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domingo, 24 de agosto de 2014

Pequeno guia com 12 dicas para os iniciantes na Internet



1 - Não aceite a amizade de estranhos. Tem gente que sai adicionando os outros "de bobo", outras que adicionam para passar vírus e dar golpes virtuais. E outras ainda que adicionam desconhecidos por motivos ainda mais escusos, criminosos mesmo. Simplesmente não aceite a amizade de ninguém que não seja previamente seu amigo na "vida real".


2 - Se você for menor de idade, não use uma foto de perfil (avatar) em que isso seja perceptível. Infelizmente, a internet está cheia de pedófilos e fotos que você acha normais e inocentes podem ser vistas de outra forma por esses tarados. Se você é menor, use como foto de perfil uma foto de um desenho, uma flor, uma paisagem, um personagem, de forma a que simplesmente pela foto o pedófilo não identifique que você é uma criança ou adolescente. Outra forma de evitar pedófilos é informar no seu perfil outro ano de nascimento, mais antigo, de forma a que os desconhecidos achem que você já é maior de idade. 


3 - Se algo é segredo, você deve ser o primeiro a guardá-lo. Não conte a NINGUÉM. Se você mesmo "espalha" o seu segredo, como pode achar que os outros vão guardá-lo? Procure, você mesmo, não espalhar fofocas nem publicar nada que ofenda a terceiros. Você poderá ser acionado judicialmente e processado no "mundo real" pelas coisas que publica na Internet.


4 - Nunca, jamais, em nenhuma circunstância, faça fotos "sensuais" ou nu. Nem com seu namorado, noivo ou marido. Pode parecer que "não tem nada de mais", mas tem sim. As pessoas são muito neuróticas com sexo e nudez. Uma única foto sem roupas poderá transformar sua vida num inferno, te tornar alvo de chacota e destruir sua reputação... para sempre. 


4 A - Pense: as pessoas cobram, muito caro, para posarem nuas... Por que você faria isso de graça... a menos que pretenda "divulgar seus serviços sexuais"? É justamente isso que as pessoas pensarão ao ver suas fotos nuas: que você é um profissional do sexo.


4 B - Pense nisso antes de tirar fotos com seu namorado ou marido na hora da "empolgação". Hoje vocês se amam de paixão, mas e quando esse relacionamento acabar? As pessoas são vingativas e aquele que você acha que é o "amor da sua vida" pode no futuro, por raiva, vazar na net suas fotos íntimas. Ele vai parecer um "garanhão conquistador", e você sairá dessa como uma "prostituta". Imagens que para você são de "amor", para os outros são pornografia.


4 C - Mesmo que você não seja vítima de um ex vingativo nem você mesma publicar as fotos "sensuais" que tira escondido de si mesmo, pense: e se você perder ou alguém roubar seu celular, tablet ou pen drive com essas fotos? E se um hacker invadir seu computador? Você acha que o ladrão terá algum escrúpulo em vender suas fotos para sites pornográficos ou de pedofilia? Com certeza, não. A única forma de se proteger disso é nunca, jamais, em nenhuma circunstância, tirar fotos sugestivas ou sem roupa. E até de biquíni.


5 - A internet é uma praça pública. Tudo o que você publicar será usado contra você, mesmo 50 anos depois. Tome muito cuidado com publicações polêmicas, brincadeiras "aparentemente inocentes" e "zoações" em geral. Se um dia, daqui a 30 anos, você for candidato a presidente, aquela sua foto entornando uma garrafa de vodka, ou com o "dedinho na boca" pode, e fará, você perder a credibilidade diante dos eleitores.


6 - Não faça postagens públicas, selecione "só para amigos". Proteja-se dos curiosos e dos haters (gente que te odeia). Seja cioso de sua intimidade, explore e se informe sobre as opções de configuração de privacidade com cuidado para que não "vazem" informações suas por aí sem o seu conhecimento.


7 - Se você for publicar algo e perceber que seus pais, ou seu chefe, não aprovariam, não publique. Nenhuma piada ou gracinha vale você "queimar seu filme" com aqueles que determinam o seu sustento.


8 - Pense se vale mesmo a pena atualizar seu "status de relacionamento" toda vez que trocar de namorado ou "ficante". Pense que no futuro quando você encontrar sua "cara metade" você pode até perdê-la se ela pesquisar e descobrir que você já teve 20 ou 30 outros parceiros. E também no que seu "grupo de amigos" vai pensar de você se você troca de parceiro engatando um novo relacionamento "sério" mês sim, mês não.


9 - Quando estiver namorando, não exagere nas "fotos românticas" e não publique fotos beijando. No futuro, se o relacionamento acabar, você vai odiar essas fotos, bem como seus futuros parceiros. Você poderá deletar as suas, mas e se houver várias dessa fotos, com dezenas de diferentes parceiros, nos perfis de outras pessoas? Nessas você não conseguirá "dar sumiço" e podem ser fruto de grande desconforto, dores de cabeça e crises de ciúme.


10 - Pense que um dia você terá filhos, netos e bisnetos. E talvez, se você não viver muito, eles só te conheçam a partir dos seus perfis nas redes sociais. Não publique coisas que poderiam envergonhar seus bisnetos daqui a 50 anos. Na internet tudo é eterno.


11 - Não perca o sono. É tentador "virar a madrugada". Não vale a pena. Não há nada que seja publicado depois da meia-noite que não possa esperar o dia seguinte para ser curtido, comentado e compartilhado. O sono é fundamental para nossa saúde e bem estar. Dormir poucas horas te fará se sentir mal e produzir pouco no dia seguinte. Durma pelo menos 8 horas por noite. E mais, se possível.


12 - Cadastre no seu perfil do Facebook todos os livros que ler e filmes que assistir. É uma forma legal de divulgar que você tem interesses culturais, de passar uma imagem positiva para todos. E, em nosso mundo, infelizmente, mais importante do que "ser" é "parecer" ou "divulgar". Cuide para que as informações que divulga sejam positivas, falem bem, e não mal, de você.


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sábado, 8 de dezembro de 2012

Porque escrevo este blog

É possível q grande parte das pessoas q leêm os textos do meu blog não compreendam o q me motiva a escrever. Os esclarecerei.

1 - Desabafar.

Quando comecei a escrever isso não estava lá muito claro. A princípio, queria divulgar textos legais, poesias, músicas, e até receitas q não queria perder. Depois comecei a escrever sobre minhas experiências como professora, refletindo sobre as coisas q me aconteciam, os problemas q enfrentava, as histórias de meus alunos.

Percebi q escrever me ajudava psicologicamente. Q ao colocar essas coisas "pra fora" eu ficava aliviada. O assunto meio q "parava de incomodar tanto". Ao escrever, fixando fatos e pensamentos, eu descarregava as emoções q esses assuntos me traziam, e passava a vê-los de forma mais "distanciada" ou "bem resolvida".

Acontecia de um "causo" de determinado aluno, ou uma efeméride q me envolvia privar-me do sono, circulando continuamente em meus pensamentos, até q eu escrevia um texto sobre isso e a questão parava de me incomodar.

Quase como se ao "dar upload" a uma memória, eu a pudesse remanejar para meu "arquivo morto" mental e então "colocar uma pedra sobre o assunto", uma vez q sobre ele já escrevi, refleti; e quando o quiser revisitar, estará na ponta dos dedos.

Ao escrever sobre meu presente e perceber q isso me fazia bem, tive a idéia q nos leva ao segundo motivo q me faz escrever.

2 - Divulgar meu testemunho de época.

Como historiadora conheço o valor e a importância de documentos de época. E não apenas são documentos de época "textos oficiais", jornais, livros. Tb são matéria-prima da História diários, cartas pessoais, declarações, testamentos, depoimentos. São instrumentos fundamentais para o estudo da História das Idéias, da Mentalidade, do Cotidiano.

Ao relatar minhas impressões sobre a vida, elas podem até não ser relevantes ou "impressionantes" hoje. Mas daqui a 200 anos este blog pode ser um documento muito útil para pesquisadores estudarem a vida neste princípio do século XXI. Meu testemunho pode parecer enfadonho hoje, mas pode ser muito interessante conforme os séculos passam.

Outra questão subjacente é o fazer-me conhecer por meus descendentes: netos, trinetos, tataranetos, q não virei a conhecer. Isso visando procurei escrever também sobre meus antepassados, citando nomes e lugares, para q no futuro minha descendência saiba sua origem.

Busquei na memória e fiz pesquisa com minha avó para q ela me contasse mais detalhes sobre estes fatos pregressos q se passaram em sua infância, e os relatei o mais fielmente possível. Se não tivesse lhe perguntado esses fatos morreriam com ela. Se eu não tomasse a iniciativa de os eternizar por escrito, no futuro os descendentes dos Bianchetti, Pilon, Gonçalves, Alves, Reiter, Ignácio, Novais, Silva, Tomasella, Ramos, Alencar, Massuella, jamais saberiam de q forma essas famílias se uniram e aparentaram-se. Eu tenho a convivência com minha avó Tula q seus demais descendentes não têm, portanto apenas eu posso tomar o depoimento diretamente de sua testemunha ocular, e assim preservar a História Oral e as tradições da família. As quais "morreriam" se eu não as escrevesse.

3 - Publicar ensaios e reflexões.

Há pelo menos 9 anos participo ativamente de comunidades virtuais de debates teológicos. Comecei ainda nos tempos do Orkut com as comunidades Perguntas Cristãs Complicadas, Perguntas Cristãs Complexas, Religião & Vida (criminosamente deletada) e a Perguntas Cristãs Ridículas. Esta última, criei e moderava com muito prazer. Por sua causa dui excluída do Orkut, e passei a moderar a Bnei Noach - Filhos de Noé no Facebook.

Nenhum dinheiro no mundo seria capaz de pagar pelo treinamento q nessas comunidades tive sobre praticamente todos os aspectos da experiência humana. Como cheguei a participar de tudo isso vale o relato.

Sempre tive desde criança uma "sede" pelo transcendental. Apesar de nunca ter gostado de ir no centro espírita (o q vale outro texto), sentia um certo "comichão" q me levava a tentar me conectar e descobrir o q "havia além" deste mundo. Já na faculdade, ao aprender justamente sobre a importância dos documentos de época, me decidi a ler o mais fundamental deles. Também fui estimulada a isso pela presença no campus de missionários evangélicos americanos, do grupo "Alpha e Ômega". Queria com eles praticar e desenferrujar meu inglês. Mas o único assunto sobre o qual queriam conversar era "a Bíblia".

