sábado, 22 de março de 2014

Solo un ratito



Era uma sexta-feira à noite, perto de uma e meia da manhã, eu estava sentada no sofá, na sala da minha casa, placidamente assistindo à TV quando um barulho chamou minha atenção. Olhei para o lado direito, onde estava porta aberta e vi, de relance, tentando entrar furtivamente, um rato. Na verdade um ratinho, um camundongo, pequeno e cinza. Dei um grito, ele se assustou e saiu correndo. Talvez com mais medo de mim do que eu dele.


Terror total! Havia um rato tentando entrar em minha casa!


Imediatamente tranquei todas as portas e janelas, lacrando as frestas com panos de chão. E pensei: "quando escolhi essa casa para alugar vi seu grande jardim como vantagem, se eu soubesse que ratos poderiam se instalar nele, teria ficado com aquele kitnet no terceiro andar..." Mas, contrato assinado, e aqui instalada há mais de 6 meses, a única opção era seguir em frente.


Não foi a primeira vez em que um rato apareceu numa casa na qual eu morava, mas nas 2 vezes anteriores, não era EU a responsável por dar cabo dele. Eu podia simplesmente aguardar que "os adultos responsáveis" pela casa, e por mim, resolvessem o problema. Agora a casa era minha, eu era a adulta, e o problema era meu para resolver.


Na manhã seguinte, decidida a fazer uma "operação de guerra", levei #AmyThePoodle para passar alguns dias na casa da minha mãe. Fui na pet shop, comprei ratoeiras de metal, ratoeiras de cola e veneno (dos que têm aroma artificial de queijo). Fiquei super alerta por uns 4 dias, checando cada sombra. Na segunda-feira, já estava "desencanada" de que o rato tinha ido embora pra rua e no dia seguinte iria desarmar as ratoeiras e buscar a Amy.


Acordei na terça cedo para ir ao trabalho, despreocupada. Fui para a cozinha. Ia preparar meu sanduíche para comer no intervalo das aulas. Abri o armário.


Na parte de baixo, vi um pequeno ser cinza pular, furtivamente, tentando se esconder entre meus pacotes de miojo e batata palha. Era um rato. Berrei e imediatamente tranquei de novo o armário. Com ele e todas as minha comidas dentro.


Para minha sorte, já tinha marcado hora na dentista na quarta seguinte e avisado que daria falta médica no trabalho. Pedi ajuda à minha mãe, pois tenho pânico de ratos, e não conseguiria lidar com isso sozinha.


Não é propriamente uma "fobia". Não tenho medo de ratos albinos de laboratório, do Mickey Mouse, de hamster limpinhos, criados em gaiola. Mas de ratos de rua, tenho absoluta aversão e ojeriza. Penso em leptospirose e febre tifóide como atributos indissociáveis de todo rato de rua, daí meu pânico total.


Minha mãe veio me ajudar. Abrimos juntas o armário. Começamos a tirar as coisas e de repente, no meio delas, ele pulou. Gritamos. Pegamos cada uma uma lata enorme de inseticida (ainda que ele seja um mamífero) e despejamos no armário. Já nós mesmas intoxicadas, trancamos tudo de novo e esperamos mais uma bela meia hora, na esperança de que o rato fosse alérgico, ou asmático, e morresse.


Reabrimos o armário. Tiramos o resto das coisas. Nada do rato. O esquadrinhamos, tombamos, e nada do rato. Teria fugido? Onde estaria? Armário esvaziado, comprei mais veneno e ratoeiras, colocados em locais estratégicos. Com tristeza, deixei a Amy mais alguns dias na casa da minha mãe. Senti muita falta de sua companhia nestes dias.


Quase não entrei na cozinha até o sábado, quando trouxe de novo minha mãe para verificar o rato e o armário. Abrimos. Nada. Tombamos. Eu segurando, ela olhou. Nada. Disse "peraí", cutucou com a vassoura:


- O rato!


Senti terror completo e gritei, segurando o armário pesado, com os olhos fechados:


- Vivo ou morto?!... VIVO OU MORTO?!


Os 2 segundos que ela levou pra responder estão entre os "top ten" momentos mais terríficos de minha existência (até agora). Depois do lapso temporal que me pareceu levar várias horas de completo terror, ela disse:


- Morto. Tá estufado, comeu o veneno, olha!


- Não quero ver, tira ele de casa!!!


Ela tirou, colocou num saco e jogou no lixo externo. Ufa! Aí sim fui inundada por uma sensação maravilhosa de alívio. Não só tinha de fato um rato mesmo e não era loucura da minha cabeça, como eu tinha conseguido prendê-lo, o veneno tinha funcionado, seu cadáver fôra localizado e devidamente descartado. Eu voltava a ser a dona de minha cozinha e área de serviço.


Muito prestativa, minha mãe se prontificou a me ajudar na limpeza completa desses ambientes que se seguiu. Faxinamos tudo com muito desinfetante. Passamos álcool em todas as frestinhas do armário de cozinha. Por termos despejado inseticida sobre as comidas guardadas nele, joguei fora tudo o que estava aberto, e lavei com água e sabão, esfregando bem, todo o resto. 


Pensando em tornar meu armário "à prova de ratos", comprei potes de vidro e plástico bem grosso, onde guardo agora todos os meus gêneros alimentícios. Meu pensamento: "se acontecer de outro rato entrar aqui, não vai conseguir comer nada e vai embora!" Também comprei daquelas "cobras de areia" que se coloca embaixo das portas, para impedir que outro rato entrasse. Desarmei as ratoeiras de metal e pude então ir buscar minha Amy, de quem já estava a morrer de saudades.


Era só um ratinho. Mas para mim foi uma marca, uma conquista. Dei conta. Resolvi o problema. Venci. Aprendi. Escolada, agora estou muito mais atenta. As ratoeiras de cola continuam escondidas em locais estratégicos, onde a Amy não alcança. Deixei veneno embaixo de alguns móveis e no vão das janelas. 


Continuo alerta, prestando atenção a ruídos, verificando o armário e se há "alguma  novidade" nas ratoeiras de cola. Essa é mais uma etapa superada na minha vida. Não que ratos de rua tenham cessado de me aterrorizar. Mas agora, depois de dar cabo do meu primeiro, me sinto mais pronta, segura, senhora de mim, para enfrentar outro, se aparecer.


Sinceramente espero nunca mais ter que passar por isso na minha vida, e essa experiência me fez repensar que quando eu for adquirir um imóvel, é bem provável que isso me faça optar por um novo, e não usado. Mas apesar de não desejar, jamais, ter que passar por isso de novo, por pior que tenha sido, foi uma experiência que me fez sentir poderosa, no controle, capaz. 


#girlpower #singlelady





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