sexta-feira, 2 de abril de 2010

A bagunça de Serra na educação do estado de São Paulo

(originalmente postado no tópico do orkut)

"O que ele fez pra vc se referir a ele como ditador? É o tradicional descaso com a educação ou algo além? " O Serra não negocia, ele ordena. Ele não promulga leis, ele as decreta. Ele mexeu tantas vezes na legislação de professores contratados desde 2007 que ele criou diversas categorias de professores, com direitos diferentes, sempre reduzidos a cada novo decreto. Ele se recusa a negociar com os professores. Ele se recusa a ouvir as demandas.

Mesmo em relação ao conteúdo, ele quer mandar em tudo. Enquanto que o estatuto do magistério celebra a autonomia escolar ele quer uniformizar via decreto todo o ensino estadual. Ora, a realidade da capital é muito diferente de Cabobró do Judas. E com relação às "metas".

Como o Serra adora falar em metas, avaliações, diferenciação por um suposto "mérito"...

Para receber o tal "bônus" tão propagandeado a escola tem uma "meta" que é medida tanto pelo desempenho dos alunos no Saresp, uma avaliação unificada para todo o estado, como pelos índices de evasão e repetência. Resultado: cada aluno reprovado é descontado diretamente do "bônus" dos professores, portanto reprovar um aluno, que já era difícil, torna-se impossível pela pressão econômica do governo. O Serra quer números. Como se uma escola não reprovar ninguém fosse um dado positivo. Tb a respeito do bônus. A meta é calculada em cima do desempenho anterior. A escola que tirou 3 tem uma meta de 3,3, por exemplo. A escola que tirou 5 tem meta 5,5. A escola que atinge 3,3 recebe bônus enquanto que a escola que manteve seu 5 não ganha um centavo, embora seu ensino seja, presumivelmente, melhor que o da escola nota 3.

São tantas as distorções numéricas... Outro exemplo: teve prova para ter aumento "por mérito". Ora, o teórico que se dá bem na prova não necessariaente dá uma boa aula ou ensina direito aos alunos. O Serra quer pasteurizar a educação, pressionar os professores com metas empresarias e plantar a desunião entre eles ao fazer uns ganharem x e outros ganharem y apenas baseado em uma prova arbitrária.

Sobre o descaso tradicional, bem, dou aulas há apenas 3 anos mas ouço de colegas mais experientes que desde que o PSDB subiu ao poder em SP (isso ainda na época de Mário Covas) ele apenas tem sucateado cada vez mais a educação. Tanto Covas como Alckmin e agora o lastimável Serra têm desmontado nosso sistema educacional, e cada vez parece mais claro que a real "meta" é chegar na terceirização da educação no estado de SP.

Muito triste.

Sobre as várias categorias de professores, só para vcs terem uma ideia. Não sou expert no assunto, mas por estar no olho do turbilhão passei a entender um pouco sobre a complicação das categorias.

Em 2 de junho de 2007 o Serra baixou um decreto mudando os contratos dos novos professores (estou falando apenas dos não-concursados chamados de OFAS ou ACT's). Quem já era OFA (Ocupante Função atividade) ficava na categoria F. Os contratados a partir de então viravam categoria L. Diferenças? Na época ninguém sabia, depois descobrimos que os L não contribuíam para a SPPrevi, mas para o INSS. A Apeoesp (sindicato dos professores) obteve na Justiça que os F ganhassem estabilidade sobre 10 horas/aula. Ou seja: o Estado era obrigado a assegurar pelo menos 10 horas/aula semanais para a categoria F. Até aí isso não teve nenhuma aplicação prática.

Em 2008-2009 o Serra inventou uma nova categoria: a O. Agora os novos contratados não seriam mais da categoria L, mas da O. Principal diferença? Menos direito a abono (os F tem 6 por ano, os O 2), menor direito a férias (na verdade sem direito a férias remuneradas), menor licença saúde etcs, mas principalmente a cláusula dos 200 dias. Exemplo: alguém que se formou agora tem 0,000 pontos no Estado. Que aulas sobram? As licenças temporárias, por exemplo, por saúde e maternidade. Este recém-formado que assume uma licença saúde de 3 meses é contratado na categoria O. Quando acaba a licença a cláusula dos 200 dias impede que este professor tenha um novo contrato de aulas estaduais por pelo menos 200 dias. Pq 200 dias? Pq esta é a duração, em dias úteis, de 1 ano letivo. Resultado: os categoria O trabalham ano sim, ano não. Num ano comem, no outro passam fome. Num ano moram, no outro vão pra debiaxo da ponte. Fiquei sabendo de um professor que ficou meses indo todo dia como eventual (substituto) pq se fosse contratado não poderia trabalhar agora em 2010.

