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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Brasil é um país cheio de boas intenções

Nascer no Brasil é uma verdadeira bênção, constantemente pouco reconhecida. Não é à toa q inúmeros estrangeiros escolhem aqui morar. Clima tropical, solo fértil, povo acolhedor, oportunidades múltiplas. Seguramente nem tudo é bom, como exemplos: a corrupção, péssimos serviços públicos, pobreza, criminalidade.

Creio q grande parte dos problemas brasileiros são resultado de um descompasso, uma falta de sintonia, entre a "alta cultura" dos eruditos e a "cultura popular" da "plebe", algo profundamente marcado pelas questões étnico-raciais entre "brancos" e "negros".

Tanto "brancos" como "negros" entre aspas pois os "brancos" muitas vezes não são propriamente brancos, mas o querem ser, e os "negros" muitas vezes não se vêm como negros, devido à grande miscigenação e racismo não-declarado; preferindo ver-se como "semi-brancos". Inúmeras vezes me vi diante de pessoas claramente negras q se declaravam brancas, e se ofendiam se alguém lhes dissesse q não eram brancas.

Como dizia um professor meu, "nos EUA uma gota de sangue negro faz de alguém aparentemente branco um negro. No Brasil, uma gota de sangue branco faz de alguém aparentemente negro um branco."

A elite branca brasileira parece posicionar-se sócio-culturalmente como se estivesse numa "missão civilizatória" visando "melhorar, instruir, ou educar" a "plebe inculta e mestiça". E isso pode ser demonstrado por esta elite tentar "iluminar o povo com a alta cultura (européia, é claro)". Neste texto explorarei 2 exemplos disto: nosso hino nacional e nossos parâmetros curriculares federais.

Numa avaliação internacional feita por músicos e maestros, o Hino Nacional Brasileiro foi eleito como o segundo mais belo do mundo, atrás apenas de "La Marseillaise", o célebre hino francês. Seguramente é belíssimo nosso hino. Porém, tem um "pequeno" problema: poucos brasileiros o sabem cantar.

Este hino é cheio de palavras belíssimas, como plácido, fúlgido, impávido, clave, flâmula, brado etcs. Termos eruditos completamente estranhos ao "povão". Sua melodia é riquíssima, mas não reflete nenhum ritmo brasileiro, popular. Não há nada em nosso hino nacional q faça "o povo brasileiro" se identificar com ele. O hino não foi feito pelo povo, nem para o povo. Mas sim pela elite, para a elite.

Muitos acham q o povo brasileiro não conhece nem canta o hino por falta de patriotismo. Creio q o problema é outro. O povo não o canta pois não se reconhece nele, não sente q este hino seja verdadeiramente "nacional", mas apenas representa aquela parcela "branca, educada, elitista" da população. Há um claro descompasso entre as aspirações, o folclore, a lírica e a musicalidade populares, em relação às representações "oficiais" da cultura brasileira. O hino não atende ao povo, por isso ele o rejeita.

Outra demonstração clara do desencontro entre as intenções da elite e as aspirações do povo são os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação pública. Sou professora de História e usarei esta disciplina como exemplo.

O Currículo educacional brasileiro é tão maravilhoso quanto nosso hino. Muito bem-estudado, elaboradíssimo, abarca todo o conhecimento da História Universal, do ponto de vista europeu. Lendo-o me perguntei: "provavelmente quem escreveu isso é PhD em Coimbra, Oxford ou Harvard". E produziu parâmetros visando colocar os alunos brasileiros em condições de disputar vagas nestas instituições.

De acordo com estes parâmetros, eu deveria formar alunos na oitava série, com 14 anos, na posse de todo o conhecimento da História Universal, desde a pré-História até o fim da Guerra Fria. Q maravilha! Quem lê este documento ACHA q isto é posto em prática, transformado em realidade. Vã ilusão.

Os alunos estão "se lixando" para a Grécia, Roma, o Feudalismo, a Revolução Francesa. Nada disso faz parte do seu cotidiano e seu horizonte cultural. Querem aprender coisas palpáveis, práticas, úteis. E essas coisas não fazem parte do currículo.

A disciplina de "História" tenta fazer do aluno um mini-historiador, e não ensinar-lhe sobre cidadania, Direitos Humanos, relações inter-raciais. Não procura, em nenhum momento, ensinar a instrumentalizar o conhecimento histórico para a compreensão do hoje. Não há nenhum conteúdo q me instrua a ensinar-lhes sobre documentos, imposto de renda, política, atualidades, as coisas q os estudantes realmente precisam e querem aprender.

Ao invés de educá-los para a vida e a cidadania, os PCN's me dizem q eu devo prepará-los para o vestibular da USP. O "pequeno" problema é, como todos sabem, q raramente um aluno egresso de escola pública entrará na USP. Seguramente, menos de 1 por sala. E em prol deste 1, q entraria na USP de qquer forma, eu sacrifico os outros 40, q deixam de aprender coisas úteis para "perder tempo" não aprendendo coisas q, para eles, seriam muito úteis.

Outro exemplo é a disciplina de Química, q tenta fazer dum aluno um mini-químico, calculando elétrons, ligações covalentes e mols. Em nenhum momento pretende prepará-los para usar estes conhecimentos no cotidiano. Nada lhes ensina sobre higiene pessoal, limpeza doméstica, farmacologia e interação medicamentosa, agricultura e pesticidas. Os alunos perdem tempo não aprendendo a ser mini-químicos, enquanto poderiam estar aprendendo química instrumental, para usar no dia-a-dia, beneficiando sua saúde.

Os burocratas, q ganham como juízes, e trabalham em Brasília no ar condicionado, representantes da "elite branca" não vêm a realidade pois nunca deram sequer uma aula na rede pública. Quem realmente sabe do q está falando, pois lida cotidianamente com a realidade existente e não imaginada, freqüentemente manifesta os problemas curriculares.