Não me fiz de rogada. Comprei uma boa tradução (a "Bíblia de Jerusalém") e li. Não li inteira, confesso. Pulei os profetas. Mas li todo o resto, Antigo e Novo Testamento. Acho q li uns 70% da Bíblia católica, mais extensa q a protestante e, obviamente, q o Tanach hebreu. Antes de começar a ler, dela tinha uma idéia superficial, preconceituosa. E talvez prosseguisse a ter essa visão não fosse minha formação como historiadora.

É um texto cru, sangrento, machista, xenófobo, violento. Retrata sacrifícios humanos, recomenda o genocídio completo dos cananeus, prescreve apedrejamentos, rituais sacrificiais, espalha o preconceito e afirma q a mulher é propriedade do marido. Completamente chocante.

Sim, chocante. Compreendido com os olhos de hoje. Porém, se analisado sob a perspectiva histórica, todos esses temas ganham outros matizes. O Antigo Testamento foi escrito na Idade do Bronze, por um povo de pastores nômades q tentava sobreviver no deserto, ameaçado por diversos poderosos impérios, e por eles escravizados.

Ao ler as Escrituras Hebraicas sob o prisma de sua historicidade, esses detalhes chocantes cessam de incomodar. Não há como exigir de um texto fixado há 2.500 anos conceitos como o respeito aos Direitos Humanos, Auto-determinação dos povos, liberdade de culto, igualdade entre os sexos. Seria um completo anacronismo, por exemplo, descartar a Bíblia por ser machista, uma vez q a Revolução Sexual, q tanto me beneficia, aconteceu há meros 50 anos.

Uma vez isso compreendido, outros temas do texto saltam aos olhos. O conceito de responsabilidade civil, de misericórdia, a prescrição de q o escravo deve ser libertado após 7 anos, ou q se for agredido ganha a liberdade, o respeito ao trabalhador, aos órfãos e viúvas, o respeito aos animais, a recomendação do perdão, a necessidade do devido processo legal, testemunhas e defesa num julgamento. O "amai ao próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18).

Assim analisado em todas as suas matizes, à luz da compreensão histórica, vemos q todos estes temas eram, em sua época, inéditos e revolucionários. Assim nos damos conta da profundidade da contribuição do povo hebreu para a construção do ethos e da práxis ocidentais. E pq nossa civilização não é "Ocidental", mas Judaico-Cristã-Ocidental.

E quanto mais eu lia, estudava, analisava, questionava esse texto, mais ele se engrandecia em significados e profundidade. Confesso: o q começou com a curiosidade de um passatempo ou oportunidade de agregar um "acessório intelectual" para poder debater teologia em grau profundo, tornou-se uma paixão quase obsessiva.

E quanto mais eu lia e debatia nessas comunidades virtuais, mais eu me interessava em saber mais. Foi assim q me direcionei aos estudos judaicos e comecei a ter algumas idéias, argumentos e mesmo "teses" teológicas próprias. Vi q os contendores de idéias católicos e evangélicos eram "fichinha". Q estudo realmente sério eu teria em sinagogas e yeshivás. E passei a investir nestes interlocutores, q realmente sabem do q estão falando, não espalham "achismos" nem "o q é loucura par os sábios" (1 Coríntios 1:23).

E assim comecei a produzir textos com meus modestos estudos, reflexões, questionamentos e afins sobre as Escrituras. Muitas vezes me surpreendi em pleno sábado à noite me deleitando em elaborar idéias entre o Mishnê Torah e o Moré HaNevuchim (Guia dos Perplexos)!

4 - Treinar a arte da escrita.

Ainda hoje não sei se levo muito jeito para professora. Também não sei muito ao certo se gostaria de trabalhar na iniciativa privada, tornar-me empreendedora, fazer uma conversão ortodoxa seguida de Aliyah, virar hippie e me mudar pra Alto Paraíso de Goiás, casar ou comprar ou comprar uma bicicleta.

Certa vez numa grave crise de identidade em plena noite insone passei horas me questionando sobre meu propósito nesta vida, e perguntei-me: "o q eu queria ser quando crescesse?". Só uma resposta me veio à lembrança. Sempre sonhei em um dia ser escritora. Lembrei-me das dúzias de cadernos q preenchia com fantasias quando era pré-adolescentes, dos lugares exóticos e nomes pitorescos q dava aos meus personagens. Das centenas de poemas q escrevi e mantenho bem guardadinhos, como trunfos na manga, para procurar uma editora num momento de desemprego.

Escrevendo neste blog não apenas eu atinjo todos os objetivos supracitados, como treino, refino, destilo, instilo, sofistico e lapido meu "chamamento literário". Percebo meus cacoetes. O uso do "q" e não "quê". Meus vícios de linguagem, pedantismos, auto-comiseração, auto-indulgência, omissões, senões e pontos fracos. Onde sou chata e onde pego direto no ponto. Treino a construção de imagens multi-sensoriais, com certa beleza poética.

Vou estudando a arte q nenhum mestre pode ensinar: como ser um observador arguto, perspicaz, e às vezes inclemente, de si mesmo, dos q me cercam, da sociedade e da cultura q nos produziu. E a reproduzir essas observações em apenas 27 caracteres, de forma bela e quiçá relevante.
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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Brasil é um país cheio de boas intenções

Nascer no Brasil é uma verdadeira bênção, constantemente pouco reconhecida. Não é à toa q inúmeros estrangeiros escolhem aqui morar. Clima tropical, solo fértil, povo acolhedor, oportunidades múltiplas. Seguramente nem tudo é bom, como exemplos: a corrupção, péssimos serviços públicos, pobreza, criminalidade.

Creio q grande parte dos problemas brasileiros são resultado de um descompasso, uma falta de sintonia, entre a "alta cultura" dos eruditos e a "cultura popular" da "plebe", algo profundamente marcado pelas questões étnico-raciais entre "brancos" e "negros".

Tanto "brancos" como "negros" entre aspas pois os "brancos" muitas vezes não são propriamente brancos, mas o querem ser, e os "negros" muitas vezes não se vêm como negros, devido à grande miscigenação e racismo não-declarado; preferindo ver-se como "semi-brancos". Inúmeras vezes me vi diante de pessoas claramente negras q se declaravam brancas, e se ofendiam se alguém lhes dissesse q não eram brancas.

Como dizia um professor meu, "nos EUA uma gota de sangue negro faz de alguém aparentemente branco um negro. No Brasil, uma gota de sangue branco faz de alguém aparentemente negro um branco."

A elite branca brasileira parece posicionar-se sócio-culturalmente como se estivesse numa "missão civilizatória" visando "melhorar, instruir, ou educar" a "plebe inculta e mestiça". E isso pode ser demonstrado por esta elite tentar "iluminar o povo com a alta cultura (européia, é claro)". Neste texto explorarei 2 exemplos disto: nosso hino nacional e nossos parâmetros curriculares federais.

Numa avaliação internacional feita por músicos e maestros, o Hino Nacional Brasileiro foi eleito como o segundo mais belo do mundo, atrás apenas de "La Marseillaise", o célebre hino francês. Seguramente é belíssimo nosso hino. Porém, tem um "pequeno" problema: poucos brasileiros o sabem cantar.

Este hino é cheio de palavras belíssimas, como plácido, fúlgido, impávido, clave, flâmula, brado etcs. Termos eruditos completamente estranhos ao "povão". Sua melodia é riquíssima, mas não reflete nenhum ritmo brasileiro, popular. Não há nada em nosso hino nacional q faça "o povo brasileiro" se identificar com ele. O hino não foi feito pelo povo, nem para o povo. Mas sim pela elite, para a elite.

Muitos acham q o povo brasileiro não conhece nem canta o hino por falta de patriotismo. Creio q o problema é outro. O povo não o canta pois não se reconhece nele, não sente q este hino seja verdadeiramente "nacional", mas apenas representa aquela parcela "branca, educada, elitista" da população. Há um claro descompasso entre as aspirações, o folclore, a lírica e a musicalidade populares, em relação às representações "oficiais" da cultura brasileira. O hino não atende ao povo, por isso ele o rejeita.

Outra demonstração clara do desencontro entre as intenções da elite e as aspirações do povo são os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação pública. Sou professora de História e usarei esta disciplina como exemplo.

O Currículo educacional brasileiro é tão maravilhoso quanto nosso hino. Muito bem-estudado, elaboradíssimo, abarca todo o conhecimento da História Universal, do ponto de vista europeu. Lendo-o me perguntei: "provavelmente quem escreveu isso é PhD em Coimbra, Oxford ou Harvard". E produziu parâmetros visando colocar os alunos brasileiros em condições de disputar vagas nestas instituições.

De acordo com estes parâmetros, eu deveria formar alunos na oitava série, com 14 anos, na posse de todo o conhecimento da História Universal, desde a pré-História até o fim da Guerra Fria. Q maravilha! Quem lê este documento ACHA q isto é posto em prática, transformado em realidade. Vã ilusão.

Os alunos estão "se lixando" para a Grécia, Roma, o Feudalismo, a Revolução Francesa. Nada disso faz parte do seu cotidiano e seu horizonte cultural. Querem aprender coisas palpáveis, práticas, úteis. E essas coisas não fazem parte do currículo.

A disciplina de "História" tenta fazer do aluno um mini-historiador, e não ensinar-lhe sobre cidadania, Direitos Humanos, relações inter-raciais. Não procura, em nenhum momento, ensinar a instrumentalizar o conhecimento histórico para a compreensão do hoje. Não há nenhum conteúdo q me instrua a ensinar-lhes sobre documentos, imposto de renda, política, atualidades, as coisas q os estudantes realmente precisam e querem aprender.

Ao invés de educá-los para a vida e a cidadania, os PCN's me dizem q eu devo prepará-los para o vestibular da USP. O "pequeno" problema é, como todos sabem, q raramente um aluno egresso de escola pública entrará na USP. Seguramente, menos de 1 por sala. E em prol deste 1, q entraria na USP de qquer forma, eu sacrifico os outros 40, q deixam de aprender coisas úteis para "perder tempo" não aprendendo coisas q, para eles, seriam muito úteis.

Outro exemplo é a disciplina de Química, q tenta fazer dum aluno um mini-químico, calculando elétrons, ligações covalentes e mols. Em nenhum momento pretende prepará-los para usar estes conhecimentos no cotidiano. Nada lhes ensina sobre higiene pessoal, limpeza doméstica, farmacologia e interação medicamentosa, agricultura e pesticidas. Os alunos perdem tempo não aprendendo a ser mini-químicos, enquanto poderiam estar aprendendo química instrumental, para usar no dia-a-dia, beneficiando sua saúde.