Mas o negócio ficou ainda pior: em julho de 2009 o Serra decretou que simplesmente não contrataria novos OFAS. Simples assim. Resultado: milhares de alunos ficaram sem professores pois não havia quem substituísse os professores que se afastavam ou faltavam. O que o Serra fez? Resolveu ativar a "estabilidade" dos categoria F. Em novembro ele decretou de novo: todo F que não tivesse pelo menos 10 aulas semanais era OBRIGADO a pegar mais aulas até completar pelo menos 10. Uns 3 dias depois alguém alertou que ainda não seria suficiente e o Serra não titubeou: agora todos os F eram OBRIGADOS a pegar mais aulas pelo menos até completar 20.Quem não pegasse as aulas era intimado a assinar sua demissão. Pode parecer uma coisa boa, o Serra oferecedo trabalho a professores com pouca carga horária, mas a parte do OBRIGADO é que causa o problema.

Primeiro: já era NOVEMBRO! Que que esses professores iam ensinar? Nada! O Serra só precisava de alguém pra assinar a papelada como se os alunos não tivessem ficado um dia sem aulas. Segundo: já era NOVEMBRO! Todo mundo já estava com seu final de ano esquematizado, e muitos professores dão poucas aulas no Estado pq desempenham outras atividades profissionais, ou dão aulas em escolas particulares. Terceiro: a escolha de aulas é regionalizada. Vou dar o meu exemplo: dou aulas em Rio Claro, cidade subordinada à Diretoria de ensino de Limeira, junto com várias cidades da região. A mim só interessa dar aulas em Rio Claro, pois o salário é baixo e não compensa pegar estrada todo dia para ganhar merreca. Se chega a minha vez e não tem aula em Rio Claro eu simplesmente não pego essas auals. Mas com a parte do OBRIGADO a pessoa era OBRIGADA a escolher aulas, nem que isso fosse anti-econômico. Eu vi sair gente da diretoria de ensino que, sem ter carro, foi obrigado a pegar aula em 4 cidades diferentes. A pessoa ia dar essas aulas? Claro que não! Mas como era OBRIGADA, teve que asisnar o papel. Ouvi dos funcionários neste horrível novembro: vc tem que pegar as aulas, agora se vc vai poder comparecer e dar as aulas é outra questão, o problema é seu.

Este ano descobri que foi inventada uma nova categoria, a I. Diferenças? Ainda não descobri e tenho medo de quais serão. As diferentes categorias de OFAS são apenas um aspecto da insegurança jurídica que José Serra implementou na educação do estado de São Paulo. Existem muitos outros aspectos da batalha entre professores e governo tucano de SP. Auxiliado por seus asseclas Maria Helena Guimarães e Paulo Renato, José Serra conseguiu em sua gestão deixar a educação ainda mais confusa e instável. Como se não bastassem os problemas da sala de aulas, agora o professorado tem que se haver com as mudanças de humor do governador do estado de SP a cada novo decreto.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Da melhor novela que a TV brasileira já produziu

“Senhora do Destino” foi e é um grande sucesso. É provavelmente a mais memorável de todas as novelas a que já assisti. Uma verdadeira saga brasileira perfeitamente alinhavada por Aguinaldo Silva.

Maria do Carmo Ferreira da Silva, a protagonista vivida por Suzana Vieira encarna toda uma geração de brasileiras. Traz pungentemente a melhor condição de uma mulher, a de mãe. Contra tudo o que nossos preconceitos poderiam esperar, essa retirante nordestina com quatro filhos agarrando-se à barra de sua saia vence na vida. Encaminha seus filhos e cria para si além de prosperidade, respeitabilidade.

Mas o grande trunfo de Aguinaldo Silva não é a eloqüente crônica do valor humano, mas tornar Maria do Carmo tão mais cativante lhe trazendo o mais dilacerante drama humano, misturando ficção e realidade mais uma vez. Romanceia a história do menino Pedrinho: o maior pesadelo que qualquer mãe pode passar.

A jovem e inocente Maria do Carmo, apesar de já mãe de 5 filhos, tem sua recém-nascida Lindalva roubada pela grande vilã magnética da novela: Nazaré Tedesco, magistralmente vivida por Renata Sorrah. Assim como Mara do Carmo, Nazaré vence na vida. Porém, vence à base de mentiras, vampirizando os bens e pessoas alheias. A realidade trouxe consigo cores fortes. Vilma, a sequetradora de pedrinho, negou tudo até o último minuto, levou muito tempo até Pedrinho livrar-se emocionalmente da falsa mãe, e de forma mais novelística que a própria ficção, depois foi descoberto que pelo mais uma filha de Vilma na verdade tb havia sido roubada dos braços da mãe em condições semelhantes. Vilma Martins era uma ladra serial de bebês. Um mulher que construiu uma vida baseada em mentiras. Uma pacata e respeitável senhora era uma perigosa psicopata capaz de qualquer coisa. Assim como na ficção, tudo explode após a morte do pai de Pedrinho. Osvaldo, do qual era júnior. Uma irmã sua por parte de pai descobre a trama e demora até que caia a máscara de Vilma.

