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sábado, 7 de março de 2009

Nota de uma professora temporária

Há algum tempo vinha testemunhando na condição de OFA (Ocupante Função Atividade) o desenrolar da batalha a respeito dos professores temporários, e ao ler o artigo de J. R. Guzzo “Nota Zero” na edição de 04/03/2009, senti que posso contribuir com meu relato para a melhor compreensão das questões atuais envolvendo o professorado paulista.

Primeiro, não tirei nota zero. Das 25 questões acertei 24, nota quase máxima. Mas isso é só para ilustrar que o que me motiva a escrever não é a defesa de minha honra, mas a elucidação de questões que só são percebidas por aqueles que vivem no dia a dia a escola pública.

Como bem apontado pela secretária Maria Helena Guimarães Castro nas páginas amarelas ano passado, as licenciaturas não formam professores, mas teóricos especialistas em Vygotsky ou Piaget. Sou bacharel pela FFLCH e licenciada pela FE da Universidade de São Paulo, o que creio que me coloca entre os estudantes que tiveram acesso à melhor educação superior e devo confessar: a Universidade não me ensinou a ser professora. Não me preparou para dar aulas. Campo proximal? LDB? Projeto envolvendo arqueologia da metrópole? Tudo isso é muito bonito, mas completamente inútil quando fui jogada numa sala com 40 crianças baderneiras as quais eu me senti completamente incapaz de controlar.

A USP não me ensinou a dar aulas. Se a USP não me ensinou a dar aulas, imagino que seja ainda pior a situação dos formados nas Unis que pipocam em cada esquina no vácuo da inação governamental.

A pedagogia, de acordo com a minha experiência, é como a Constituição: muito bonita no papel, linda de ser discutida. Mas contraposta à realidade, cria uma situação de riso involuntário. Se você pega o projeto político pedagógico de uma escola, você pensa que essa escola está alocada em alguma Jerusalém celeste perdida por aí. Mas se você se der ao trabalho de ir à escola e entrar nas salas de aula, verá que tanto blá-blá-blá não passa de palavreado vazio e que na sala de aula o que o professor menos faz é ensinar. Não sobra tempo. Eu tenho muito a ensinar. Meu bacharelado foi muito bom, aprendi muitas coisas que sinto prazer em transmitir aos alunos. O problema é que eles não deixam. Eles não querem aprender.

A sala de aula, especialmente entre a 5ª e 8ª séries é um campo de batalha em que eu passo 80% do meu tempo apartando brigas e tapas entre alunos, tentando impedi-los de gritar, de correr, jogar bolinhas de papel, de depredar o material público, tentando mantê-los sentados, sem mexer no celular, sem passar maquiagem, sem ouvir o mp3. De que serve tanta pedagogia? A impressão que muitas vezes eu tenho é que a grande “onda” dos alunos na escola é se divertir fazendo o professor passar nervoso, deixando-o completamente fora de si. Algumas vezes os alunos já me deixaram em tal situação de nervos que confesso que disse e fiz coisas horríveis, que se alguém me contasse que eu faria eu diria que isso seria impossível. Só quem já entrou numa sala de aula de escola pública entende o que digo. Esses grandes burocratas da pedagogia de escritório não têm nem idéia ao que me refiro. Na prática, professor bom é o professor que não leva problemas à direção da escola. O professor que põe o aluno para fora da sala de aula, que chama a coordenadora, que comunica os abusos dos alunos é o mau professor. A mensagem é que temos que “nos virar” o melhor que der para tentar sair mentalmente sãos, e com a voz íntegra, de cada sala de aula em que entramos.

Para lecionar? Não, para tentar domar 40 leões ao mesmo tempo. Já me disseram que para vencer na vida é preciso enfrentar um leão por dia. Ok. Um leão por dia ainda dá. 40 leões a cada 50 minutos, não.

Devo sentar e rezar para que Vygotsky controle as crianças para que eu possa então tentar passar-lhes algum conhecimento?

