incomodados pelos inspetores de alunos. Curioso perceber q no dia de hj, no mesmo "José Marques da Cruz", se um aluno acender um cigarro leva uma suspensão, e nós há 13 anos podíamos fumar livremente no mesmo ambiente... Outros tempos, nem tão longínqüos...
Ao entrar na faculdade de História na USP, foi reconfortante sentir-me acolhida numa sociedade de fumantes; na qual tal hábito, além de sinal de boemia e vanguardismo, era a marca da intelectualidade. Não só a maior parte de meus colegas eram fumantes, como até os professores fumavam, sem reservas, enquanto davam suas aulas. A certa altura do curso, afixaram nas salas de aula avisos de "por favor, não fume". Na primeira aula posterior à adição do aviso, o professor entrou, sentou, aproximou o lixo no qual costumava jogar as cinzas, mirou a placa, deu de ombros, nos fitou e falou em voz alta:
- Que me multem!
Outro professor, mais sensível, na mesma situação, começou a aula da seguinte forma:
- Há entre vcs pessoas q se incomodam com a fumaça do cigarro?
Uma meia dúzia levantou a mão, e ele concluiu:
- Então, por favor, sentem no fundo da sala, pois eu vou fumar.
Simples assim. Até 2005, 2006, "chato" era o não-fumante q reclamava do fumacê alheio. Todos fumavam em ambientes fechados, restaurantes, aviões, e até então todos encaravam a fumaça com naturalidade, como uma das "coisas da vida", q podemos não gostar, mas toleramos, como hj se faz com pessoas q falam em voz alta no celular, ouvem funk sem fone de ouvido e comentam sobre a tabela do campeonato brasileiro.
Hj, poucos anos depois, é um absurdo, e completo anátema, algum fumante exercer seu hábito em qualquer "ambiente público fechado" ou mesmo aberto. Não se fuma mais nos escritórios, boates, restaurantes, barzinhos. Se antes fumar era "chique" hoje virou algo q nos aliena, afasta, "quebra o clima", segrega.
Fumar antes era fator de integração social. Hj, os fumantes precisam se retirar da baladinha, ir pra fora, fumar na calçada, no frio e na chuva, enquanto o "agito rola solto" lá dentro. Se antes fumar era coisa de gente moderna, transgressora, sofisticada, hoje fumar virou coisa de gente antiquada, excêntrica, antissocial, segregada.
Hj em dia, em quase nenhum lugar mais se pode fumar, e nos q se pode, é comum q quando acendemos um cigarro os estranhos ao lado nos fulminem com um olhar de reprovação, torçam o nariz e se afastem como se fôssemos leprosos, deixando subjacente a frase: "vc é muito folgado e está contaminando o meu ar!"
A ditadura do politicamente correto está fazendo um ótimo trabalho em transformar todos nós em mauricinhos e patricinhas bunda-mole, garotos-propaganda da "geração saúde". Se hoje, quando assisto a filmes e seriados dos anos 1990 nos quais todo mundo fuma em todos os lugares, até eu estranho e acho graça, apenas posso imaginar a surpresa dos q viverem daqui a 50 anos diante da mesma situação. E a hilaridade q será no futuro assistir a "The X-Files" (Arquivo X, série protagonizada pelos agentes do FBI Fox Mulder e Dana Scully) com meus netos e responder à cândida dúvida:
- O q é esse bastão q solta fumaça q o Canceroso segura em todo lugar?
Estou certa q o tabagismo entrará para a História como uma "excentricidade" prescrita, e no futuro ninguém mais poderá fumar, em nenhum lugar... Este é o chato mundo q estamos a construir...
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segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Da Humildade, ou da Modestia
Muitos acham q a humildade é uma espécie de "máscara social" q as pessoas aprendem a usar de acordo com a conveniência, para "se sair bem" e não parecerem arrogantes quando elogiados.
Por exemplo, quando uma pessoa é muito bonita, ou inteligente, ao ser elogiada por essas características "pega mal" ela concordar com quem a elogiou dizendo "é verdade, eu sou um gato; ou eu sou um gênio". E fica muito melhor, socialmente, ela dizer "imagina, é q hj me arrumei um pouquinho" ou então "ah, eu sou burra em diversas coisas".
Mas a verdadeira humildade não existe "para ficar bem com os outros", não parte de uma preocupação consigo próprio. A verdadeira modéstia nasce da percepção do mundo q nos cerca. Uma pessoa bonita não deve dizer o supracitado para evitar parecer arrogante, mas pelo apercebimento objetivo de q existem milhões de pessoas mais belas q ela. Uma pessoa inteligente não deve dizer o supracitado para evitar q seus amigos invejem suas capacidades intelectuais, mas por saber q na verdade, comparada ao verdadeiros gênios, tem uma capacidade cognitiva quase mediana.
Uma pessoa extremamente bonita e inteligente se achará o ápice da espécie humana até amadurecer, ganhar experiência, e pela vida encontrar dezenas de pessoas melhores q ela. E mais humildes, modestas, a este respeito do q ela. Apenas quando saímos do nosso casulo da segurança individual, ganhamos experiência de vida, sucessivamente quebramos a cara e nos decepcionamos, passamos a ser mais observadores, aprendemos mais a ouvir do q falar, percebemos nossa pequenez, nossos limites, nossa visão parcial e limitada ao que queremos ver.
Para ilustrar o q pretendo expor vou usar um exemplo. O exemplo do maior profeta q o povo de Israel já teve, Moshe (Moisés). Há várias formas de responder pq, dentre todos os israelitas, justamente foi ele o escolhido para ter uma intimidade tão grande com HaShem. Há quem diga q foi por sua linhagem, há quem diga q foi por seu zelo e coragem.
Eu acredito q foi por sua humildade. Q ele foi escolhido por "não se achar grande coisa". Pois, se ele fosse cheio de si, não obedeceria cegamente, se acharia no direito de fazer "a sua Lei" e não estaria propenso a obedecer em tudo, cegamente, o q lhe era ordenado. Vejamos algumas passagens de sua vida.
Ex 3:
11 Então Moisés disse a D'us: «Quem sou eu para ir até o Faraó e tirar os filhos de Israel lá do Egito?»
Ex 4:
10 Moisés insistiu com D'us: «Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar, nem ontem, nem anteontem, nem depois que falaste ao teu servo; minha boca e minha língua são pesadas». 11 D'us replicou: «Quem dá a boca para o homem? Quem o torna mudo ou surdo, capaz de ver ou cego? Não sou eu, HaShem? 12 Agora vá, e eu estarei em sua boca e lhe ensinarei o que você há de falar».
13 Moisés, porém, insistiu: «Não, meu Senhor, envia o intermediário que quiseres». 14 D'us ficou irritado com Moisés e lhe disse: «Você não tem o seu irmão Aarão, o levita? Sei que ele sabe falar bem. Ele está vindo ao seu encontro e ficará alegre em ver você.
Moisés é tão modesto, "acha" tão pouco de si q isso até irrita a D'us. Mesmo diretamente recrutado, pessoalmente, pelo Criador, Moisés não se acha digno da tarefa. Pede q HaShem escolha outro em seu lugar, não se acha capaz, expõe seus defeitos.
Caso Moisés fosse o tipo de pessoa q nessa situação dissesse "realmente, eu sou muito santo, um líder nato, o Senhor não poderia ter escolhido melhor" ele não teria sido escolhido para tarefa tão importante. Pois se fosse esse tipo de pessoa tão "convencida e cheia de si" colocaria o próprio ego, os próprios interesses e conveniências, acima das ordens q recebia.
