domingo, 29 de abril de 2012

Da depresssao. Ou por uma vida com proposito

Este não é um texto de auto-ajuda pois abomino essa corrente editorial e tudo dela derivado. Normalmente a auto-ajuda digressa sobre platitudes "motivacionais" q se pretendem um "apanágio universal" para a dor da existência, se arrogando em poder direcionar para o "caminho do sucesso" a qquer um q colocar em prática seu "manual polivalente para todas as circunstâncias". Se vc acredita q ler um livro de um pseudo-cientista do comportamento humano pode "dar um jeito definitivo" na sua vida sinto informar q vc está profundamente iludido.

Por muitos anos sofri de depressão e creio q dela tenha me curado, ou ao menos melhorado bastante, e é o relato de como isso se deu q pretendo fazer a seguir. Não como um guia universal, mas como caso ilustrativo.

Não sou contrária à alopatia em geral nem aos medicamentos psiquiátricos em específico, há casos em q ambos se fazem fundamentais. Porém minha experiência com medicamentos para depressão não foi muito positiva. Eu mesma solicitei q meu médico do Hospital Universitário da USP me prescrevesse um antidepressivo, e o escolhido foi o Cloridrato de Sertralina, princípio ativo do Zoloft.

Tudo o q este remédio fez por mim foi não conseguir dormir nem me alimentar por uns 15 dias. Perdi neste período 6kgs. e ganhei grandes olheiras. Contudo, o prossegui tomando por mais de 1 ano, sem melhora perceptível no meu estado depressivo. Não estou a dizer q este medicamento não funcione, mas para meu caso ele foi inócuo. Não propriamente "inócuo", pois tomá-lo causava um grande rombo em minhas parcas finanças estudantis, custando à época cerca de R$ 100,00 a caixa do genérico. Mero detalhe prático q demonstra q estava de fato levando a sério o tratamento.

A psicoterapia levada a cabo pelo doutor PGA foi igualmente inócua. Não q ele seja mau profissional, longe disso. Doutor Pedro sempre foi muito profissional, eu é q não estava preparada para lidar com questões pessoais mais profundas. E nas principais questões q me levaram à depressão nem chegamos a tocar em nossas sessões. Eu me escondia de mim mesma, como iria me abrir a um "médico"? Eu mesma não queria encarar, enfrentar nem "tentar resolver" meus problemas fundamentais. Não estava madura o suficiente para isso.

Muitos anos depois, mais calejada e vivida, percebi a origem de minha depressão: meu apego ao passado. Não foi à toa q optei pela faculdade de História, mas por esta característica fundamental da minha psique. E descobri q era essa minha "saudade" ou "nostalgia" q resultava na minha melancolia, ou acídia: a recusa em aceitar q as coisas mudam, e o desejo de restaurá-las à forma como eram anteriormente; um esforço completamente infrutífero, pois o tempo não volta.

Enquanto meu referencial foi o passado estive em permanente estado de depressão. No momento em q troquei o passado pelo futuro, a depressão deu uma boa trégua. Isso se deu quando criei um propósito para minha trajetória pessoal: abandonei o passado e passei a fazer planos para o futuro.

Como membro do gênero feminino no Ocidente, fui criada sob o bombardeio sócio-cultural do q a sociedade esperava de mim: q eu encontrasse um marido e dele tivesse filhos, de forma a me sentir "realizada"; e aos 15 anos não tinha nenhuma dúvida de q lá pelos 25 isso já estaria feito e todo o resto do meu "Destino" seria um desdobramento da família q eu já teria a esta altura "conquistado".

De certa forma deprimi-me por perceber meu fracasso em preencher este modelo. Pela impressão de q estava a falhar no q sociedade esperava de mim. Os 25 anos se aproximavam e eu estava longe de ter um namorado sério q tencionasse comigo se casar e ter filhos. A muito custo cheguei à conclusão de q este modelo de felicidade não dava para mim, não me bastava nem me satisfaria. Q o q me faria feliz não seria ser uma esposa-troféu e dona-de-casa modelo, nem uma mãe q se basta nisso, em "ser mãe".

