Até o Renascimento o Ocidente compreendia o Universo como uma cebola, cujo miolo seria a Terra, e em cujas esferas superiores circulariam as estrelas e o “Céu”. O nome científico para isso seria o Geocentrismo, a noção de que a Terra seria o centro do Universo.
Então veio Nicolau Copérnico e apresentou o Heliocentrismo, a noção de que não a Terra, mas o Sol seria o centro do Universo. Como tudo, ambas as noções são historicamente determinadas. O Geocentrismo pelo paradigma teológico de sua época. E o Heliocentrismo pelas possibilidades científico-tecnológicas de então.
Albert Einstein foi capaz de transcender os limites tecnológicos de sua época. Propôs teoricamente algo que, em seu tempo, não fôra até então observado. Inclusive, após a proposição de sua teoria, houve uma corrida de astrônomos atrás de um bom registro fotográfico de um eclipse solar, que poderia confirmar, ou cabalmente descartar, a proposição até então estritamente teórica de Einstein, de que a gravidade deforma o tecido do tempo-espaço. Que não são separados, mas manifestações de um mesmo continuum, percebido de 2 formas diferentes em nosso Universo tridimensional.
Se eu sou capaz de criar uma imagem que ilustre rapidamente uma implicação prática e observável da Relatividade Geral de Einstein, aqui vai: ela professa que o transcorrer com compasso espaço-temporal é relativo à velocidade e às forças gravitacionais à qual o observador está submetido. Tomemos como exemplo um astronauta que orbita a Terra. Em relação a nós, ele está acelerado a uma velocidade superior, portanto, o tempo para ele transcorre num compasso mais lento. Se antes de ir ao espaço ele sincronizou seu relógio de pulso com alguém que permaneceu na Terra em seu retorno, necessariamente, o relógio do astronauta marcará alguns segundos ou minutos a menos que o de quem permaneceu preso à Terra. E quanto maior foi o tempo da viagem espacial, maior será a discrepância entre os mostradores. Para fins práticos, todo astronauta viaja algumas frações de segundo para o Futuro ao (pelo menos parcialmente) desprender-se das amarras da gravidade terrestre.
Porém a Relatividade não é uma Lei apenas Física, mas verdadeiramente Universal, em todos os níveis da experiência observável humana. Pretendo explorar alguns exemplos variados a seguir.
1 – Luminosidade.
O que é o “claro” e o “escuro”? Depende da abertura de nosso diafragma ocular. Se vc esta num ambiente à plena luz e entra num quarto escuro, imediatamente vc nada vê, fica completamente cego. Porém, alguns segundos depois seus olhos calibram melhor o diafragma e vc começa a enxergar, mesmo que a ausência de luminosidade não se altere.
2 – Do paladar.
Numa festa de aniversário, já te serviram bolo com refrigerante? Isso não é horrível?!
Isso é horrível pela Lei Universal da Relatividade. Refrigerante, doce, é bom para acompanhar comidas salgadas pois há um contraste atraente entre ambos os sabores. Porém o bolo é mais doce que o refrigerante. E ao beber um gole de refrigerante depois de mastigar um pedaço de doce, o refrigerante não nos parece mais doce, e sim amargo. Pois comparadas as duas “doçuras”, o refrigerante perde.
Venho por meio desta confessar um “guilty pleasure” do qual me arrependerei. “Guilty pleasure” é um “prazer culposo”, algo do que vc gosta mais sabe que é ruim. Confesso. Não me orgulho, não recomendo, mas confesso: assisto ao programa “Keeping up with the Kardashians” e a seus desdobramentos “Kourtney & Khloe take Miami”, “Khloe and Lamar” e “Kourtey & Kim take New York” no E!, Entertainment Television. São reality shows que mostram o cotidiano dessa família, famosa por conta da exposição de Kim.
Para quem não faz parte do meu Universo, um breve resumo. Os anos 2.000 viram florescer a tendência dos “Reality Shows”. Começamos com o Big Brother, e de repente o voyerismo assumiu o controle da TV. Figuras secundárias deste fenômeno são os paparazzi. Paparazzo em italiano significa “mosquito”. Este termo foi aplicado, creio que por Fellini, para referir-se aos fotógrafos de celebridades que incomodam como mosquitos aos famosos, ou não, que perseguem.
Não foi apenas nos anos 2000 que soubemos deles. Em 1997 muito foi alardeada a possibilidade de ter sido um paparazzo, num Fiat azul, o causador do acidente que matou Lady Diana Spencer.
Dentre várias celebridades incessantemente perseguidas, um dos melhores exemplos é o de Britney Spears. Enquanto adolescente, ela foi a “princesinha do Pop”. Ao atingir a maturidade, casar-se e tornar-se mãe, foi sucessiva e impiedosamente flagrada nas piores situações possíveis. Magra. Gorda. Com calcinha. Sem calcinha. Careca e cabeluda. Até agrediu com um guarda-chuvas um fotógrafo. Namorou outro. Chegou a ser flagrada dentro de uma ambulância, na Emergência do Hospital.
