sábado, 2 de novembro de 2013

Saudades Eternas



"Saudade" é um desses raros substantivos exclusivos da língua portuguesa. Análogo à melancolia, ao saudosismo, a sentir a falta, ausência, de algo, but not quite that. A saudade é muito mais amplo que tudo isso, pois podemos senti-la até do que não vivemos.

"Eterno" tem um significado universal, amplo, e fácil: é aquilo que não tem fim, não esmorece nem diminui conforme o tempo passa.

Dia 2 de novembro é Feriado de Finados, dia dos mortos, no Brasil. Estive hoje no cemitério, apesar de não gostar. Minha mãe me pediu que a levasse e não pude recusar, por mais desconfortável que isso seja para mim.

Eu não sinto que no túmulo no qual seus corpos jazem esteja também a "presença espiritual" dos meus amados já falecidos. Sei que a alma dos meus mortos não está mais presa ao seu corpo físico.

No túmulo da minha família jazem 2 mortos: meu avô Vicente e minha avó Tula. E ao visitá-lo hoje percebi que a saudade que sinto do meu avô é muito mais pungente que a da minha avó.

À Tula pude acarinhar, cuidar, cozinhar, conviver, acompanhar. Por 6 anos fui sua cuidadora e companheira.

O mesmo não tive a oportunidade de fazer por meu avô, meu amado Morzinho. Como gostaria de ter igualmente tido 6 anos para dele cuidar, acarinhar, em seu abraço me aninhar. Queria ter-lhe pensado as feridas. Ter-lhe feito mil comidas apetitosas. Ter assistidos várias novelas sentada ao seu lado.

Tula morreu há menos de um ano e a saudade que sinto dela me traz paz.

Morzinho morreu há quase 7 anos e a saudade que sinto dele ainda me rasga. Sinto que não gastamos até o fim a parafina de nossa vela. Sinto que havia ainda muito por fazer. Eu queria tê-lo conhecido muito mais profundamente. Queria, tanto, ter tido a oportunidade de cuidar dele, de conviver mais no dia-a-dia com ele, como fiz com a Tula, em seus últimos anos.

Ficou algo "no ar", algo incompleto, que ainda me faz sentir que há uma pendência entre nós. Não tivemos o tempo devido para, com ambos adultos, nos conhecer plenamente. Queria ter-lhe conhecido mais defeitos. Se tinha preconceitos. Se execrava a arte moderna. Se era contra a mini-saia. Se preferia cerveja lager ou pilsen.

Conheci meu avô como uma criança conhece a um pai protetor. Sinto que me faz falta tê-lo conhecido como adulta. Como dois adultos divagando sobre a vida. Queria ter-lhe mostrado minhas poesias. Queria ter-lhe exibido minhas fotos com amigos. Queria ter-lhe apresentado meus namorados. Ainda não tenho filhos, mas como queria que ele tivesse-os conhecido!

Restou muito "por fazer" entre eu e meu avô. Por isso ainda dói a saudade. Queria ter-lhe dito muito mais coisas, especialmente o quanto ele era importante, fundamental, basilar, para mim. 

Espero que talvez, de onde estiver, ele me escute, e saiba que a minha saudade dele é incomensurável.

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