Várias matérias da revista Veja têm abordado a educação, e um dos pontos explorados é que se têm que investir na formação dos professores. Está certo. Como política de longo prazo. Não resolve o problema de hoje. Foi criticada a postura tradicional de pleito por aumento nos salários. Essa é uma questão fulcral. Eu ganho cerca de R$8,00 (a gente nunca sabe ao certo) por aula na rede estadual de ensino. Quantas vezes não me chamaram para substituir algum professor que faltara e eu recusei-me a ir por pensar: vou lá para ser desrespeitada, passar nervoso e sair com a garganta doendo para ganhar essa miséria? Não obrigada, eu pago oito reais para não ter que passar por isso. Sem contar outro detalhe: o professor não é pago para preparar aulas. Existem os 2 ou 3 HTPC’s mais outros tanto HTPI’s que não são suficientes para fazer frente a 20 ou 30 aulas semanais. Nem de longe eu sou remunerada pelo número de horas que (ainda, pois estou nessa vida há apenas 3 anos) passo preparando aulas para os alunos. E, como brinde, ao entrar na sala de aula, eu não consigo transmitir os conteúdos programados.

Eu considero que a intenção da secretária Maria Helena até pode ser boa, mas ela deve estar atenta (e essa não tem sido a postura do governo Serra) de que ela tem que dialogar com os professores. E cumprir o que promete. A Secretária, do alto do seu gabinete, cercada pelos burocratas acima referidos, não pode achar que vai determinar unilateralmente como as coisas vão funcionar. Secretários vêm e vão. A carreira do professor dura 25 anos. O tempo joga ao lado do professor, porque ano que vem tem eleição e a secretária Maria Helena pode perfeitamente não estar mais lá em 1º de janeiro de 2011, ou mesmo antes. E todas as suas decisões unilaterais não aceitas pelo professorado podem ser simplesmente cassadas em pouquíssimo tempo, mesmo com ela ainda no cargo, como ficou claro neste início de fevereiro.

Teve greve ano passado. Eu não participei do movimento pois estava a dar aula na Fundação CASA [a “extinta” (lembram do riso involuntário?) FEBEM], cujas aulas integram as da rede estadual. Se não tivessem aulas, os internos ficariam “na tranca” durante o período de aulas, portanto, os professores da FEBEM não participaram da paralisação. Bom, a greve foi encerrada com a promessa de um concurso e de aumento salarial de 12%. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que esses 12%, em alguma mágica manobra do RH e da Contabilidade, se tornaram um aumento real de menos da metade disso. Sou da área de História, se fosse da Matemática talvez soubesse explicar melhor. E até agora, nada do concurso para 10 horas/aula. 10 horas/aula? Eu não fiz faculdade para ganhar R$500,00 reais por mês. E será algo próximo a isso a remuneração dos que forem aprovados neste concurso.

Agora, a respeito da prova. Como professora iniciante “sem pontos no Estado”, adorei a idéia. Ao ver minha nota, ainda mais: minha colocação era a de número 50 na área de ciências humanas na diretoria de ensino de Limeira. Eu me dei ao trabalho de ver, na lista de classificação, as datas de nascimento dos que estavam tanto antes como depois de mim. Não havia nenhuma pessoa antes de mim que não fosse pelo menos 15 anos mais velha do que eu. Havia dezenas e dezenas de pessoas classificadas abaixo de mim com idades para serem meus pais ou mesmo avós. Eu escolheria aulas na frente de muitos pais e mães de família, que vivem essa batalha há 20 anos e que, de repente, se veriam relegados a pegar as aulas que sobrassem depois da escolha dos recém-formados, correndo o risco de não sobrar nada. Esses professores não são meus inimigos. Eles são meus colegas de trabalho. São eles que aos poucos vão me dando dicas de como tentar controlar os alunos para aí sim, se der, ensinar-lhes História.

Entre idas e vindas em princípios de fevereiro, a prova vale, a prova não vale, a prova vale, a prova não vale, a atribuição é hoje, é, amanhã, é no sábado, ninguém sabe quando, me sentindo governada por um bando de amadores, ouvi muitos boatos a respeito da prova: que o gabarito e a própria prova vazaram na capital, que professores já falecidos tiraram nota, que professores que fizeram a prova acertando diversas questões tiveram a nota zerada, que eram muitas as liminares e mandatos de segurança circulando nos tribunais. Uma bagunça.