Na Torah há diversos alertas para o povo não ficar "convencido" e cheio de si, vejam 2:
Dt 8:
17 Portanto, não vá pensar: ‘Foi a minha força e o poder de minhas mãos que me conquistaram essas riquezas’.
Dt 9:
4 Quando Javé seu D'us os tiver expulsado da sua frente, não vá pensar: ‘Foi por causa da minha justiça que D'us me fez entrar e tomar posse desta terra’. Não. É por causa da injustiça dessas nações que D'us as expulsará da sua frente. 5 Se você vai conquistar essas terras, não é por causa da sua justiça e honradez, e sim porque HaShem seu D'us vai expulsá-las da sua frente por causa da injustiça delas, e também para cumprir a promessa que ele havia jurado a seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó. 6 Saiba, portanto: não é por causa da justiça de você que HaShem seu D'us lhe concede possuir esta terra boa, pois você é um povo de cabeça dura.
Muitas vezes, quando nos deparamos com pessoas q têm um conhecimento menor q o nosso, é comum sermos arrogantes, "superiores" e professorais no sentido "percebi q vc não sabe nada, só fala bobagem; agora cale-se e aprenda com quem realmente sabe". Tudo o q for dito depois disso pode ser até bom e elaborado, mas já nasce com um vício original. Foi plantado de forma adversa, diz muito mais sobre o quanto quem o expõe "se acha o máximo e gosta de usar seu conhecimento para se exibir, diminuir e humilhar os outros." O q demonstra q essa pessoa pode até entender muito de teoria, mas seus conhecimentos não são usados na prática.
Ao explicar, ou argumentar com pessoas q achamos ter menor conhecimento, devemos ter o cuidado de nos expressar de forma q a mensagem seja recebida de forma propícia, não como uma crítica, não de forma a "diminuir" o outro. Não devemos agir como se estivéssemos encastelados numa imaculada torre de marfim, devemos "ficar no mesmo nível", explicar de forma q a outra pessoa compreenda.
Exemplo fácil. Vc vê uma criança pequena colocando o dedo na tomada. De nada adianta falar-lhe "vc é muito burra, assim vc vai morrer" ou então dar uma explicação técnica sobre elétrons e correntes alternadas. É necessário ser maduro, não agir com a mesma infantilidade da criança, explicar-lhe de forma q ela entenda "assim vc vai fazer dodói, da tomada sai um 'raio' q machuca se vc colocar o dedo".
É preciso explicar cada coisa da forma mais calorosa, paciente, e apropriada à compreensão do destinatário, de forma q essa explicação lhe acrescente, faça com q ele cresça. Devemos perceber q explicar uma coisa para alguém não é uma oportunidade de exibirmos nossa erudição, nossos "grandes conhecimentos", mas sim é uma chance de contribuir com a evolução dos q nos cercam.
Devemos ter consciência de q, por mais q saibamos (ou achamos q sabemos) há pelo menos 5 mil pessoas no mundo q sabem sobre isso muito mais q nós, com maior profundidade, e q elas não se gabam disso. E não se gabam justamente pq elas próprias sabem q existem outras mil pessoas q sabem mais q elas próprias. E mesmo a mais sábia dentre essas mil pessoas, se perguntada, agirá justamente como Moisés; dirá "quem sou eu para tão grande responsabilidade? Há outros muito melhores q eu!"
Concluindo, acredito q HaShem escolheu Moisés, q passou a ser referido por "Moshe Rabenu" (Moisés, nosso pai), justamente por saber q ele teria a maturidade, a experiência, a compreensão "psicológica" do outro, para orientar de forma adequada, com as palavras corretas, pacientemente, ao povo de Israel. Por saber q ele não se colocaria àfrente do povo, mas sim o povo àfrente se si (cf Ex 32:32; Dt 9: 8, 14, 26).
Moisés não foi escolhido por ser o q melhor guardava a Lei, por saber todas as regras de cashrut, por sua eloquência, por nunca ter se contaminado com a idolatria (afinal, ele era um príncipe do Egito), por nunca ter pecado (vcs lembram do egípcio q ele matou? Cf Ex 2:12), por ser um "líder nato", por ter sido "preparado" para isso.
Acredito q o motivo fundamental q fez HaShem escolher Moisés foi justamente este:
Nm 12:
3 Moisés era o homem mais humilde entre todos os homens da terra.
E este foi o grande diferencial deste grande homem: sendo grande, achava-se pequeno. Mesmo quando HaShem o convocou pessoalmente, achou-se pouco digno, pouco preparado, aquém, incapaz de cumprir tão importante tarefa.
E é por isso que
Dt 34:
10 Em Israel nunca mais surgiu outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia face a face.
sábado, 30 de junho de 2012
Deus julga as mulheres com maior leveza?
Vejamos algumas passagens sobre a condição feminina:
Lv 27:
1 Javé falou a Moisés: 2 «Diga aos filhos de Israel: Quando alguém quiser cumprir um voto a Javé, em relação ao valor de uma pessoa, o valor será o seguinte: 3 Se for um homem entre vinte e sessenta anos, a taxa será de quinhentos gramas de prata, conforme o peso padrão do santuário. 4 Se for uma mulher, a taxa será de trezentos gramas. 5 Se for um rapaz entre cinco e vinte anos, a taxa será de duzentos gramas. Se for uma jovem, a taxa será de cem gramas. 6 Se for um menino entre um mês e cinco anos, a taxa será de cinqüenta gramas. Se for uma menina, a taxa será de trinta gramas. 7 Se for um homem de sessenta anos para cima, a taxa será de cento e cinqüenta gramas. Se for uma mulher, será de cem gramas.
Nisto está claro q, ao menos em dinheiro, uma mulher vale menos q um homem. Ou, se visto de outra forma, q um pecado feminino pesa menos q um pecado masculino. Isso tb pode ser inferido daqui:
Gn 3:
16 Javé Deus disse então para a mulher: «Vou fazê-la sofrer muito em sua gravidez: entre dores, você dará à luz seus filhos; a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará».
17 Javé Deus disse para o homem: «Já que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore cujo fruto eu lhe tinha proibido comer, maldita seja a terra por sua causa. Enquanto você viver, você dela se alimentará com fadiga. 18 A terra produzirá para você espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva dos campos. 19 Você comerá seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para a terra, pois dela foi tirado. Você é pó, e ao pó voltará».
Na expulsão do Éden a punição às mulheres é passageira, se dá apenas quando está grávida e vai dar a luz. A punição ao homem é permanente: ele é punido com o trabalho extenuante em todos os dias de sua vida. A punição pesa mais sobre o homem do q sobre a mulher.
Nesta outra passagem é relativizado o adultério. Diz q se uma mulher é levada a isso sem ser livre (e quase nenhuma mulher era "livre") ela não deve ser penalizada.
Lv 19:
20 O homem que se unir a uma mulher que é escrava concubina de outro homem, sem que ela tenha sido resgatada nem alforriada, pagará uma multa. Eles não serão mortos, pois a mulher não era livre.
Outra Lei da qual podemos inferir este princípio é esta
Ex 22:
15 Se alguém seduzir uma virgem solteira e se deitar com ela, pagará o dote e se casará com ela. 16 Se o pai dela não quiser dá-la, o sedutor pagará em dinheiro, conforme o dote das virgens.
