quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Do Escapismo
sábado, 20 de abril de 2013
De Orlando Nunes
O conheci em 2005, na comunidade Perguntas Cristãs Complexas. Era uma comunidade do Orkut de debates religiosos que se distinguia por sua proposta democrática, variedade de participantes, pluralidade e pelo elevado nível dos debates. Mais do que tudo, era um espaço único, no qual pessoas de diferentes credos podiam interagir, comparar seus dogmas, ver os pontos fracos e fortes de cada vertente teológica.
Os debates eram muito variados. Desde temas do "dia a dia" como sexo, vestuário, alimentação, comportamento e política, até pequenas abstrações filosóficas impalpáveis, mas teologicamente essenciais.
Nessa época eu me classificava como "espírita kardecista". Ainda o digo quando perguntada por alunos. Foi no período de amadurecimento teológico durante o qual participei desta comunidade que me descobri Noachide. Na comunidade, ao assim começar a me dizer, os membros entendiam a o que eu me referia. Seu eu me declarar "filha de Noé" aos meus alunos, seria muito difícil fazê-los entender do que tal se trata. E o Noachidismo pode nem ser considerado uma "religião", mas uma derivação do Judaísmo.
Orlando Nunes era calvinista. Protestante histórico seguidor de João Calvino, o célebre reformador franco-suíço. Se destacava por ser, ou aparentar ser, uma pessoa madura, equilibrada, pluralista, e de profundo conhecimento teológico. Por sua postura sempre ilibada, todos os membros lhe dedicavam o mais alto respeito, eu inclusa. Até o admirava por sua seriedade e simpatia.
Ainda na PCComplexas tivemos alguns debates memoráveis. Um ponto que exploramos até a exaustão foi se, ao ser suspenso no madeiro (a cruz) o corpo de Jesus se tornou maldito, conforme:
Deuteronômio 21:
22 Se um homem sentenciado à pena de morte, for executado e suspenso a uma árvore, 23 seu cadáver não poderá permanecer na árvore durante a noite. Você deverá sepultá-lo no mesmo dia, pois quem é suspenso torna-se um maldito de HaShem. Desse modo, você não tornará impuro o solo que o eterno seu D'us lhe dará como herança.
Gálatas 3:
13 Cristo nos resgatou da maldição da Lei, tornando-se ele próprio maldição por nós, como diz a Escritura: «Maldito seja todo aquele que for suspenso no madeiro.»
Orlando simplesmente não podia conceber a idéia de seu deus e messias ter se tornado maldito ao morrer. E, tecnicamente, Jesus foi suspenso num madeiro ao ser crucificado, tornando-se, assim "maldito" de acordo com as Escrituras, o que para ele era uma interpretação herética. Podia ser blasfema para ele, mas essa acepção tem amplo respaldo, com duplo testemunho, na Bíblia que ele próprio considerava sagrada. Também debatemos, provavelmente por meses, a questão do livre arbítrio, que os calvinistas negam existir, e que é fundamental para 90% das outras vertentes cristãs.
Debatíamos, discordávamos, refutávamos um ao outro. E ambos tirávamos grande prazer disso. Tudo ia muito bem até que o "clima político" da PCCplex foi pesando por diversas efemérides, mas especialmente por a proposta de "Democracia plena" não se concretizar, e algumas atitudes questionáveis do grupo de moderadores.
A coisa foi crescendo a um ponto que muitos dos membros "chave" pensavam em debandar em protesto. Nesta circunstância, Orlando Nunes me mandou um e-mail com uma proposta muito interessante: a de fundarmos nosso próprio espaço, convidando os dissidentes, uma nova comunidade de Perguntas Cristãs, essa sim democrática, aberta, plural e transparente.
Incluímos nesta troca de e-mails tb ao grande amigo que fizemos na PCX Alex "Aleph" de Paula, cristão evangélico neopentecostal da Assembléia de Deus. E Aleph prontamente aderiu ao projeto. Detalhe bastante significativo é que tanto Orlando Nunes como Aleph são pastores evangélicos certificados, ainda que não o exerçam. E ambos me viam em nível de igualdade com eles para dar início a um projeto, para nós, tão importante. Nem posso dizer como me senti honrada, em minha pequenez cheia de defeitos, de que pessoas com tão alto prestígio no "meio religioso" tanto virtual como físico, me vendo como "no mesmo nível" deles!