Nazaré Tedesco, com seus lapsos de loucura, sua risada alucinante e seu gosto por rodar bolsinha nas partes mais decadentes do Rio de Janeiro tem em sua língua afiada e em sua máscara de “mãe” perfeita alguns dos ingredientes que explicam pq Isabel é tão reticente em abandoná-la. Vc tb não hesitaria na mesma situação?

Sinto que não chegou a ser explorado em sua plenitude o conflito de consciência de Isabel, vivida por Carolina Dieckmann, a filha roubada. De toda forma, A fase da reaproximação mãe e filha, com seus desandos através dos arremates das tramas de seus demais filhos, é das mais emocionantes.

Uma grande trama, uma grande história de uma grande família, tudo girando em torno da matriarca de coração partido pois sempre lhe faltava um de seus filhos sob seu teto. Como não chorar nas cenas em que Maria do Carmo entrava no quarto de Lindalva, repleto de presentes que sua filha nunca recebera. Um verdadeiro novelão, com todos os toques necessários para fazer da experiência de assistir e se emocionar com Senhora do Destino algo verdadeiramente inesquecível.

De Obama e do american way of life

O discurso de posse de Obama é permeado de referências religiosas pois a “América” nasceu clamando a si mesma um certo “destino manifesto” de concretização do ideal de uma sociedade livre e perfeita. Obama se colocou como o ápice, a comprovação, de que a promessa não era vazia. O sonho americano tão propalado pode ser atingido. Até pode, se pautado por uma série de renúncias e escolhas acertadas.

A democracia americana, tão complicada para nós, carrega uma série de pressupostos e características estranhas. Lula, por exemplo, jamais seria eleito lá por suas raízes “vermelhas” e sua família disfuncional, leia-se, uma filha fora do casamento. O político americano não separa a vida profissional da pessoal, ele mais “vende uma imagem” do que, de fato, trabalha. Mesmo quando o assunto é religião.

Obama teve que inclusive mudar de igreja pq seu pastor estava queimando seu filme. No Brasil, ninguém sabe se e onde o presidente Lula comunga ou quem é seu padre.

No Brasil dona Marisa Letícia pode fazer quantas plásticas quiser que não vão escrutinar as intervenções em todas as revistas. O Lula pode pegar um sapato, mostrar pros jornalistas e dizer sorrindo: “vcs não vão atirar um em mim não, né? Ó que eu sou corintiano...”. Se Obama fizesse isso, criaria um grande constrangimento, que abalaria a relação entre a presidência e o quarto poder.

Eu prefiro um dolce far niente a ter 5 mil a mais o banco cada final de ano. Tenho dinheiro para viver. Não vivo para ter dinheiro. Prefiro com certeza estar informada sobre o andamento das novelas a ficar malhando.

Mesmo pq no nosso subconsciente, de acordo com Gilberto Freyre, suar é coisa de escravo. Trabalhar é coisa de escravo. Coisas da brasilidade...

Então, Dora, entendo e respeito o arquétipo americano da prosperidade e do conforto. Mas as coisas não são tão simples. Sabemos que o american way of life não pode ser disfrutado por todos. Se todo o planeta vivesse no padrão classe-média americana, precisaríamos de 4 planetas Terra para suprir nossas demandas.

O consumismo exacerbado, simbolizado por sempre novos celulares que precisamos comprar, novos monitores e computadores mais velozes a cada ano, ter que trocar seu VCR por um DVD e logo logo por um Blue Ray, isso é completamente DOIDO pra mim. Eu não preciso ter qualidade técnica de estúdio de cinema na minha sala! Não sou contra a tecnologia, mas sou contra a idéia de que eu apenas serei uma pessoa plena se tiver o último iMac, o último iPhone, o último Wii, a maior SUV, uma casa de 5 suítes com aquecimento central e tiver fotos das férias no Hawaii pra mostrar pra visitas. Não estou dizendo que esse seja o seu caso, mas é essa imagem meio frívola que tenho do “americano médio”.

Para um americano, uma casa não é um local onde seres humanos se abrigam e vivem. Uma casa é uma pilha de dinheiro a ser sacada numa nova hipoteca sempre que possível. Há muito dinheiro de mentira circulando nos EUA e isso acabou resultado na demissão de 480 operários em uma única metalúrgica aqui da cidade onde moro. Todo esse dinheiro de mentira está sendo demascarado e que vai pagar o preço seremos todos nós.

Toda essa terceirização, redução de custos, padronização, cartelização de mercados, transferências de fábricas para locais de legislação mais frágil, é uma onda predatória que está consumindo a economia saudável, que traz prosperidade às comunidades. Está ficando cada vez mais exposto o grave defeito que, do seio do capitalismo, iniciará sua ruína e superação.

Espero estar viva para ver. :)

Publicado originalmente em: Os EUA são mais poderosos porque são crentes? -http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=811391&tid=5293587427596872996


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Do Decreto-Lei anti-fumo.