Nessa passagem o interessante é: nenhuma punição é prescrita à moça solteira seduzida q se entregou voluntariamente. Apenas o "sedutor" é punido. E não com o apedrejamento, mas com uma simples multa pecuniária.
Creio q isso resulte dessa outra passagem
Nm 30:
2 Moisés falou aos chefes das tribos de Israel: «Assim ordena Javé: 3 Quando um homem fizer um voto a Javé ou se comprometer com alguma coisa sob juramento, não deverá faltar à palavra. Cumpra o que prometeu.
4 Quando uma mulher, ainda solteira e morando com o pai, fizer um voto ou se obrigar a uma promessa, 5 se o pai, conhecendo o voto ou a promessa que ela fez, nada lhe disser, então os votos dela são válidos e a promessa ficará de pé. 6 Contudo, se o pai, no dia em que tomou conhecimento, fez oposição à promessa, nenhum dos votos e promessas que ela fez serão válidos. Javé a dispensa, porque o pai dela desaprovou.
7 Se ela se casar comprometida pelo voto ou pela promessa que fez sem pensar, 8 e se o marido, ao tomar conhecimento, nada lhe disser no dia em que for informado, os votos e promessas que ela fez serão válidos. 9 Contudo, no dia em que o marido tomar conhecimento, se ele fizer oposição, o voto que ela fez ficará nulo, e a promessa que fez sem pensar não terá efeito. Javé os dispensará.
10 O voto de uma viúva ou repudiada e todas as promessas que fizer serão válidos.
11 Quando uma mulher faz um voto na casa do seu marido, ou se compromete com alguma coisa sob juramento, 12 se o marido, ao saber do fato, nada lhe diz e não lhe faz oposição, então os votos dela são válidos e a promessa que fez ficará de pé. 13 Contudo, se o marido, ao ser informado, os anula, então os votos e promessas dela ficam inválidos. Seu marido os desaprovou e Javé a dispensa.
14 O marido pode confirmar ou anular qualquer voto ou juramento de penitência feito pela sua mulher. 15 Contudo, se o marido nada lhe diz até o dia seguinte, então confirma todos os votos e promessas que a obrigam: ele os confirma com o silêncio que guardou ao ser informado. 16 Todavia, se foi informado e os anula mais tarde, ele próprio levará o peso da culpa de sua mulher».
17 São essas as ordens que Javé deu a Moisés para o marido e a mulher, e para o pai e a filha, quando esta ainda vive com seu pai.
A moça solteira, q ainda mora com seu pai, não é dona de si própria e não pode assumir sozinha nenhum compromisso. E caso o faça, seu pai pode livremente anular qualquer compromisso q sua filha dependente assuma, sem que o Criador impute nada negativo a ela. A moça solteira era propriedade do pai, q inclusive podia vender a própria filha como escrava (cf Ex 21:7). A mulher casada era propriedade do marido (cf Nm 5:19 e Gn 2:16), estava sob seu domínio e a ele devia obediência.
A Torah possui 613 mitzvot. Porém as mulheres não são obrigadas a segui-las todas, vejamos:
"As mulheres têm menos obrigações porque são conectadas de maneira diferente dos homens; possuem um progresso espiritual embutido. Os homens precisam usar kipá sobre a cabeça para lembrarem que D’us está acima deles. As mulheres não, porque elas têm a presença de D’us já incorporada em seu projeto espiritual." fonte: http://www.chabad.org.br/interativo/faq/mulher_mitsvot.html
"Apesar da mulher judia estar igualmente obrigada, como o homem, a cumprir todas as proibições da Torá, os mandamentos proibitivos (e estes são a maioria - 365 "não faças"para 248 "faça").
"Entretanto, no que se refere aos mandamentos positivos, a mulher judia está isenta do cumprimento de alguns deles (de modo algum, não todos), principalmente os que têm um fator tempo ou limite, em consideração aos seus importantes deveres conjugais e maternais, aos quais a Torá dá precedência. Neste aspecto, portanto, a mulher judia é antes "privilegiada". (...)
"Sob o ângulo feminino, toda mulher judia deve estar consciente de ter sido dotada de uma maior sensibilidade que permite estabelecer uma conexão com D’us de forma direta e profunda. Sob este prisma, sua natureza é mais uma vantagem, um ponto a seu favor. O fato de D’us tê-la isentado de certas tarefas mostra todo apreço que Ele dedica ao seu papel essencial dentro do povo judeu e na garantia de sua continuidade." fonte: http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/mulher_fez/home.html
Uma vez q as mulheres são obrigadas a seguir menos leis q os homens e o preço do resgate de uma mulher é inferior ao de um homem, podemos considerar que o Criador é mais benevolente com as mulheres do q com os homens? Que HaShem exige menos das mulheres, as julga com menor rigor do q o faz em relação aos homens?
Nascer mulher é uma bênção e dá um campo de liberdade maior ao ente feminino do q seus equivalentes masculinos têm? Isto posto, posso agradecer pela manhã a Deus ter nascido mulher, e não homem?
terça-feira, 22 de maio de 2012
Diferencas entre os bnei Noach e os bnei anussim
A história dos hebreus foi cheia de percalços, incluindo 2 expulsões de sua terra e a submissão a diferentes poderes imperiais. A primeira expulsão, ordenadas pelos Assírios, levou à dispersão das tribos e "sumiço" de 10 delas, restando as de Judá e Benjamin, e poucos remanescentes da tribo de Levi.
A Diáspora ordenada pelos romanos resultou numa dispersão prolongada dos judeus; q foram assim divididos, a grosso modo, em 2 grupos "étnicos": os askhenazim (alemães) da Europa central e os sefaradim (espanhóis) da Península Ibérica e norte da África.
Diferentemente da maioria da religiões, o Judaísmo não é proselitista: não procura converter à sua fé adeptos de outras religiões. Embora qualquer um possa se converter ao Judaísmo (embora esse processo seja difícil), ninguém nunca verá judeus fazerem propaganda de sua religião aos não-judeus tendo em vista convertê-los ao Judaísmo.
Muitos gentios (não-judeus) nisso vêem q o Judaísmo não contempla nem tem nenhuma preocupação com quem não é judeu, como se os gentios estivessem excluídos de sua concepção religiosa do mundo, o q é um erro.
A Teologia judaica professa q Deus fez 2 alianças, sucessivas e diferentes com os homens. Uma ampla, com todos os homens. Outra específica, exclusiva, com os descendentes de Jacó/Israel. A aliança com todos os humanos foi firmada com Noé. A aliança com a nação de Israel, apenas com os q estiveram presentes na revelação do Sinai e seus descendentes, é a aliança de Moisés.
Talvez falte aos gentios o conhecimento de q, de acordo com o Judaísmo, não são só os judeus q "vão para o Céu" (o termo correto seria "terão parte no mundo vindouro"), e q isso significa q Deus "pega mais leva" ou "cobra menos" dos gentios do q dos judeus. Dos gentios, os bnei Noach (noachides, noahides ou "filhos de Noé") Deus exige o seguimento de apenas 7 leis, enquanto q aos judeus é exigido o seguimento de 613 leis.
O movimento bnei Noach não se destina a converter ninguém ao Judaísmo. Busca divulgar as 7 leis da aliança noética para a elevação ou retificação de toda a Humanidade. Busca divulgar q os "tementes a Deus" e os "justos entre as nações" também têm seu espaço na concepção de mundo judaica.
