Humildade é um conceito complexo, e muitas vezes difícil de compreender. Muitas pessoas confundem humildade com fraqueza, auto-desvalorização, falta de confiança em si próprio.
Muitos acham q a humildade é uma espécie de "máscara social" q as pessoas aprendem a usar de acordo com a conveniência, para "se sair bem" e não parecerem arrogantes quando elogiados.
Por exemplo, quando uma pessoa é muito bonita, ou inteligente, ao ser elogiada por essas características "pega mal" ela concordar com quem a elogiou dizendo "é verdade, eu sou um gato; ou eu sou um gênio". E fica muito melhor, socialmente, ela dizer "imagina, é q hj me arrumei um pouquinho" ou então "ah, eu sou burra em diversas coisas".
Mas a verdadeira humildade não existe "para ficar bem com os outros", não parte de uma preocupação consigo próprio. A verdadeira modéstia nasce da percepção do mundo q nos cerca. Uma pessoa bonita não deve dizer o supracitado para evitar parecer arrogante, mas pelo apercebimento objetivo de q existem milhões de pessoas mais belas q ela. Uma pessoa inteligente não deve dizer o supracitado para evitar q seus amigos invejem suas capacidades intelectuais, mas por saber q na verdade, comparada ao verdadeiros gênios, tem uma capacidade cognitiva quase mediana.
Uma pessoa extremamente bonita e inteligente se achará o ápice da espécie humana até amadurecer, ganhar experiência, e pela vida encontrar dezenas de pessoas melhores q ela. E mais humildes, modestas, a este respeito do q ela. Apenas quando saímos do nosso casulo da segurança individual, ganhamos experiência de vida, sucessivamente quebramos a cara e nos decepcionamos, passamos a ser mais observadores, aprendemos mais a ouvir do q falar, percebemos nossa pequenez, nossos limites, nossa visão parcial e limitada ao que queremos ver.
Para ilustrar o q pretendo expor vou usar um exemplo. O exemplo do maior profeta q o povo de Israel já teve, Moshe (Moisés). Há várias formas de responder pq, dentre todos os israelitas, justamente foi ele o escolhido para ter uma intimidade tão grande com HaShem. Há quem diga q foi por sua linhagem, há quem diga q foi por seu zelo e coragem.
Eu acredito q foi por sua humildade. Q ele foi escolhido por "não se achar grande coisa". Pois, se ele fosse cheio de si, não obedeceria cegamente, se acharia no direito de fazer "a sua Lei" e não estaria propenso a obedecer em tudo, cegamente, o q lhe era ordenado. Vejamos algumas passagens de sua vida.
Ex 3:
11 Então Moisés disse a D'us: «Quem sou eu para ir até o Faraó e tirar os filhos de Israel lá do Egito?»
Ex 4:
10 Moisés insistiu com D'us: «Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar, nem ontem, nem anteontem, nem depois que falaste ao teu servo; minha boca e minha língua são pesadas». 11 D'us replicou: «Quem dá a boca para o homem? Quem o torna mudo ou surdo, capaz de ver ou cego? Não sou eu, HaShem? 12 Agora vá, e eu estarei em sua boca e lhe ensinarei o que você há de falar».
13 Moisés, porém, insistiu: «Não, meu Senhor, envia o intermediário que quiseres». 14 D'us ficou irritado com Moisés e lhe disse: «Você não tem o seu irmão Aarão, o levita? Sei que ele sabe falar bem. Ele está vindo ao seu encontro e ficará alegre em ver você.
Moisés é tão modesto, "acha" tão pouco de si q isso até irrita a D'us. Mesmo diretamente recrutado, pessoalmente, pelo Criador, Moisés não se acha digno da tarefa. Pede q HaShem escolha outro em seu lugar, não se acha capaz, expõe seus defeitos.
Caso Moisés fosse o tipo de pessoa q nessa situação dissesse "realmente, eu sou muito santo, um líder nato, o Senhor não poderia ter escolhido melhor" ele não teria sido escolhido para tarefa tão importante. Pois se fosse esse tipo de pessoa tão "convencida e cheia de si" colocaria o próprio ego, os próprios interesses e conveniências, acima das ordens q recebia.