Os brasileiros estão sabendo?

O futuro candidato à presidência da República, atual governador do estado de São Paulo, sr. José Serra, do PSDB, baixou um decreto que virou a lei nº 13.541, de 7 de maio de 2009 que “Proíbe o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, na forma que especifica“ - todas as citações são do próprio texto da lei, que consta em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2009/lei%20n.13.541,%20de%2007.05.2009.htm


Fica especificado que não será mais permitido fumar em: “‘recintos de uso coletivo’ compreende, dentre outros, os ambientes de trabalho, de estudo, de cultura, de culto religioso, de lazer, de esporte ou de entretenimento, áreas comuns de condomínios, casas de espetáculos, teatros, cinemas, bares, lanchonetes, boates, restaurantes, praças de alimentação, hotéis, pousadas, centros comerciais, bancos e similares, supermercados, açougues, padarias, farmácias e drogarias, repartições públicas, instituições de saúde, escolas, museus, bibliotecas, espaços de exposições, veículos públicos ou privados de transporte coletivo, viaturas oficiais de qualquer espécie e táxis.

Taxistas fumantes, mesmo que sozinhos no carro, podem ser multados se fumarem. Se o cigarro faz parte de uma peça de teatro, sequer os atores poderão fumar. Em boates, bares, clubes noturnos, esqueçam o ambiente boêmio e esfumaçado. Até nos fumódromos é proibido fumar. Será que até o gelo-seco proibiram? Avisem ao roteirista de “A Grande Família”: se Marilda fumar dentro de seu salão de beleza a Globo receberá uma multa por lar que sintonizou o programa no estado de São Paulo!

Esta lei virtualmente inviabiliza a 25% da população o lazer noturno. Como um fumante vai fazer numa balada? Vai ter que pagar a conta toda vez que for fumar na calçada?

Os estabelecimentos comerciais manifestaram interesse em fazer fumódromos. Mas, em ambientes fechados eles são proibidos. Talvez colocar um aviso na porta: *ambiente exclusivo para fumantes*. Tb não pode. A lei decreta que todos os ambientes são exclusivos para não fumantes e tira a liberdade do bar A ser para pessoas que querem um ambiente livre do cigarro e o bar B para pessoas que fumam ou não se importam com a fumaça.

O sr. José Serra tem um problema pessoal com o cigarro. E com isso penaliza milhões de paulistas, muitos seus eleitores, e com certeza caminhando para adicionar um ex a isto. José Serra quer transformar os fumantes quase que em cidadãos de segunda classe, restritos em sua liberdade, considerados “indesejáveis” para o trabalho por conta do tempo perdido nos deslocamentos necessário a cada cigarro.

Eu sou contrária a todo tipo de restrição da liberdade legal do indivíduo e acrescento que se tal lei é pra valer, necessariamente deve ser imposta em todos os lugares, especialmente nas repartições públicas. Vejamos onde a lei diz não se aplicar:

“Esta lei não se aplica:
I - aos locais de culto religioso em que o uso de produto fumígeno faça parte do ritual;
II - às instituições de tratamento da saúde que tenham pacientes autorizados a fumar pelo médico que os assista;
III - às vias públicas e aos espaços ao ar livre;
IV - às residências;
V - aos estabelecimentos específica e exclusivamente destinados ao consumo no próprio local de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, desde que essa condição esteja anunciada, de forma clara, na respectiva entrada.”

OK, então eu pergunto: e nas cadeias? Lá o índice de fumantes é maior que o da população “normal” e todos estão continuamente em ambientes fechados de uso coletivo, certo?

Se o sr. governador José Serra conseguir impor seu decreto anti-fumo no SAP – Sistema de Administração Penitenciária ou mesmo na Fundação CASA bato minhas palmas para ele. Então aceitarei ser proibida de fumar na balada.

Pq eu, uma pessoa livre, pagadora de impostos e seguidora das leis devo ser proibida de fumar em ambientes fechados de uso coletivo e os detentos do sistema prisional podem fumar livremente em suas celas, corredores e pátios?

Se José Serra conseguir isso e sobreviver ao PCC sacudindo o estado de São Paulo por causa de uma coisa tão banal quanto um cigarro dará uma demonstração de força.

Se não conseguir impor sua lei nem em suas próprias repartições públicas em pessoas com liberdade restrita, como pode querer impor a pessoas livres que fiquem confinadas à sarjeta ou ao domicílio?

Prestem atenção a José Serra, pois ele quer dominar o mundo e impor que todos sejamos mauricinhos bunda-mole de gel no cabelo! Ou talvez ele queira que todos os comunistas e seus charutos emigrem do estado de São Paulo!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A extração de um fetus in fetu é assassinato?

Já é conhecida a postura tradicional de igrejas mais retrógradas acerca da proibição completa e absoluta do aborto em qualquer circunstância, mesmo nas autorizadas pela legislação brasileira, como estupro, anencefalia e risco de vida para a gestante.

