domingo, 31 de julho de 2011

Dois axiomas universalmente verdadeiros

“Axioma” deriva de “Axis”, ou “Eixo”, algo em torno do que as linhas retas pautam-se, um parâmetro a partir do qual a realidade é estabelecida, fixada.

O Axioma diferencia-se do Dogma por “Dogma” carregar a questão da necessidade de uma declaração cega de fé e o axioma proclamar-se uma verdade auto-evidente, reverificável, qquer que seja o prisma analítico.

A rigor, em nosso mundo, não existem axiomas verdadeiros, apenas aparentes. Tal qual nenhum círculo que possamos desenhar descreverá uma circunferência perfeita. Tal qual nenhuma reta que tracemos será, ao fim e ao cabo, verdadeiramente retilínea. Pois, como afirmou Pitágoras “Não existem retas reais”.

Nós gostamos de ter conosco certas certezas que pautem nossa vida, que nos tragam conforto e estabilidade, sejam Dogmas ou Axiomas. Ou mesmo coisas muito inferiores a isso, certezas às quais chegamos sozinhos, conclusões tiradas de nossa parca experiência de vida.

Quando jovens, muitos de nós cultivam certezas tolas do quilate:

- Só me arrependo do que não fiz.

- Live fast, die pretty. (Viva rápido, morra bonito)

E outras besteiras deste tipo que nos dão a falsa impressão de termos algum tipo de controle sobre nossa vida. Eu mesma, quando mais jovem, cultivei como certezas infindáveis baboseiras que hj, na maturidade, sei melhor adjetivar. E embora certa de que nada que eu possa afirmar como verdade verdadeiramente o seja, mas dando prosseguimento à inescapável espiral de ilusões na qual giramos em falso, escrevo este texto para divulgar dois axiomas que até agora não pude comprovar irreais.

E que possuem certo substrato pseudo-humorístico.

*Verdade Universal Número 1*

- Nunca diga que alguém não serve para nada, pois ao menos de mau exemplo ela serve.

Sabedoria de botequim? Com certeza, porém parem para pensar sob diversos ângulos. Perceberão que tudo, todos, qquer acontecimento, mesmo que deletério, serve ao menos de lição para que a burrice não seja repetida. Por isso Historia magistra vitae est. (A História é a professora da vida), pois ao observar o resultado das ações do passado podemos repensar sobre nossas ações presentes para não chafurdar na mesma lama de outrora.

*Verdade Universal Número 2*

- Nunca diga que alguém não vale nada, pois todos nós carregamos US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares) em órgãos.

Verdade chinfrim de fim de noite? Com certeza. Porém tal frase descreve a mais absoluta verdade. Conforme vivemos num mundo sob a “Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão”, não existem “açougues” de carne humana. Ou existem?

No Brasil, a venda ou aluguel de material biológico humano é ilegal. Uma mulher não pode alugar seu útero como “barriga de aluguel”. Um homem não pode vender seu esperma. Nos EUA, nada disso é ilegal. Muitas mulheres se sustentam como barrigas de alugue, doadoras de óvulos ou mesmo de sangue. Coisas que se regeneram naturalmente. A venda de órgãos, porém, é ilegal.

Retirar órgãos com função fisiológica é irracional e podemos nos perguntar pq alguém faria isso. No “lado A” da vida as pessoas podem fazê-lo por um motivo altamente meritório: salvar a vida de alguém. Doar a medula óssea, parte de seu fígado ou mesmo um de seus rins para um parente, ou mesmo desconhecido, é um dos atos de maior abnegação conhecidos em nosso mundo. Prescindir de um órgão “por amor” ou “por caridade” é socialmente visto como um ato de extrema bondade. Quase que um “passe livre” para o “Céu”.

Porém, o mesmíssimo ato, abrir mão de um órgão para salvar a vida de outra pessoa, é visto como um anátema, um crime contra Deus, se a equação envolver recompensa monetária. Doar um rim é lindo. Vender um rim é crime. Não estou a questionar isso. Apenas a apontar como o envolvimento de dinheiro em questões corporais é um anátema em nossa sociedade.

Mas um rim, sozinho, no mercado negro de órgãos não vale um milhão de dólares. Esse é o valor estimado do conjunto dos órgãos transplantáveis retirados de um corpo humano adulto e saudável. Mas como alguém poderia saber disso? Por acaso alguém já se vendeu inteiro, no esquema “Me retalhem, e dêem o um milhão de dólares para minha família”?

Não sei. Mas por conta de diversas reportagens ouvi essa cifra. E fiquei sabendo que esse é o valor que o governo chinês aufere da venda dos órgãos dos múltiplos condenados à pena de morte neste país. Isso deveria ser, e é, chocante. Que algum governo reconhecido internacionalmente trate seu sistema carcerário como um açougue de cortes finíssimos, com um repositório diversificado de órgãos esperando chegar o pedido de compatibilidade, que ao dar Bingo! determina a execução do apenado-doador.

Talvez isso seja apenas mais uma lenda urbana, tal qual a de alguém que acorda sem os rins numa banheira cheia de gelo. Mas posso afirmar de forma axiomática que ouvi relatos verdadeiros de pessoas transplantadas que compraram órgãos humanos de origem chinesa no mercado negro.

Tristes são as poucas verdades verificáveis nesta vida.

Um comentário:

  1. Olá Fernanda!
    A certeza que temos é que essa vida é passageira; que o dinheiro não compra saúde, paz e alegria e que os dias são preparados por Deus aos seus.
    Colha bons dias!
    Tenha um abençoado agosto!

    Quero lhe convidar para ver e comentar ‘O casamento de Sarah’ no http://jefhcardoso.blogspot.com

    “Que a escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (Jefhcardoso)

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