sábado, 13 de agosto de 2011

É impossível ser ritualmente puro em vernáculo



Há alguns anos compreendi que minha mente processa as informações diferentemente dos demais. Tal é tão difícil de externar quanto tentar descrever a diferença entre o “groselha”, o “grená” e o “madressilva” a um homem, para quem todos estes matizes resumem-se ao “vinho”.

Aos poucos venho compreendendo como nossa experiência do “real” assemelha-se a uma interface gráfica, que nasce desconfigurada, ou com erros de processamento, em alguns. Aos poucos venho percebendo os processos em “stand by”, como gadgets latentes, cujo acervo cada um tem individualizado, em HD’s com diferentes processadores, versatilidade e rapidez.

Mas o mote deste texto é outro. Seu intróito apenas se justifica para explicar de que forma curiosa cheguei à conclusão de que é impossível ser ritualmente puro vivendo em vernáculo. E por “vernáculo” compreenda-se qquer outra língua que não o hebraico.

Estava eu, inadvertidamente, assistindo no National Geographic Channel, a um documentário sobre a “Onda Revolucionária” que varreu o mundo árabe em 2011. Um ancião, provavelmente sacerdote da religião islâmica, prestava, em árabe, declarações sobre o que pensava do movimento. Quando, sem esperar, decifrei algo do que ele falava, completamente sem aviso:

- ...Twenty Fifth of January...

Imediatamente espocaram-me 2 coisas na mente, sem que eu o esperasse: a imagem de um deus com duas faces e o mandamento da Torah de que não podemos pronunciar nomes de falsos deuses.

Como não entendo árabe, me perguntei: pq ele falara em inglês? Pq ele usara o calendário ocidental em sua referência de data e não o calendário árabe? Haveria no Corão uma interdição semelhante à presente em Êxodo 23:13?

Um judeu extremamente zeloso poderia, com toda razão, recusar-se a pronunciar praticamente todos os nomes dos meses do ano e todos os nomes dos dias da semana, pois nas mais variadas línguas ocidentais, nossas referências calendáricas são, determinantemente, referentes a deuses romanos, ou a romanos endeusados, como Janos, Marte, Juno, Júlio César, Otávio Augusto e assim por diante.

E como imagino que seria impossível viver sem jamais pronunciar, mesmo que inadvertidamente, referências calendáricas em nosso cotidiano, fica a conclusão óbvia: todo aquele que pronuncia o nome de meses como janeiro, março, junho, julho e agosto está a invocar deuses idólatras, a pronunciar seus nomes e, portanto, a violar o mandamento da Torah que nos proíbe pronunciar o nome de outros deuses.

Portanto, é impossível ser ritualmente puro falando qquer língua que não o hebraico. E mesmo com ele há de se ter cuidado e pesquisar a raiz de cada termo.

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