Pois bem, gostaria de saber a posição destas religiões sobre o fenômeno fetus in fetu, ou seja, um feto dentro de outro feto que é caracterizado quando o corpo de um gêmeo é absorvido e se desenvolve dentro do corpo de seu irmão.

Se um aglomerado de 8 células é equivalente a uma “pessoa”, bem mais é uma “pessoa” o teratoma fetus in fetu, que chega a desenvolver ossos, dentes e cabelo no interior de seu hospedeiro, parasitando seus fluídos vitais e prejudicando sua saúde.

Em uma breve pesquisa na internet encontrei vários casos interessantes, que valem ser citados:

Indiano adulto “grávido” de seu parasita e imagem de um teratoma fetus in fetu extraído http://diariodebiologia.com/2008/12/gemeo-parasita-fetus-in-fetu/

Menina de 1 ano “grávida” http://nescawtv2.blogspot.com/2008/12/menina-de-1-ano-grvida.html

Menino de sete meses tinha um feto na barriga http://clubecetico.org/forum/index.php?action=printpage;topic=3063.0

Vários casos de fetus in fetu http://medicinaextra.blogspot.com/2008/11/fetus-in-feto.html

Portanto, as perguntas são:

A retirada de um gêmeo parasita, um fetus in fetu é considerada assassinato? É considerada aborto? O Teratoma fetus in fetu é uma “pessoa”?

Caso um adepto de uma religião retrógrada tenha um teratoma fetus in fetu que esteja arriscando sua vida, ele deve recusar-se a extirpá-lo, acelerando assim a própria morte? Ou caso seja possível extirpar o teratoma e mantê-lo vivo alimentado por aparelhos, esse deveria ser a escolha certa a fazer? O gêmeo parasita deve ser mantido vivo artificialmente pois mata-lo seria “eutanásia”?

Um teratoma fetus in fetu deve ser batizado e sepultado como uma “pessoa”?

Tópico postado na comunidade do orkut *Religião & Vida* http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=811391&tid=5317809703093954668

sábado, 7 de março de 2009

Nota de uma professora temporária

Há algum tempo vinha testemunhando na condição de OFA (Ocupante Função Atividade) o desenrolar da batalha a respeito dos professores temporários, e ao ler o artigo de J. R. Guzzo “Nota Zero” na edição de 04/03/2009, senti que posso contribuir com meu relato para a melhor compreensão das questões atuais envolvendo o professorado paulista.

Primeiro, não tirei nota zero. Das 25 questões acertei 24, nota quase máxima. Mas isso é só para ilustrar que o que me motiva a escrever não é a defesa de minha honra, mas a elucidação de questões que só são percebidas por aqueles que vivem no dia a dia a escola pública.

Como bem apontado pela secretária Maria Helena Guimarães Castro nas páginas amarelas ano passado, as licenciaturas não formam professores, mas teóricos especialistas em Vygotsky ou Piaget. Sou bacharel pela FFLCH e licenciada pela FE da Universidade de São Paulo, o que creio que me coloca entre os estudantes que tiveram acesso à melhor educação superior e devo confessar: a Universidade não me ensinou a ser professora. Não me preparou para dar aulas. Campo proximal? LDB? Projeto envolvendo arqueologia da metrópole? Tudo isso é muito bonito, mas completamente inútil quando fui jogada numa sala com 40 crianças baderneiras as quais eu me senti completamente incapaz de controlar.

A USP não me ensinou a dar aulas. Se a USP não me ensinou a dar aulas, imagino que seja ainda pior a situação dos formados nas Unis que pipocam em cada esquina no vácuo da inação governamental.

A pedagogia, de acordo com a minha experiência, é como a Constituição: muito bonita no papel, linda de ser discutida. Mas contraposta à realidade, cria uma situação de riso involuntário. Se você pega o projeto político pedagógico de uma escola, você pensa que essa escola está alocada em alguma Jerusalém celeste perdida por aí. Mas se você se der ao trabalho de ir à escola e entrar nas salas de aula, verá que tanto blá-blá-blá não passa de palavreado vazio e que na sala de aula o que o professor menos faz é ensinar. Não sobra tempo. Eu tenho muito a ensinar. Meu bacharelado foi muito bom, aprendi muitas coisas que sinto prazer em transmitir aos alunos. O problema é que eles não deixam. Eles não querem aprender.