Apenas para obter como resposta q o currículo é ótimo, foi elaborado por um PhD pela Sorbonne, e q se ele não funciona é por incapacidade dos professores. Meio q dizem "quem são vcs, meros professorinhos da rede pública, para achar q podem dizem para nós, professores doutores, o q deve ser ensinado?"

Respondo: "nós somos aqueles q têm CONHECIMENTO DE CAUSA para falar disso, somos nós que ensinamos, somos nós q sabemos o q funciona e o q é ruim. Vcs, burocratas de terno italiano e sapatos Louboutin, não têm a menor idéia da realidade. Vcs criam leis para um país q não existe." Estes burocratas podem estar cheios de boas intenções, mas elas mais atrapalham do q ajudam quem de fato trabalha no dia a dia escolar.

É necessário romper com essa noção de q a elite deve "civilizar" a plebe inculta. O povo não precisa "ser civilizado na cultura européia", mas instrumentalizado para serem agentes interventores e conscientes na realidade brasileira.

Não é o povo q tem q "melhorar" para poder cantar nosso elaboradíssimo hino. É o hino q tem q ser mudado para refletir a cultura, e o povo brasileiro. Não são os estudantes, nem os professores, q têm q "melhorar" para cumprir o currículo. São os PCN's q têm q melhorar para atender as demandas dos alunos, para ensinar-lhes coisas úteis, cotidianas, e não abstratas, distantes, estranhas à cultura brasileira.

As "boas intenções" são ótimas até falharem no teste da realidade. Até percebermos q elas apenas aparentam ser boas. Na verdade são perniciosas, pois nos fazem desperdiçar anos e anos digressando sobre Roma enquanto os alunos não sabem a diferença entre o CPF e o RG, não têm a menor idéia do q é carga tributária, quais são seus direitos trabalhistas e pq são obrigados a votar a cada 2 anos.

Como diz o famoso ditado "de boas intenções o inferno está cheio", pois não basta ter "boas intenções"; é necessário q, no teste prático, elas sejam validadas como boas. Se o teste prático não as valida, estas intenções mais são uma camisa de força q limita as ações dos professores, q se vêm como um Napoleão de hospício, digressando longamente sobre assuntos q, para os alunos, são tresloucados, irreais e inúteis.


terça-feira, 6 de março de 2012

Está pensando em comprar um tablet? Leia

Sei que muitos devem estar pensando em comprar um tablet, e na dúvida se vale a pena e qual comprar. Eu também pensei longamente se era melhor comprar o iPad ou o Galaxy Tab e optei pelo primeiro. Gostaria de expor os motivos para que vcs possam fazer uma escolha mais esclarecida.

Antes gostaria de elencar alguns motivos para se comprar um tablet, independente da marca:

1 - Segurança. Com um tablet, vc não precisará se logar em lan houses e computadores de terceiros, suas senhas estarão bem mais seguras.

2 - Praticidade. Com um tablet com internet 3G vc fica com online aonde for, em outras cidades e até outros estados, sem roaming. O tablet faz o seu tempo render mais. Horas antes desperdiçadas no ônibus ou na fila do banco se tornam produtivas quando vc tem um tablet à mão. Sem contar o conforto de fazer (quase) tudo o que fazia sentado na frente do PC, mas agora confortavelmente esparramado no sofá ou deitado na sua cama.

3 - O tablet substitui outros gadgets "físicos": mp3 player, rádio, computador, lanterna, bloco de notas, pen drive, gravador de voz, televisão (sim, o iPad te fará desligar a TV), jornal, revista, livro, agenda, GPS, calendário, calculadora, videogame, câmera fotográfica e filmadora digitais, lista de compras, espelho, despertador, previsão do tempo, telefone (via Skype), guia da TV, qualquer instrumento musical, até os mais estranhos, dicionário em qualquer língua, Kindle, e muito mais. E, insuspeitamente, até animais de estimação. Esqueçam o famoso Tamagotchi (bichinho virtual); no tablet vc pode ter aquários, gatinhos, unicórnios... Eu tenho até um tigre de bengala de estimação! Nenhum deles morre nem faz sujeira...

4 - Muita coisa grátis. Centenas de apps que facilitam baixar música livre de copyrights. Milhares de livros (a maioria em inglês, mas a oferta em português está aumentando) de domínio público. Apps de jornais (a Folha de SP pode ser lida gratuitamente e na íntegra por quem tem iPad, cortesia de uma grande construtora paulista). Há milhares de apps pagos, mas quem tem paciência e sabe garimpar encontra quase tudo o que quer de graça. Milhares de joguinhos clássicos e novos; alguns que eu tenho: xadrez, forca, Wolfenstein, Pac Man, Bejeweled Blitz, The Sims free play, Angry Birds, Free Cell, jogos do Atari, etcs.

5 - Participar das novas redes sociais feitas para smartphones e tablets: Instagram, Foursquare, Pinterest, Social Cam etcs. Você ficará muito mais plugado às novidades que estão bombando!

6 - A tela grande, muito mais confortável para navegar do que a mirrada telinha dos smartphones.

7 - Geolocalização. Não são todos os tablets que tem, e vale a pena pagar mais caro por um com GPS. Com ele sempre ligado, especialmente se vc tiver 3G, se vc for sequestrado ou seu tablet for roubado, é relativamente fácil geolocalizá-lo e a polícia ir direto ao mocó de quem te roubou.

8 - Interface intuitiva com apps educativos. Mexer num tablet é tão fácil que até crianças analfabetas não terão dificuldades. Para quem tem filhos, o tablet é um investimento inestimável. Há milhares de livros infantis interativos, joguinhos de raciocínio, de memória, de conhecimentos. Fazer de seu filho alguém plugado desde cedo pode fazer uma baita diferença em seu desenvolvimento cognitivo.