Tb convidamos para ser membro fundador conosco ao biólogo, naturista, defensor dos Direitos Humanos, budista e jedi Arthur "Dogbert" Golgo Lucas, mas por uma série de desencontros virtuais, ele se tornou membro, mas não com tanta participação.
Nas conversas por e-mail entre mim, Orlando Nunes e Aleph foi decidido que "reciclaríamos" uma comunidade quase inativa do Orlando Nunes, a "Cristianismo Puro e Simples", a rebatizaríamos de "Religião & Vida", promulgaríamos regras democráticas (a parte de criar esta legislação ficou, com muito gosto, na minha responsabilidade), convidaríamos os membros da PCC-plex e de outras comunidades de debate religioso, fazendo da nossa comunidade o que a PCComplexas deveria ter sido.
No começo, foi tudo muito bem. A comunidade bombou. Muitos membros de outras comunidades além da PCComplexas aderiram e participavam ativamente da nossa. Nessa época, eu já trabalhava, e não podia mais, como antes, dar longos plantões nos debates de que tanto gostava. Mas diversos tópicos interessantes pululavam em comentários. Rapidamente a comunidade ultrapassou mil membros. Até moderadores que haviam motivado nossa saída da PCX "faziam as honras" de ir até nossa comunidade para debater conosco. Na nossa comunidade, as regras que eu elaborara e colocara em votação protegiam a liberdade de expressão de todos muito melhor que as regras da PCX que nos haviam feito sair de lá.
Ainda nessa época em que tudo eram flores, eu estive em São Paulo, e conversei com o Orlando para nos encontrarmos pessoalmente. Falei com ele ao telefone, combinamos de finalmente nos conhecer no Conjunto Nacional, na esquina da Avenida Paulista com a rua Augusta. Perto da hora acertada fui a um Cyber Café, só para "dar um tempo" e vi uma mensagem sua com alguma desculpa ou justificativa de que ele não poderia ir. Isso deveria ter levantado um sinal de alerta, mas não o percebi. O coloquei na conta dos "bolos comuns" que as pessoas nos dão por conta de algum "imprevisto", e não mais me preocupei a respeito. Deveria.
Tudo continuou a ir muito bem na comunidade... Até que... Começaram a surgir os problemas. Orlando começou a demonstrar incômodo com o teor e o rumo "liberal", "blasfemo" ou "não edificante" (no seu ver) dos debates. Começou a criticar os demais moderadores e a querer "mandar mais" que eu e o Aleph. Com nossos protestos, Orlando tirou da manga o trunfo que jamais pensei que tinha guardado: que ele era o "dono" anterior da comunidade, portanto, ela lhe pertencia mais do que a nós.
Debatemos isso num tópico. Sabendo que ele estava a usar um argumento falacioso, copiei e colei os trechos dos e-mails que trocamos combinando os termos da fundação da R&V. E ressaltei em negrito todas as vezes que ele colocou, por escrito, "NOSSA comunidade". E lhe disse: "se em cada vez que vc escreveu NOSSA COMUNIDADE vc tivesse escrito MINHA COMUNIDADE, eu não teria aderido ao seu projeto."
Ao invés de perceber seu erro, ele ficou "ofendidinho" por eu estar divulgando o teor dos e-mails que havíamos trocado. Logo o Aleph renunciou ao seu posto de moderador. Em solidariedade a ele e por já estar bem de saco cheio de tudo aquilo, muito frustrada e me sentindo lograda, tb renunciei, no mesmo dia. Orlando manifestou estar se sentindo traído.
Depois disso meio que "larguei mão" e não ia mais todo dia lá debater, apenas dava uma "conferida no fórum" esporádica, sem me engajar muito. Depois de um tempo, não sei bem como ou pq o próprio Orlando renunciou a prosseguir moderando "nosso/seu" grupo, repassando-o a outros moderadores. Por vários meses assim ficou a comunidade.
Até que... Sumiu!
Demorou para cair a ficha. Por algumas semanas, eu entrava no Orkut, acessava o link dos favoritos da R&V e ele simplesmente não abria. Eu tinha certeza que era algum erro temporário até que entrei em contato com Jarson Brenner e ele me disse o que havia acontecido. Inadvertidamente Orlando Nunes havia, não sei tecnicamente como, reativado sua condição de "dono" da R&V e simplesmente a DELETADO. Sem explicação, sem justificativa, sem saída, sem registro. Por debaixo dos panos, ele havia desaparecido sumariamente com uma comunidade muito ativa, deixando órfãos, perdidos e desnorteados seus mais de mil membros. Que nome se dá a isso?
