Para começar preciso avisar q sofro de analfabetismo matemático, ou "anadigitismo" num neologismo inventado. E creio q grande parte disso é devido ao ensino escolar dessa disciplina, pelo menos da maneira como me foi administrado.
Desde a quinta série, quando o "X" foi inserido no meu universo matemático, nada do q aprendi fez nenhum sentido. Até fui capaz de passar nas provas, achando infinitas vezes o valor de um X cujo significado eu ignorava. Entre a quinta série do Ensino Fundamental e a terceira série do Ensino Médio encontrei inúmeros X, Y, Z e até Deltas q para mim nunca significaram nada, apenas uma gigantesca chatice e decoreba. Passada a prova, as fórmulas eram mais do q rapidamente esquecidas. O q aprendi na matéria escolar de "Matemática" nunca me pareceu nem pretendeu me ensinar nada q eu pudesse usar "na prática" em meu cotidiano. Tudo abstrato, impalpável, no "mundo das idéias".
Lembrei-me disso recentemente quando um colega professor relatou sua desolação com o aprendizado dos alunos. Disse q numa prova apresentara uma pergunta muito simples: "Se o médico prescreve um medicamento para ser tomado a cada 4 horas, quantos remédios serão tomados por dia?" E nenhum, absolutamente nenhum, aluno respondera corretamente à questão, numa oitava série.
Mais do q alarmante, isso é assustador, não apenas da falha aprendizagem dos alunos como também de como a Matemática escolar é vista como completamente inútil e sem propósito pelo corpo discente.
Uma conta tão simples como um 24 dividido por 4 não é feita pelos alunos pois a forma como a Matemática é ensinada não propõe q estes conhecimentos interfiram no cotidiano dos alunos. Não se ensina "Matemática para a Cidadania", mas "Matemática pela Matemática", como se todos os alunos almejassem uma graduação nesta área.
Nos 8 anos de estudo em q fui obrigada a atender a esta matéria nunca nenhum professor ensinou "regra de 3", nem a simples, muito menos a composta. Nunca me ensinaram a calcular juros, simples ou compostos. Nenhuma palavra sobre taxas, imposto de renda, carga tributária, partilha de herança.
Cálculo de área? Só de figuras geométricas abstratas, nunca de um terreno, de uma casa ou cidade. Cálculo de volume? Só de sólidos abstratos, nunca de uma garrafa de refrigerante, do porta-malas de um carro ou uma geladeira. Na escola jamais aprendi nesta disciplina nada q se propusesse a me ajudar nos meus problemas cotidianos.
Se vc é professor de Matemática e acha q estou exagerando, faça o teste. Pergunte a seus alunos:
* Quantos dias tem um bimestre?
* Quantas horas tem uma semana?
* Se alguém trabalha 8 horas por dia, quantas horas trabalha num mês?
Todas essas perguntas são muito simples e deveriam ser respondidas sem problemas mesmo por quem só cursou até a quarta série. Contudo, posso afirmar com relativa segurança q menos de 50% dos alunos com diploma de ensino fundamental serão capazes de respondê-las.
Isso nada diz a respeito da capacidade intelectual desses alunos. Mas fala muito a respeito da forma vã, vazia e inócua como a Matemática tem sido ensinada no Brasil. Defendo uma Matemática útil. Q pare de calcular tantos X e Y completamente inúteis e ensine aos alunos habilidades q usarão no dia-a-dia. Q os faça compreender como é feito o cálculo das contribuições ao INSS, como funcionam os juros do "cheque especial", como é feita a partilha da herança num espólio, como calcular quantos ladrilhos preciso comprar para cobrir uma parede.
Professor de Matemática, saia do mundo das idéias e nos ensine coisas sobre o mundo real! Sei q os PCN's (Parâmetros Curriculares Nacionais) propõe esse tal "currículo". Mas mais importante q "seguir o currículo" é "ensinar". E o aluno só se aplica em aprender quando vê q esta aprendizagem será útil. O q a Matemática escolar não se propõe a fazer. Esqueça o q os burocratas de Brasília q nunca pisaram numa sala de aula te mandam fazer. Ensine o q seus alunos precisam aprender.
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