9 - Facilidades para quem é deficiente. Não precisei baixar nenhum desses apps, mas há centenas de aplicativos adaptados para pessoas com as mais variadas deficiências. Vide

10 - Aplicativos para coisas que vc nunca imaginou, não sabia que precisava e não conseguirá mais viver sem. Alguns que eu tenho: para dormir, tem app que toca mantra budista, sons ambientes para relaxar, app que com infra-sons fazem os cachorros parar de latir, apps estilo "jardim japonês", apps religiosos (tenho uma menorah virtual pela qual é possível segyir toda a liturgia do shabbat), controle remoto virtual (depende da sua TV ser bem moderna, mas funciona!), contador de calorias, personal trainer virtual, e muitos mais que ainda não conheço, mas um dia encontrarei!

11 - Ficar online 24hs. Diferente do computador, que tem ventoinha/cooler e pode superaquecer, o iPad é como um celular que pode ficar ligado direto 24horas. Vc pode simplesmente NUNCA desligá-lo e toda vez que vc quiser dar uma checada na net, simplesmente pegá-lo e usá-lo, sem estabilizador, sem liga/desliga, sem desperdício de energia e... Sem medo que um raio o queime!

Escolhi o iPad por vários motivos:

1 - A variedade de apps (aplicativos, "programas"). A Apple tem uma atração magnética sobre os geeks, que adoram mostrar como podem fazer apps geniais e exibi-los aos outros "nerds". A Samsung, fabricante do Galaxy Tab nem de longe exerce o mesmo fascínio, e portanto tem uma variedade bem menor de apps, e apps menos "cool and trendy".

2 - A qualidade do produto, indiscutível no caso da Apple. É um produto "top de linha".

3 - Memória. O Galaxy só oferece a versão de 16 gigas. O iPad tem 3 configurações: 16, 32 ou 64 GB. Para vcs terem uma ideia, tenho meu tablet há apenas 2 meses e já ocupei 8 gigas de memória.

4 - Bateria. A da Apple dura muito mais!

Agora alguns motivos para vc não comprar um iPad (não podia faltar):

1 - Trabalho escravo. Muitas são as denúncias contra a exploração dos trabalhadores chineses nas fábricas da Apple/Foxconn

2 - Tornar-se escravo dos produtos da Apple. Uma vez que vc caiu na rede, vira peixe dessa empresa com conhecidas práticas monopolistas.

3 - Incompatibilidade. Não rodar "flash" é apenas o mais visível dos problemas. O iPad até vem com cabo USB, mas ao plugá-lo no seu PC Windows vc terá a má surpresa de que os aparelhos não se reconhecem nem se comunicam. É possível fazê-los "se entender" e até sincronizá-los, mas isso é meio difícil para quem é leigo em informática, exige alguns malabarismos operacionais.

4 - Não é multitasking. Vc só pode usar um app por vez. Até agora, apenas apps que tocam música funcionam em segundo plano enquanto vc mexe em outros apps. É chato toda vez que vc vai trocar de app ter que apertar o botão e ter que fechar um para abrir o outro.

5 - Não funciona como celular.

6 - Esqueça qualquer tipo de download ilegal. Produtos da Apple só baixam arquivos legalizados.

Recomendação final: não financie seu tablet associado a um plano de minutos da sua operadora de celular, sai mais caro. Compre o tablet numa loja física, para ter garantia e um lugar onde reclamar. Depois veja qual operadora tem o melhor sinal 3G perto da sua casa. Há planos de internet (hoje) a partir de R$ 30,00. Não escolha o mais caro. O plano mais barato será mais que suficiente.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Você está preso num mundo tridimensional?

O assunto desta postagem é extremamente intrincado, complexo, inefável até. É algo que não pode ser objetivamente analisado, não é táctil, olfativo, saboroso ou visível. Apenas pode ser “intuído” pelo “sexto sentido”, o “olho da mente”, a capacidade de abstração.

O tema deste texto são as dimensões existentes contrapostas às dimensões apreensíveis pela experiência humana. “Dimensões” são espaços, lugares, sítios. Um traço, tal como este “-”, é unidimensional, possui apenas o eixo convencionado como “X”, largura. Um conjunto de dois traços, como este “L“ é bidimensional, pois além da largura do eixo X possui a altura do eixo Y, conforme convencionado no plano bidimensional cartesiano.

Um cubo é tridimensional, pois além da largura e da altura possui profundidade, o eixo Z. Assim era a vida até 1905. O Ano Miraculoso nos trouxe a quarta dimensão, o tempo. O tempo revelou-se um tipo de distância. Percorrível, ao menos em tese. Estas 4 dimensões são para nós fáceis de compreender, pois as experimentamos com nossos sentidos.

Então chegou a Teoria das Cordas. A ciência, até então tão newtoniana, quadradinha e “bonitinha”, começou a explorar noções mais análogas à Teologia do que à Física. Multiversos, realidades paralelas, recriações cíclicas, energia escura...

A Teoria das Cordas, se correta, professa que o Universo tem muito mais dimensões que as 4 que observamos. Para alguns seriam 9 dimensões. Para outros 11. Teoricamente postuladas Matematicamente necessárias. Mas onde estão elas, e pq não as percebemos? De acordo com esta teoria estas dimensões “extras” estão a menos de meio milímetro de nós, bem aqui, porém não podem ser acessadas. Estão enroladas, redobradas sobre si mesmas, ensimesmadas, e seria necessária uma energia até agora impossível para abrir os pequenos buracos de minhoca que permeiam nosso mundo.

Estas demais realidades ao nosso lado estão numa brana diferente. Bem aqui. Mas intagível. Podemos matematicamente calculá-las. Quem sabe um dia cutucá-las, ou viajar até elas, sem sair do lugar. Não há como, pela nossa experiência humana, eu explicar “para onde pulam” essas dimensões extras tal qual pula para a frente a dimensão extra dum quadrado transformado em cubo. A única analogia possível é a de pessoas que não vivem e nosso mundo tridimensioal, mas num Universo menor, chapado, ao qual falta a terceira dimensão.

Sim. Muitos humanos vivem presos num Universo bidimensional, ao menos em sua experiência visual. Não conhecem do que se trata a tridimensionalidade, tão corriqueira para todos nós. Assim como nós humanos não temos a menor idéia de como são as demais dimensões emaranhados no nosso mundo. Assim como um daltônico jamais será capaz de apreciar as diferentes tonalidades do verde.