Este texto não ficaria completo sem citar quais são estas leis.
1) Creia em D'us. Não sirva a ídolos.
2) Não blasfemar.
3) Não roubar.
4) Não matar.
5) Não cometer adultério
6) Cumpra as leis do país
7) Não coma um membro de um animal vivo e não seja cruel com animais.
Para saber mais: http://www.chabad.org.br/interativo/FAQ/sete.html
O movimento bnei anussim (filhos dos forçados) é muito diferente do bnei Noach. Enquanto todo ser humano sobre a terra é um filho de Noé, os bnei anussim são um grupo étnico-cultural específico, e muito diversificado. Existem bnei anussim de todas as cores: brancos, negros, asiáticos e até indígenas.
Também chamados de criptojudeus, a depender do lugar os bnei anussim também são chamados de marranos, neofiti, xuetes, cristãos-novos, ladinos, conversos, daggatuns, dönmeh, falash mura, lemba, judeus de Paradesi, Cochin, Malabar ou Kaifeng, entre outras denominações. Embora haja variações particulares, podemos afirmar q, embora os grupos referidos por estas denominações não pratiquem o Judaísmo como ele é configurado nos dias de hoje, fazem parte do grupo étnico hebreu.
São judeus, mas não são judeus. Fazem parte da etnia q descende dos hebreus, porém não praticam o Judaísmo rabínico, haláchico. E não deixaram de praticar o Judaísmo por sua livre escolha, mas pq desde a Diáspora e a disseminação do Cristianismo, ser judeu era perigoso. Especialmente na Europa, praticar abertamente o Judaísmo equivalia a uma sentença de morte nas mãos do Tribunal do Santo Ofício, a famosa Inquisição católica. Para salvar a própria vida, muitas comunidades judaicas se converteram à religião q lhes era imposta.
Contudo, em suas tradições culturais estes grupos de forçados (anusim) carregam diversos "marcadores" cuja origem é a prática do Judaísmo. Tradições como acender velas na sexta-feira, recusa em ingerir carne de porco, métodos de abate de animais, jeitos específicos de limpar a casa e lidar com os mortos, casamentos endogâmicos, diversas tradições familiares seguidas por séculos sem q muitas vezes seus descendentes saibam q estes costumes na verdade revelam uma herança calada.
O Brasil é um lugar especialmente rico em tradições criptojudaicas. Inconscientemente, muitos brasileiros eternizam em seus costumes populares reminiscências q revelam nossa origem insuspeita. Elementos folclóricos q muitas vezes consideramos oriundos dos portugueses na verdade revelam a origem cristã-nova de nossos antepassados.
Expressões e tradições tais como "chorar a morte da bezerra", "fazer mesura", dizer "que massada", "a carapuça serviu", "pedir bênção, ou 'bença' dos pais" antes de sair de casa, dizer "Deus te crie" quando alguém espirra, dizer q "apontar as estrelas dá verruga", antes de beber derramar um pouco da bebida "para o santo", todos estes costumes "brasileiros" são de origem cripto-judaica.
Além destas tradições orais, outro tipo de "marcador" pode ser usado para auferir se uma pessoa descende de judeus: o sobrenome. Sobrenomes referentes à religião cristã, referentes à flora, referentes a profissões e lugares. Muitos apelidos familiares q achamos ser de origem portuguesa revelam essa herança insuspeita. Citarei apenas alguns sefaraditas. Se vc tem qualquer um dos sobrenomes citados a seguir, é quase certo q vc é um bnei anussim:
Amorim; Azevedo; Álvares; Avelar; Almeida; Barros; Campos; Carneiro; Carvalho; Cruz; Dias; Duarte; Ferreira; Franco; Gonçalves; Lemos; Lopes; Machado; Martins; Mattos; Meira; Mello; Mendes; Miranda; Mota; Nunes; Oliveira; Paiva; Pardo; Pilão; Pina; Pinto; Pessoa; Ribeiro; Rodrigues; Rosa; Salvador; Souza; Torres; Vaz; Viana; Vargas; Andrade; Brandão; Brito; Bueno; Cardoso; Carvalho; Castro; Costa; Coutinho; Dourado; Fonseca; Furtado; Gomes; Gouveia; Marques; Prado; Mesquita; Mendes; Pereira; Pinheiro; Silva; Soares; Teixeira; Teles, Ramos, Oliveira; Pereira; Ferreira; Pimentel; Abraão.
Esta lista deve surpreender a muitos, pois a maioria desses sobrenomes (retirei os menos conhecidos) é muito comum entre os brasileiros, a maioria dos quais os carrega sem saber sua origem. Todos são citados em autos-de-fé inquisitórios como pertencentes a judeus ou são ainda hj ostentados como sobrenomes tipicamente judeus, fora do Brasil.
Para os q acham q estou exagerando, existem estimativas de q, durante o Brasil Colonial, cerca de 1 terço dos habitantes da colônia de origem portuguesa eram além disso, cristãos-novos. Q emigraram de Portugal para sua colônia americana por perseguição religiosa. Em Portugal eram discriminados e perseguidos por serem cristãos-novos e viram na emigração para a colônia uma forma de escapar à perseguição do Tribunal da Santa Inquisição. Na mesma medida em q os puritanos ingleses emigravam para as colônias britânicas na América para fugir à perseguição religiosa no Velho Mundo, cristãos-novos portugueses se mudavam para o Brasil; para fugir à perseguição religiosa.
Durante a colonização da América portuguesa, seus residentes tiverem um breve suspiro de "liberdade de culto" durante a ocupação holandesa do Nordeste, e neste período de liberdade estes criptojudeus puderam "sair do armário" e reviver suas tradições, chegando a erigir a primeira sinagoga em solo americano, a lendária Kahal Zur Israel, na "rua dos judeus", em Recife, Pernambuco. Finda a ocupação holandesa, os q não emigraram para fundar Nova Amsterdã (New York city, a "big apple", Nova York) retornaram à sua condição de judeus ocultos.
O movimento bnei Anussim procura divulgar entre os descendentes destes judeus forçados a se converter sua origem judaica, objetivando reintegrá-los à comunidade judaica, bem como reconduzi-los à prática do Judaísmo como religião.
Detalhe nem tão pequeno assim é q ser descendente de judeus, mesmo q comprovadamente pela tradição familiar, pelo sobrenome ou mesmo por um teste genético não torna ninguém imediatamente um judeu, na religião. Todos os filhos dos forçados são muito bem-vindos em se reintegrar à comunidade dos seus antepassados. Porém uma etapa essencial faz-se necessária: a conversão. Ou melhor, a "conversão de dúvida".
Mas muitos estranharão pq alguém q comprove ser descendente de judeus ainda assim precise passar por uma rígida, criteriosa e economicamente proibitiva conversão (impossível em território brasileiro atualmente) para poder ser plenamente aceito em sua comunidade ancestral. Isso acontece pois no processo de assimilação às comunidades geográficas nas quais residiam, perderam-se os registros genealógicos e a maioria dos anussim "se misturou" às comunidades locais, trazendo elementos étnico-culturais variados, comumente considerados idólatras. Não há como comprovar sua descendência matrilinear direta. Portanto, mesmo nas comunidades criptojudaicas fechadas, não há como ter 100% de certeza de q sua descendência judaica pela linha materna é ininterrupta. Por isso os filhos dos judeus forçados precisam se converter pela Halachá para retornar à comunidade judaica.