Na Torah há diversos alertas para o povo não ficar "convencido" e cheio de si, vejam 2:
Dt 8:
17 Portanto, não vá pensar: ‘Foi a minha força e o poder de minhas mãos que me conquistaram essas riquezas’.
Dt 9:
4 Quando Javé seu D'us os tiver expulsado da sua frente, não vá pensar: ‘Foi por causa da minha justiça que D'us me fez entrar e tomar posse desta terra’. Não. É por causa da injustiça dessas nações que D'us as expulsará da sua frente. 5 Se você vai conquistar essas terras, não é por causa da sua justiça e honradez, e sim porque HaShem seu D'us vai expulsá-las da sua frente por causa da injustiça delas, e também para cumprir a promessa que ele havia jurado a seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó. 6 Saiba, portanto: não é por causa da justiça de você que HaShem seu D'us lhe concede possuir esta terra boa, pois você é um povo de cabeça dura.
Muitas vezes, quando nos deparamos com pessoas q têm um conhecimento menor q o nosso, é comum sermos arrogantes, "superiores" e professorais no sentido "percebi q vc não sabe nada, só fala bobagem; agora cale-se e aprenda com quem realmente sabe". Tudo o q for dito depois disso pode ser até bom e elaborado, mas já nasce com um vício original. Foi plantado de forma adversa, diz muito mais sobre o quanto quem o expõe "se acha o máximo e gosta de usar seu conhecimento para se exibir, diminuir e humilhar os outros." O q demonstra q essa pessoa pode até entender muito de teoria, mas seus conhecimentos não são usados na prática.
Ao explicar, ou argumentar com pessoas q achamos ter menor conhecimento, devemos ter o cuidado de nos expressar de forma q a mensagem seja recebida de forma propícia, não como uma crítica, não de forma a "diminuir" o outro. Não devemos agir como se estivéssemos encastelados numa imaculada torre de marfim, devemos "ficar no mesmo nível", explicar de forma q a outra pessoa compreenda.
Exemplo fácil. Vc vê uma criança pequena colocando o dedo na tomada. De nada adianta falar-lhe "vc é muito burra, assim vc vai morrer" ou então dar uma explicação técnica sobre elétrons e correntes alternadas. É necessário ser maduro, não agir com a mesma infantilidade da criança, explicar-lhe de forma q ela entenda "assim vc vai fazer dodói, da tomada sai um 'raio' q machuca se vc colocar o dedo".
É preciso explicar cada coisa da forma mais calorosa, paciente, e apropriada à compreensão do destinatário, de forma q essa explicação lhe acrescente, faça com q ele cresça. Devemos perceber q explicar uma coisa para alguém não é uma oportunidade de exibirmos nossa erudição, nossos "grandes conhecimentos", mas sim é uma chance de contribuir com a evolução dos q nos cercam.
Devemos ter consciência de q, por mais q saibamos (ou achamos q sabemos) há pelo menos 5 mil pessoas no mundo q sabem sobre isso muito mais q nós, com maior profundidade, e q elas não se gabam disso. E não se gabam justamente pq elas próprias sabem q existem outras mil pessoas q sabem mais q elas próprias. E mesmo a mais sábia dentre essas mil pessoas, se perguntada, agirá justamente como Moisés; dirá "quem sou eu para tão grande responsabilidade? Há outros muito melhores q eu!"
Concluindo, acredito q HaShem escolheu Moisés, q passou a ser referido por "Moshe Rabenu" (Moisés, nosso pai), justamente por saber q ele teria a maturidade, a experiência, a compreensão "psicológica" do outro, para orientar de forma adequada, com as palavras corretas, pacientemente, ao povo de Israel. Por saber q ele não se colocaria àfrente do povo, mas sim o povo àfrente se si (cf Ex 32:32; Dt 9: 8, 14, 26).
Moisés não foi escolhido por ser o q melhor guardava a Lei, por saber todas as regras de cashrut, por sua eloquência, por nunca ter se contaminado com a idolatria (afinal, ele era um príncipe do Egito), por nunca ter pecado (vcs lembram do egípcio q ele matou? Cf Ex 2:12), por ser um "líder nato", por ter sido "preparado" para isso.
Acredito q o motivo fundamental q fez HaShem escolher Moisés foi justamente este:
Nm 12:
3 Moisés era o homem mais humilde entre todos os homens da terra.
E este foi o grande diferencial deste grande homem: sendo grande, achava-se pequeno. Mesmo quando HaShem o convocou pessoalmente, achou-se pouco digno, pouco preparado, aquém, incapaz de cumprir tão importante tarefa.
E é por isso que
Dt 34:
10 Em Israel nunca mais surgiu outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia face a face.
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