Humanos enxergam em 3D pela visão binocular, estereopsia. Por termos dois globos oculares em posições diferentes que constróem uma imagem única, em perspectiva. Até o Renascimento todas as manifestações artísticas planas da Humanidade eram chapadas, bidimensionais, sem profundidade, em 2D. Até que veio Fillipo Bruneleschi e inventou o “ponto de fuga” e as projeções tridimensionais imagéticas num plano bidimensional. Percebemos então que utilizando-nos da ótica, da geometria e da perspectiva, poderíamos inferir o 3D a partir do 2D. Visão em 3D inferida a partir do 2D é a realidade “presa à bidimensionalidade” que muitos humanos experimentam, sem o saber.

Veio ao meu conhecimento o caso de Susan Barry. Ela nasceu estrábica, ou “vesga”, com os globos oculares desalinhados. Aos 2 anos passou por uma cirurgia corretiva e deste então esteve segura de que o problema fôra corrigido. Já adulta, numa aula de neurofisiologia ouviu seu professor dizer que cérebros de estrábicos se condicionam a um mundo 2D, bidimensional. O sangue deve ter gelado em suas veias tal qual o de alguém que se descobre figurante numa farsa. Susan correu para fazer testes de visão 3D. Falhou em todos.

Descobriu-se, já adulta, inadvertidamente, presa num mundo bidimensional. Mais curioso do que isso é que, após os 48 anos começou a fazer uma terapia oftalmológica e de repente, inadvertidamente, o mundo começou a “pular” em sua direção. As coisas ganharam textura, saliência, relevo. Ela aprendeu a passar dum plano 2D para um plano 3D.

Todos nós estamos presos num mundo tridimensional submetido ao tempo, assim como Susan estava presa num mundo bidimensional, e os daltônicos estão presos num mundo sem cor. Será que algum dia poderemos acessar as dimensões “extras” entremeadas no tecido de nosso espaço-tempo?

Algum dia nos desprenderemos de nosso cubo sensório tridimensional? Algum dia transcenderemos a realidade apreensível por nossos 5 sentidos e começaremos a enxergar o que não pode ser visto por nossos olhos, mas apenas abstraído por nossa capacidade cognitiva, nosso “sexto sentido”?

P.S.: A visão monopsista também se desenvolve em pessoas cegas de apenas 1 olho. Talvez vc tb deva fazer um teste de visão em 3D.


The Verve - Space and Time


Os Extraterrestres existem?


Artigos científicos no Beit Chabad


Cabalá - As Sefirot e a Teoria das Cordas, por Tev Djmal


Cabalá e Misticismo - Sefirot, as dez emanações divinas

sábado, 16 de julho de 2011

Das Relatividades

Por “Relatividade”, assim, com érre maiúsculo, humanos esclarecidos compreendem uma alusão à “Teoria da Relatividade Geral” proposta por Albert Einstein, que demoliu o universo copernicano.

Até o Renascimento o Ocidente compreendia o Universo como uma cebola, cujo miolo seria a Terra, e em cujas esferas superiores circulariam as estrelas e o “Céu”. O nome científico para isso seria o Geocentrismo, a noção de que a Terra seria o centro do Universo.

Então veio Nicolau Copérnico e apresentou o Heliocentrismo, a noção de que não a Terra, mas o Sol seria o centro do Universo. Como tudo, ambas as noções são historicamente determinadas. O Geocentrismo pelo paradigma teológico de sua época. E o Heliocentrismo pelas possibilidades científico-tecnológicas de então.

Albert Einstein foi capaz de transcender os limites tecnológicos de sua época. Propôs teoricamente algo que, em seu tempo, não fôra até então observado. Inclusive, após a proposição de sua teoria, houve uma corrida de astrônomos atrás de um bom registro fotográfico de um eclipse solar, que poderia confirmar, ou cabalmente descartar, a proposição até então estritamente teórica de Einstein, de que a gravidade deforma o tecido do tempo-espaço. Que não são separados, mas manifestações de um mesmo continuum, percebido de 2 formas diferentes em nosso Universo tridimensional.

Se eu sou capaz de criar uma imagem que ilustre rapidamente uma implicação prática e observável da Relatividade Geral de Einstein, aqui vai: ela professa que o transcorrer com compasso espaço-temporal é relativo à velocidade e às forças gravitacionais à qual o observador está submetido. Tomemos como exemplo um astronauta que orbita a Terra. Em relação a nós, ele está acelerado a uma velocidade superior, portanto, o tempo para ele transcorre num compasso mais lento. Se antes de ir ao espaço ele sincronizou seu relógio de pulso com alguém que permaneceu na Terra em seu retorno, necessariamente, o relógio do astronauta marcará alguns segundos ou minutos a menos que o de quem permaneceu preso à Terra. E quanto maior foi o tempo da viagem espacial, maior será a discrepância entre os mostradores. Para fins práticos, todo astronauta viaja algumas frações de segundo para o Futuro ao (pelo menos parcialmente) desprender-se das amarras da gravidade terrestre.

Porém a Relatividade não é uma Lei apenas Física, mas verdadeiramente Universal, em todos os níveis da experiência observável humana. Pretendo explorar alguns exemplos variados a seguir.

1 – Luminosidade.

O que é o “claro” e o “escuro”? Depende da abertura de nosso diafragma ocular. Se vc esta num ambiente à plena luz e entra num quarto escuro, imediatamente vc nada vê, fica completamente cego. Porém, alguns segundos depois seus olhos calibram melhor o diafragma e vc começa a enxergar, mesmo que a ausência de luminosidade não se altere.

2 – Do paladar.

Numa festa de aniversário, já te serviram bolo com refrigerante? Isso não é horrível?!

Isso é horrível pela Lei Universal da Relatividade. Refrigerante, doce, é bom para acompanhar comidas salgadas pois há um contraste atraente entre ambos os sabores. Porém o bolo é mais doce que o refrigerante. E ao beber um gole de refrigerante depois de mastigar um pedaço de doce, o refrigerante não nos parece mais doce, e sim amargo. Pois comparadas as duas “doçuras”, o refrigerante perde.