A sala de aula, especialmente entre a 5ª e 8ª séries é um campo de batalha em que eu passo 80% do meu tempo apartando brigas e tapas entre alunos, tentando impedi-los de gritar, de correr, jogar bolinhas de papel, de depredar o material público, tentando mantê-los sentados, sem mexer no celular, sem passar maquiagem, sem ouvir o mp3. De que serve tanta pedagogia? A impressão que muitas vezes eu tenho é que a grande “onda” dos alunos na escola é se divertir fazendo o professor passar nervoso, deixando-o completamente fora de si. Algumas vezes os alunos já me deixaram em tal situação de nervos que confesso que disse e fiz coisas horríveis, que se alguém me contasse que eu faria eu diria que isso seria impossível. Só quem já entrou numa sala de aula de escola pública entende o que digo. Esses grandes burocratas da pedagogia de escritório não têm nem idéia ao que me refiro. Na prática, professor bom é o professor que não leva problemas à direção da escola. O professor que põe o aluno para fora da sala de aula, que chama a coordenadora, que comunica os abusos dos alunos é o mau professor. A mensagem é que temos que “nos virar” o melhor que der para tentar sair mentalmente sãos, e com a voz íntegra, de cada sala de aula em que entramos.

Para lecionar? Não, para tentar domar 40 leões ao mesmo tempo. Já me disseram que para vencer na vida é preciso enfrentar um leão por dia. Ok. Um leão por dia ainda dá. 40 leões a cada 50 minutos, não.

Devo sentar e rezar para que Vygotsky controle as crianças para que eu possa então tentar passar-lhes algum conhecimento?

Várias matérias da revista Veja têm abordado a educação, e um dos pontos explorados é que se têm que investir na formação dos professores. Está certo. Como política de longo prazo. Não resolve o problema de hoje. Foi criticada a postura tradicional de pleito por aumento nos salários. Essa é uma questão fulcral. Eu ganho cerca de R$8,00 (a gente nunca sabe ao certo) por aula na rede estadual de ensino. Quantas vezes não me chamaram para substituir algum professor que faltara e eu recusei-me a ir por pensar: vou lá para ser desrespeitada, passar nervoso e sair com a garganta doendo para ganhar essa miséria? Não obrigada, eu pago oito reais para não ter que passar por isso. Sem contar outro detalhe: o professor não é pago para preparar aulas. Existem os 2 ou 3 HTPC’s mais outros tanto HTPI’s que não são suficientes para fazer frente a 20 ou 30 aulas semanais. Nem de longe eu sou remunerada pelo número de horas que (ainda, pois estou nessa vida há apenas 3 anos) passo preparando aulas para os alunos. E, como brinde, ao entrar na sala de aula, eu não consigo transmitir os conteúdos programados.

Eu considero que a intenção da secretária Maria Helena até pode ser boa, mas ela deve estar atenta (e essa não tem sido a postura do governo Serra) de que ela tem que dialogar com os professores. E cumprir o que promete. A Secretária, do alto do seu gabinete, cercada pelos burocratas acima referidos, não pode achar que vai determinar unilateralmente como as coisas vão funcionar. Secretários vêm e vão. A carreira do professor dura 25 anos. O tempo joga ao lado do professor, porque ano que vem tem eleição e a secretária Maria Helena pode perfeitamente não estar mais lá em 1º de janeiro de 2011, ou mesmo antes. E todas as suas decisões unilaterais não aceitas pelo professorado podem ser simplesmente cassadas em pouquíssimo tempo, mesmo com ela ainda no cargo, como ficou claro neste início de fevereiro.

Teve greve ano passado. Eu não participei do movimento pois estava a dar aula na Fundação CASA [a “extinta” (lembram do riso involuntário?) FEBEM], cujas aulas integram as da rede estadual. Se não tivessem aulas, os internos ficariam “na tranca” durante o período de aulas, portanto, os professores da FEBEM não participaram da paralisação. Bom, a greve foi encerrada com a promessa de um concurso e de aumento salarial de 12%. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que esses 12%, em alguma mágica manobra do RH e da Contabilidade, se tornaram um aumento real de menos da metade disso. Sou da área de História, se fosse da Matemática talvez soubesse explicar melhor. E até agora, nada do concurso para 10 horas/aula. 10 horas/aula? Eu não fiz faculdade para ganhar R$500,00 reais por mês. E será algo próximo a isso a remuneração dos que forem aprovados neste concurso.

Agora, a respeito da prova. Como professora iniciante “sem pontos no Estado”, adorei a idéia. Ao ver minha nota, ainda mais: minha colocação era a de número 50 na área de ciências humanas na diretoria de ensino de Limeira. Eu me dei ao trabalho de ver, na lista de classificação, as datas de nascimento dos que estavam tanto antes como depois de mim. Não havia nenhuma pessoa antes de mim que não fosse pelo menos 15 anos mais velha do que eu. Havia dezenas e dezenas de pessoas classificadas abaixo de mim com idades para serem meus pais ou mesmo avós. Eu escolheria aulas na frente de muitos pais e mães de família, que vivem essa batalha há 20 anos e que, de repente, se veriam relegados a pegar as aulas que sobrassem depois da escolha dos recém-formados, correndo o risco de não sobrar nada. Esses professores não são meus inimigos. Eles são meus colegas de trabalho. São eles que aos poucos vão me dando dicas de como tentar controlar os alunos para aí sim, se der, ensinar-lhes História.