Me falaram que o Orlando provavelmente tencionava se tornar um "líder religioso" e fazer da R&V "sua congregação virtual ", na qual ele arregimentaria adeptos para sua visão teológica. E quando viu falhar o projeto de fazer dessa comunidade seu "trampolim" para construir um bom nome no meio religioso, decidiu, sumariamente, deletá-la, sem nenhum respeito aos membros ativos e aos membros fundadores, que tantas horas e tanta dedicação haviam destinado a esta comunidade virtual.
Nem sei se consigo adjetivar de forma justa este ato, nem como ele me surpreendeu da pior forma possível. Por todos os anos de convivência com Orlando, pelo tanto que eu o respeitava e achava que o conhecia, e pelo próprio discurso que ele fizera quando da fundação da comunidade, nenhum de nós suspeitava que ele seria capaz de um ato tão baixo, tão vil. Eu não havia jamais visto nenhum "sinal de alerta" de que ele seria capaz de nos dar uma rasteira tão inesperada.
Orlando Nunes foi a pior decepção que já tive na Internet.
De certa forma, ter uma boa memória pode ser considerado uma maldição...
Lara Fabian - Love by Grace http://youtu.be/Kjqa_Csf29Q
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quarta-feira, 27 de março de 2013
O Getsêmani, o cálice e o pêndulo
Eu já lera boa parte da Bíblia, já concluíra diversas disciplinas de cultura e história judaicas na Letras da USP. Queria interagir com outras pessoas interessadas nestes mesmos assuntos. Queria "testar hipóteses", debater, tentar levar a exegese aos seus limites. Pesquisei por "perguntas cristãs" (à época eu me considerava cristã, hj sei que nunca fui) e o primeiro resultado, de uma comunidade à época com 30 mil membros, foi a "Perguntas Cristãs Complicadas".
Interessante. Entrei. Logo percebi que aquela era uma comunidade confessional direcionada a cristãos evangélicos. E que eles passavam boa parte do tempo tentando debater com diversos malabarismos de copiar e colar, enxertando Cântico dos Cânticos no meio da Torah, com umas pitadas de profetas, tudo temperado pelo Apocalipse. Uma salada mista, pra quem vinha da Academia e procurava debates refinados. E grande parte destes malabarismos era para tentar decidir qual dentre as milhares de vertentes evangélicas é a "única e verdadeira". Também apreciavam bastante menosprezar a Igreja Católica, como se o Papa fosse o anti-Cristo, e desrespeitar a Maria de Nazaré de todas as formas possíveis.
Logo ao começar a apresentar perguntas e oferecer respostas, percebi que minhas posições afrontavam diretamente as interpretações religiosas deles. E não apenas eu percebia esse mal-estar. Diversos outros membros "se estranhavam" com o moderador Shaylon, que sumariamente expulsava as pessoas que ele achava que não estavam lá para "edificar a fé". Devido às suas ações intransigentes, outros membros que estavam lá há mais tempo resolveram debandar e criar sua própria comunidade dissidente: a Perguntas Cristãs Complexas.
Recebi um scrap de Leandro Moreira com um convite, e migrei. Na PCComplexas a proposta era de um ambiente democrático, com moderadores eleitos pela comunidade, e com plena liberdade de expressão. Era uma comunidade muito ativa e diversa: com ateus, budistas, espíritas, evangélicos de todas as vertentes imagináveis, católicos e outros tipos de protestantes, inclusive os tais dos "judeus messiânicos". Tínhamos até um seguidor de Inri Cristo. Não era piada, o Unamundo era uma pessoa racional e esclarecida, que defendia que Inri Cristo de fato era uma reencarnação de Jesus.
Logo os tópicos pegaram fogo. A participação era tanta, que eu chegava a meio que "dar plantão" nos finais de semana, finalmente debatendo cada pequeno meandro do texto bíblico, com pessoas das mais diferentes formações, para meu grande deleite intelectual. Um tópico em especial foi um hit instantâneo, com o tema: "sexo antes do casamento é pecado mesmo? Onde isso está escrito?"