Por fim, pressionada pelo calendário a e própria desorganização, a Secretaria abriu mão da prova e as aulas foram atribuídas como eram antes. Minha nova classificação, sem a prova? Número 178. Uma amiga que com a prova era a de número 63 caiu para depois da casa da terceira centena. É tamanha a desorganização da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo que até agora ninguém sabe quando, e se, vai ser pago o “bônus atrelado ao mérito”, com até “2,9 salários de prêmio”, mais uma iniciativa da Secretária Maria Helena que parece muito boa a princípio. O bônus sempre era pago em fevereiro. Agora, como ainda não foi finalizada a classificação das escolas no Idesp, e ninguém sabe quando vai ser, professores que sempre puderam contar com esse dinheirinho para fazer face aos gastos de começo de ano, estão completamente sem saber o que fazer ou a quem recorrer.

Boas são as idéias que funcionam. Com seriedade por parte do governo. Não as idéias utópicas lindas e as promessas vazias. Disso não precisamos. Eu não estou preocupada com os alunos que serão ensinados por professores que tiraram nota zero, pois, na prática, esses professores podem ser considerados “bons” por seus diretores por saberem controlar seus alunos (se é que isso é possível) e eu seria considerada “ruim”, por minha falta de experiência e habilidades circenses. Nem J. R. Guzzo deveria se preocupar. Deveríamos ambos estar preocupados em que o governo crie políticas reais e sólidas, que funcionem, que não serão derrubadas pelo poder judiciário, para melhorar o processo de atribuição e formação dos professores. Que crie reais políticas de valorização, preparo, e acesso ao conhecimento. Eu sequer ganho o suficiente para assinar Veja, ou Superinteressante, ou um grande jornal diário. Se o governo quer melhorar o ensino, precisa investir, e pesado, no professor. E respeitá-lo. Pois somos nós os operários da Educação. Sem a minha anuência dentro da minha sala de aula, as iniciativas da secretária Maria Helena não surtem efeito algum.

(e-mail enviado à Revista Veja)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

“O inssino no Brasiu è otimo”. Ou de Veja

Está escrito na capa dessa semana. Sim, confesso, eu leio Veja. Não pq eu queira, mas como sou professora do estado e não posso assinar revistas realmente críticas e profundas, me contento em ler a Veja que a minha vó assina.

Se eu acho a revista ruim? Não, não acho. O que sempre me incomoda é a postura de quem dá a “moral da história” de seus editores. Sempre dão um jeito de encerrar as matérias com alguma empoada (e lastimável) frase de efeito. Até aí, tudo bem, a Veja está no seu direito de defender a direita classe média brasileira. Pelo menos nela não encontro embaraçosos erros de português, como no jornal local.

À página 76 desta edição 2074 encontramos a pergunta “Educação ou doutrinação?” ao lado de uma curiosa imagem que só poderia sair da cabeça de um editor de Veja: uma caneta vira uma foice e um lápis vira um martelo. Morri de rir. Como professora de História e Geografia, é comigo mesmo que eles estão falando.

Fizeram uma pesquisa: “Qual é a principal missão da escola?”

78% dos professores responderam “formar cidadãos”, o que é criticado ao longo da matéria. Curiosamente, não está entre as alternativas as opções que seriam as mais votadas pelos editores de Veja: “Formar balconistas.”, ou “Formar vendedores” ou “Formar auxiliares de serviço geral”. Em suma, formar a mão de obra barata que a direita classe média brasileira precisa para extrair-lhe a mais-valia. Podendo, assim, mandar seus filhos bem nascidos para as melhores escolas, numa cena que me lembra algo do filme “O sorriso de Monalisa” quando Julia Roberts é criticada por sua diretora por apresentar Pollock às futuras donas de casa da classe alta e outra professora é demitida por distribuir contraceptivos.

Cuidado: Jackson Pollock e contraceptivos poderão vir para destruir o seu mundo, assim como para os editores de Veja vieram Paulo Freire e Che Guevara. (Ah, só Veja poderia tb escrever em outra capa “A farsa de Che”). Quantos neurônios são necessários para decodificar a agenda destes editores? Os meus não são tantos assim, mas bem-lapidados por “ideologias furadas e fadadas ao fracasso” como Veja as decreta, eles são capazes de alguns interessantes raciocínios.