Percebi q me casar e ter filhos não ajudaria na minha concretização pessoal, pelo contrário, atrapalharia meus reais objetivos. Os quais não existiam quando estava deprimida. Durante minha depressão eu não tinha planos, só lamúrias. Não pensava no futuro, só remoía o passado.

Foi um longo processo, mas certo dia acordei e ao invés de permanecer deitada por falta de vontade de lidar com a vida, rapidamente estava em pé. Não pelo efeito de algum remédio, mas por uma mudança psicológica interna: acordei com vontade de realizar um projeto.

Percebi q depois de colocar em minha cabeça q havia algo ao meu alcance q eu poderia realizar e me daria prazer a depressão meio q "sumiu". Minha vida parou de girar em falso, cessou de ser um eterno retorno aos mesmos temas dolorosos e passou a se centrar no futuro. Agora eu tinha um plano. Acordar, a cada dia, não era mais um peso, mas um oportunidade. Os dias deixaram de ser vazios e ganharam um novo significado. Agora eu tinha uma meta a atingir.

Aos depressivos deixo este conselho: escolham um propósito para sua vida. O simples fato de vc ter uma meta para o futuro melhorará o seu hoje. Pode ser escrever num blog, correr a São Silvestre, ser um profissional reconhecido, publicar um livro. O q importa não é a meta, mas o fato de vc mudar seu referencial do passado, escrito e imutável, q não há de "melhorar"; pelo futuro, por escrever, por construir e q pode ser muito melhor a depender de sua gana em chegar lá.

Enquanto ficarmos remoendo o passado, nada há de mudar. Quando passarmos a nos focar no futuro encontraremos um campo aberto pleno de possibilidades, cheio de virtualidades, prenhe de acontecimentos ainda por se fazer conhecer e q seguramente nos surpreenderão. Se o teu passado te deprime, deixe-o para trás. Erija com suas próprias mãos um futuro. Se não "melhor", ao menos "diferente". O passado está dado e jamais mudará. Já o futuro, ah o futuro, só depende de vc.

Não desista do futuro por conta do peso do passado. Deixe para trás quem te deixou para trás. Esqueça quem te esqueceu. Abra mão, deixe ir. Desistir de algumas pessoas e situações não é sinal de fracasso, mas de maturidade. Não viva o ontem. Nem o hj. Aspire o amanhã. E crie para ele um belo aroma. O aroma da realização pessoal. O cheiro do "eu conquistei isso com meu próprio esforço e capacidade".

Se vc não gosta do q vc foi nem do q vc é: reinvente-se. Invente para si mesmo um futuro do qual se orgulhar.


4 comentários:

  1. Quando fui tratar da minha depressão com a psiquiatra, ela só encontrava uma solução: Fluoxetina. Fiquei cabreiro, usei uma vez, e fiquei simplesmente dopado no trabalho. Conversei com ela sobre os efeitos, sobre o remédio, ela disse que era somente um "efeito colateral". Pedi para procurar uma terapia alternativa, e ela me disse: "mude de filosofia de vida". Foi o que fiz, e o que resolveu.

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    1. É verdade, nenhum remédio é capaz de operar uma mudança interna :)

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  2. Aprendi a lidar com o passado depois de muitos anos, o que me ajudou foi desabafar no blog e depois entender que não tinha como mudar o que passou. Triste e ruim mas era o meu passado e eu tinha de aprender a aceitá-lo e buscar viver bem. Tenho percebido uma melhora no meu modo de ver a vida mas ainda estou precisando revirar algumas características negativas que adquiri lá nos piores anos do deserto. :)

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    1. Escrever no blog tb funciona como terapia para mim :)

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