Um prato cheio pra mim, que sempre gostei de "esgarçar" as interpretações da Torah até o limite máximo de sua liberalidade. Construi uma argumentação amparada em diversas passagens, mas sobretudo nesta:
Ex:22
15 Se alguém seduzir uma virgem solteira e se deitar com ela, pagará o dote e se casará com ela. 16 Se o pai dela não quiser dá-la, o sedutor pagará em dinheiro, conforme o dote das virgens.
Essa passagem diz: se uma moça se entregar de boa vontade "seduzida" por seu namorado, não há obrigatoriedade de casamento, apenas uma indicação. Se o pai não concordar com o casamento, ele não se realizará. O pai deve ser indenizado por ter "sua propriedade avariada". Fora a "multa", NENHUMA punição é prescrita a nenhum dos enamorados, e não é dito que eles estejam a partir daí proibidos de contrair matrimônio com terceiros.
Há mais uma dezena de outras passagens bíblicas que me autorizam a defender que, pela Torah, essa "neurose" cristã com a virgindade não tem respaldo legal. Debate vai, debate vem, um membro em especial, Sílvio, que era mórmon, se demonstrava revoltado com, na sua forma de pensar, eu estar a "estimular a promiscuidade" e de eu estar usando a própria Bíblia para isso.
Ao longo de uns 400 comentários o debate foi cada vez pegando mais fogo até que... Até que certo dia o tal Sílvio foi ao perfil moderacional e deixou 2 ou 3 scraps lá reclamando de a comunidade dar espaço para, nas suas palavras textuais, "uma garota de programa enrustida".
Imediatamente o moderador Marcel Vasconcelos excluiu o membro, fez um screenshot e deletou os scraps. No dia seguinte a comunidade estava em polvorosa, sem que os membros soubessem exatamente o que tinha acontecido, e os amigos do Sílvio questionando sua retirada. A moderação da PCCplex explicou a todos que o conteúdo da postagem que resultara na expulsão do Sílvio era altamente ofensivo, e portanto não seria posto à vista de todos.
Me mandaram uma cópia do screenshot e ao ler que eu havia sido chamada de "garota de programa" (pra quem não sabe, isso se refere às prostitutas) meu sangue imediatamente gelou nas veias, e me senti profundamente ultrajada. Eu jamais tinha imaginado que por passar minhas noites e finais de semana pendurada na internet debatendo Teologia eu poderia ser acusada de fazer sexo a dinheiro.
Pois, obviamente, se eu fizesse sexo a dinheiro, primeiro que não debateria Teologia, segundo que se eu fosse deste métier, nas noites e feriados eu estaria ocupada demais para ficar em casa madrugadas a fio debatendo pequenos detalhes da Lei de Moisés. Então a pessoa que me ofendeu, e se dizia um mórmon muito dedicado à sua religião, sabia a princípio que estava levantando falso testemunho contra mim, o que sim é pecado claramente expresso no Decálogo (Cf. Ex 20:16).
Mas o Sílvio prosseguiu a reclamar, e a incitar os membros que lhe eram próximos contra a moderação da PCX. A Moderação então franqueou que ele nomeasse um "advogado", um membro da comunidade no qual ele confiasse para o representar. Ele escolheu Orlando Nunes José, que à época era amplamente respeitado por todos, até por mim (posteriormente ele se revelou uma das maiores decepções que eu já tive na Internet, mas isso fica para outro texto).
Mandaram a Orlando Nunes o screenshot. E, sabiamente, ele deu razão à Moderação. Concordou que a expulsão do Sílvio era sim justa. Mesmo tendo sido nomeado por Sílvio como defensor, não havia como ele defender seu amigo diante da forma como este me ofendera. Sílvio engoliu o sapo e não mais nos incomodou por alguns meses.
Tempos depois, ele pediu para voltar, e a Moderação me consultou. Minha posição foi: que ele volte, mas que se desculpe publicamente pelo que fez. Se a ofensa foi pública, igualmente deveria ser a retratação. E ele o fez, criou um tópico chamado "O Getsêmani, o cálice e o pêndulo", no qual se mortificava pelo que havia feito. Li, não me convenci de sua sinceridade, mas me dei por satisfeita. Posteriormente até cheguei a voltar a debater com ele outras questões.