Espero com este texto ter contribuído para esclarecer q os bnei Noach são todos os seres humanos sobre a terra, e q desta forma todos os gentios são contemplados pela religião judaica e não precisam "virar judeus" para terem seu lugar no mundo vindouro. Apenas precisam observar as 7 leis transcritas acima.
Adversamente, os bnei anussim são um grupo étnico composto por todos os descendentes de judeus q, por diversos motivos, foram obrigados a "deixar de ser judeus", ao menos na "casca externa". Existem bnei anussim loiros, ruivos, negros, indianos, chineses, latinos: de todas as cores do espectro humano. Porém, abaixo das diferenças aparentes em seu fenótipo, todos integram a etnia judaica. E por serem descendentes das tribos de Israel, estão sendo, progressivamente, trazidos à lembrança de suas raízes. E, caso os descendentes destes forçados sintam q no fundo de sua alma bate um coração judeu, encontram nos seus primos distantes um convite: retornar às suas tradições, reviver a herança dos seus antepassados, fazer o caminho de volta: retornar à nação judaica e à prática do seu Judaísmo ancestral.
Portanto, embora o Judaísmo não procure, de nenhuma forma, converter gentios em judeus, no caso dos bnei anussim é diferente. Converter um filho dos forçados em judeu não é converter um gentio em judeu: é reconverter um hebreu, um israelita, em judeu: reintegrar à comunidade judaica pessoas q pertencem a essa ancestralidade mas foram obrigados a abdicar de sua religião para salvar sua vida, na época q "Judaísmo" era crime. O movimento bnei anussim busca resgatar judeus, q muitas vezes nem sabem q são judeus, trazê-los ao conhecimento de sua herança e reintegrá-los à sua comunidade étnico-religiosa.
sábado, 12 de maio de 2012
Do meu paradigma teológico
Tendo isso em vista, sinto ser necessário esclarecer o paradigma, a "fôrma mental" q amolda minha interpretação da Torah.
Em Teologia, não existe "ponto final", tudo está aberto a discussão, e é comum q divergentes pontos de vista se justifiquem com as mesmas citações. Acontece q frequentemente as pessoas q se dedicam aos estudos teológicos expressam visões ortodoxas, tradicionalistas. Cujo paradigma demonstra a tentativa de restringir ao máximo a margem da liberdade humana.
Certa vez, quando era adolescente estava a comparar minha religião familiar (Espiritismo kardecista) com a de uma colega, q era protestante. Comparávamos as restrições q nossas religiões nos impunham e a conclusão se deu na seguinte frase de minha amiga: "Ah, essa sua religião não é religião de verdade, não proíbe nada, vc não precisa casar virgem, pode beber, pode fumar. Q religião é essa q não proíbe coisa nenhuma?"
É claro q o Espiritismo "proíbe" muitas coisas como roubar, matar, cometer adultério, mentir etcs. Porém, comparado a outras religiões, é muito mais liberal em seus "usos e costumes".
Muitas denominações protestantes históricas são conhecidas por suas pesadas restrições aos fiéis: mulheres não podem usar calça, cortar o cabelo, se depilar, se maquiar etcs. Provavelmente nem esta interpretação excessivamente restritiva nem a acepção espírita excessivamente liberal estejam certas, porém ambas são válidas. E necessárias para q o conjunto dos interessados na compreensão das Leis Bíblicas sejam cada vez mais, progressivamente, melhor esclarecidos.
Creio q há intérpretes pelo viés ortodoxo por demais, e intérpretes pelo viés liberal em falta, e q isto afaste muitas pessoas q poderiam ser incluídas. Muitas pessoas se afastam da "Religião " por pensar q é " difícil demais" seguir seus preceitos. Pois, normalmente, quando procuram orientação é-lhes dito q "quase tudo" é proibido.
Meu propósito é justamente demolir essa visão. E minha metodolgia é pegar o texto limpo da Torah e verificar se de fato ela proíbe tudo o q os líderes religiosos dizem. E na maioria das vezes atesto q conceitos seculares não têm apoio na Lei de Moisés: ecoam apenas a tradição consagrada por analistas antigos, q interpretavam a Lei para um mundo muito diferente do nosso.
Não q suas lições sejam caducas: são preciosas. Porém devemos ter em mente q, acima da deferência q devemos a estes grandes mestres deve estar a compreensão da imensa clivagem q separa a "palavra de Deus" das digressões de seus intérpretes humanos. Devemos, como Abraão, ser iconoclastas. Devemos questionar se ao ecoar um interpretação humana, não estamos na verdade a nos desviar do propósito "limpo, puro e seco" presente na Lei mosaica.
Na Lei há estas basilares passagens:
Dt 4: 1 Agora, Israel, ouça os estatutos e normas que eu hoje lhes ensino a praticar, a fim de que vocês vivam e entrem para possuir a terra que Javé, o Deus de seus antepassados, vai dar a vocês. 2 Não acrescentem nada ao que eu lhes ordeno, nem retirem coisa nenhuma. Observem os mandamentos de Javé seu Deus do modo como eu lhes ordeno.
Dt 5: 32 Portanto, procurem agir de acordo com todas as coisas que Javé seu Deus lhes manda. Não se desviem nem para a direita nem para a esquerda. 33 Sigam o caminho que Javé seu Deus lhes ordenou, para que vivam, sejam felizes e prolonguem a vida na terra que irão ocupar.
Dt 13: 1 Cuidem de colocar em prática tudo o que eu ordeno a vocês. Não acrescentem e não tirem nada.
Creio q a tradição teológica peque por "acrescentar" mandamentos na verdade ausentes da Bíblia. E q se faz necessária uma reinterpretação de conceitos q achamos q são divinos, mas são humanos. Igualmente creio q tanto quanto a tradição ortodoxa esteja "equivocada", igualmente estarão muitas das minhas conclusões, nascidas de minha mente humana.
Contudo, creio ser relevante "oxigenar" e, de certa forma, "atualizar" a forma como os mandamentos bíblicos são interpretados. Precisamos estudar o q a Torah, escrita há 3 mil anos, tem a dizer sobre nossas dúvidas do hoje, q sequer poderiam ser cogitadas àquela época. Pois, se a Lei é divina, não pode ser anacrônica. Nela devemos encontrar princípios q nos norteiem nesse mundo pós-moderno.
Se prosseguirmos apenas a ecoar com deferência aquilo q os q nos precederam "acharam" corremos o risco de q as novas gerações não se identifiquem em nada com o q a Bíblia ensina. Corremos o risco de nos encontrar um dia numa falha crítica sem saída, e q as futuras gerações considerem a Torah ultrapassada e caduca.
Sejamos iconoclastas! Quebremos todos os ídolos. Questionemos tudo o q parece velho e empoeirado. Assim cresceremos na compreensão da verdadeira essência dos mandamentos, estatutos e normas q o Criador nos legou.
Não pretendo com meus textos desviar ninguém do caminho correto, e peço a todos q discordem das teses q afirmo q deixem um comentário refutando minhas alegações, com base na Lei. Ficarei muito grata e me proponho a reescrever qualquer texto se me for comprovado q ele propaga idéias contrárias ao q a Lei ensina.
domingo, 6 de maio de 2012
Tomar pilula anticoncepcional e pecado?
Portanto, faz-se necessário recorrer a referências indiretas para elucidar essa dúvida. Após muito ponderar cheguei à conclusão de que fazer uso de anticoncepcionais não só não é pecado como pode, a depender das circunstâncias, ser considerado o cumprimento de alguns mandamentos.