Os burocratas, q ganham como juízes, e trabalham em Brasília no ar condicionado, representantes da "elite branca" não vêm a realidade pois nunca deram sequer uma aula na rede pública. Quem realmente sabe do q está falando, pois lida cotidianamente com a realidade existente e não imaginada, freqüentemente manifesta os problemas curriculares.

Apenas para obter como resposta q o currículo é ótimo, foi elaborado por um PhD pela Sorbonne, e q se ele não funciona é por incapacidade dos professores. Meio q dizem "quem são vcs, meros professorinhos da rede pública, para achar q podem dizem para nós, professores doutores, o q deve ser ensinado?"

Respondo: "nós somos aqueles q têm CONHECIMENTO DE CAUSA para falar disso, somos nós que ensinamos, somos nós q sabemos o q funciona e o q é ruim. Vcs, burocratas de terno italiano e sapatos Louboutin, não têm a menor idéia da realidade. Vcs criam leis para um país q não existe." Estes burocratas podem estar cheios de boas intenções, mas elas mais atrapalham do q ajudam quem de fato trabalha no dia a dia escolar.

É necessário romper com essa noção de q a elite deve "civilizar" a plebe inculta. O povo não precisa "ser civilizado na cultura européia", mas instrumentalizado para serem agentes interventores e conscientes na realidade brasileira.

Não é o povo q tem q "melhorar" para poder cantar nosso elaboradíssimo hino. É o hino q tem q ser mudado para refletir a cultura, e o povo brasileiro. Não são os estudantes, nem os professores, q têm q "melhorar" para cumprir o currículo. São os PCN's q têm q melhorar para atender as demandas dos alunos, para ensinar-lhes coisas úteis, cotidianas, e não abstratas, distantes, estranhas à cultura brasileira.

As "boas intenções" são ótimas até falharem no teste da realidade. Até percebermos q elas apenas aparentam ser boas. Na verdade são perniciosas, pois nos fazem desperdiçar anos e anos digressando sobre Roma enquanto os alunos não sabem a diferença entre o CPF e o RG, não têm a menor idéia do q é carga tributária, quais são seus direitos trabalhistas e pq são obrigados a votar a cada 2 anos.

Como diz o famoso ditado "de boas intenções o inferno está cheio", pois não basta ter "boas intenções"; é necessário q, no teste prático, elas sejam validadas como boas. Se o teste prático não as valida, estas intenções mais são uma camisa de força q limita as ações dos professores, q se vêm como um Napoleão de hospício, digressando longamente sobre assuntos q, para os alunos, são tresloucados, irreais e inúteis.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pequenos detalhes determinantes

Pensei dar a este texto o nome "Do espanhol, ou de Civilization II" mas o título ficaria por demais enigmático. Pretendo neste texto expor como pequenos detalhes q acontecem durante nosso desenvolvimento podem ser determinantes em nosso futuro.

Nunca tive uma única aula de espanhol, ou castelhano, em toda minha vida. Contudo, alguns poderão auferir q por mais roto q seja meu portunhol, me saio muito bem na comunicação com interlocutores fluentes apenas nesta língua, seja oralmente ou por escrito. Já li livros inteiros em castelhano.

A compreensão desta língua veio-me como uma espécie de bônus dum costume q cada vez mais progressivamente cairá em desuso: a telespectação passiva de programas de TV. Com os avanços da internet e dos novos gadgets, as novas gerações não mais assistirão, passivamente, a milhares de horas de programação televisiva, como ainda faço.

Muitos acham, com certa razão, q "na TV só passa lixo". Mas mesmo no "lixo" podemos encontrar materiais úteis e reaproveitáveis.

Como boa brasileira, sempre fui noveleira. Como adolescente romântica e boba, tb acompanhava as novelas mexicanas q passavam no Brasil. Até q, zapeando naqueles "canais lixo" da TV a cabo, encontrei uma pérola: "El Canal de las Estrellas", a rede internacional da Televisa mexicana. Fiquei exultante pois não mais precisaria esperar q as novelas envelhecessem para só então serem transmitidas no Brasil: eu poderia assisti-las fresquinhas, diretamente da fonte. Em espanhol.

No começo, "boiei" bastante, pouco entendia. Mais acompanhava as imagens, expressões e situações do q compreendia aos diálogos. Porém, como assistia diariamente, a umas 3 produções diferentes, com o passar dos meses a barreira da língua caiu. Passei a compreender as falas, as coisas escritas, a identificar os falsos cognatos, expressões q não tinham correspondente em português, adquirindo a "musicalidade", o ritmo diferente q se usa ao falar em espanhol.

Alguns capítulos gravava, e até decorava. Percebi q as pessoas q o estudavam eram péssimas em espanhol e tinham forte sotaque pois articulavam sua fala como "brasileiros tentando falar espanhol". Compreendi q assim ninguém se torna fluente. É necessário criar um novo "diretório raiz" e nele inserir a língua estrangeira. E não, como a maioria das pessoas fazem, no diretório de sua língua nativa "abrir novas pastas" com as equivalências entre a língua q já se sabe e a q se está aprendendo. Não devemos "pensar em português" e então traduzir pro espanhol, mas sim pensar diretamente em espanhol. Apenas assim se compreende e usa a língua em sua plenitude, se apropriando de sua "equação gramatical única" e sua musicalidade específica.

Ao me ver assistindo essas novelas, meus familiares reviravam os olhos de forma condescendente, vendo nisso apenas infantilidade e perda de tempo. Não poderiam estar mais errados. E outro costume meu era visto da mesma forma: minha verdadeira compulsão pelo jogo Sid Meier's Civilization II.

Joguei a versão I, II, II Multiplayer, Call to Power e IV. De todas, a II sempre foi minha favorita. Gastei milhares, seguramente milhares, de horas nesse jogo. Era comum passar um dia todo jogando, até 12 horas seguidas, e só parar quando a tendinite no indicador direito me obrigava, pelos sucessivos cliques no mouse.

Acredito q essas milhares de horas foram fundamentais para o desenvolvimento da minha capacidade de articular pensamentos complexos e minha ampla memória "RAM".

Para quem nunca o jogou: em Civ II começamos com uma unidade, fundamos uma cidade e essa cidade produz novas unidades, de guerreiros e fundadores de cidades. Vc vai aos poucos iniciando novas cidades, ampliando seu "império", elas vão crescendo de tamanho, é preciso administrá-las, optar entre diversas formas de governo, adquirir novas tecnologias, guerrear com outros povos e conquistar suas cidades para, no final vencer de 2 formas: ou dominando o mundo ou chegando a Alfa Centauro com uma nave espacial.

Acredito q este jogo foi determinante no meu desenvolvimento mental pois para ser bem sucedido nele é necessário agir e pensar como um maestro regendo uma complexa sinfonia. Articular, equilibrar, orçar, apaziguar, planejar, negociar diplomaticamente, saber o tempo certo de fazer paz e guerra. Tudo isso como um malabarista, com muitas "bolas" em jogo. Se cada uma dessas "bolas" a não se deixar cair for uma de nossas cidades, podemos chegar a ter dezenas, ou até centenas delas.

E a cada novo turno é necessário lembrar-se de sua posição geográfica (num planeta com continentes sempre diferentes), seus planos para ela, o q ela está produzindo, se está em zona de guerra, se está em revolta ou precisa ser pacificada, suas rotas de comércio, quais instalações já foram nela construídas e quais precisam ser erigidas, quais têm "Maravilhas do Mundo", quais são mais suscetíveis a espionagem e subversão, e como cada um desses paradigmas se comporta em cada forma de governo.

Cada jogo pode levar dias, ou semanas. E a cada vez q desligamos o computador e vamos jogar no dia seguinte, é necessário o reboot imediato de todas essas informações, muito detalhadas. Falhas de memória ou incapacidade em manejar tantas informações complexas simultaneamente resultam na incapacidade de vencer, mesmo no nível mais fácil. E eu triunfei dezenas de vezes no nível mais difícil, no qual a inteligência artificial do jogo é verdadeiramente desafiante.

Acredito q foi justamente o jogar Civ II q lapidou ou treinou meus neurônios para articular coerentemente e simultaneamente informações complexas e até conflitantes. É o q me possibilita, por exemplo, ler um texto e às vezes parar numa espécie de "tilt" ao atinar "peraí, há umas 50 páginas atrás afirmaram uma coisa q não casa com o q está escrito agora". Ou então estudando a Torah perceber "hum, acho q essa lei de Deuteronômio dialoga com aquela outra lei de Levítico" e assim inferir conexões e reflexões não-óbvias.

É curioso perceber como estes 2 detalhes, essas 2 coisas q fiz por puro prazer, resultaram em ganhos q não previ. Por isso jamais devemos subestimar as atividades nas quais nos envolvemos pois tudo, tudo mesmo, serve de aprendizado. Milhares de horas q, à vistas dos outros, eu desperdiçava, resultaram em muitos ganhos cognitivos.

Aos pais, e a todos, fica então o conselho: estimulem seus filhos e propiciem a si próprios experiências amplas, diversificadas. Não necessariamente "educativas". Não apenas o q se diz "pedagógico" serve ao nosso aprendizado. Se vc for criança ou adolescente, procure assistir a canais estrangeiros, vc pode de repente se descobrir fluente em outra língua, sem ter gasto um centavo e se divertindo no processo. Usem jogos complexos e estratégicos, não se limite aos joguinhos de corrida e luta.

O resultado de estimular-se de diversas formas pode ser a diferença entre vc se situar apenas "na média" ou se destacar entre os demais. Todas as habilidades q desenvolvemos, mesmo q pareçam não ter aplicação imediata, contribuirão para tudo q fizermos no futuro, mesmo q não tenha ligação com novelas mexicanas ou jogos de computador.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Da Humildade, ou da Modestia

Humildade é um conceito complexo, e muitas vezes difícil de compreender. Muitas pessoas confundem humildade com fraqueza, auto-desvalorização, falta de confiança em si próprio.

Muitos acham q a humildade é uma espécie de "máscara social" q as pessoas aprendem a usar de acordo com a conveniência, para "se sair bem" e não parecerem arrogantes quando elogiados.

Por exemplo, quando uma pessoa é muito bonita, ou inteligente, ao ser elogiada por essas características "pega mal" ela concordar com quem a elogiou dizendo "é verdade, eu sou um gato; ou eu sou um gênio". E fica muito melhor, socialmente, ela dizer "imagina, é q hj me arrumei um pouquinho" ou então "ah, eu sou burra em diversas coisas".

Mas a verdadeira humildade não existe "para ficar bem com os outros", não parte de uma preocupação consigo próprio. A verdadeira modéstia nasce da percepção do mundo q nos cerca. Uma pessoa bonita não deve dizer o supracitado para evitar parecer arrogante, mas pelo apercebimento objetivo de q existem milhões de pessoas mais belas q ela. Uma pessoa inteligente não deve dizer o supracitado para evitar q seus amigos invejem suas capacidades intelectuais, mas por saber q na verdade, comparada ao verdadeiros gênios, tem uma capacidade cognitiva quase mediana.