Depois de muito tempo, sanadas todas as feridas, hoje este episódio me traz um certo "orgulho", como o que um soldado sente a respeito de suas cicatrizes de guerra. Foi algo, completamente inesperado, que me marcou muito. Tanto pela ofensa como pela proteção que o grupo de moderadores me deu. Foram rápidos, eficientes, e agiram da melhor forma possível à época. Depois tivemos nossos entreveros sobre a não realização da proposta de "democracia plena", mas isso tb fica para outro texto.
Muitas mulheres são acusadas de ter um comportamento sexual desregrado, ofendidas como "garotas de programas" e tratadas como prostitutas, sem o ser.
Mas poucas podem dizer que passaram por isso porque gastavam todas as suas horas livres, varando madrugadas e finais de semana, a debater Teologia.
Tópico do orkut - http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?tid=2442448414765242414&cmm=6452454&hl=pt-BR
http://pccomplexas6452454.blogspot.com.br/2006/03/o-getsemani-o-clice-e-o-pendulo-annimo.html
Depeche Mode - Personal Jesus http://youtu.be/cNd4eocq2K0
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sábado, 12 de maio de 2012
Do meu paradigma teológico
Tendo isso em vista, sinto ser necessário esclarecer o paradigma, a "fôrma mental" q amolda minha interpretação da Torah.
Em Teologia, não existe "ponto final", tudo está aberto a discussão, e é comum q divergentes pontos de vista se justifiquem com as mesmas citações. Acontece q frequentemente as pessoas q se dedicam aos estudos teológicos expressam visões ortodoxas, tradicionalistas. Cujo paradigma demonstra a tentativa de restringir ao máximo a margem da liberdade humana.
Certa vez, quando era adolescente estava a comparar minha religião familiar (Espiritismo kardecista) com a de uma colega, q era protestante. Comparávamos as restrições q nossas religiões nos impunham e a conclusão se deu na seguinte frase de minha amiga: "Ah, essa sua religião não é religião de verdade, não proíbe nada, vc não precisa casar virgem, pode beber, pode fumar. Q religião é essa q não proíbe coisa nenhuma?"
É claro q o Espiritismo "proíbe" muitas coisas como roubar, matar, cometer adultério, mentir etcs. Porém, comparado a outras religiões, é muito mais liberal em seus "usos e costumes".
Muitas denominações protestantes históricas são conhecidas por suas pesadas restrições aos fiéis: mulheres não podem usar calça, cortar o cabelo, se depilar, se maquiar etcs. Provavelmente nem esta interpretação excessivamente restritiva nem a acepção espírita excessivamente liberal estejam certas, porém ambas são válidas. E necessárias para q o conjunto dos interessados na compreensão das Leis Bíblicas sejam cada vez mais, progressivamente, melhor esclarecidos.
Creio q há intérpretes pelo viés ortodoxo por demais, e intérpretes pelo viés liberal em falta, e q isto afaste muitas pessoas q poderiam ser incluídas. Muitas pessoas se afastam da "Religião " por pensar q é " difícil demais" seguir seus preceitos. Pois, normalmente, quando procuram orientação é-lhes dito q "quase tudo" é proibido.
Meu propósito é justamente demolir essa visão. E minha metodolgia é pegar o texto limpo da Torah e verificar se de fato ela proíbe tudo o q os líderes religiosos dizem. E na maioria das vezes atesto q conceitos seculares não têm apoio na Lei de Moisés: ecoam apenas a tradição consagrada por analistas antigos, q interpretavam a Lei para um mundo muito diferente do nosso.
Não q suas lições sejam caducas: são preciosas. Porém devemos ter em mente q, acima da deferência q devemos a estes grandes mestres deve estar a compreensão da imensa clivagem q separa a "palavra de Deus" das digressões de seus intérpretes humanos. Devemos, como Abraão, ser iconoclastas. Devemos questionar se ao ecoar um interpretação humana, não estamos na verdade a nos desviar do propósito "limpo, puro e seco" presente na Lei mosaica.
Na Lei há estas basilares passagens:
Dt 4: 1 Agora, Israel, ouça os estatutos e normas que eu hoje lhes ensino a praticar, a fim de que vocês vivam e entrem para possuir a terra que Javé, o Deus de seus antepassados, vai dar a vocês. 2 Não acrescentem nada ao que eu lhes ordeno, nem retirem coisa nenhuma. Observem os mandamentos de Javé seu Deus do modo como eu lhes ordeno.