Para começar é necessário esclarecer q o recusar-se a ter filhos pode ser considerado a violação do seguinte preceito:
Gn 1: 28 E Deus os abençoou e lhes disse: «Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra».
E a Halachá disso derivou q todo casal deve, no mínimo, ter um casal de filhos. Ter um filho de cada sexo é o cumprimento deste mandamento, não porém ter uma miríade de filhos. Então fica a pergunta: e se uma mulher casada e q já teve um casal de filhos desejar "parar por aí" e começar a tomar anticoncepcional, ela está a pecar? E caso uma moça solteira sem vida sexualmente ativa deseje fazer o mesmo, está fazendo algo q Deus condene?
A resposta é não. Vamos aos mandamentos q me autorizam a afirmar isso.
Gn 38: 8 Então Judá disse a Onã: «Case com a viúva de seu irmão; cumpra sua obrigação de cunhado, e dê uma descendência para seu irmão». 9 Onã, porém, sabia que a descendência não seria sua e, cada vez que se unia à mulher do seu irmão, derramava o sêmen por terra, para não dar descendência ao irmão. 10 O que ele fazia desagradava a Javé, que o fez morrer também.
O pecado de Onã é "derramar sua semente" (ato popularmente conhecido como coito interrompido). De forma análoga, poderíamos considerar que uma mulher adulta em idade reprodutiva q não seja sexualmente ativa esteja igualmente "derramando sua semente" sem q ela tenha possibilidade de frutificar, e que impedir o derramamento infrutífero de sua semente seria precaver-se contra cometer o mesmo pecado de Onã.
Além de impedir a concepção, o uso de anti-concepcionais é conhecido por prevenir diversas doenças, como endometriose, síndrome o ovário policístico, cólicas menstruais, TPM, displasia mamária e até câncer de mama, portanto tomá-los pode ser considerado o cumprimento da finalidade máxima da Lei:
Dt 5: 33 Sigam o caminho que Javé seu Deus lhes ordenou, para que vivam, sejam felizes e prolonguem a vida na terra que irão ocupar.
Dt 30: 19 Hoje eu tomo o céu e a terra como testemunhas contra vocês: eu lhe propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver, 20 amando a Javé seu Deus, obedecendo-lhe e apegando-se a ele, porque ele é a sua vida e o prolongamento de seus dias. Desse modo você poderá habitar sobre a terra que Javé jurou dar a seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó.
Se o anticoncepcional é um agente medicinal q promove a vida e prolonga os dias da mulher, desde q nisso ela não esteja se recusando a ter 2 filhos, tomá-lo é cumprir os mandamentos acima.
Porém o mandamento fundamental é o seguinte:
Ex 20: 12 Honre seu pai e sua mãe: desse modo, você prolongará sua vida, na terra que Javé seu Deus dá a você.
Nesse mandamento não está dito apenas que os filhos devem honrar os q os precederam, mas também q todo aquele q é pai e mãe deve honrar esta relação familiar. Não só os filhos devem honrar seus pais, como os pais devem honrar seus filhos. Impedindo q nasçam filhos desonrados, ou bastardos. Propiciando-lhes as melhores condições, morais e materiais, possíveis.
Dt 23: 3 Nenhum bastardo poderá entrar na assembléia de Javé, e seus descendentes até a décima geração não poderão entrar na assembléia de Javé.
Portanto, haja visto q não há mandamento q proíba a contracepção, e havendo esse pesado ônus sobre a bastardia, Deus declara abertamente q, embora descendências bastardas não devam ser extirpadas, 10 gerações, o q dá 250 anos, são necessários para "alvejar essa mancha".
Portanto:
1 - Tomar pílula anticoncepcional de forma a nunca ter filhos sim, é pecado.
2 - Tomar pílula anticoncepcional por uma mulher q já teve um casal de filhos não é pecado.
3 - Uma mulher solteira tomar pílula anticoncepcional não é pecado, desde q isso não resulte em ela deixar de ter 1 casal de filhos, honrados, no futuro. E isso pode até ser considerado o cumprimento do dever de não derramar infrutiferamente sua semente e de prolongar seus dias.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Porque nao tiro mais Tarot
Aprendi a tirar as cartas do tarô ainda no Ensino Médio. Na época comprei um set de cartas e 3 livros sobre o assunto: Tarô Clássico, Os Arcanos Maiores do Tarot e a Cabala, e Iniciação à Cabala; e tendo-os lido comecei a brincar de ler a sorte dos meus amigos, de forma desprentesiosa.
Sempre tive noção da responsabilidade do q estava a fazer, por isso em todas as vezes, ao "abrir as cartas" não fazia uma leitura livre, mas me munia do significado das cartas no livro Tarô Clássico e relia a descrição do significado de cada carta antes de interpretá-la no "jogo". E também jamais cobrei de absolutamente ninguém por isso, só o fazia para amigos, e a pedido deles.
Aqueles q conhecem minha militância em defesa da Torah podem estranhar o fato de eu haver lido Tarot pois tal prática é vetada pela Halachá (Lei Judaica) neste versículo:
Levítico 19: 31 Não se dirijam aos necromantes, nem consultem adivinhos, porque eles tornariam vocês impuros. Eu sou Javé, o Deus de vocês.
Antes de mais nada, a Lei Mosaica é obrigatória aos judeus, não aos gentios. Não estou falando q seja lícito tirar o Tarot, pois não é. Aos judeus. Os Noachides não são obrigados a seguir os 613 mandamentos da Torah, apenas as 7 leis de Noé. Mesmo sabendo q eu não era "obrigada" a cessar de praticar "adivinhações", após começar meus estudos de Teologia Judaica, parei de "brincar" de perscrutar os desígnios divinos.
Mas apenas muitos depois fui compreender, visceralmente, pq não devemos tentar divisar as coisas q nos estão ocultas. Parei de tirar o Tarot até para mim mesma, percebendo q não era capaz de compreender e de lidar com o que os arcanos revelavam sobre minha própria vida. E por vários anos meu jogo de Tarot ficou esquecido acumulando poeira.
Até q numa conversa despretensiosa com duas amigas professoras lhes disse que era também taróloga. Mais do q rapidamente ambas ficaram em polvorosa para que eu "lesse seus destinos". Numa ocasião posterior marcamos de nos encontrar na casa de uma delas e solicitaram-me que levasse meu baralho de Tarot. Meio q de brincadeira, levei. Me pediram q lhes abrisse as cartas.
Amiga T. Colega historiadora. Gaúcha, fizera faculdade no Paraná onde, no último ano, engravidara de seu namorado paulista, motivo pelo qual se mudara para minha cidade. Em nossas conversas, ela sempre dizia como tudo o q fazia atualmente era em prol de sua filha, q só se mudara para SP por ela, q aguentava todos os desaforos da sogra por ela, q suportava os desfeitos do namorido pouco dedicado em nome de sua filha. Abri-lhe o Tarot.
Minha primeira frase, após um longo suspiro foi: "As cartas falam uma coisa muito diferente do q vc me disse. Olha, se eu estivesse cobrando, diria o q vc quer ouvir, mas como não estou cobrando, e vc é minha amiga, vou te dizer a verdade: sua filha sequer aparece no jogo." Olhando bem a carta dos enamorados encimada pelo carro e pela papisa disse: "Olha, desculpa a sinceridade, mas pelo q estou vendo aqui vc se mudou e está aqui pq vc ama seu namorado, não por causa da sua filha. Aqui está muito claro: vc ama esse homem. Não é por causa da sua filha q vc está aqui, é por causa do seu namorado."
