sábado, 30 de abril de 2011

O gosto de um “muito obrigado”

O ano de 2010 foi para mim especialmente ruim. Creio que nele conheci minha “Noite Escura da Alma” tal qual São João da Cruz. No fundo de meu desespero acalentou-me a canção “Long December” do Counting Crows na qual há o verso:

“Maybe this year may be better than the last.”

Especialmente durante a convalescença e falecimento de minha querida canis lupus angelicus Jade, pedi em minhas orações a Deus que o ano seguinte (este 2011) fosse melhor que o então corrente (2010). Expliquei-Lhe que faltavam-me forças. Faltava-me gana. Faltava-me brio. Faltava-me verve. Faltavam-me motivos. Via-me sem esperança nem perspectivas.

Sei que nosso Pai não nos impõe cargas mais pesadas das que possamos carregar, nem nos aflige com moléstias e revezes que não mereçamos; mas igualmente sei que por Sua Misericórdia, gosta de sempre que possível dar-nos sinais e conceder-nos alentos. Como os oásis, esparsos mas estratégicos no deserto.

Deus está constantemente atento a nós e, a cada minuto, alinhava com cuidado nossa trajetória, co-criada pelas escolhas que fazemos em nosso cego-arbítrio. Em especial, creio, apraz ao nosso Criador uma postura de, como poderia dizer, “rendição”. O colocar seu Destino em Suas Mãos, o pedir humildemente Sua orientação, Sua inspiração. Ou no meu caso, que Ele “desse um alívio” em 2011 pois 2010 fora-me bem pior do que “sofrível”.

É maravilhoso como quando Deus quer dar uma mensagem muito clara, ele é cristalino e ágil. Meu 2011 começou a ser melhor que meu 2010 logo em suas primeiras horas, já no dia primeiro de janeiro.

Acordei tarde por quádruplo motivo. Era sábado. O dia anterior fora Reveillon. Era feriado, dia da “Confraternização Universal”. Eu estava a gozar de merecidíssimas férias. Nas primeiras horas da tarde, o telefone tocou. Era minha madrinha, Maria José Tomasella. Contou-me que vira na rua de sua casa uma cachorrinha perdida e a “pegara”.

Maria José é uma pessoa com um coração terno até demais, e tem como prática o louvável hábito de abrigar cachorros que encontra perdidos pela rua, como é infelizmente tão comum no Brasil. Como sua casa não é tão grande, limita-se a ter, no máximo, 4 cachorras, sempre fêmeas, por vez. Sendo experiente nisso sabe diferenciar, ao ver na rua um cachorro, se ele é um vira-latas acostumado à “vida livre” e, portanto, capaz de se manter, ou um cachorro de estimação que está perdido, em pânico pelas ruas a procurar seus donos. A cachorrinha que acabara de encontrar estava nesta segunda categoria. Certamente tinha família, da qual perdera-se.

Como a cachorrinha estava muito assustadiça e desconfortável em meio às demais cachorras de Maria, ela havia-me ligado para perguntar se eu poderia abrigar temporariamente a cachorrinha que acabara de encontrar, pois como Jade falecera, eu não tinha nenhum cachorro em casa. Hesitei um segundo pois a casa em que moro não é “minha”, não está em meu nome. Contudo como minha avó estava viajando e não retornaria até o final do mês, aquiesci.

Enquanto dirigia até a casa de Maria perguntei-me se esta cachorrinha não seria um presente que Deus estava a me dar para melhorar meu ano e aplacar a dor que sentia e anda sinto pela ausência de Jade. Lá chegando, peguei-a em meus braços e por ela senti imediata ternura. Era s.r.d. (sem raça definida), pequena, multi-cor de ocre, cinza, branco e marrom.

Enquanto a levava de carro no curto trajeto até minha casa já pensava no nome com a qual a batizaria. Seria “Nina”, de “Angelina”. Um nome muito bom para uma canis lupus angelicus. Trouxe-a à casa e ela imediatamente começou a farejar seu novo ambiente para, excusem-me, ambientar-se. Logo comecei a demarcar seu território quando ela tentou entrar na cozinha e dei um silvo a la César Millan, The Dog Whisperer. Peguei um potinho de margarina para servir-lhe água, que bebeu abundantemente, sem receios.

Eu já começava a enamorar-me da idéia de tê-la para mim quando o telefone tocou uma segunda vez. Novamente era Maria José. Disse-me exultantemente feliz que acabara de passar por sua rua um rapaz desesperado procurando por sua cachorrinha que fugira. Como ele passara gritando pela rua se alguém achara alguma cachorrinha, Maria José saiu e o abordou na calçada. Disse que achara uma cachorra e deu-lhe meu endereço. Arrematou que não era certeza se a cachorra que ele procurava era a brevemente Nina.

Fui para a frente da casa e em meio minuto chegou o rapaz, de moto.

- Foi vc que encontrou uma cachorrinha?

- Só um minuto, vou trazê-la.

Voltei do quintal com ela no colo e vi brilhar um raio de luz no amplo sorriso que o rapaz abriu através do portão. Enquanto a entregava a ele, dirigiu-se a ela com termos carinhosos, familiares entre ambos, aos quais a cachorrinha respondeu com efusiva alegria. Não havia dúvida de que ela o reconhecia como membro de sua família. Ele abraçou-a e, olhando bem no fundo de meus olhos disse emocionado, com uma sinceridade tão pungente que me fez estremecer:

- Muito obrigado. Nem sei como te agradecer. Foi um minuto só de descuido, deixamos o portão aberto, e a Julie fugiu. Deixei meu filho em casa chorando desesperado. Nossa, 2011 tava começando horrível para mim! Mas agora...!

Abri eu também um amplo e radiante sorriso, sentindo o doce sabor da realização de um ato de generosidade reconhecido e desfrutando sem hesitação nem escrúpulos do suave e terno sabor doce que aquele olhar profundo e sincero de agradecimento me propiciou. Entregar Julie incólume a sua família de origem não melhorava só o 2011 deles. Sinalizava-me também que Deus estava atento aos meus pedidos e esclarecia-me logo ao primeiro dia do ano que este 2011 seria muito melhor e mais feliz que o anterior.

Disse-lhe, timidamente como me sói:

- Que bom, agora vcs terão um 2011 ainda melhor!

Foi maravilhoso sentir o gosto de que eu começava meu 2011 realizando minha primeira mitzvá (boa ação) logo no primeiro dia do ano. Foi especial que ela envolvesse o cuidar de uma cachorrinha. E melhor ainda foi perceber, como que lendo as entrelinhas do alinhavo de Deus para este meu ano que este não fora um fato aleatório, mas com um propósito.

De me dar esperança. E alento.

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