Dt 5: 32 Portanto, procurem agir de acordo com todas as coisas que Javé seu Deus lhes manda. Não se desviem nem para a direita nem para a esquerda. 33 Sigam o caminho que Javé seu Deus lhes ordenou, para que vivam, sejam felizes e prolonguem a vida na terra que irão ocupar.
Dt 13: 1 Cuidem de colocar em prática tudo o que eu ordeno a vocês. Não acrescentem e não tirem nada.
Creio q a tradição teológica peque por "acrescentar" mandamentos na verdade ausentes da Bíblia. E q se faz necessária uma reinterpretação de conceitos q achamos q são divinos, mas são humanos. Igualmente creio q tanto quanto a tradição ortodoxa esteja "equivocada", igualmente estarão muitas das minhas conclusões, nascidas de minha mente humana.
Contudo, creio ser relevante "oxigenar" e, de certa forma, "atualizar" a forma como os mandamentos bíblicos são interpretados. Precisamos estudar o q a Torah, escrita há 3 mil anos, tem a dizer sobre nossas dúvidas do hoje, q sequer poderiam ser cogitadas àquela época. Pois, se a Lei é divina, não pode ser anacrônica. Nela devemos encontrar princípios q nos norteiem nesse mundo pós-moderno.
Se prosseguirmos apenas a ecoar com deferência aquilo q os q nos precederam "acharam" corremos o risco de q as novas gerações não se identifiquem em nada com o q a Bíblia ensina. Corremos o risco de nos encontrar um dia numa falha crítica sem saída, e q as futuras gerações considerem a Torah ultrapassada e caduca.
Sejamos iconoclastas! Quebremos todos os ídolos. Questionemos tudo o q parece velho e empoeirado. Assim cresceremos na compreensão da verdadeira essência dos mandamentos, estatutos e normas q o Criador nos legou.
Não pretendo com meus textos desviar ninguém do caminho correto, e peço a todos q discordem das teses q afirmo q deixem um comentário refutando minhas alegações, com base na Lei. Ficarei muito grata e me proponho a reescrever qualquer texto se me for comprovado q ele propaga idéias contrárias ao q a Lei ensina.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
O irmão de Hakani e o mimadinho sociopata.
O assunto desta postagem é algo muito delicado de se perceber e volátil para se analisar, mas pretendo intentá-lo, com toda a sua fragilidade. E é a partir de exemplos práticos que pretendo abordar a questão do pq algumas crianças demonstram desde cedo instintos sociopatas enquanto outras externam uma Humanidade tão profunda que faria corar a muitos octogenários. Analisarei o comportamento de duas crianças que nunca vi, das quais ouvi falar e pensei muito a respeito. Apenas para fins didáticos chamarei a um de Luís e ao outro de Rudá.
Logo no começo vai o post scriptum, ou a nota de rodapé: relevarei os possíveis determinantes genético-biológicos destas duas crianças, considerando que seu comportamento seja apenas socialmente determinado, sob o prisma já descartado da tabula rasa. Portano aproveito para já externam a consciência da vanidade de meu esforço, como o de cavar um buraco na água. Mas se fôssemos estritamente racionais não seríamos plenamente humanos. Chegaremos até aí.
A primeira frase que ouvi a respeito de Luís foi:
- Eu tenho medo desse menino, não deixo meus filhos brincarem com ele.
Isso foi dito numa sala de professores, durante uma conversa coletiva, a respeito do filho de uma diretora de escola. A seguir a professora que disse a frase acima relatou seu pq. Disse que num churrasco de confraternização viu Luís tentar seguidamente afogar outra criança, filha de uma professora entretida demais com o churrasco para preocupar-se com seu filho. Contou-nos que pulou na piscina e resgatou à vítima, que desesperadamente lutava por sua vida.
Após colocar a criança no deck, já segura, disse que virou-se para Luís e perguntou:
- O que vc estava fazendo?!
Com um brilho metálico e frio desenhando uma sombra de crueldade em seus olhos, Luís disse:
- Eu só estava ensinando ele a nadar...
A professora disse que ele arrematou essa frase com um sorriso que causou-lhe um arrepio na espinha, ao perceber que a criança de 8 anos não estava meramente de forma irrefletida brincando perigosamente com o coleguinha, mas que Luís não só estava tentando dolosamente assassiná-la como já tinha na ponta da língua seu álibi pré-fabricado. Percebeu que Luís era um sociopata, e que todos os que estivessem ao seu alcance corriam risco de vida.
