sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Do Instagram

A Internet é feita de tentativa e erro. Do q "pega", vira "trendy" e ganha popularidade. Não temos, de antemão, o ponto aonde devemos chegar, as formas definitivas q as coisas devem tomar, em quais sites e aplicativos estamos investindo (pois vão durar) e em quais estamos desperdiçando nosso tempo (pois vão cair em desuso ou ser descontinuados).

Antes de 2004 a internet era muito "anônima". Era necessário individualmente procurar pelas coisas, imagens e assuntos q já eram de nosso interesse a priori. Era possível criar páginas gratuitas, blogs e fotologs, mas sua divulgação era muito precária, sendo necessário mandar os links para nossos amigos por e-mail, e contar com sua boa vontade para abrir um link sem nenhum gráfico anexo.

Com as recém-inventadas câmeras fotográficas digitais, registrávamos dezenas de fotos, e para compartilhá-las era necessário atachá-las a um e-mail, criar uma mailing list e torcer para os arquivos não excederem a capacidade de armazenamento de cada caixa de mensagem.

Quando o Orkut foi criado, em 2004, começaram as "redes sociais". Nesta época era possível dar upload a apenas 12 fotos. Com este pequeno limite trocávamos sempre as fotos, substituindo as antigas pelas novas. Com o tempo as condições de armazenamento melhoraram e possibilitaram a criação de vários álbuns, com número ilimitado de fotos.

Na transição para o Facebook, com o ocaso do Orkut, essas fotos foram transferidas. Mas ainda assim, publicar fotos de festas, amigos e familiares não supre toda a nossa necessidade de "mostrar a todos nossa visão de mundo", como se fazia num fotolog (blog composto de fotos e imagens).

Parecia meio bobo publicar no Facebook fotos aleatórias, de coisas q achávamos bonitinhas, curiosas ou interessantes. Exercitar nosso lado "fotógrafo amador".

Para preencher este vácuo surgiu o Instagram. Simples e fácil, integrado ao Facebook, Twitter, Foursquare e outras redes sociais. Oferecia um formato quadrado inovador, filtros e recursos "desencanados" para "dar uma mexidinha" nas fotos para q tivessem aparência "mais artística". Sucesso global imediato. Na sua esteira surgiram dezenas de apps complementares, q ofereciam outros filtros, distorções, sombras, molduras, colagens, adição de textos e geração de hashtags para maior número de "likes" e melhor publicidade para nossos instantâneos.

Agora, não somente era possível ver uma coisa legalzinha, tirar uma foto e mostrar pros amigos, mas tb divulgar isso globalmente, interagir com pessoas de todos os continentes, e tb criar uma certa forma de "narrativa pictórica" do nosso cotidiano.

Comecei a usar e logo caí na primeira tentação de um instagrammer, ou iger: fotos de comida. Um amigo querido já me perguntou pessoalmente, com toda a sinceridade e nenhuma maldade "pq as pessoas ficam tirando foto de comida???"

Respondi-lhe q há 2 "vertentes" nessas fotos culinárias. A primeira se a pessoa está num restaurante: é justamente se "exibir", mostrar para todo mundo q sai e paga por comidas caras e bonitas. A segunda, se foi a própria pessoa q cozinhou, tb é de se exibir, mas de outra forma: mostrar um saber, uma coisa legal q é capaz de fazer, dar uma opção de refeição q seus amigos serão capazes de reproduzir em casa. Mas em ambas as vertentes, fica subjacente à foto o pensamento "olha a coisa linda q estou prestes a destruir!". De certa forma imortalizando uma arte efêmera.

Mas não só de fotos de comida é feito o Instagram. Acompanho mais de 2 centenas de pessoas e aos poucos percebi q alguns temas gerais do usuário do Instagram vão se delineando. E como ao acompanhar esses feeds era possível ter uma idéia da "visão de mundo" de cada um, as coisas q enxerga diante de si, o q considera bonito, o q vale registrar, o q deseja imortalizar, do q tem orgulho e quer mostrar. Era possível, vendo o Instagram das pessoas, ter um certo "inside view" do q cada um enxerga no mundo, da leitura particular q cada um faz de seu cotidiano.

A seguir listarei alguns desses perfis gerais, a partir de minha observação particular do uso q as pessoas q sigo fazem do Instagram. Obviamente, como tudo q envolve humanos, essas classificações não são estanques. Nada impede alguém com o perfil "eu sou meu mundo inteiro" de postar uma causa caritativa, ou alguém com o perfil "tabacaria" postar uma foto no estilo "onde está Wally".

Divirtam-se!

1 - Diário virtual pictórico.

Me incluo nesse. As fotos são variadas e genéricas, de: comida, amigos, prédios, arte, causas, crianças, coisas engraçadinhas ou abstratas, flores. Não só "anônimos" têm este tipo de perfil. Muitas celebridades seguras o suficiente usam o Instagram para dar a seus fãs pequenos agrados na forma de fotos espontâneas, familiares, clicadas pelo próprio artista em sua intimidade e avidamente comentadas por seus admiradores. O IG é um espaço único para fotos q não teriam lugar na divulgação profissional destes artistas, mas q são muito preciosas para os fãs.

2 - Eu quero ser artista

As fotos têm certa pretensão de "densidade reflexiva", ou fotos de coisas banais descritas por frases "filosóficas", fotos do teto, desfocadas, com multiplicidade de ângulos inusitados dizendo "quero exibir meus talentos de fotógrafo adquiridos naquele curso online", de si próprio de viés e "cara de intelectual atormentado", de utensílios vazios, coisas sujas e usadas. O efeito às vezes é de hilaridade não-intencional. Depois q vc vê a enésima auto-foto da mesma pessoa fazendo "cara de conteúdo" não há como não achar tudo isso meio ridículo...

3 - Eu sou meu mundo inteiro

Narcisismo total. 90% do feed são auto-fotos obviamente, de si mesmo, muitas vezes exibindo a maçãzinha do iPhone. Muitas fotos tiradas pelo espelho, às vezes em banheiros públicos, frequentemente em baladas, com outras pessoas jogando o cabelo, fazendo pose e "biquinho". Muitas adolescentes extrapolam na sensualidade. Muitas pessoas tiram foto todo dia para exibir seu guarda-roupa, maquiagem e penteado. Diariamente, para mostrar q são fashionistas.

4 - Onde está Wally?

Pontos turísticos, placas e meios de transporte são os temas principais. Muitas fotos de aeroporto, da janela do avião, de restaurantes e hotéis chiques, de dentro do carro, mostrando trânsito, faróis e túneis.

5 - Tabacaria

Fotos repetidas da mesma paisagem, frequentemente da janela do quarto, com comentários sobre as condições atmosféricas, as estrelas, o pôr do sol. O q salta aos olhos é a repetição: inúmeras fotos quase idênticas, com o boletim meteorológico do momento...

6 - Quero divulgar meu trabalho

Nem só de "bobagens" é feito o Instagram. Muitos profissionais o usam para ficar mais conhecidos, e pseudo-celebridades para tentar tirar o pseudo. Modelos, atores, estilistas, fotógrafos, culinaristas, artesãos, dançarinos, apresentadores, jornalistas já descobriram no "Insta" uma plataforma de trabalho. Sabem usar hashtags, tomam cuidado com a iluminação, postam fotos com certo cuidado profissional.

Gostaram? Concordam? Discordam? Qual é a leitura q vcs fazem do Instagram?

Quem ficou curioso para ver minhas fotos mas não usa o aplicativo, pode ver as fotos aqui: http://instagram.com/fernandazero Quem quiser me seguir, sou @fernandazero !
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