Uma pessoa extremamente bonita e inteligente se achará o ápice da espécie humana até amadurecer, ganhar experiência, e pela vida encontrar dezenas de pessoas melhores q ela. E mais humildes, modestas, a este respeito do q ela. Apenas quando saímos do nosso casulo da segurança individual, ganhamos experiência de vida, sucessivamente quebramos a cara e nos decepcionamos, passamos a ser mais observadores, aprendemos mais a ouvir do q falar, percebemos nossa pequenez, nossos limites, nossa visão parcial e limitada ao que queremos ver.

Para ilustrar o q pretendo expor vou usar um exemplo. O exemplo do maior profeta q o povo de Israel já teve, Moshe (Moisés). Há várias formas de responder pq, dentre todos os israelitas, justamente foi ele o escolhido para ter uma intimidade tão grande com HaShem. Há quem diga q foi por sua linhagem, há quem diga q foi por seu zelo e coragem.

Eu acredito q foi por sua humildade. Q ele foi escolhido por "não se achar grande coisa". Pois, se ele fosse cheio de si, não obedeceria cegamente, se acharia no direito de fazer "a sua Lei" e não estaria propenso a obedecer em tudo, cegamente, o q lhe era ordenado. Vejamos algumas passagens de sua vida.

Ex 3:
11 Então Moisés disse a D'us: «Quem sou eu para ir até o Faraó e tirar os filhos de Israel lá do Egito?»

Ex 4:
10 Moisés insistiu com D'us: «Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar, nem ontem, nem anteontem, nem depois que falaste ao teu servo; minha boca e minha língua são pesadas». 11 D'us replicou: «Quem dá a boca para o homem? Quem o torna mudo ou surdo, capaz de ver ou cego? Não sou eu, HaShem? 12 Agora vá, e eu estarei em sua boca e lhe ensinarei o que você há de falar».

13 Moisés, porém, insistiu: «Não, meu Senhor, envia o intermediário que quiseres». 14 D'us ficou irritado com Moisés e lhe disse: «Você não tem o seu irmão Aarão, o levita? Sei que ele sabe falar bem. Ele está vindo ao seu encontro e ficará alegre em ver você.

Moisés é tão modesto, "acha" tão pouco de si q isso até irrita a D'us. Mesmo diretamente recrutado, pessoalmente, pelo Criador, Moisés não se acha digno da tarefa. Pede q HaShem escolha outro em seu lugar, não se acha capaz, expõe seus defeitos.

Caso Moisés fosse o tipo de pessoa q nessa situação dissesse "realmente, eu sou muito santo, um líder nato, o Senhor não poderia ter escolhido melhor" ele não teria sido escolhido para tarefa tão importante. Pois se fosse esse tipo de pessoa tão "convencida e cheia de si" colocaria o próprio ego, os próprios interesses e conveniências, acima das ordens q recebia.

Na Torah há diversos alertas para o povo não ficar "convencido" e cheio de si, vejam 2:

Dt 8:
17 Portanto, não vá pensar: ‘Foi a minha força e o poder de minhas mãos que me conquistaram essas riquezas’.

Dt 9:
4 Quando Javé seu D'us os tiver expulsado da sua frente, não vá pensar: ‘Foi por causa da minha justiça que D'us me fez entrar e tomar posse desta terra’. Não. É por causa da injustiça dessas nações que D'us as expulsará da sua frente. 5 Se você vai conquistar essas terras, não é por causa da sua justiça e honradez, e sim porque HaShem seu D'us vai expulsá-las da sua frente por causa da injustiça delas, e também para cumprir a promessa que ele havia jurado a seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó. 6 Saiba, portanto: não é por causa da justiça de você que HaShem seu D'us lhe concede possuir esta terra boa, pois você é um povo de cabeça dura.

Muitas vezes, quando nos deparamos com pessoas q têm um conhecimento menor q o nosso, é comum sermos arrogantes, "superiores" e professorais no sentido "percebi q vc não sabe nada, só fala bobagem; agora cale-se e aprenda com quem realmente sabe". Tudo o q for dito depois disso pode ser até bom e elaborado, mas já nasce com um vício original. Foi plantado de forma adversa, diz muito mais sobre o quanto quem o expõe "se acha o máximo e gosta de usar seu conhecimento para se exibir, diminuir e humilhar os outros." O q demonstra q essa pessoa pode até entender muito de teoria, mas seus conhecimentos não são usados na prática.

Ao explicar, ou argumentar com pessoas q achamos ter menor conhecimento, devemos ter o cuidado de nos expressar de forma q a mensagem seja recebida de forma propícia, não como uma crítica, não de forma a "diminuir" o outro. Não devemos agir como se estivéssemos encastelados numa imaculada torre de marfim, devemos "ficar no mesmo nível", explicar de forma q a outra pessoa compreenda.

Exemplo fácil. Vc vê uma criança pequena colocando o dedo na tomada. De nada adianta falar-lhe "vc é muito burra, assim vc vai morrer" ou então dar uma explicação técnica sobre elétrons e correntes alternadas. É necessário ser maduro, não agir com a mesma infantilidade da criança, explicar-lhe de forma q ela entenda "assim vc vai fazer dodói, da tomada sai um 'raio' q machuca se vc colocar o dedo".

É preciso explicar cada coisa da forma mais calorosa, paciente, e apropriada à compreensão do destinatário, de forma q essa explicação lhe acrescente, faça com q ele cresça. Devemos perceber q explicar uma coisa para alguém não é uma oportunidade de exibirmos nossa erudição, nossos "grandes conhecimentos", mas sim é uma chance de contribuir com a evolução dos q nos cercam.

Devemos ter consciência de q, por mais q saibamos (ou achamos q sabemos) há pelo menos 5 mil pessoas no mundo q sabem sobre isso muito mais q nós, com maior profundidade, e q elas não se gabam disso. E não se gabam justamente pq elas próprias sabem q existem outras mil pessoas q sabem mais q elas próprias. E mesmo a mais sábia dentre essas mil pessoas, se perguntada, agirá justamente como Moisés; dirá "quem sou eu para tão grande responsabilidade? Há outros muito melhores q eu!"

Concluindo, acredito q HaShem escolheu Moisés, q passou a ser referido por "Moshe Rabenu" (Moisés, nosso pai), justamente por saber q ele teria a maturidade, a experiência, a compreensão "psicológica" do outro, para orientar de forma adequada, com as palavras corretas, pacientemente, ao povo de Israel. Por saber q ele não se colocaria àfrente do povo, mas sim o povo àfrente se si (cf Ex 32:32; Dt 9: 8, 14, 26).

Moisés não foi escolhido por ser o q melhor guardava a Lei, por saber todas as regras de cashrut, por sua eloquência, por nunca ter se contaminado com a idolatria (afinal, ele era um príncipe do Egito), por nunca ter pecado (vcs lembram do egípcio q ele matou? Cf Ex 2:12), por ser um "líder nato", por ter sido "preparado" para isso.

Acredito q o motivo fundamental q fez HaShem escolher Moisés foi justamente este:

Nm 12:
3 Moisés era o homem mais humilde entre todos os homens da terra.

E este foi o grande diferencial deste grande homem: sendo grande, achava-se pequeno. Mesmo quando HaShem o convocou pessoalmente, achou-se pouco digno, pouco preparado, aquém, incapaz de cumprir tão importante tarefa.

E é por isso que

Dt 34:
10 Em Israel nunca mais surgiu outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia face a face.

domingo, 3 de junho de 2012

Causos escolares: aborto e covardia

Recentemente ouvi um relato de uma aluna q me tocou profundamente por sua sinceridade e delicadeza. Foi numa sétima série da EJA, a aluna é uma mulher negra de mais de 40 anos, com o semblante sofrido das pessoas q trabalham desde sempre por um salário miserável. Durante a aula eu havia comentado algo sobre o reconhecimento de paternidade e naqueles 5 minutos finais ela espontaneamente começou a contar essa história. Espero ser capaz de reproduzí-la dignamente. Apenas para fins didáticos, a relatarei do ponto de vista da aluna.

- Sabe, professora, eu tenho uma filha q não tem o nome do pai da certidão. Eu nem vou atrás disso nem de pensão, hj sou casada e meu marido é um verdadeiro pai pra minha filha.

- Mas vc deve ir atrás disso. O dinheiro da pensão não é para vc, é para a menina. Mesmo q vc não precise ou não queira tocar no dinheiro, entre na Justiça e exija a pensão a q sua filha tem direito. Se vc quiser, pode deixar esse dinheiro no banco e ela pode sacar quando ficar maior de idade, assim ela vai ter um dinheiro pra fazer faculdade, ou até comprar um carro.

- Mas é q me disseram q se o pai pagar pensão vai ter direito de levar ela nos finais de semana.

- Sim, é um direito. Quando a pensão alimentícia é acertada, o juiz também determina os dias de visitação. Se o pai estiver pagando pensão, tem direito a passar alguns finais de semana com a menina.

- Professora, é justamente isso q eu não quero. A senhora não sabe o quanto esse homem me fez sofrer. Quando eu engravidei, ele falou q não queria o bebê, q eu já tinha 2 filhos, do meu ex-marido q tb nunca pagou pensão, q ele estava desempregado, q eu era faxineira e ganhava salário mínimo. Um dia ele chegou com uma cartela de remédio na mão, me mandou tomar e disse q isso ia "resolver o problema". Nem sei dizer como eu me senti.

Eu olhava pros meus filhos e sentia uma dor, nem sei onde, pensando se eu tivesse abortado eles, matado eles e eles não estivessem naquela hora sorrindo pra mim. Não sou religiosa nem nada, nunca tinha pensado em fazer um aborto, mas vendo meus filhos, mesmo naquela situação, não tive coragem. Sabe, se um homem tivesse me pegado à força talvez eu tivesse coragem, mas tinha feito aquele bebê apaixonada. O bebê não tinha culpa se agora eu descobria q o pai dela não era um homem de verdade.

Não tive coragem, professora. O meu namorado largou de mim quando eu disse q não ia abortar. Nunca mais olhou na minha cara nem quis saber da criança. Eu chorei a gravidez inteira, sem saber o q seria de mim, sozinha e com 3 filhos pequenos pra criar, sem marido pra me ajudar. Quando fui contar pros meus patrões, tive medo de ser demitida, mas eles me deram força, ainda mais quando contei o q o pai da criança tinha sugerido. Mesmo levando a gravidez adiante, não estava feliz, não fazia planos, não conseguia pensar num nome, o bebê era mais motivo de preocupação do q de alegria, e assim foi os 9 meses.