Concluiu dizendo que Luís era o príncipe de sua casa, filho único, muito inteligente, fazia judô e tocava piano; estava sempre impecavelmente vestido, cheio dos brinquedos modernos, dos quais era cumulado por seus pais que muito trabalhavam, para remediar sua ausência cotidiana. Luís era cheio de coisas e vazio de valores.
Por Rudá chamarei ao irmão da famosa indiazinha suruwahá Hakani. Hakani nasceu numa reserva indígena. Com o passar do tempo, sua gemeinschaft percebeu que ela não crescia nem desenvolvia-se “normalmente” como as outras crianças. Socialmente percebido que ela era portadora de algum tipo de deficiência, a aldeia legislou que Hakani deveria ser morta, para não tornar-se um peso para sua comunidade.
Muitos criticam ou mesmo legitimam o infanticídio indígena. É compreensível que numa vida tão dura a comunidade queira, racionalmente, “livrar-se” rapidamente daqueles que não poderão “trabalhar”, mas apenas vampirizarão os parcos recursos comunitários, sem contribuir positivamente. Obviamente não compactuo, mas compreendo essa prática. Outro costume indígena é o de livrar-se dos segundos, terceiros, quartos, gêmeos. Ter múltiplos é coisa de animais. Humanos têm apenas 1 filho de cada vez, e a crença indígena é de que se alguém tiver um irmão gêmeo, nunca conseguirá formar devidamente sua personalidade e que, a existir um duplo de alguém, necessariamente um será o “gêmeo mau” e outro será o “gêmeo bom”. Para resolver esse problema, é mais fácil simplesmente assassinar aos gêmeos nascidos depois do primeiro, quantos forem.
Muitos lerão no parágrafo superior a comprovação do primitivismo das sociedades pretensamente “selvagens”. Mas não deveriam. Apenas para colocar isso em perspectiva, vai uma curiosidade antropológica: os índios brasileiros jamais batem em seus filhos. Disso sei pois tal foi relatado com surpresa pelos jesuítas que vieram à América Portuguesa catequizar aos silvícolas. Li certa vez que um jesuíta surpreendeu-se enormemente quando, ao levantar a mão para açoitar um erê indisciplinado, teve sua mão segurada no ar por um índio que sequer era parente da criança. O índio impediu que o jesuíta batesse nela e lhe explicou, provavelmente em guarani:
- Não pode bater em criança. A alma foge.
Índios não batem em guris pois essa violência pode assustar e afugentar a alma da criança, que pode escapar-lhe do corpo pelos maus-tratos. Portanto compreendam: a aldeia pode até decretar a aniquilação de uma criança. Mas jamais a agredirá, por nenhum motivo.
Quando a aldeia decretou o holocausto de Hakani seus pais deveriam ser a primeira mão a executá-la. Para furtarem-se a isto, ambos os seus genitores cometeram suicídio. Mas isto não foi suficiente para poupar a vida de Hakani, que agora órfã seria um peso comunitário ainda maior. Por conta disso seus irmãos foram encarregados da execução.
Um sepulcro foi cavado e Hakani foi enterrada viva. Rudá, seu irmão mais velho, agora o chefe da família aos 8 anos de idade, não suportou ouvir, sob a terra, o choro de sua irmã já sepultada. Num lance de inacreditável coragem e Humanidade, desenterrou Hakani, enfrentou toda a sua aldeia e disse, desconheço em qual língua:
- Ela é minha irmã e eu não deixarei que ela morra.
Rudá sabia que estava a assinar sua proscrição. Condenado ao ostracismo aos 8 anos foi banido de sua aldeia; e levando o bebê Hakani nos braços, foi obrigado a retirar-se de sua comunidade para viver sozinho, com uma lactente de saúde frágil na floresta amazônica, cheia de onças, sucuris, jibóias, cascavéis, sapos venenosos, milhares de mosquitos e muitos mais perigos que apenas posso imaginar.