3 – Da beleza.

Venho por meio desta confessar um “guilty pleasure” do qual me arrependerei. “Guilty pleasure” é um “prazer culposo”, algo do que vc gosta mais sabe que é ruim. Confesso. Não me orgulho, não recomendo, mas confesso: assisto ao programa “Keeping up with the Kardashians” e a seus desdobramentos “Kourtney & Khloe take Miami”, “Khloe and Lamar” e “Kourtey & Kim take New York” no E!, Entertainment Television. São reality shows que mostram o cotidiano dessa família, famosa por conta da exposição de Kim.

Para quem não faz parte do meu Universo, um breve resumo. Os anos 2.000 viram florescer a tendência dos “Reality Shows”. Começamos com o Big Brother, e de repente o voyerismo assumiu o controle da TV. Figuras secundárias deste fenômeno são os paparazzi. Paparazzo em italiano significa “mosquito”. Este termo foi aplicado, creio que por Fellini, para referir-se aos fotógrafos de celebridades que incomodam como mosquitos aos famosos, ou não, que perseguem.

Não foi apenas nos anos 2000 que soubemos deles. Em 1997 muito foi alardeada a possibilidade de ter sido um paparazzo, num Fiat azul, o causador do acidente que matou Lady Diana Spencer.

Dentre várias celebridades incessantemente perseguidas, um dos melhores exemplos é o de Britney Spears. Enquanto adolescente, ela foi a “princesinha do Pop”. Ao atingir a maturidade, casar-se e tornar-se mãe, foi sucessiva e impiedosamente flagrada nas piores situações possíveis. Magra. Gorda. Com calcinha. Sem calcinha. Careca e cabeluda. Até agrediu com um guarda-chuvas um fotógrafo. Namorou outro. Chegou a ser flagrada dentro de uma ambulância, na Emergência do Hospital.

Em diversas ocasiões festivas, Britney foi fotografada ao lado de “It Girls” de Los Angeles, mas desconhecidas pelos “simples mortais” ao redor do mundo. Duas delas começaram a ser famosas apenas após flagradas na companhia festiva de Britney Spears: Paris Hilton e Kim Kardashian. E se transformaram imediatamente em duas “famosas” por serem “famosas”. Britney ao menos cantava (ainda que mal). Mas e Paris e Kim?

Pelo sobrenome pode-se fazer a ligação de Paris à cadeia de hotéis Hilton, da qual é herdeira. Kim é filha do famoso advogado de O. J. Simpson Robert Kardashian, e é enteada do atleta olímpico Bruce Jenner.

Para quem nunca viu Kim Kardashian, uma forma de imaginá-la é lembrar-se da princesa Jasmine do desenho “Alladin” da Disney. Porém Kimberly Kardashian é, fisicamente, o que a princesa Jasmine não é, em beleza, à décima potência. Nem um desenhista da Disney seria capaz de projetar, idealmente, uma beleza tão perfeita quanto a que Kim Kardashian tem, tangilmente. Nas palavras de Kelly Osbourne, comentarista do “Fasion Police on E!”: Kim Kardashian é a mais bela mulher que já pisou a face da Terra.

Sua beleza é simplesmente perfeita. Não apenas seu rosto é maravilhosamente bem calculado por algum sumo matemático, como seu corpo é maravilhosamente bem-torneado, com um derriére que de tão avantajado parece até artificialmente turbinado.

Pq qquer uma dessas observações é pertinente à Relatividade? Por conta de Kourtney Kardashian. Kourtney também é uma mulher maravilhosamente bela, com um corpo bem-feito. Quando apenas Kourtney aparece na tela, sua beleza nos atinge maravilhosamente.

Até que Kim apareça.

Embora Kourtney seja uma mulher belíssima, quando contraposta no mesmo frame a Kim, não há como, visualmente, perceber que na presença da irmã perfeita a beleza de Kourtney se apaga tanto quanto a doçura do refrigerante contraposta ao sabor do bolo.

Houvesse Kourtney nascido em qquer outra família, seria “a mais bonita das irmãs”. Porém teve a má sorte de receber como sua caçulinha “a mais bela mulher que já pisou a face da Terra” e diante disso, relativamente, jamais poderá considerar-se realmente bonita. Muito mais corpos gravitarão ao redor de Kim do que ao redor dela.

4 – Do progresso tecnológico.

Sinceramente, qquer ser humano que reclame da existência hj é um grande bunda-mole. O avanço tecnológico da Humanidade facilitou nossa existência de tantas maneiras que um viajante do tempo que chegasse hj vindo de 2 mil anos atrás ficaria rapidamente convencido que grande parte do que ele almejava por uma “vida paradisíaca”, nós já desfrutamos.

Alguns exemplos brasileiros.

Os pioneiros paulistas precisaram, por séculos, escalar manualmente a “Muralha”, a Serra do Mar que divide a Baixada Santista do Planalto Paulista. A árdua escalada durava dias ou até semanas. Hoje, num dia sem trânsito, chega-se de São Paulo a Santos em menos de meia hora, de carro, pela Rodovia dos Imigrantes. Também por séculos, para transportar a produção do planalto paulista ao porto de Santos, eram necessárias tropas de mulas e semanas de viagem. (Por isso foi escrito o livro “Rio Claro” de Warren Dean). Já adiantado o século XIX, algumas horas de viagem de trem. Hoje, de carro, da minha casa no coração do interior paulista, eu dobro apenas 4 esquinas e levo 2h15 para chegar à Marginal.

Duas palavras que transformaram o mundo: energia elétrica. Quantos poetas forçaram seus olhos para ler preciosos e raros livros à luz de velas? Hj todos nós temos à plena luz e à ponta dos dedos via Internet qquer livro que queiramos.

E ainda assim reclamamos.