Entre idas e vindas em princípios de fevereiro, a prova vale, a prova não vale, a prova vale, a prova não vale, a atribuição é hoje, é, amanhã, é no sábado, ninguém sabe quando, me sentindo governada por um bando de amadores, ouvi muitos boatos a respeito da prova: que o gabarito e a própria prova vazaram na capital, que professores já falecidos tiraram nota, que professores que fizeram a prova acertando diversas questões tiveram a nota zerada, que eram muitas as liminares e mandatos de segurança circulando nos tribunais. Uma bagunça.

Por fim, pressionada pelo calendário a e própria desorganização, a Secretaria abriu mão da prova e as aulas foram atribuídas como eram antes. Minha nova classificação, sem a prova? Número 178. Uma amiga que com a prova era a de número 63 caiu para depois da casa da terceira centena. É tamanha a desorganização da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo que até agora ninguém sabe quando, e se, vai ser pago o “bônus atrelado ao mérito”, com até “2,9 salários de prêmio”, mais uma iniciativa da Secretária Maria Helena que parece muito boa a princípio. O bônus sempre era pago em fevereiro. Agora, como ainda não foi finalizada a classificação das escolas no Idesp, e ninguém sabe quando vai ser, professores que sempre puderam contar com esse dinheirinho para fazer face aos gastos de começo de ano, estão completamente sem saber o que fazer ou a quem recorrer.

Boas são as idéias que funcionam. Com seriedade por parte do governo. Não as idéias utópicas lindas e as promessas vazias. Disso não precisamos. Eu não estou preocupada com os alunos que serão ensinados por professores que tiraram nota zero, pois, na prática, esses professores podem ser considerados “bons” por seus diretores por saberem controlar seus alunos (se é que isso é possível) e eu seria considerada “ruim”, por minha falta de experiência e habilidades circenses. Nem J. R. Guzzo deveria se preocupar. Deveríamos ambos estar preocupados em que o governo crie políticas reais e sólidas, que funcionem, que não serão derrubadas pelo poder judiciário, para melhorar o processo de atribuição e formação dos professores. Que crie reais políticas de valorização, preparo, e acesso ao conhecimento. Eu sequer ganho o suficiente para assinar Veja, ou Superinteressante, ou um grande jornal diário. Se o governo quer melhorar o ensino, precisa investir, e pesado, no professor. E respeitá-lo. Pois somos nós os operários da Educação. Sem a minha anuência dentro da minha sala de aula, as iniciativas da secretária Maria Helena não surtem efeito algum.

(e-mail enviado à Revista Veja)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

De dois analfabetos

Já há algum tempo venho adiando este texto, que vem circulando nas minhas idéias, aos poucos tomando forma.

É difícil escrever a respeito dos meus alunos. Quem são eles?

Presos. Menores infratores condenados. Moleques que acham que roubar é “profissão”. No CRM, alguns presos aguardando julgamento, outros têm cara de malandro, suástica tatuada, cabelos brancos. Funcionários “de fora”, como eu, não ficam sabendo por qual crime os detentos estão condenados. Isso funciona tanto para o bem como para o mal. Às vezes vc se pergunta: o que fez esta pessoa parar aqui? E não tem autorização para perguntar, o que chega a ser angustiante. Às vezes eles falam espontaneamente, na maioria das vezes vc nunca fica sabendo.

Entre os muitos que eu vejo ir e vir, serem condenados e serem libertados, suas histórias sempre me fazem refletir. Suas personalidades sempre deixam em mim uma certa marca. Suas histórias me tocam, me engrandecem em experiências de vida, no conhecimento do ser humano.

O primeiro traço característico que se nota em quem está preso é a pobreza. Não defendo uso de clichês, mas pobreza que se nota, transparece através dos uniformes e sandálias havaianas. Pelo gestuário, pelo palavreado, pelos assuntos.

Na Fundação CASA (Centro de Atendimento Sócio-educativo ao Adolescente), novo nome da FEBEM (Fundação para o Bem-Estar do Menor), esse traço é marcante. Os meninos são, sobretudo, de periferia. Criados em famílias desestruturadas. Todos os clichês da “quebrada”: rua de terra, sem iluminação pública, escola deficiente, mães adolescentes, vários padrastos, parentes já presos etc. Cedo aprendem, em casa ou na rua, que roubar “os ricos” é normal, que traficar é apenas mais um ramo do comércio, que a justiça é feita pelos traficantes da “comunidade” e não pelo Estado Brasileiro. Que PM (policial militar) é inimigo e que todo político é ladrão.

Atualmente leciono para 45 alunos “menores infratores” com liberdade sancionada em regime de internação na CASA, divididos em 4 salas de aula. 20 na quinta e sexta. 20 divididos em duas sétimas e oitavas. 5 no ensino médio. Dá para perceber o gráfico em pirâmide que se forma? No CRM, leciono para 46 detentos, alguns em regime semi-aberto, outros em regime fechado, das mais variadas idades, condenados ou aguardando julgamento, em uma sala de ensino médio.