Mas sabe, professora, quando a gente tá no fundo do poço a gente vê como Deus não nos abandona e nos dá força quando a gente mais precisa. Entrei em trabalho de parto justamente na festa de Reveillon. Q apuros! Comecei a sentir as contrações e meu pensamento foi "Agora para melhorar tudo não vou conseguir q ninguém me socorra, ninguém vai trocar a festa de Reveillon por uma noite no hospital, talvez nem tenha médico pra fazer o parto!"

Mas um vizinho me ajudou na hora, me levou pra Santa Casa e minha filha nasceu assim q o ano virou, perfeita e saudável. Minha filha foi o primeiro bebê a nascer em Rio Claro em 20**. Todas as enfermeiras e médicos ficaram emocionados, veio todo mundo me dar os parabéns. Até um jornalista tirou foto da gente e perguntou o nome da bebê. Eu ainda não tinha decidido, mas naquela hora o nome dela veio direto na minha cabeça e não tive nenhuma dúvida: "O nome dela é Vitória".

Minha filha foi a minha vitória na vida, e percebi q ela tinha nascido naquele momento pra me trazer de volta a esperança. Senti um pouco de vergonha de ter passado a gravidez tão triste, preocupada e sem esperanças, pois segurando minha filhinha no colo vi q ela era um presente de Deus e q me traria muitas alegrias no futuro. E como ela saiu no jornal, virou o xodó da vizinhança e ganhei um monte de roupinhas e fraldas q eu não teria condições de comprar.

O pai dela nem quis saber. Ele mora perto de mim até hoje, e quando a gente se cruza na rua ele vira a cara, muda de calçada, dá um jeito de fingir q não nos conhece. Alguns anos depois me casei de novo, e meu atual marido é um verdadeiro pai para a Vitória.

Se eu for pedir pensão pra minha filha, ela vai me perguntar pq me separei do pai dela, pq ele nunca quis saber dela. E eu não quero contar pra ela. Eu não quero q ela saiba q o pai quis q ela fosse abortada. Acho melhor ela não saber, pois se ela souber q o pai dela existe e quis q ela não existisse ela pode ficar revoltada, e com razão.

Às vezes quando ela está brincando, percebo q ela fantasia com o pai imaginário, q seria um grande herói. Quando ela me perguntou quem é o seu pai disse q ele mora em outra cidade, e a gente não tem mais contato. Não sei o q vou dizer quando ela crescer, ou se alguém apontar o pai dela na rua, pois eles são muito parecidos. Não quero q ela saiba q um dia não foi desejada, pois ela, junto com meus outros filhos, é a maior alegria q eu tenho, e meu motivo de viver. Nem sei como eu me sentiria hoje se tivesse sido covarde e matado minha filhinha. Não quero q ela jamais venha a saber disso.


- Acho q vc está mais q certa. Parabéns pela sua coragem. - disse eu, percebendo q naquela aula ela havia ensinado a mim mais do q eu poderia ensinar a ela. Não sobre História, mas sobre Vida, Coragem, Ética e Amor.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O inferno das boas intencoes

"De boas intenções o inferno está cheio". Esse é um dito popular muito conhecido e q guarda uma ampla sabedoria experimental. Normalmente isso é dito quando alguém faz uma coisa cujo resultado ruim não foi previsto. Quando alguém faz algo pensando q está a fazer algo bom, mas os desdobramentos da ação são negativos.

Pela vida, fui me deparando com inúmeras situações em q o ditado se verificou. E creio q em muitas delas isso foi resultado do descompasso entre duas coisas essencialmente diferentes: a teoria e a prática. Na teoria, tudo e fácil, pois o papel aceita tudo. No papel, todos os projetos parecem ótimos e factíveis. Todas as novas idéias parecem ser capazes de iniciar uma revolução.

Porém, quando saímos da bolha de papel acadêmica e nos deparamos com o dia a dia, rapidamente aprendemos q "na prática, a teoria é outra" e q todos aqueles lindos projetos elaborados em linguagem grandiloquente não servem para nada.

Quando alguém falha em perceber isso se verá lançado ao inferno das boas intenções. Como sou professora, da rede pública, usarei exemplos deste universo.

Cada vez mais o ambiente escolar tem sido contaminado pela cultura empresarial. Economistas, administradores e mesmo pedagogos q nunca pisaram numa sala de aula da rede básica, cheios de boas intenções e sem nenhuma noção do q é a "realidade" frequentemente acham q está ao seu alcance modificar radicalmente o ensino público.

Cada novo secretário de educação quer "mostrar serviço", deixar sua marca, declarando na imprensa q dará um "choque de gestão" q elevará o patamar de qualidade da rede de ensino... Um intenção ótima... E infernal. Infernal pq esses "choques de gestão", via de regra, servem apenas para desorganizar o q já existia e desorientar os verdadeiros gestores, q não estão sentados num escritório com ar condicionado, mas q ralam no dia-a-dia da escola.

A cada novo gestor, vêm novos decretos, novas regras, novas siglas, novo material didático. Muita novidade ao mesmo tempo. Tudo isso até poderia ser bom, não fosse o detalhe da inconstância política, pois quando dá-se o tempo de todas as "novidades bem-intencionadas" serem digeridas, o antigo secretário já "caiu" e outro assumiu seu posto.

E é claro q o novo secretário tb quer "mostrar serviço, deixar sua marca e fazer seu choque de gestão", o q envolve descartar todas as iniciativas do seu predecessor. Desfaz-se tudo, remudam-se os decretos, as siglas, o material didático, desnorteando mais uma vez todos os profissionais q efetivamente trabalham na sala de aula.

E a cada nova mudança, inventam mais relatórios e formulários, cuja intenção teórica é ótima, mas q na prática resultam em "roubar" tempo precioso, do qual professor faria muito melhor uso se nele trabalhasse em prol de seus alunos, e não preenchendo papéis inúteis, q nunca ninguém vai ler.

Não duvido q cada novo secretário ou ministro da Educação tenha a melhor das intenções ao iniciar seu "choque de gestão". O q duvido é q qualquer um destes "choques de gestão" resulte em qquer melhora na educação. A única pessoa capaz de fazer a Educação pública melhorar é o próprio professor. E enquanto houver a percepção pelo professor de q os políticos q nos gerenciam desconfiam de nossa capacidade, nos desrespeitam em nossos direitos trabalhistas, não nos valorizam, nenhuma iniciativa de mudança de gestão resultará na melhora do ensino.

Ademais, como a carreira do professor é longa, rapidamente descobrimos q, ano vai, ano vem, muda o secretário de educação, e com ele as políticas de educação; portanto, nenhuma delas é "realmente séria" e se simplesmente ignorarmos ou "fingirmos q estamos seguindo as novas diretrizes", o secretário mudará antes q alguém perceba q as "novas/antigas diretrizes" não foram efetivadas. E quando isso se dá, a gestão q era nova já é velha, e não precisa mais ser obedecida.

Além dessa balela de q seria possível de cima, com um decreto, melhorar a Educação, há o problema do próprio currículo. No Brasil, temos os PCN's, Parâmetros Curriculares Nacionais. Muito bem intencionados. No papel, a Educação brasileira é ótima. Na teoria, nossos alunos aprendem um currículo muito mais vasto e diversificado em relação mesmo ao q é ensinado nos países desenvolvidos. Partirei do exemplo q me é melhor conhecido: a disciplina de História.

De acordo com os PCN's, eu formo meus alunos de 14 anos no Ensino Fundamental com todo o conhecimento sobre a História Humana, desde a pré-História até o século XXI. Quer dizer, eu assino um papel q afirma isso. Um papel q não tem nenhuma correspondência prática. Por acaso acho q o currículo brasileiro do ensino de História seja ruim? Não, ele é ótimo. Na verdade, seria ótimo. Para a Suíça. Para a Suécia. Para a Finlândia. É um currículo vasto, profundo, completo... E infernal.

Infernal pois, para seguir este currículo, gasto centenas de horas digressando sobre a Revolução Francesa, o Feudalismo, a Cultura greco-romana. Conteúdos ótimos, mas com resultado pífio. Meus alunos decoram os fatos e datas para a prova, e após ela rapidamente esquecem tudo. O q ensino é abstrato, longínquo, impalpável e, portanto, desinteressante.

Os alunos deixam de aprender coisas realmente importantes para seu cotidiano, q não fazem parte do currículo, mas exige-se q aprendam conteúdos intrincados e vários patamares acima da sua real capacidade, ou interesse, de aprendizado. Para os burocratas, ministros e secretários, q nunca deram aula na rede básica, o currículo é ótimo. Para o professor, q lida com a realidade, o currículo é uma "jaula de ouro" q prende não uma Fênix, mas um pardal.

Já passou da hora dos políticos q têm a ilusão de serem capazes de dar um "choque de gestão" terem um "choque de realidade" e descobrirem q suas boas intenções podem até ser ótimas, porém q não será na canetada, com um decreto, q a realidade mudará. Não precisamos de novos paradigmas administrativos. Não precisamos de relatórios e de rankeamento. Precisamos de valorização. Q a voz dos q efetivamente conhecem como se dá o processo educativo seja ouvida, não q um economista venha dizer ao vigário como se reza a missa.

Nem sempre boas iniciativas são realmente boas. Raras teorias vencem o teste da prática, da realidade. E, se vc é político de carreira, economista, administrador ou mesmo pedagogo de escritório, pare de achar q os papéis q vc assina com novas diretrizes melhorarão a Educação, pois eles não irão: apenas desorganizarão o q já está aí, na verdade atrapalhando o real processo educativo.

Na prática aprendi q os secretários de Educação não têm em vista a melhora da Educação: objetivam usar essa pasta como um trampolim para suas ambições políticas pessoais. Intenção, convenhamos, nem tão boa assim. Achar q os professores irão simplesmente aquiescer como cordeiros a este propósito é ilusão. Secretários, ministros, vêm e vão. E com isso todas as suas "boas intenções" vão pro lixo. E a Educação enquanto isso segue girando em falso, sem saber aonde vai, qual é seu propósito, completamente sem norte nem melhora.

domingo, 22 de abril de 2012

Por uma Matematica util

Para começar preciso avisar q sofro de analfabetismo matemático, ou "anadigitismo" num neologismo inventado. E creio q grande parte disso é devido ao ensino escolar dessa disciplina, pelo menos da maneira como me foi administrado.

