quinta-feira, 11 de novembro de 2010

De Robert Rey – Júnior e Sênior.

Hoje assisti a um episódio, que eu já vira, de Dr. 90210, Dr. Hollywood, no qual o renomado cirurgião plástico Robert Rey Jr. retorna ao Brasil para encontrar seu pai alienado. Não pq fosse louco, mas por havê-lo abandonado. O que despertou minha atenção a ponto de citar referência televisística tão aparentemente fútil foi a cena do telefonema.


Após haver-se encontrado com seu pai idoso e contrito, Dr. Rey ligou para sua plasticamente perfeita esposa, que o atendeu em sua mansão em Beverly Hills. Cena tocante e profundamente humana, Robert narrou que encontrara em seu pai um homem arrependido, que articulara com todas as palavras “eu te amo”, coisa inaudita, e dissera-se orgulhoso do filho. Robert Rey disse:


- A weight has been lifted off my shoulders. I, definitelly, got closure. I think that anger is gone.


- Um peso foi tirado dos meus ombros. Eu, definitivamente, consegui “colocar uma pedra” sobre este assunto. Acho que aquela raiva se foi.


Hayley, em sua beleza solar, testemunhou entre sorrisos efusivos a seguir ao cameraman:


- Robert me soou tão diferente ao telefone; mais leve. Estou surpresa com a atitude do pai dele, e acho que esse reencontro lhe fez muito bem. Se ele já era um bom marido antes, agora, então, será um casamento maravilhoso!


O tocante nisso tudo foi perceber que mesmo a um cirurgião plástico mundialmente reconhecido, profissionalmente realizado, midiaticamente celebrizado, bonito, bem casado, pai amado, financeiramente muito bem situado, ainda havia algo a limitar-lhe a extensão do riso. Algo que nenhum dinheiro, carro, mansão, adulação, confetti, esposa amorosa ou paciente famoso poderia remediar: o mal-estar sobre sua origem.


Robert Rey Júnior nasceu no Brasil e por razões que com certeza ele expôs e eu não vi por não suportar assistir às cenas cirúrgicas freqüentes em seu programa, foi entregue em adoção a missionários mórmons. Realocado nos EUA, conseguiu por seu mérito intrínseco graduar-se em Medicina e estabelecer-se como cirurgião plástico na Califórnia. Estimulado ou não por transcender seus determinantes geográficos, criou através de seu expertise um amplo renome a ponto de ser convidado a estrelar um programa estilo reality-show no qual expõe não só sua prática profissional, mas também sua vida doméstica. O que acabaria por proporcionar-lhe o reencontro que tanto temia e ansiava.


Foi eloqüentemente humano intuir a cena posterior daquele Homem em seu luxuoso e solitário quarto e hotel dobrar-se e chorar como um bebê ao reelaborar e ressignificar as lembranças que sempre haviam nublado sua vida, de que fôra um filho preterido e descartado. Após ver em seu Sênior uma postura mesérica ele finalmente poderia começar a aceitar em sua plenitude as sedas que seriam-lhe (e seguramente serão) rasgadas no futuro.


Finalmente poderia, retornado à Califórnia, abraçar seus oníricos esposa e filhos sem o fantasma familiar que murmurava-lhe continuamente ao pé do ouvido que ele não merecia ser feliz.


Senti-me empática e catarticamente feliz com Robert Rey por haver encontrado nos lábios de seu pai curvado pelos anos pedidos de perdão, declarações de arrependimento e quiçá, até, um certo amor. Embora nada disso apague o passado sofrido de Robert, a partir desta cena, talvez, aquela sensação claudicante de desconforto cesse de aguilhoar as realizações incontestáveis que talvez ele só tenha sido desafiado a alcançar pela necessidade de auto e exo afirmar-se valoroso e digno de reconhecimento.


Talvez, não tivesse o desalmado Robert Rey entregue seu Júnior em adoção, Dr. Robert Rey não seria médico, nem rico, nem casado com a belíssima Hayley. Talvez fosse ele apenas mais um paulistano meio remediado, em algum sub-emprego, casado com alguma Aparecida ou Edilene. Seria ele mais feliz?


Não sei, apenas percebi que nenhum milhão de dólares poderia dar a Robert Rey o alívio que seu pai proporcionou-lhe ao suplicar, humildemente, perdão. Apenas quando quem o feriu pediu perdão ele pôde, finalmente, perdoar. E largar à beira da estrada o pesar daquela dor, mesmo muito antiga. Superar seus traumas e exorcizar seus fantasmas. Para poder finalmente parar de ruminar o passado e passar a projetar, livremente, o futuro.


Muitas coisas não têm preço. Pelos menos as mais importantes na vida.

Um comentário:

  1. OI Fernanda, moro na California e conheco Dr. Rey. Gostaria de poder assistir este episodio tambem, mas nao consigo achar-lo no internet, ou RedeTv, ou YouTube. Voce por acaso poderia me dar uma dica em como posso achar este episodio? Tambem estou procurando um que saiu recentemente sobre Dr. Rey voltando ao Brasil este setembro que passou para enterrar seu pai em um outro cemiterio (seu pai faleceu no ano passado mas so descobriu isto em setembro 2010). Se voce pudesse me ajudar com isto, estarei muito grata. Muito obrigada! Diva L.

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