Como contar suas tristes histórias? Sinto tanta dificuldade em escrever sobre isso e parecer que os estou submetendo a algum tipo de “pesquisa de campo” sociológica... Não é esta a intenção, mas dou-lhes uma certa liberdade para conversar, que eles não desfrutam na presença dos seguranças. Gosto de nas minhas aulas ceder-lhes um raro respiro de uma relativa liberdade. E eles acabam se abrindo. Não há como ficar imune e não refletir sobre o que eles falam.

Como o menino que esteve preso por roubar R$30 e cinco pacotes de Passatempo na padaria do bairro. Ou o que voltou em reincidência por roubar uma bicicleta. Ou o que roubou um tênis. Ou os que estão presos por torturar uma vítima de assalto, por haver esfaqueado e assassinado um idoso, ou mesmo por estupro.

Muitos de seus crimes são chocantes, mas suas histórias são tocantes. Como o menino que teve a prima de 8 anos estuprada em um terreno baldio. E que testemunhou a irmã de 16 anos ser vítima de uma tentativa de estupro; meninos cujo pai, ou mãe, ou tio, está preso já há muitos anos? Os irmãos, os primos, os vizinhos, que ficam presos juntos? Muitos são órfãos. Muitos nunca conheceram o pai. Muitos são os criados por parentes, e não pela mãe. Muitos chegam semi-alfabetizados, os famosos “analfabetos funcionais”. Outros completamente iletrados.

Dois meninos analfabetos me tocaram profundamente. Fernando. Rapaz negro, paranaense, atarracado, bastante forte. Disse certa vez que ganhava R$5.000,00 reais por mês no tráfico. Chegou sem saber escrever o próprio nome. Sem conseguir fazer operações simples de adição e subtração. Não sei se a história sobre o seu lucro é verdadeira, mas soube que ele havia fugido de casa no Paraná por conta de violência doméstica e tinha vindo para em SP pegando carona com caminhoneiros. Certa vez tivemos uma festa de confraternização em que foram servidos produtos produzidos pelos próprios meninos da oficina de panificação. Pão de queijo, panetone, pães em geral. Nesta ocasião Fernando comeu exatos 14 pedaços de panetone. Em meio a isso perguntei-lhe: Nossa, vc deve estar com fome?! Disse-me ele: Professora, nunca comi uma coisa tão gostosa na minha vida! Panetone de frutas secas, uma coisa tão banal, que sempre sobra na minha mesa de Natal... Fernando nunca tivera um Natal como os meus.

Outro é Geremias. Com G mesmo. Geremias faz aniversário no dia 29 de dezembro. Eu faço aniversário no dia 29 de dezembro. Ele consegue, com muita dificuldade, identificar letras de fôrma. Não, porém, letras de mão. Eu entendo um pouco de paleografia, a ciência de decifrar a escrita em documentos antigos. Um abismo nos separa. Deveríamos ter sortes muito parecidas, não?

Geremias é um rapaz branco, atarracado, dente da frente faltando, testa baixa, tem uma namorada em quem pretende fazer um filho assim que receber sua liberdade. Como ela é filha única, vê nisso uma possibilidade de se mudar para a casa dos sogros e começar uma vida nova Ao contrário de Fernando, que foi alfabetizado com sucesso, Geremias receberá sua liberdade ainda analfabeto. Fez alguns avanços na matemática. Já é capaz de somar números com 3 dígitos. Numa aula minha ele, ao invés de tentar copiar a lousa, fez um desenho e mo entregou ao final da aula. O guardo até hoje. São duas figuras humanas estilizadas. Têm olhos, boca, ouvido, cabelos, pernas, braços, roupas. Um desenho até bonito. Meio que estilo cartoon. Destaca-se que nenhuma das duas figuras humanas têm mãos. Têm pés, mas não têm mãos. Os traços se encerram no punho, num corte seco. Não sou formada em psicologia, mas não pude deixar de perceber que esse detalhe demonstra que Geremias se vê maneta, literalmente incapaz de lidar com o mundo. Que ele inconscientemente percebe que seu iletramento o torna incapacitado, deficiente. E isso infelizmente não foi alterado em seus 6 meses de FEBEM.

É muito difícil conviver com tais histórias. Ver o quanto tenho uma vida confortável e sou privilegiada perto deles. E saber que eles são “o inimigo”. É por causa de pessoas como Fernando e Geremias que passo o cadeado todos os dias no portão. São pessoas como eles as que assaltam, as que seqüestram, as que matam, as que mantém a “classe média” em estado de sítio. São eles que eventualmente aparecerão em reportagens no programa do Datena.

É muito difícil conviver com os dois lados dessa história. Conhecer tanto sua Humanidade quanto sua desumanidade, em vários sentidos.

Existem muitos outros menores e maiores cujas histórias valem o registro. Aos poucos falarei mais. Quem ler, por favor deixe registrado em comentário, mesmo que apenas um “eu li”.

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