Desde a quinta série, quando o "X" foi inserido no meu universo matemático, nada do q aprendi fez nenhum sentido. Até fui capaz de passar nas provas, achando infinitas vezes o valor de um X cujo significado eu ignorava. Entre a quinta série do Ensino Fundamental e a terceira série do Ensino Médio encontrei inúmeros X, Y, Z e até Deltas q para mim nunca significaram nada, apenas uma gigantesca chatice e decoreba. Passada a prova, as fórmulas eram mais do q rapidamente esquecidas. O q aprendi na matéria escolar de "Matemática" nunca me pareceu nem pretendeu me ensinar nada q eu pudesse usar "na prática" em meu cotidiano. Tudo abstrato, impalpável, no "mundo das idéias".

Lembrei-me disso recentemente quando um colega professor relatou sua desolação com o aprendizado dos alunos. Disse q numa prova apresentara uma pergunta muito simples: "Se o médico prescreve um medicamento para ser tomado a cada 4 horas, quantos remédios serão tomados por dia?" E nenhum, absolutamente nenhum, aluno respondera corretamente à questão, numa oitava série.

Mais do q alarmante, isso é assustador, não apenas da falha aprendizagem dos alunos como também de como a Matemática escolar é vista como completamente inútil e sem propósito pelo corpo discente.

Uma conta tão simples como um 24 dividido por 4 não é feita pelos alunos pois a forma como a Matemática é ensinada não propõe q estes conhecimentos interfiram no cotidiano dos alunos. Não se ensina "Matemática para a Cidadania", mas "Matemática pela Matemática", como se todos os alunos almejassem uma graduação nesta área.

Nos 8 anos de estudo em q fui obrigada a atender a esta matéria nunca nenhum professor ensinou "regra de 3", nem a simples, muito menos a composta. Nunca me ensinaram a calcular juros, simples ou compostos. Nenhuma palavra sobre taxas, imposto de renda, carga tributária, partilha de herança.

Cálculo de área? Só de figuras geométricas abstratas, nunca de um terreno, de uma casa ou cidade. Cálculo de volume? Só de sólidos abstratos, nunca de uma garrafa de refrigerante, do porta-malas de um carro ou uma geladeira. Na escola jamais aprendi nesta disciplina nada q se propusesse a me ajudar nos meus problemas cotidianos.

Se vc é professor de Matemática e acha q estou exagerando, faça o teste. Pergunte a seus alunos:
* Quantos dias tem um bimestre?
* Quantas horas tem uma semana?
* Se alguém trabalha 8 horas por dia, quantas horas trabalha num mês?

Todas essas perguntas são muito simples e deveriam ser respondidas sem problemas mesmo por quem só cursou até a quarta série. Contudo, posso afirmar com relativa segurança q menos de 50% dos alunos com diploma de ensino fundamental serão capazes de respondê-las.

Isso nada diz a respeito da capacidade intelectual desses alunos. Mas fala muito a respeito da forma vã, vazia e inócua como a Matemática tem sido ensinada no Brasil. Defendo uma Matemática útil. Q pare de calcular tantos X e Y completamente inúteis e ensine aos alunos habilidades q usarão no dia-a-dia. Q os faça compreender como é feito o cálculo das contribuições ao INSS, como funcionam os juros do "cheque especial", como é feita a partilha da herança num espólio, como calcular quantos ladrilhos preciso comprar para cobrir uma parede.

Professor de Matemática, saia do mundo das idéias e nos ensine coisas sobre o mundo real! Sei q os PCN's (Parâmetros Curriculares Nacionais) propõe esse tal "currículo". Mas mais importante q "seguir o currículo" é "ensinar". E o aluno só se aplica em aprender quando vê q esta aprendizagem será útil. O q a Matemática escolar não se propõe a fazer. Esqueça o q os burocratas de Brasília q nunca pisaram numa sala de aula te mandam fazer. Ensine o q seus alunos precisam aprender.

sábado, 24 de março de 2012

Aos meus caros alunos

Gostaria de iniciar esse texto dizendo: eu já fui um de vcs. Quando eu mesma era aluna, fazia as mesmas coisas q vcs: matava aula, pulava muro, desdenhava da escola e dos professores. Crescer não é fácil, e nossa infância e adolescência não nos preparam para sermos adultos. Mas a adultez, inadiavelmente, chega. E se não nos prepararmos para ela durante a adolescência pagaremos um alto preço durante toda a vida.

Muitas coisas essenciais para vida ninguém me disse, só aprendi dando muita cara na porta e murro em ponta de faca. A vida não tem manual nem atalhos, cada um constroi seu caminho. E é na adolescência que fazemos, sem nos darmos conta, escolhas q repercutirão pelo resto de nossas vidas.

Vocês tem a chance, agora, de construir para vcs um futuro melhor, próspero. Daqui a 5 anos pode ser tarde demais. Não percam o bonde da vida, não fiquem para trás.

Pergunto: vcs pretendem andar de bicicleta ou motinho 125 o resto de suas vidas? Vcs querem ter o mesmo nível de vida dos seus pais? Querem morar de favor ou pagar aluguel para sempre? Quem ter q abaixar a cabeça e obedecer ordens pelo resto de suas vidas?

Em caso negativo, devo alertá-los: vcs precisarão matar um leão por dia. Terão q se esforçar, fazer das tripas coração para viver. Mas agora q vcs são jovens, tem uma escolha: fazer isso apenas pelos próximos 5, 7 anos; ou pelo resto de suas vidas. Explico de forma simples: seu salário será diretamente proporcional aos seus anos de estudo, e à qualidade da faculdade q vc fizer.

Se pra vc ganhar salário mínimo pelo resto da vida está bom, pode parar de prestar atenção agora. Vc se arrependerá disso amargamente, depois de adulto. Se pra vc ganhar "mil reais" está bom, tb não precisa me escutar, faça qquer "UniEsquina" da vida e só depois de formado perceberá q seu diploma vale muito pouco.

Mas caso vc queira vencer na vida, preste atenção.

Quando eu estava prestando vestibular vi escrito numa camiseta de formandos: "Enquanto vc está aí brincando, tem um japonês estudando". Nunca esqueci disso, ainda mais ao atestar in loco q na Engenharia da USP quase só entra "japonês". Pq os japoneses sejam naturalmente mais inteligentes q os "brasileiros"? Não! Pq a cultura japonesa prioriza o estudo. Desde o berço os "japoneses" tem bem claro q o fazer uma boa faculdade é a chave para um futuro próspero.

Há um texto do Bill Gates q diz "Seja legal com os nerds. Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles". E é verdade. Os "bonzões" da minha época do colegial hj estão lavando carros e assentando tijolos; no máximo dizendo "pois não, senhor?" atrás de um balcão. É isso q vc quer: uma vidinha medíocre?

Muitos de vcs pensam q a vida julgará vcs com os mesmos parâmetros da escola... Na escola, não pq eu queira, ma pq o governo quer economizar, todo mundo passa. A escola não julga ninguém. Quem julgará vcs será a vida, e o mercado de trabalho. Aí a coisa vai apertar, e se vc não tiver aproveitado esta oportunidade, mesmo com um diploma na mão, vc será reprovado. O conhecimento é uma riqueza q nunca ninguém tirará de vc, e é o grande diferencial da espécie humana. A competição no mercado de trabalho é feroz, e só os mais aptos se darão bem.

O mundo todo está aí para você o conquistar. O mundo é muito maior q a cidadezinha onde vc mora. Vc quer nascer, viver e morrer sem nunca ter saído da sua cidade, ou quer para vc um horizonte bem maior?

Eu sei q o conteúdo q eu ensino é chato e vcs não vêem propósito nele. Eu tb não via na idade de vcs. Foi só quando prestei, e bombei, em meu primeiro vestibular q percebi sua importância. Ainda hj, várias vezes percebo q conteúdos de Matemática, Química, Biologia, q não quis aprender, me fazem falta. O ser humano precisa ser completo, polivalente.

Comece agora a projetar e a construir seu futuro. Se vc deixar para depois pode ser tarde demais. Eu poderia fazer muito mais por vcs, poderia ensinar coisas muito mais profundas. Eu não estou aqui contra vcs, mas por e para vcs. A maior felicidade de um professor é encontrar um ex-aluno bem sucedido. Esse é minha intenção aqui: fazer o meu melhor para q vcs sejam o seu melhor.

Agora é com vc: vai ficar de brincadeirinha até se arrepender daqui a 10 anosou vai escolher acordar para a vida agora? Seu futuro só depende de vc. Espero q todos vcs tenham um futuro maravilhoso, q todos vcs vençam na vida!

Eu espero q um dia eu tenha q chamar vcs por "senhor", ou "doutor".

terça-feira, 6 de março de 2012

Está pensando em comprar um tablet? Leia

Sei que muitos devem estar pensando em comprar um tablet, e na dúvida se vale a pena e qual comprar. Eu também pensei longamente se era melhor comprar o iPad ou o Galaxy Tab e optei pelo primeiro. Gostaria de expor os motivos para que vcs possam fazer uma escolha mais esclarecida.

Antes gostaria de elencar alguns motivos para se comprar um tablet, independente da marca:

1 - Segurança. Com um tablet, vc não precisará se logar em lan houses e computadores de terceiros, suas senhas estarão bem mais seguras.

2 - Praticidade. Com um tablet com internet 3G vc fica com online aonde for, em outras cidades e até outros estados, sem roaming. O tablet faz o seu tempo render mais. Horas antes desperdiçadas no ônibus ou na fila do banco se tornam produtivas quando vc tem um tablet à mão. Sem contar o conforto de fazer (quase) tudo o que fazia sentado na frente do PC, mas agora confortavelmente esparramado no sofá ou deitado na sua cama.

3 - O tablet substitui outros gadgets "físicos": mp3 player, rádio, computador, lanterna, bloco de notas, pen drive, gravador de voz, televisão (sim, o iPad te fará desligar a TV), jornal, revista, livro, agenda, GPS, calendário, calculadora, videogame, câmera fotográfica e filmadora digitais, lista de compras, espelho, despertador, previsão do tempo, telefone (via Skype), guia da TV, qualquer instrumento musical, até os mais estranhos, dicionário em qualquer língua, Kindle, e muito mais. E, insuspeitamente, até animais de estimação. Esqueçam o famoso Tamagotchi (bichinho virtual); no tablet vc pode ter aquários, gatinhos, unicórnios... Eu tenho até um tigre de bengala de estimação! Nenhum deles morre nem faz sujeira...