Não se sabe como, Rudá conseguiu manter Hakani viva por 2 ou 3 anos. Completamente sozinho na floresta amazônica, sem nenhum auxílio, exposto às intempéries, à fome, à seca, às doenças, aos predadores. Quando Rudá percebeu que a saúde de sua irmã estava frágil demais para que ele pudesse cuidá-la, agora aos 10 ou 11 anos raciocinou que talvez os “brancos” pudessem fazer por ela o que estava além de seu alcance. Temendo a morte premente de sua amada irmã, Rudá procurou um grupo de missionários estrangeiros que estavam ali para catequizar aos silvícolas (desta vez na religião protestante, e não católica como os jesuítas, embora para os aborígines brasileiros não haja nenhuma diferença entre eles) e entregou-lhes Hakani, que ele temia estar à beira da morte.
Vi, pela televisão, a foto que esses missionários tiraram de Hakani ao recebê-la. Ela resumia-se a uma gigantesca barriga d’água. Emaciada, cadavérica, minúscula. Parecia grávida de seu parasita. E sua aparência era de quase morta, demonstrando que Rudá esperara até o último momento de desespero antes de separar-se dela. Após entregá-la, Rudá, saudável, foi reacolhido por sua comunidade, onde vive ainda hoje.
Hoje Hakani é uma cidadã americana. Foi adotada por uma família que mora no Hawaii e os médicos yankees descobriram que sua deficiência era o cretinismo, um distúrbio da tireóide contornável com medicação. E a menina que ainda bebê foi enterrada viva cresce e floresce, agradecida pela coragem de Rudá ao salvá-la, percebendo que o que todos os adultos circundantes ordenavam-lhe fazer não era Humano. Expondo sua própria vida ao perigo, enfrentando a todos que deviam dizer-lhe o que fazer, Rudá salvou a vida de sua irmã.
Como Rudá, índio que muitos rotulariam como “selvagem”, poderia ser portador de uma Humanidade muito mais exacerbada que a de Luís, o mimadinho menino de classe média, que nunca teria barriga d’água, malária, nem seria espreitado por uma onça? O que leva um indiozinho a ser gauche na vida e um Luisinho a tentar matar seu coleguinha de forma premeditada e com álibi programado?
Pq o “bárbaro” é civilizado e o “civilizado” é bárbaro?
Qual é a diferença que faz de Rudá um Humano e de Luís um mero homo sapiens sapiens?
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Por que tantos presidiários se dizem "de Jesus"?
Explicitado o alerta, vamos ao questionamento.
Não sei quantos de vcs já passaram pela experiência de estar encarcerado ou trabalhar num cárcere. Graças a Deus nunca estive presa, mas já tive oportunidade de trabalhar em duas instituições prisionais: a Fundação CASA, que interna menores infratores (antiga FEBEM), e o Centro de Ressocialização Masculino de minha cidade, com prisioneiros adultos aguardando julgamento, em regime fechado ou em semi-aberto.

Tb deve ser apontado que toda instituição prisional brasileira é (ou deveria ser) aberta à atuação de conselheiros e líderes espirituais de qualquer religião, no serviço conhecido como "capelania". E que em minha experiência percebi a atuação de apenas um grupo católico e de diversos grupos evangélicos, de diversas igrejas, sendo os evangélicos mais militantes e engajados em sua "pastoral carcerária". Jamais tive notícia do interesse de qquer outra vertente religiosa em oferecer assistência espiritual ou moral aos encarcerados nos locais onde trabalhei.

Algumas hipóteses que elaborei são:
a) Pura hipocrisia. Assim como fingem estar arrependidos, os criminosos fingem ter se tornado religiosos.
b) Real conversão devida ao arrependimento e à atuação dos conselheiros religiosos que trabalham nas instituições prisionais.
c) Estratégia de sobrevivência. Os demais presidiários tendem a respeitar e a não mexer com quem se diz "de Jesus".
d) Problema inerente à teologia cristã-paulina, que ao dizer que a Lei foi revogada e Jesus já pagou por todos os nossos pecados, deixa a janela aberta para a pessoa prosseguir cometendo crimes sem peso na consciência, pois somos todos pecadores.
e) Como a maior parte dos evangélicos pertence aos estratos mais pobres da população e os encarcerados pertencem, em sua maioria, a essa classe social, sendo que mais pobres ficam pesos e mais pobres são evangélicos, isso explica o fenômeno.
Pergunta Cristã Ridícula: Por que tantos presidiários se dizem "de Jesus"?
[originalmente postado como tópico em minha comunidade do orkut *Perguntas Cristãs Ridículas* http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=14446807&tid=5513500224259778668