Nunca nos daremos por satisfeitos pois todas as nossas noções de comparações são historicamente determinadas pelo que nos cerca. Um viajante do passado ficaria maravilhado com todas as nossas facilidades modernas. Nós, porém, acostumados a elas, não lhes damos valor, nem nos sentimos presenteados por termos a nossa vida tornada infinitamente mais fácil pela tecnologia.

Tenho a consciência de testemunhar um momento de transição histórica propiciado pelo avanço da tecnologia. A informática transformará completamente as relações humanas, e apenas engatinhamos nesse sentido.

Estamos saindo da vida analógica para a digital. Testemunhamos a transição para a realidade 2.0, para a Grande Revolução do Admirável Novo Mundo.

Valerá a pena a espera.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A prova anatômica da inexistência de Deus

Lembro-me de quando pré-adolescente ouvir a piadinha infame:

- Sabe pq Deus é um péssimo arquiteto? Pq colocou o playground perto dum esgoto a céu aberto.

Na época, de fato pareceu-me estranho e meio nojento que as zonas erógenas localizassem-se na vizinhança do sistema excretor e evacuador de detritos humanos. Como menina, sexo deveria ser associado ao romantismo sonhador, poético. E não há nada de romântico no sistema excretor humano.

Muito depois até cheguei a compreender que o motivo disso é, como quase tudo evolutivamente, a economia de energia e a racionalização do espaço. As zonas erógenas seriam, portanto, próximas ao sistema excretor para economizar cabos e terminações nervosas. Ou, se visto de outra forma, as zonas erógenas o são apenas e tão somente pelo fato de localizarem-se nas vizinhanças do sistema excretor. E, de fato, alguns homens usam suas mulheres como se fossem latrinas nas quais aliviam suas necessidades fisiológicas, como Alice Walker estabeleceu nesta eloqüente imagem do clássico “The Purple Color”.

Mas não se refere ao sistema excretor, composto de órgãos com função mista (excretora e reprodutiva) que me refiro ao afirmar possuir uma prova anatômica da inexistência de Deus. Refiro-me a outro órgão, também com função mista.

Nossa faringe. A faringe possui a função mista de conduzir ora o alimento ao estômago, ora o ar aos pulmões. A seleção do destino é feita inconscientemente por uma válvula denominada epiglote, cárdia ou esfríncter. E é a burrice da epiglote a prova que Deus não existe. A epiglote matou ao longo da História mais seres humanos que todos os acidentes automobilísticos já ocorridos, combinados a todos os naufrágios e acidentes aéreos. A mal-feita e ineficaz epiglote é a maior arma de destruição em massa que já nos afligiu. E tanto mais cruel ela é por vitimar principalmente aos de mais tenra idade.

E pq sua ineficácia prova que Deus não existe? Ora, qualquer designer digno do nome poderia ter resolvido o problema fazendo um encanamento duplo, de forma a que o ar aspirado não fizesse o mesmo trajeto que os sólidos e líquidos consumidos. Ou talvez teria turbinado a epiglote com um sensor de densidade mais eficaz, ou com uma antecâmara pré-brônquios de forma a impedir o efeito colateral da confusão dos destinos: o engasgo.

Se a epiglote se engana mandado ar para o estômago, o máximo efeito colateral será um sonoro e engraçado arroto. Já se manda uma quantidade mesmo que ínfima de sólido ou líquido para os pulmões o resultado é um excruciante, doloroso, aflitivo, convulsivo, desagradabilíssimo, engasgo. A tosse é incontrolável. Nos recurvamos à frente, retesamos nosso tronco, nossa cara fica vermelha, sentimos uma sensação torturante de afogamento, um frêmito violento no fundo da garganta dos brônquios irritados querendo se livrar do corpo estranho, que sentimos, e tentamos manobrar com a língua, lá no fundo, sem nenhum sucesso. A não ser por endoscopia, não há como alguém voluntariamente desobstruir suas vias aéreas. A não ser com vigorosos tapas e socos nas costas, para os casos mais leves. :)

Pq o engasgo é tão mortal? Quem já cuidou de um bebê sabe perfeitamente. Sempre depois de mamar, comer ou beber qquer coisa, a criança deve ser apoiada contra o ombro do adulto e levar alguns tapinhas nas costas, até arrotar. Sempre. A cada vez que é alimentada. Cuidadosa e diligentemente, deve-se dar tapinhas nas costas do bebê até que ele arrote, toda santa vez. Isso é feito para forçar pela ação da gravidade as últimas gotas de líquido ou restinhos de sólido epiglote abaixo até o estômago. Pois se a criança for deitada com a laringe plena de restos de leite e comida, é muito provável que estes deslizem até seus pulmões, possivelmente bloqueando suas vias aéreas e levando o neném à morte por sufocamento.

Conforme a criança vai crescendo e deixa de ser um neném esse cuidado torna-se desnecessário pois com a maturação de seus sistemas, ela passa a ser capaz de tossir vigorosamente para livrar-se do engasgo. Porém, ao contrário do que muitos pensam, a epiglote prossegue tão burra quanto era ao nascer e continua a errar o destino dos itens que transporta. Recentemente soube que isso causa um tipo grave e agudo de pneumonia.*

Infelizmente é comum entre as camadas mais pobres da população brasileira que médicos prescrevam a ingestão de óleo mineral para casos de constipação intestinal e “prisão de ventre” por ser, para isso, eficaz, e um item muito barato nas farmácias. Ora, como descobri ao engolir meu primeiro chiclete, humanos não devem ingerir derivados do petróleo, como deve ter dolorosamente descoberto Mark Wahlberg em “Three Kings”.

O que se passa é que ao ser engolido, parte do óleo mineral escorre para os pulmões, onde entope aos alvéolos. Se isso acontece com uma gota de suco de laranja, um pedacinho de cebola ou até um grão de arroz, os macrófagos darão conta de digerir o corpo estranho, e em pouco tempo o item terá sido metabolizado sem deixar seqüelas. Não se for óleo mineral. O óleo mineral não pode ser processado pelo organismo humano. Ele entope permanentemente os alvéolos que atinge, pelo menos até ser aspirado por intervenção médica via endoscopia. Esta pneumonia chamada lipoídica, se não diagnosticada ou tratada pode inclusive levar à morte dolorosa por uma lenta asfixia.