4 - Muita coisa grátis. Centenas de apps que facilitam baixar música livre de copyrights. Milhares de livros (a maioria em inglês, mas a oferta em português está aumentando) de domínio público. Apps de jornais (a Folha de SP pode ser lida gratuitamente e na íntegra por quem tem iPad, cortesia de uma grande construtora paulista). Há milhares de apps pagos, mas quem tem paciência e sabe garimpar encontra quase tudo o que quer de graça. Milhares de joguinhos clássicos e novos; alguns que eu tenho: xadrez, forca, Wolfenstein, Pac Man, Bejeweled Blitz, The Sims free play, Angry Birds, Free Cell, jogos do Atari, etcs.

5 - Participar das novas redes sociais feitas para smartphones e tablets: Instagram, Foursquare, Pinterest, Social Cam etcs. Você ficará muito mais plugado às novidades que estão bombando!

6 - A tela grande, muito mais confortável para navegar do que a mirrada telinha dos smartphones.

7 - Geolocalização. Não são todos os tablets que tem, e vale a pena pagar mais caro por um com GPS. Com ele sempre ligado, especialmente se vc tiver 3G, se vc for sequestrado ou seu tablet for roubado, é relativamente fácil geolocalizá-lo e a polícia ir direto ao mocó de quem te roubou.

8 - Interface intuitiva com apps educativos. Mexer num tablet é tão fácil que até crianças analfabetas não terão dificuldades. Para quem tem filhos, o tablet é um investimento inestimável. Há milhares de livros infantis interativos, joguinhos de raciocínio, de memória, de conhecimentos. Fazer de seu filho alguém plugado desde cedo pode fazer uma baita diferença em seu desenvolvimento cognitivo.

9 - Facilidades para quem é deficiente. Não precisei baixar nenhum desses apps, mas há centenas de aplicativos adaptados para pessoas com as mais variadas deficiências. Vide

10 - Aplicativos para coisas que vc nunca imaginou, não sabia que precisava e não conseguirá mais viver sem. Alguns que eu tenho: para dormir, tem app que toca mantra budista, sons ambientes para relaxar, app que com infra-sons fazem os cachorros parar de latir, apps estilo "jardim japonês", apps religiosos (tenho uma menorah virtual pela qual é possível segyir toda a liturgia do shabbat), controle remoto virtual (depende da sua TV ser bem moderna, mas funciona!), contador de calorias, personal trainer virtual, e muitos mais que ainda não conheço, mas um dia encontrarei!

11 - Ficar online 24hs. Diferente do computador, que tem ventoinha/cooler e pode superaquecer, o iPad é como um celular que pode ficar ligado direto 24horas. Vc pode simplesmente NUNCA desligá-lo e toda vez que vc quiser dar uma checada na net, simplesmente pegá-lo e usá-lo, sem estabilizador, sem liga/desliga, sem desperdício de energia e... Sem medo que um raio o queime!

Escolhi o iPad por vários motivos:

1 - A variedade de apps (aplicativos, "programas"). A Apple tem uma atração magnética sobre os geeks, que adoram mostrar como podem fazer apps geniais e exibi-los aos outros "nerds". A Samsung, fabricante do Galaxy Tab nem de longe exerce o mesmo fascínio, e portanto tem uma variedade bem menor de apps, e apps menos "cool and trendy".

2 - A qualidade do produto, indiscutível no caso da Apple. É um produto "top de linha".

3 - Memória. O Galaxy só oferece a versão de 16 gigas. O iPad tem 3 configurações: 16, 32 ou 64 GB. Para vcs terem uma ideia, tenho meu tablet há apenas 2 meses e já ocupei 8 gigas de memória.

4 - Bateria. A da Apple dura muito mais!

Agora alguns motivos para vc não comprar um iPad (não podia faltar):

1 - Trabalho escravo. Muitas são as denúncias contra a exploração dos trabalhadores chineses nas fábricas da Apple/Foxconn

2 - Tornar-se escravo dos produtos da Apple. Uma vez que vc caiu na rede, vira peixe dessa empresa com conhecidas práticas monopolistas.

3 - Incompatibilidade. Não rodar "flash" é apenas o mais visível dos problemas. O iPad até vem com cabo USB, mas ao plugá-lo no seu PC Windows vc terá a má surpresa de que os aparelhos não se reconhecem nem se comunicam. É possível fazê-los "se entender" e até sincronizá-los, mas isso é meio difícil para quem é leigo em informática, exige alguns malabarismos operacionais.

4 - Não é multitasking. Vc só pode usar um app por vez. Até agora, apenas apps que tocam música funcionam em segundo plano enquanto vc mexe em outros apps. É chato toda vez que vc vai trocar de app ter que apertar o botão e ter que fechar um para abrir o outro.

5 - Não funciona como celular.

6 - Esqueça qualquer tipo de download ilegal. Produtos da Apple só baixam arquivos legalizados.

Recomendação final: não financie seu tablet associado a um plano de minutos da sua operadora de celular, sai mais caro. Compre o tablet numa loja física, para ter garantia e um lugar onde reclamar. Depois veja qual operadora tem o melhor sinal 3G perto da sua casa. Há planos de internet (hoje) a partir de R$ 30,00. Não escolha o mais caro. O plano mais barato será mais que suficiente.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bill Gates - 11 Coisas que a escola não ensina

Bill Gates fala sobre a "Política educacional de vida fácil para as crianças", que tem criado uma geração sem conceito da realidade, e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas após a escola.

Ele fez uma palestra em uma escola, dizendo aos estudantes 11 coisas que eles não aprenderiam na escola.

Todos esperavam que ele falasse mais de uma hora, ele falou cinco minutos e foi aplaudido durante 10 minutos. Agradeceu e foi embora em seu helicóptero.

Eis o discurso:

1 - A vida não é fácil, acostume-se com isso.

2 - O mundo não está preocupado com sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele, antes de sentir-se bem com você mesmo.

3 - Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.

4 - Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.

5 - Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo de sua posição social, seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.

6 - Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.

7 - Antes de você nascer seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar suas contas,l avar suas roupas, e ouvir você dizer que eles são ridículos. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração de seus pais, tente limpar seu própio quarto.

8 - Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente nada na vida real. Se pisar na bola, está despedido, RUA!!! Faça certo da primeira vez.

9 - A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.

10 - Televisão não é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.

11 - Seja legal com os nerds. Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles.

sábado, 28 de maio de 2011

Da Matemática não calculada

A “Matemática” é uma das disciplinas mais temidas da grade curricular escolar. Excessivamente teórica e abstrata, esta matéria sempre foi para mim um tormento com cálculos sem nenhum sentido, envolvendo encontrar infinitas vezes um X sem nenhum propósito real.

A Matemática, a Física e a Química nos atemorizam, assustam e intimidam com suas intrincadas fórmulas. As incógnitas quase nos dizem: “Decifra-me ou te devoro”. Nunca me dei bem nem em Matemática nem nas demais Ciências Exatas: Física e Química. Destas três disciplinas, sinceramente, pouco me lembro e muito as temi na hora do Vestibular. Lembro-me inclusive de na sétima série ser interpelada por uma professora de Matemática inconformada:

- Fernanda, vc é tão inteligente, como que vc não consegue ir bem em Matemática?

Nunca soube o pq. Mas apesar de não “ir bem” nunca foi problema conseguir o 5 mínimo para passar de ano, nem em Matemática, nem em Física, nem em Química. Se serve mais uma ilustração cristalina, fiz cursinho pré-vestibular por 2 anos consecutivos. No primeiro, sendo pagante, simplesmente prescindi de participar das aulas de Física e Matemática após o segundo mês de aula. Tendo já feito amizades com os colegas de sala, minhas aulas de Exatas se transformavam em sessões de boteco e videokê ao lado de Aline, Thiago, Thales e Henrique. No meu segundo ano de cursinho, no qual era bolsista integral, eu era obrigada a ter freqüência exemplar, de mais de 90%, e portanto assisti, integralmente, uma a uma, todas as aulas de Exatas. Pq isso é relevante? Pq ao final destes 2 anos prestei o vestibular da USP obtendo exatamente a mesma pontuação na primeira fase. Em poucas palavras: um ano inteiro de aulas de Física e Matemática no Cursinho não fizeram absolutamente nenhuma diferença em meu desempenho no vestibular. Essas matérias simplesmente não entram na minha cabeça, ao menos da forma excessivamente teórica e abstrata como são ensinadas atualmente.

Contudo sempre me fascinou como algumas pessoas têm um talento natural, instintivo até, para os cálculos. Os realizam quase sem pensar, automaticamente. Um filme que mostra isso de forma ilustrativa é “Little Man Tate” no qual Jodie Foster interpreta a mãe de um menino superdotado, com talentos matemáticos que é descoberto por uma professora universitária interpretada por Diane Keaton. Numa competição de Matemágicos ele dá imediatamente as respostas a cálculos complicadíssimos, sem nem pensar, num piscar de olhos. Há também o ótimo livro infanto-juvenil “O homem que calculava” de Malba Tahan que conta a história das mil e uma noites de um prodígio dos cálculos sem números nem fórmulas.

Longe de mim situar-me em nível de qquer tipo de prodígio matemático, uma vez que esta linguagem me é mais indecifrável que o próprio grego. Creio que seria-me mais fácil aprender Mandarim do que tornar-me fluente em Matemática. Contudo, apesar deste meu analfabetismo, ou anadigitismo, de alguma forma consegui passar em dois dos mais disputados vestibulares do país (USP e UNICAMP – nesta segunda caíram “Exatas” até na segunda fase) e me saí muito bem nas duas vezes que fiz o ENEM inclusive em habilidades matemáticas pois, apesar de ser incapaz de colocar os dados nas fórmulas, calculá-las e chegar numericamente a algum X, sempre fui capaz de “ponderar” os dados e, intuitivamente, de alguma forma, chegar em um resultado, às vezes correto.

O causo pessoal curioso que ilustra esta questão se passou recentemente, não em ambiente escolar. Eu estava participando de um almoço familiar ao qual estava presente um engenheiro civil, também graduado pela USP. Ele contava-nos feliz que ia instalar uma “Tirolesa” e seu sítio, para se divertir.

Quem não sabe ao que me refiro: “Tirolesa” é o nome de um “esporte radical”, ou técnica de arborismo. É quando um cabo de metal é suspenso e preso pelas pontas em dois apoios altos. O “esportista” se pendura de um lado do cabo apoiado em uma roldana. O “esporte” consiste na pessoa deslizar aceleradamente de um ponto a outro da corda, finalizando a “diversão” ao pular no riacho abaixo do ponto mais baixo do trajeto. Coloquei as aspas pois minha própria natureza algo preguiçosa é aversa a qquer tipo de esporte que envolva risco de se esfolar, se molhar, quebrar algum osso ou afins. Ainda mais num equipamento que não foi instalado por profissionais da área.