Ela não fez nenhum comentário, guardou um silêncio pesado e me olhou como se eu houvesse pichado no muro um grande segredo q ela escondia de si mesma.
Amiga R. Filósofa. Estava envolvida com um rapaz q acabara de descobrir q sua outra namorada, da qual R. sabia, estava grávida. Antes de pegar o Tarot ela me disse: "Preciso saber se ele mentiu pra mim, pois falou q queria ficar comigo, e agora a outra está grávida. Quero saber se ele está sendo sincero comigo ou fazendo jogo duplo".
Abrimos as cartas. Sol, temperança, carro, imperatriz. Nenhuma Lua. Eu pessoalmente não gostava do rapaz e cria q R. não fazia bom negócio ao ficar com ele. Contudo, relatei o q o jogo revelava, e nele não havia nenhuma mentira, nenhuma enganação. Abri minha boca e disse: "as cartas não revelam nada sobre mentira, muito pelo contrário, dizem q ele está sendo sincero com vc."
Ela abriu um sorriso como de quem agradece um grande favor, e pareceu aliviada com o resultado da leitura das cartas.
Naquele dia fiz uma leitura do Tarot q eu mesma considerei sem maiores conseqüências. Até uma semana depois.
Em exatos 7 dias minha amiga T. se separou do namorido. Disse-me : "tudo o q vc falou no Tarot fez muito sentido. Eu colocava nas costas da minha filha o peso de decisões q eu tomei não por ela, mas por mim. Depois q vc leu as cartas para mim parei para pensar e vi q vc estava certa. Eu me mudei para cá não pq tinha uma filha pequena, mas pq amava o pai dela. E sabe o q descobri depois de pensar muito nisso? Q não o amo mais! Vou voltar pro Rio Grande do Sul!"
Engoli seco. Percebi minha parcela de responsabilidade no "separar uma família". Sei q não sou responsável pelas escolhas de T., mas talvez eu tivesse lhe dito coisas q ela não estava pronta para ouvir, e com isso me tenha feito parcialmente responsável por sua filha, no futuro, não ter nenhuma lembrança do próprio pai.
A outra amiga, a filósofa R. menos de 2 anos depois se casou com o rapaz sobre o qual havia-me perguntado se era mentiroso e eu garantira q não. Não há como saber, objetivamente, se na ocasião de ele ter engravidado outra ele estava mentindo ou não, mas não deixei de pensar q, caso naquela ocasião, eu tivesse dito q ele mentia, R. não estaria hj casada com ele.
E me caiu muito mal a sensação de q um dia essa amiga pode se virar para mim e dizer: "Casei com o maior 171 pq vc me garantiu q ele era sincero, e quebrei a cara!" Sei q não sou responsável pelas escolhas dela, mas percebi como arvorar-me em ser capaz de "ver o q está escondido" poderia interferir, de forma definitiva, no destino dos meus consulentes, e como eu não estou disposta a arcar o peso dessa responsabilidade.
Desde então, há vários anos, não tiro as cartas para ninguém, nem para mim. E o motivo não foi perceber q eu não fosse capaz de fazer as leituras, muito pelo contrário. Parei de ler as cartas do Tarot justamente por perceber q eu era, de fato, capaz de interpretá-las. Que eu era com elas capaz de ver coisas q os próprios consulentes não revelavam. Que com as cartas eu faria afirmações q interfeririam nas escolhas das pessoas, o q me faria parcialmente responsável pelo seu futuro.
Parei de tirar o Tarot pois não quero mais ver-me responsável por separar uma família q talvez ainda devesse estar junta, ou por possibilitar um casamento q talvez não devesse ter ocorrido. Parei de tirar o Tarot por perceber q não devemos brincar com os desígnios divinos, e que muitas vezes é melhor não saber, esperar as coisas se desenrolarem por si. E também por ver q não é da minha alçada interferir nas escolhas dos outros. Nem revelar-lhes coisas q não estão preparados para compreender.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Deus se preocupa com nossas roupas?
Mas o que uma menina de 8 anos pode fazer para despertar a fúria de judeus ortodoxos? Ela cultua o demônio? Ela é Damien do filme "The Omen"? Ela é o "Bebê de Rosemary"? Não, nada disso. Margolese simplesmente "se veste diferente".
Devido a suas vestimentas,
"Margolis, que pertence a uma família religiosa moderada, diz ter medo de percorrer os 300 metros que separam sua casa da escola, por ser frequentemente agredida por grupos de ultraortodoxos que a acusam de se vestir de maneira "indecente".
Os supostos agressores já teriam xingado a menina de "prostituta", cuspido e a empurrado. A mãe de Naama diz que o trauma causado foi tão profundo que a garota treme quando tem de ir para a escola."
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/12/111227_israel_protestos_gf.shtml
Vocês podem se perguntar: "Mas uma menina de 8 anos pode se vestir 'como uma prostituta'?" Seguramente, não. E Naama jamais se vestiu assim, provocativamente. Ocorre que, para judeus ortodoxos, roupas consideradas "normais" e até "conservadoras" são classificadas como "pecaminosas" caso deixem braços e/ou pernas à mostra, ou mesmo sejam coloridas, ou com enfeites. Judeus ortodoxos vestem apenas uma cor: preto.
Na raiz do Chassidismo está a "alegria", o que de per si poderia ser suficiente para vetar a discriminação a respeito das roupas de Margolis, mas não. Faz-se necessário mostrar-lhes, por suas próprias leis, o absurdo do se cuspir numa criança. Mas é possível, pela própria Torah, demonstrar que não é Naama a errada, mas os que se julgam "muito melhores" que ela?
Claro! Vamos lá.
Primeiro de tudo: o uso de roupas não é uma determinação divina, muito pelo contrário. Não usamos roupas pq Deus assim queira. O projeto inicial de Deus era naturista.
Gn 2:
25 Ora, o homem e sua mulher estavam nus, porém, não sentiam vergonha.
Na ordem edênica, todos andavam nus, e não sentiam nenhuma vergonha pois não tinham maldade, como uma criança. Porém, essa harmonia é quebrada pela degustação do "fruto proibido"
Gn 3:
9 Javé Deus chamou o homem: «Onde está você?» 10 O homem respondeu: «Ouvi teus passos no jardim: tive medo, porque estou nu, e me escondi». 11 Javé Deus continuou: «E quem lhe disse que você estava nu? Por acaso você comeu da árvore da qual eu lhe tinha proibido comer?»
Deus não vê nossa nudez. Quem vê "nudez" é quem tem maldade no olhar. E assim Deus se transforma no primeiro estilista da História. Ele próprio confecciona roupas para Adão e Eva:
Gn 3:
21 Javé Deus fez túnicas de pele para o homem e sua mulher, e os vestiu.
Portanto, é a maldade no olhar do homem que faz necessário o uso de roupas, não uma determinação divina. Contudo, judeus ortodoxos têm um senso de moda que muitas vezes parece "excessivamente conservador". Por exemplo, consideram como mandamento que toda mulher casada deve cobrir seus cabelos, escondendo-os da apreciação pública. Para não serem confundidas com muçulmanas as judias ortodoxas ao costumam usar o véu, mas perucas. Não há nenhum mandamento explícito na Torah que assim o ordene. A origem dessa prática está aqui:
Gn 24:
64 Rebeca, erguendo os olhos, viu Isaac. Ela apeou do camelo, 65 e disse ao servo: «Quem é aquele homem lá no campo, que vem ao nosso encontro?» O servo respondeu: «É o meu senhor». Então ela pegou o véu e se cobriu.