Ao longo de toda a matéria fica clara a mensagem: pais, cuidado, pelo que os professores estão incutindo na cabeça de seus alunos, eles se tornarão um bando de terroristas ludistas. Cuidado, pais empresários! Seus filhos vão arruinar seu patrimônio amealhado com tanta dificuldade. As futuras gerações serão contaminadas por uma ideologia ultrapassada e espúria [sic] e isso é demasiadamente perigoso pois as crianças não serão preparadas para o mundo do séc. XXI. Seria a virtual universalização da educação a própria responsável pela eleição de Lula? Afinal, há uma massa de cerca de 50 milhões de alunos do ensino básico sendo doutrinados por uma minoria de 2 milhões de professores, que poderão virtualmente causar a perpetuação da esquerda no poder, numa retroalimentação moto-perpétua.

Ai, até eu estou com medo agora. Quem sabe então acontecerá o que me foi dito em 1994, quando eu contava 11 anos numa escola de freiras, a respeito do que aconteceria se Lula se elegesse: “Toda família bem de vida vai ter que adotar uma criança de rua”. Pensei logo: “Eu não quero dividir meu quarto com nenhuma criança de rua.” Hehehe, então eu tb não quis que o Lula ganhasse e achei bom que o FHC vencesse, afinal, o real acabara de chegar à cantina da escola e a lata de coca-cola tinha sempre o mesmo preço. Maravilhoso!” Agora, sem o Lula, eu poderia continuar comprando a minha latinha de coca-cola e meu salgado no intervalo pelo mesmo preço. De meus 11 anos pra cá, eu evoluí. A mentalidade de alguns editores de Veja, aparentemente, não. Não que eu pretenda voltar a votar no PT, é claro.

Veja considera que o maior problema da educação é o currículo ultrapassado. Concordo. Os livros didáticos são maçantes. Os exercícios, intermináveis e inúteis. Há excesso de decoreba e de coisas que não servirão para absolutamente nada. Sinceramente, a escola como hoje ela se apresenta é um gigantesco desperdício de tempo. O que se faz em 12 anos poderia ser feito com muito melhor proveito em 5 anos. Eu mesma só não fui “pulada de ano”, como solicitei diversas vezes a meus responsáveis, por questões burocráticas. Se eu tivesse pulado da quinta série pro segundo ou mesmo terceiro colegial, não teria perdido muita coisa. Tudo que não aprendi em 12 anos de escola, assimilei sem muita dificuldade no cursinho pré-vestibular.

Defendo a diminuição do número de anos escolares? Não. Defendo que se ensine coisas úteis, e não que se tente fazer com que os alunos decorem intermináveis fórmulas de hidrocarbonetos, ou fórmulas físicas. O que era o Delta mesmo? Era de física ou de matemática? Sei lá eu! Algumas matérias simplesmente foram deletadas do meu hardware.

E o que eu estou fazendo pra mudar isso? Apesar de trabalhar com o público carcerário, principalmente na FEBEM lido com adolescentes em idade escolar. Selecionados entre os piores elementos de suas respectivas escolas, muitos há vários anos afastados das salas de aula, a maioria maciça com histórico de mau-comportamento, vandalismo ou mesmo agressão a professores. Aboli o único livro didático em quantidade disponível, o Encceja e fiz por conta própria um resumo do que era interessante em vários livros didáticos que ganhei (livro didático é como água, sempre vão te dar uma pilha dos que “estão sobrando” por falta de uso). Adicionei a isso aulas muito interessantes, como uma explicação das diferenças entre as religiões, orientação sobre os poderes do Estado brasileiros, os cargos eletivos e o que fazer para ter um voto consciente (coloco ambas as coisas no mesmo nível de neutralidade), tb ensino sobre os diversos documentos e a finalidade de cada um, sobre o que é o imposto de renda, enfim, uma certa “educação para a burocracia”, que embora essencial, não consta do currículo oficial. Pretendo ler em breve a Constituição para ensinar a eles as bases fundamentais das leis que nos regem. Para que eles saibam, afinal, pq estão presos e com que autoridade o Estado dispõe sobre as liberdades do cidadão.