Por exemplo, eu até poderia ser convencida a “me jogar” numa Tirolesa instalada num parque de diversões com alvará do Corpo de Bombeiros. Jamais numa Tirolesa improvisada. Por conta disso perguntei ao autor do projeto que, afinal, era engenheiro:

- Na faculdade vc fez ao menos teoricamente alguma coisa parecida com isso?

Respondeu-me que não.

A conversa prosseguiu a respeito de como seria instalada a Tirolesa até que alguém levantou o ponto da aceleração que a pessoa poderia atingir, e se fosse muito alta, se a pessoa poderia machucar-se ao cair no riacho. O engenheiro disse que a velocidade não seria alta, chegaria a algo em torno de 15 kms/hora. Estranhei, meneei a cabeça e discordei:

- Imagina! 15 kms/hora é a velocidade na qual eu caminho. Uma pessoa alcançaria 50 kms/hora.

O engenheiro discordou, achou ser excessiva a minha cifra. Pediu papel e caneta e pôs-se a fazer cálculos com fórmulas desconhecidas e, para mim, herméticas. Orçou a resistência da roldana, o comprimento e a inclinação do cabo. Após vários minutos e cálculos depois chegou a um número em metros por segundo. O qual, sinceramente, eu era incapaz de orçar em kms/hora. Ele próprio fez a conversão e após escrever o número no papel olhou-me com expressão atônita e mostrou-me o resultado final: 50 kms/hora.

Sinceramente eu não tinha a menor idéia de que eu chegara intuitivamente, com minha Matemática não calculada, ao resultado correto, mesmo a desconhecer os dados e fórmulas de cálculo. Apenas ponderei algo no qual eu mesma não acredito existir (bom senso), lembrei-me das Tirolesas que já vira, lembrei-me que o mostrador dos elevadores orçam o peso médio das pessoas em 70 kgs. E uma outra informação da qual creio que o engenheiro não dispunha. Na virada do século XIX para o XX muitos engenheiros temiam sobremaneira colocar motores potentes nos carros pois havia certa crença “científica” de que se o corpo de um ser humano fosse acelerado acima de 60 kms/hora ele se desintegraria. Isso é muito ilógico hoje, mas em épocas pré-traquitanas mecânicas parecia perigoso e antinatural acelerar de forma tão exacerbada o frágil organismo humano.

Claro que não me conti em minha arrogância e não perdi a oportunidade de me auto-afirmar:

- Viu? Pra que tanto cálculo, tantas fórmulas, tantos X e tantos Y? Eu, sem saber de nada disso, ponderei o resultado correto.

P. S.: Hoje, assistindo aos Mithbusters, o episódio quebrou um mito envolvendo o escorregar sobre uma rampa molhada e jogar-se sobre um lago. E curiosamente a velocidade que calcularam cientificamente repetidas vezes para os corpos lançados nesta espécie de trampolim foi... Vcs conseguem adivinhar?... De 50 kms/hora. Curioso, não?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Causos escolares - A suástica tatuada

Este é mais um episódio suscitado pelo ambiente prisional. Desta vez no CRM, Centro de Ressocialização Masculino de Rio Claro, interior do estado de SP, Brasil. No qual trabalhei durante 6 meses, no segundo semestre de 2008, lecionando tanto História quanto Geografia – além de supostamente Sociologia e Filosofia.

No corrente ambiente político de meu estado, sob os sucessivos governos do PSBD, partido Social Democrata, cujo símbolo é o ufanista tucano, foi perceptível o investimento maciço no SAP, Superintendência de Administração Penitenciária e na área de Segurança Pública em geral, simbolizada pela tropa de elite da PM, Polícia Militar Paulista: a ROTA, Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar.

É engraçado lembrar de Paulo Salim Maluf, ex-governador, ex-prefeito da capital, ex-candidato à presidência da República, também famoso pelos “estupra, mas não mata” e “se o Pitta não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim”:

- Eu vou colocar a RRRRota na rrrrua.

Com um ére rosnado, pesado, intermitente, como um ronco do motor de um carro a álcool falhando ao dar a partida, bem paulistano, da Moóca. A respeito de Paulo Salim Maluf, me contaram, e felizmente não me lembro, que durante sua campanha presidencial perdida para Tancredo Neves, toda vez que Paulo Maluf aparecia na TV eu, com 3 anos de idade, abria um grande sorriso e batia palminhas. Não sei se ele usa algum tipo de macete subliminar, mas eu gostava muito de Paulo Maluf aos 3 anos de idade. De minha primeira infância acá, eu algo evoluí. Muitos eleitores não, haja visto que mesmo nas últimas eleições do corrente ano ele foi reeleito, com todos os seus éres e inquéritos por corrupção (procurem por malufar num bom dicionário), a deputado federal, e com muito expressiva votação. O Malufismo ainda viceja, tristemente, nas conservadoras hostes paulistas...

A evocação da ROTA visava aterrorizar aos criminosos, pois a ROTA é “faca na caveira”, a versão paulista do BOPE, Batalhão de Operações Especiais fluminense, afamado pelos filmes “Tropa de Elite”.

Devo reconhecer que o investimento em segurança resultou na queda das estatísticas de homicídios, se é que tais estatísticas merecem algum crédito, mas são as únicas das quais disponho. Só mais um parêntese a respeito de “estatísticas”: enquanto eu trabalhava na FEBEM, lembro de abrir o Jornal Cidade e ver uma foto sorridente do diretor da ONG, Organização não Governamental, à qual fora terceirizado grande parte do tratos aos “menores internos”. Na entrevista, ele afirmava enfaticamente que o índice de reincidência entre os egressos de sua unidade era zero. Dei uma gargalhada convulsiva ao ler isso. Ri de como ele podia afirmar publicamente algo que todos que trabalhavam lá sabiam ser falso... Muitas vezes eu não vejo necessidade de assistir a programas de humor pois a realidade já é-me suficientemente risível.

Voltando ao CRM, bloggeira-windows que apercebo-me: é uma cadeia, dentro do possível, “decente”. Não conheci-lhe todas as dependências, nem as celas. Mas parecia-me organizada, limpa, relativamente bem-equipada. É uma das poucas cadeias brasileiras que oferece trabalho a seus apenados. Os em regime fechado trabalham em funções manuais da indústria. Os em regime semi-aberto trabalham na Ludival, que fabrica sofás e na Tigre, indústria de tubos e conexões, além de outras fábricas menores da cidade. Por mais que sejam explicitamente explorados como mão-de-obra barata, é louvável que os gerentes destas fábricas contribuam para a ressocialização dos presidiários.

Os do regime semi-aberto têm hora certa para chegar, se não retornarem, são considerados fugitivos. Lembro-me que certo poente eu estava indo dar aula pela rua de terra, embaixo de espessa chuva e divisei, na beira da via, um de meus alunos andando apressado, carregando pelo braço sua bicicleta. Se ele fosse nela, com certeza escorregaria, por isso a arrastava. Ao passar por ele e vê-lo molhado até os ossos de chuva até pensei em oferecer-lhe carona. Mas ao ver-lhe o uniforme prisional amarelo ensopado, desisti. Não pq ele fosse molhar o banco do meu carro, mas pq ele era, afinal, um presidiário. E eu sequer cogitava por qual crime fora preso. E com certeza não é prudente para uma mulher sozinha, numa rua de terra, numa quebrada, oferecer carona a uma pessoa que ela sabe, objetivamente, ser um criminoso. Coloquei minha própria segurança acima de qualquer pena que eu estivesse a sentir por sua triste situação.

Passei sem olhá-lo e ele prosseguiu apressado, pois sua hora para chegar se aproximava. Outro aluno seu colega de sala, mas do regime fechado é o mote desta postagem. Como professora, sou uma “de fora”, posto que quem dá aula no sistema penitenciário e na Fundação CASA são professores regulares da Secretaria Estadual de Educação, os mesmo que dão as aulas regulares na rede de ensino público. E é ótimo que assim seja, pois pessoas “de fora”, sem nenhuma relação empregatícia com o SAP têm convívio virtualmente diário com seus “clientes” e podem, de certa forma, “fiscalizar” o trato que é dispensado aos encarcerados. Por ser “de fora”, não tenho acesso às fichas e, portanto, desconheço por qual crime e por quantos anos cada um estará preso.

No CRM dei aulas a uma turma de 50 alunos do Ensino Médio. Muito variado era o perfil, étnico, etário, educacional, de meus alunos. Como eram muitos, de poucos guardei o nome, em especial não me lembro o nome deste, a quem me referirei apenas como o ornado por uma suástica.

Idoso. Mais de 60 anos, com certeza. Cabelos bem alvos algo crescidos, e abundantes. Trajava o uniforme ocre ou cáqui, da cor de burro quando foge, demonstrando ser do regime fechado. Nunca soltou uma só palavra nos seis meses em que lhe dei aula. Jamais pediu para ir ao banheiro, ou tomar água. Sequer à chamada respondia verbalmente, apenas acenava com a mão que estava ali. Sentava-se na primeira fileira, não conversava com ninguém, fazia sua lição direitinho e tinha todos os disputados vistos. Não seria motivo de pousar-lhe o olhar duas vezes não tivessem meus olhos, já à primeira, divisado o número abundante de tatuagens que ostentavas, mesmo 75% de seu corpo estando recoberto por seu uniforme. E sobretudo, uma tatuagem em especial.

Todos os prisioneiros usam alpargatas, dessas bem chinfrins que descolam as tiras. E este senhor tinha seus pés bastante tatuados, com essas tatuagens de cadeia, tortas, feitas com tinta de caneta esferográfica e aparelho de barbear. Uma delas quase piscava pelo anátema que desperta a todos que tenham vivido no século XX: uma suástica.

Podem argumentar que este é um antigo símbolo de proteção asiático, mas não: qualquer um que tatue atualmente, no Ocidente, uma suástica, sabe perfeitamente que está fazendo apologia ao Nazismo personificado no candidato a anti-Cristo mais recente: Adolf Hitler.

Não surpreendia tanto que alguém, numa cadeia, exiba uma suástica, mas a pela morena em que ela estava tatuada. Este apenado não chegava a ser “mulato”, mas percebia-se-lhe não só o pé na cozinha como a mancha mongólica. Era um brasileiro, de cabelo enrolado, nariz largo, olhos amendoados e pele morena.

Lembro-me dele com curiosidade, não só do pq estava preso, mas por quais caminhos alguém tatua, improvisadamente, com tinta de caneta Bic uma suástica na pele morena miscigenada e vira-latas que Hitler destinaria à “eutanásia”. Pois é, para que assistir programas de humor, ou até ler livros de filosofia se os próprios fatos corriqueiros do cotidiano são depositários de uma galhofa reflexiva tão irônica?

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