Outra informação, curiosa e irrelevante mas que não deixará de ser lembrada por meus contemporâneos e redundantemente ignorada pelos vindouros vai aqui: recentemente foi amplamente divulgado nos noticiários o caso de um velhinho, paciente terminal, que teve um tumor identificado por uma tomografia, cintilografia ou qquer tipo de exame “suuuper moderno” em 3D que acusou uma massa que crescia em um de seus pulmões. Resolveram abrir e operar. Grande surpresa teve o cirurgião ao extirpar não a um tumor maligno, mas um broto de ervilha. A epiglote do velhinho enganara-se mandando não uma partícula, mas uma ervilha inteira para seus pulmões. Por estar fragilizado, ele não a pôde tossir. Adicionalmente, a ervilha, mero detalhe, estava crua. E muito mais curiosamente, na ausência completa de Sol, encasquetada dentro de um alvéolo pulmonar, a ervilha germinou de forma vigorosa, se alimentando da corrente sangüínea do velhinho, a ponto de parecer aos médicos nos exames tratar-se de um tumor agressivo e maligno. Que teria se passado se não o tivessem operado? Cresceria um pé de ervilha inteiro dentro do pulmão do velhinho, na total ausência de Sol?

Tudo isto posto, creio que apresentei relevantes argumentos estabelecendo que Deus não pode existir pois só um incompetente completo desenharia tão mal o organismo que pretensamente seria o ápice mais perfeito de toda a criação, feito à sua Imagem e Semelhança.

Comumente pensam os ateus que aqueles que crêem na transcendência ou Suma Inteligência apenas o fazem por desconhecer aos argumento racionais que, de fato, desnudam diante de nossos olhos a imperfeição da criação, os paradoxos, ou mesmo a pura e simples falta de provas que afirmem que haja algum tipo de Grande Arquiteto por trás de tudo isso.

E este é o ponto que pretendo explicar: creio que Deus existe justamente pela imperfeição deste mundo, por perceber este tratar-se de um plano de aparência, do engano, da irrealidade, em que somos cegos mas achamos que enxergamos. É justamente por me sentir mal, desconfortável e inadequada neste corpo símio, peludo, sebento, fétido, que faz barulho e solta gases, com o playground a poucos centímetros das zonas mais nojentas do corpo, carregando nos centímetros cúbicos que ocupo mais células de organismos unicelulares do que de homo sapiens sapiens que sei que este não é o meu mundo. Se me colocarem num liquidificador chegarão à conclusão que sou mais composta de células bacterianas do que de um símio superior. E que não sou sólida, mas composta de 99% de vazio. Portanto, Deus existe. Garante toda esta flora que me sustém e todas as interações eletromagnéticas que me dão a impressão de ser sólida, e não vazada.

O mundo do sensório, da fome, do engasgo, das necessidades fisiológicas, me é profundamente incômodo. Os sentidos nos distraem, nos transtornam, nos desviam daquilo que é realmente importante e devemos nos ocupar. Aos poucos, pela vida, vamos aprendendo a desconfiar do que nossos próprios olhos vêem, do que as pessoas nos dizem, do que os jornalistas nos informam e até do que os professores nos ensinam. E lançados à profunda solidão do estarmos completamente perdidos e sem saber noss papel neste mundo, inventamos um Deus que nos ama e acolhe como um Pai bondoso.

E é justamente por saber que fui eu a inventar meu Deus e não o meu Deus a me inventar, pois ele não existe, que creio em Deus.

O “meu” Deus que tem que seguir os “meus” parâmetros historicamente determinados, do que é lógico ou adequado; este Deus, seguramente, não existe. O Deus que existe é um Deus muito além, intagível, incompreensível, incutucável. E tão magnânimo que não teve nojo de mandar centelhas de seu espírito para habitar nestes corpos simiescos, peludos e fétidos, com uma epiglote tão burra, uma grande assassina de bebês.

Enquanto escrevo isso luto contra uma casca de ervilha que teima em não querer ser tossida de meus brônquios. Mas foi ontem à noite que tive a idéia para este texto.

Talvez eu tenha engasgado de propósito...


Leia também: De como Deus me provou sua existência

*Grave é sinônimo de severo, e agudo é oposto a crônico. Portanto, uma doença pode perfeitamente ser grave e aguda ao mesmo tempo.

sábado, 28 de maio de 2011

Da Matemática não calculada

A “Matemática” é uma das disciplinas mais temidas da grade curricular escolar. Excessivamente teórica e abstrata, esta matéria sempre foi para mim um tormento com cálculos sem nenhum sentido, envolvendo encontrar infinitas vezes um X sem nenhum propósito real.

A Matemática, a Física e a Química nos atemorizam, assustam e intimidam com suas intrincadas fórmulas. As incógnitas quase nos dizem: “Decifra-me ou te devoro”. Nunca me dei bem nem em Matemática nem nas demais Ciências Exatas: Física e Química. Destas três disciplinas, sinceramente, pouco me lembro e muito as temi na hora do Vestibular. Lembro-me inclusive de na sétima série ser interpelada por uma professora de Matemática inconformada:

- Fernanda, vc é tão inteligente, como que vc não consegue ir bem em Matemática?

Nunca soube o pq. Mas apesar de não “ir bem” nunca foi problema conseguir o 5 mínimo para passar de ano, nem em Matemática, nem em Física, nem em Química. Se serve mais uma ilustração cristalina, fiz cursinho pré-vestibular por 2 anos consecutivos. No primeiro, sendo pagante, simplesmente prescindi de participar das aulas de Física e Matemática após o segundo mês de aula. Tendo já feito amizades com os colegas de sala, minhas aulas de Exatas se transformavam em sessões de boteco e videokê ao lado de Aline, Thiago, Thales e Henrique. No meu segundo ano de cursinho, no qual era bolsista integral, eu era obrigada a ter freqüência exemplar, de mais de 90%, e portanto assisti, integralmente, uma a uma, todas as aulas de Exatas. Pq isso é relevante? Pq ao final destes 2 anos prestei o vestibular da USP obtendo exatamente a mesma pontuação na primeira fase. Em poucas palavras: um ano inteiro de aulas de Física e Matemática no Cursinho não fizeram absolutamente nenhuma diferença em meu desempenho no vestibular. Essas matérias simplesmente não entram na minha cabeça, ao menos da forma excessivamente teórica e abstrata como são ensinadas atualmente.