Rebeca se cobre ao ver seu noivo. Ora, se ela se cobre, é pq estava descoberta. E descoberta diante de um homem, o servo de Isaac. E se ela estava descoberta diante d um homem, obviamente, moças solteiras não comprometidas não se cobriam com véus, nem na época dos Patriarcas. E não consta que Naama Margolis, aos 8 anos, seja noiva. Ver nessa passagem de Rebeca uma obrigação para que moças solteiras se cubram com véu é adicionar mandamentos inexistentes à Lei. O que é tão errado quanto violar um mandamento que existe.
Mas a Lei Mosaica diz algo sobre roupas, e moda? Sim, e bastante. Por exemplo, as vestimentas do sumo sacerdote, que devem ser coloridas e bordadas, são descritas em detalhes.
Ex 28:
2 Mande fazer para seu irmão Aarão vestes sagradas, bem ricas e enfeitadas. 3 Diga a todas as pessoas hábeis, a quem eu concedi espírito de sabedoria, que façam vestes para Aarão, a fim de consagrá-lo como meu sacerdote. 4 São estas as vestes que farão: um peitoral, um efod, um manto, uma túnica bordada, um turbante e um cinto. Farão vestes sagradas para seu irmão Aarão e para os filhos dele, a fim de que sejam meus sacerdotes. 5 Empregarão ouro e púrpura violeta, vermelha, escarlate, e linho fino. 6 Farão o efod bordado a ouro, de púrpura violeta, vermelha e escarlate, e de linho fino retorcido.
Daí extraímos, claramente, que Deus não se importa que usemos roupas coloridas, na verdade usar roupas coloridas, bordadas e enfeitadas, pelo Sumo-Sacerdote, é mandatário. Caso a Deus as cores chamativas fossem odiosas, seguramente Ele não ordenaria que seu Sumo-Sacerdote assim se ornasse.
Mas vcs podem estar se perguntando a respeito do conceito bíblico de "nudez": se mostrar braços, pernas, colo poderia ser considerado com "nudez", e a resposta é clara: não! A "nudez" se aplica apenas à exposição dos órgãos sexuais. Acompanhem:
Ex 20:
26 Não suba por escadas até o meu altar, para que a sua nudez não apareça.
Gn 9:
20 Noé, que era lavrador, plantou a primeira vinha. 21 Bebeu o vinho, embriagou-se e ficou nu dentro da tenda. 22 Cam, o antepassado de Canaã, viu seu pai nu e saiu para contar a seus dois irmãos. 23 Sem e Jafé, porém, tomaram o manto, puseram-no sobre seus próprios ombros e, andando de costas, cobriram a nudez do pai; como estavam de costas, não viram a nudez do pai.
Biblicamente, "descobrir a nudez" ou "os pés" é um eufemismo para a relação sexual. Naama não incorreu em nada disso. Alguns tipos de roupas são proibidos. Mas quais?
Dt 22:
5 A mulher não deverá usar artigo masculino, nem o homem se vestirá com roupa de mulher, pois quem assim age é abominável para Javé seu Deus. (...) 11 Não vista roupa mesclada de lã e linho. 12 Faça borlas nas quatro pontas do manto com que você se cobrir.
Se Naama não vestia roupas masculinas nem mescladas de lã e linho, o que haveria para se criticar em seu trajar? Nada! Especialmente quando estamos cientes de outros mandamentos, que não tratam sobre roupas, mas de como devemos tratar às crianças e, como é seu caso, imigrantes. Leiam:
Ex 22:
20 Não explore o imigrante nem o oprima, porque vocês foram imigrantes no Egito.
21 Não maltrate a viúva nem o órfão, 22 porque, se você os maltratar e eles clamarem a mim, eu escutarei o clamor deles. 23 Minha ira então se inflamará, e eu farei vocês perecerem pela espada: as mulheres de vocês ficarão viúvas e seus filhos ficarão órfãos.
Dt 24:
17 Não distorça o direito do estrangeiro e do órfão, nem tome como penhor a roupa da viúva. 18 Lembre-se: você foi escravo no Egito e daí Javé seu Deus o resgatou. É por isso que eu lhe ordeno agir desse modo.
O trajar de uma moça solteira, qquer que seja, não é pecaminoso (desde q não exponha suas partes íntimas, é claro). Porém, o perseguir, constranger e oprimir ao imigrante o é. Assim como o levantar infâmia sobre uma virgem de Israel:
Dt 22:
16 Então o pai da jovem dirá aos anciãos: ‘Dei minha filha como esposa a este homem, mas ele a detesta, 17 e a está acusando de atos vergonhosos, dizendo que minha filha não era virgem. Mas aqui está a prova da virgindade da minha filha!’ E estenderá o lençol diante dos anciãos da cidade. 18 Os anciãos da cidade pegarão o homem, mandarão castigá-lo 19 e o multarão em cem moedas de prata, que serão entregues ao pai da jovem, por ter sido difamada publicamente uma virgem de Israel. Além disso, ela continuará sendo mulher dele, e o marido não poderá mandá-la embora durante toda a sua vida.
Não se trata como prostituta a uma virgem do Israel (como creio que seja o caso de Naama). Acredito, sinceramente, que os ortodoxos que cuspiram em Margolese achavam estar agradando a Deus e zelando por sua Lei. Porém parem e pensem: vcs acham que cuspir sobre uma menina agrada a Deus? Caso essa simples frase não seja suficiente, vão alguns mandamentos:
Lv 19:
5 Quando oferecerem sacrifícios de comunhão a Javé, façam de tal modo que sejam aceitos.
13 Não oprima o seu próximo, nem o explore, e que o salário do operário não fique com você até o dia seguinte. 14 Não amaldiçoe o mudo, nem coloque obstáculos diante do cego: tema o seu Deus. Eu sou Javé.
15 Não cometam injustiças no julgamento. Não seja parcial para favorecer o pobre ou para agradar ao rico: julgue com justiça os seus concidadãos. 16 Não espalhe boatos, nem levante falso testemunho contra a vida do seu próximo. Eu sou Javé.
Será que Deus aceitará uma miztvot cumprida com uma cusparada numa virgem? Hum... acho que não. Será que Deus gosta de quem amaldiçoa quem não é dono de sua própria voz, como uma criança? Hum... acho que não. Será que Deus gosta de quem levanta falso testemunho ao chamar de "prostituta" alguém que, na verdade, é virgem? Hum... Acho que não.
Portanto, que fique muito claro: Naama Margolis pode se vestir como quiser. Sendo moça solteira, deve satisfações apenas a seu pai. Não há absolutamente nenhum mandamento que recomende "recato" ou mesmo que ela cubra sua cabeça (como há no Alcorão). Os que a oprimem e criticam suas roupas estão adicionando mandamentos que não existem na Lei.
Vejam: Ai se eu te pego: http://m.youtube.com/#/watch?desktop_uri=%2Fwatch%3Fv%3Dsa4XBA75Jtg%26feature%3Dautoshare&feature=autoshare&v=sa4XBA75Jtg&gl=BR