Eu tento formar cidadãos. Cidadãos que saibam dos seus direitos e deveres essenciais. Que saibam que pagam com seus impostos os salários do políticos. Que saibam que atendimento de qualidade no posto de saúde da “quebrada” não é favor, mas dever do prefeito. E que este não pode interferir em questões de segurança, de âmbito estadual, como vejo a desinformação invadir minha televisão durante o horário eleitoral. Alunos que saibam que reclamar para o vizinho que a rua não foi asfaltada não adianta, mas que uma carta ao jornal local pode ser muito eficiente. Muito mais coisas úteis não são ensinadas aos nossos alunos, e deveriam. Eu estou aos poucos tentando fazer a minha parte.

Se a editora Abril deseja fazer realmente uma boa ação no sentido de melhorar a educação no Brasil, solicito que envie gratuitamente e em quantidade suficiente a cada escola pública assinaturas não apenas de Veja, mas tb da Superinteressante, Nova Escola e assim por diante. Que pare de se colocar em cima de um pedestal para criticar e passe a agir um pouquinho. Sempre levo revistas Veja para meus alunos lerem. Essa semana, levei a da “farsa do Che”. Como ele é uma das imagens mais emblemáticas do séc. XX, facilmente identificável, alguns que o conheciam apenas pela foto de Korda e pelo nome me perguntaram: “Professora, quem foi Che?”. A resposta curta: “Che foi um revolucionário socialista”. Neutra? Talvez não para Veja. A resposta semi-curta: “Ernesto Guevara, o ‘Che’, era um médico argentino que numa viagem pela América Latina ficou chocado com a miséria e exploração das pessoas pobres, aderiu à ideologia do socialismo, fez a Revolução Cubana e ao tentar fazer o mesmo na Bolívia, acabou derrotado e executado.” Eu poderia dizer muito mais, mas mais que isso estaria além do que meus alunos compreenderiam. Não há muito espaço para doutrinação em minha sala de aula.

“Fernanda, vc tenta implantar idéias subversivas nos seus alunos?”

Certa vez uma amiga que fez faculdade comigo perguntou isso. Respondi-lhe com certa propriedade: “Nem que eu quisesse conseguiria. Primeiro eu tenho que fazer com que eles não tenham vergonha de sua cor, que não achem que bater em mulher é normal, que saibam pq eles são obrigados a cada dois anos a comparecer diante de uma urna.”

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Diários de Motocicleta

Para quem ainda não assistiu, vale a pena. Para quem nunca ouviu falar deste filme de Walter Salles, ele é a adaptação do livro "De moto pela América do Sul" (Notas de Viaje) de Ernesto "Che" Guevara.

Nos mostra a trajetória de Che pelas pessoas da América, a descoberta das injustiças, das diferenças e semelhanças. Mas não é um filme sobre a descoberta do outro, mas sobre a descoberta de si. Che descobre quando contraposto a estas pessoas o que ele estava no mundo para fazer: transformar esta realidade árida, cultivar e fazer crescer o impossível.

Há uma fala muito interessante no episódio dos mineiros chilenos:
Seus olhos tinham uma expressão sombria e trágica. Cotaram do companheiro desaparecido em circunstâncias misteriosas e que aparentemente havia terminado no fundo do mar. Foi uma das noites mais frias da minha vida. Mas conhecê-los me fez sentir mais próximo da raça humana, tão estranha para mim.

Como exemplo, Che nos incita, nos provoca. Nos diz: vc tem grandes sonhos, quer ser imortal? Vá atrás e consiga. Por muito tempo isso parece possível, quantos sonhos alimentados apenas de ar... Mas a gente vai fugindo dos próprios sonhos ao deixá-los para depois. Tudo o que parecia tão possivelmente próximo deixa de ser importante quando caímos no marasmo da jornada de oito horas, que não nos dixa muito mais tempo do que para um happy hour com hora certa de acabar, com pessoas com as quais vc te pouca intimidade e pouco assunto...

É um filme um pouco monótono, sem grand finale, sem mocinha. E nada disso se sente, magnetizados que ficamos por aquela personagem, embrião se um grande herói. Deu capa da Veja, esta semana "Che, a farsa do herói". De Veja, era de se esperar. Ser atacado pela revista Veja quarenta anos depois de sua morte é apenas mas um dos fatos que engrandecem este homem, este simples latino-americano que lutou para transformar seu mundo.
Que tivéssemos todos a mesma coragem.
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