Em diversas ocasiões festivas, Britney foi fotografada ao lado de “It Girls” de Los Angeles, mas desconhecidas pelos “simples mortais” ao redor do mundo. Duas delas começaram a ser famosas apenas após flagradas na companhia festiva de Britney Spears: Paris Hilton e Kim Kardashian. E se transformaram imediatamente em duas “famosas” por serem “famosas”. Britney ao menos cantava (ainda que mal). Mas e Paris e Kim?
Pelo sobrenome pode-se fazer a ligação de Paris à cadeia de hotéis Hilton, da qual é herdeira. Kim é filha do famoso advogado de O. J. Simpson Robert Kardashian, e é enteada do atleta olímpico Bruce Jenner.
Para quem nunca viu Kim Kardashian, uma forma de imaginá-la é lembrar-se da princesa Jasmine do desenho “Alladin” da Disney. Porém Kimberly Kardashian é, fisicamente, o que a princesa Jasmine não é, em beleza, à décima potência. Nem um desenhista da Disney seria capaz de projetar, idealmente, uma beleza tão perfeita quanto a que Kim Kardashian tem, tangilmente. Nas palavras de Kelly Osbourne, comentarista do “Fasion Police on E!”: Kim Kardashian é a mais bela mulher que já pisou a face da Terra.
Sua beleza é simplesmente perfeita. Não apenas seu rosto é maravilhosamente bem calculado por algum sumo matemático, como seu corpo é maravilhosamente bem-torneado, com um derriére que de tão avantajado parece até artificialmente turbinado.
Pq qquer uma dessas observações é pertinente à Relatividade? Por conta de Kourtney Kardashian. Kourtney também é uma mulher maravilhosamente bela, com um corpo bem-feito. Quando apenas Kourtney aparece na tela, sua beleza nos atinge maravilhosamente.
Até que Kim apareça.
Embora Kourtney seja uma mulher belíssima, quando contraposta no mesmo frame a Kim, não há como, visualmente, perceber que na presença da irmã perfeita a beleza de Kourtney se apaga tanto quanto a doçura do refrigerante contraposta ao sabor do bolo.
Houvesse Kourtney nascido em qquer outra família, seria “a mais bonita das irmãs”. Porém teve a má sorte de receber como sua caçulinha “a mais bela mulher que já pisou a face da Terra” e diante disso, relativamente, jamais poderá considerar-se realmente bonita. Muito mais corpos gravitarão ao redor de Kim do que ao redor dela.
4 – Do progresso tecnológico.
Sinceramente, qquer ser humano que reclame da existência hj é um grande bunda-mole. O avanço tecnológico da Humanidade facilitou nossa existência de tantas maneiras que um viajante do tempo que chegasse hj vindo de 2 mil anos atrás ficaria rapidamente convencido que grande parte do que ele almejava por uma “vida paradisíaca”, nós já desfrutamos.
Alguns exemplos brasileiros.
Os pioneiros paulistas precisaram, por séculos, escalar manualmente a “Muralha”, a Serra do Mar que divide a Baixada Santista do Planalto Paulista. A árdua escalada durava dias ou até semanas. Hoje, num dia sem trânsito, chega-se de São Paulo a Santos em menos de meia hora, de carro, pela Rodovia dos Imigrantes. Também por séculos, para transportar a produção do planalto paulista ao porto de Santos, eram necessárias tropas de mulas e semanas de viagem. (Por isso foi escrito o livro “Rio Claro” de Warren Dean). Já adiantado o século XIX, algumas horas de viagem de trem. Hoje, de carro, da minha casa no coração do interior paulista, eu dobro apenas 4 esquinas e levo 2h15 para chegar à Marginal.
Duas palavras que transformaram o mundo: energia elétrica. Quantos poetas forçaram seus olhos para ler preciosos e raros livros à luz de velas? Hj todos nós temos à plena luz e à ponta dos dedos via Internet qquer livro que queiramos.
E ainda assim reclamamos.
Nunca nos daremos por satisfeitos pois todas as nossas noções de comparações são historicamente determinadas pelo que nos cerca. Um viajante do passado ficaria maravilhado com todas as nossas facilidades modernas. Nós, porém, acostumados a elas, não lhes damos valor, nem nos sentimos presenteados por termos a nossa vida tornada infinitamente mais fácil pela tecnologia.
Tenho a consciência de testemunhar um momento de transição histórica propiciado pelo avanço da tecnologia. A informática transformará completamente as relações humanas, e apenas engatinhamos nesse sentido.
Estamos saindo da vida analógica para a digital. Testemunhamos a transição para a realidade 2.0, para a Grande Revolução do Admirável Novo Mundo.
Valerá a pena a espera.
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