Contudo sempre me fascinou como algumas pessoas têm um talento natural, instintivo até, para os cálculos. Os realizam quase sem pensar, automaticamente. Um filme que mostra isso de forma ilustrativa é “Little Man Tate” no qual Jodie Foster interpreta a mãe de um menino superdotado, com talentos matemáticos que é descoberto por uma professora universitária interpretada por Diane Keaton. Numa competição de Matemágicos ele dá imediatamente as respostas a cálculos complicadíssimos, sem nem pensar, num piscar de olhos. Há também o ótimo livro infanto-juvenil “O homem que calculava” de Malba Tahan que conta a história das mil e uma noites de um prodígio dos cálculos sem números nem fórmulas.

Longe de mim situar-me em nível de qquer tipo de prodígio matemático, uma vez que esta linguagem me é mais indecifrável que o próprio grego. Creio que seria-me mais fácil aprender Mandarim do que tornar-me fluente em Matemática. Contudo, apesar deste meu analfabetismo, ou anadigitismo, de alguma forma consegui passar em dois dos mais disputados vestibulares do país (USP e UNICAMP – nesta segunda caíram “Exatas” até na segunda fase) e me saí muito bem nas duas vezes que fiz o ENEM inclusive em habilidades matemáticas pois, apesar de ser incapaz de colocar os dados nas fórmulas, calculá-las e chegar numericamente a algum X, sempre fui capaz de “ponderar” os dados e, intuitivamente, de alguma forma, chegar em um resultado, às vezes correto.

O causo pessoal curioso que ilustra esta questão se passou recentemente, não em ambiente escolar. Eu estava participando de um almoço familiar ao qual estava presente um engenheiro civil, também graduado pela USP. Ele contava-nos feliz que ia instalar uma “Tirolesa” e seu sítio, para se divertir.

Quem não sabe ao que me refiro: “Tirolesa” é o nome de um “esporte radical”, ou técnica de arborismo. É quando um cabo de metal é suspenso e preso pelas pontas em dois apoios altos. O “esportista” se pendura de um lado do cabo apoiado em uma roldana. O “esporte” consiste na pessoa deslizar aceleradamente de um ponto a outro da corda, finalizando a “diversão” ao pular no riacho abaixo do ponto mais baixo do trajeto. Coloquei as aspas pois minha própria natureza algo preguiçosa é aversa a qquer tipo de esporte que envolva risco de se esfolar, se molhar, quebrar algum osso ou afins. Ainda mais num equipamento que não foi instalado por profissionais da área.

Por exemplo, eu até poderia ser convencida a “me jogar” numa Tirolesa instalada num parque de diversões com alvará do Corpo de Bombeiros. Jamais numa Tirolesa improvisada. Por conta disso perguntei ao autor do projeto que, afinal, era engenheiro:

- Na faculdade vc fez ao menos teoricamente alguma coisa parecida com isso?

Respondeu-me que não.

A conversa prosseguiu a respeito de como seria instalada a Tirolesa até que alguém levantou o ponto da aceleração que a pessoa poderia atingir, e se fosse muito alta, se a pessoa poderia machucar-se ao cair no riacho. O engenheiro disse que a velocidade não seria alta, chegaria a algo em torno de 15 kms/hora. Estranhei, meneei a cabeça e discordei:

- Imagina! 15 kms/hora é a velocidade na qual eu caminho. Uma pessoa alcançaria 50 kms/hora.

O engenheiro discordou, achou ser excessiva a minha cifra. Pediu papel e caneta e pôs-se a fazer cálculos com fórmulas desconhecidas e, para mim, herméticas. Orçou a resistência da roldana, o comprimento e a inclinação do cabo. Após vários minutos e cálculos depois chegou a um número em metros por segundo. O qual, sinceramente, eu era incapaz de orçar em kms/hora. Ele próprio fez a conversão e após escrever o número no papel olhou-me com expressão atônita e mostrou-me o resultado final: 50 kms/hora.

Sinceramente eu não tinha a menor idéia de que eu chegara intuitivamente, com minha Matemática não calculada, ao resultado correto, mesmo a desconhecer os dados e fórmulas de cálculo. Apenas ponderei algo no qual eu mesma não acredito existir (bom senso), lembrei-me das Tirolesas que já vira, lembrei-me que o mostrador dos elevadores orçam o peso médio das pessoas em 70 kgs. E uma outra informação da qual creio que o engenheiro não dispunha. Na virada do século XIX para o XX muitos engenheiros temiam sobremaneira colocar motores potentes nos carros pois havia certa crença “científica” de que se o corpo de um ser humano fosse acelerado acima de 60 kms/hora ele se desintegraria. Isso é muito ilógico hoje, mas em épocas pré-traquitanas mecânicas parecia perigoso e antinatural acelerar de forma tão exacerbada o frágil organismo humano.

Claro que não me conti em minha arrogância e não perdi a oportunidade de me auto-afirmar:

- Viu? Pra que tanto cálculo, tantas fórmulas, tantos X e tantos Y? Eu, sem saber de nada disso, ponderei o resultado correto.

P. S.: Hoje, assistindo aos Mithbusters, o episódio quebrou um mito envolvendo o escorregar sobre uma rampa molhada e jogar-se sobre um lago. E curiosamente a velocidade que calcularam cientificamente repetidas vezes para os corpos lançados nesta espécie de trampolim foi... Vcs conseguem adivinhar?... De 50 kms/hora. Curioso, não?

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