Em 2010 eu estava dando uma aula sobre política brasileira atual, e como era época eleitoral um aluno disse certa coisa que só muito depois entendi.
Estávamos comentando o fato do então presidente Lula estar a "passar o bastão" a Dilma Rousseff quando um aluno comentou algo assim:
- Ah, esses dois devem ter um caso!
Ri comigo mesma pois pensei q caso Lula e/ou Dilma quisessem fazer sexo, haveria mil michês à disposição, e não haveria nenhum motivo para um "se aliviar" com o outro. Mas respondi simplesmente:
- Lula e Dilma têm uma relação profissional, não, eles não são amantes!
Ao que o aluno replicou:
- Sei não, para confiar tanto na Dilma, tenho certeza q o Lula tem um caso com ela!
Ri comigo mais uma vez. Mas muito depois parei para pensar sobre isso, e me dei conta de q a fala deste aluno poderia guardar uma chave para a compreensão de como "os outros" pensam. Parei para refletir sobre isso quando percebi "o limite" da amizade. O limite da amizade é o falo.
Falo no sentido de "órgão sexual masculino". Descobri com muita tristeza q os "amigos" serão seus amigos incondicionalmente... Até q apareça um "pinto" que os separe. Triste, muito triste, mas descobri dolorosamente que os amigos me valorizam, me amam e tem tempo para mim... Desde que estejam solteiros.
Nisso é necessário reconhecer q eu mesma já fiz o mesmo: relegar os amigos a um segundo plano por conta de "namorados", e disso hoje muito me arrependo; pois os namorados nos amam muito... Enquanto a relação vai bem. Pois quando começa a ir "mal das pernas", aquele namorado que dizia que te amaria para sempre, que fazia mil juras de amor até a véspera; te troca por outra, te esquece, passa a te ignorar, e a maldizer o tempo em que ficaram juntos. Aquele que era seu cúmplice em tudo, seu confidente, de repente, te vira as costas e te corta da sua vida. E toda a vida projetada em comum se esvai, como um sonho vão, cujo prazo de validade expirou.
O paradigma do "amor romântico" como o ideal fora do qual não há felicidade nem realização pessoal esvaziou a riqueza das relações humanas, transferindo e limitando ao campo sexual as relações que nos trazem a "plenitude", como se nada além do amor romântico fosse capaz de nos fazer feliz.
Em grego o que chamamos por "amor" é fracionado em 3 termos: eros, ágape e cáritas. Hoje creio que as porções ágape e cáritas foram relegados ao terceiro e quarto planos, enquanto o amor erótico, sexual, passou a ocupar as 2 primeiras posições, em ordem de importância.
Talvez por eu ser mulher, e me considerar algo "espiritualizada"; cada vez mais, progressivamente, tenho dado menos importância aos meus mais baixos instintos, percebendo como para suas relações amorosas as pessoas aceitam "qualquer um"; o primeiro falo disposto a manter relações consigo, sem levar em conta se o parceiro é digno de tal intimidade.
Eu mesma já mantive compromisso sério com pessoas que, hoje sei, não eram "dignas de mim", mas com as quais perdi muito tempo, por pura carência... E falta de opção. Achava, conforme nossa sociedade nos diz, que eu tinha que ter "um namorado" para ser feliz, para exibir aos outros, para que não me considerassem uma "derrotada", uma "solteirona", sem esperança. O Ocidente nos vende a ideia que para uma mulher ser realizada, ela necessariamente deve ter um parceiro romântico/sexual. Ninguém quer "ficar para titia"...
Escrevo esse texto para trazer a reflexão de que nossas pulsões sexuais não são boas conselheiras. Que nossa carência nos leva a más escolhas. Que o sexo não é a relação mais próxima que devemos manter com as pessoas. Que nunca devemos deixar nossos amigos para trás por conta de "um pinto", pois amizades nunca acabam, já namoros, duram muito pouco.
Desculpem-me se fui explícita, mas achei por bem ser cristalinamente clara...
Nunca troquem seus amigos por nenhum namorado, pois mais cedo do que vc imagina seu amantíssimo namorado vai te trocar por outro. E se vc tiver abandonado seus amigos, não terá nenhum ombro no qual chorar...
Acredito na necessidade de um equilíbrio nas relações. Quando nos envolvemos com alguém, é natural nos afastarmos um pouco de nossos amigos para nos dedicar a essa pessoa, mas, de qualquer maneira, é importante nunca perder contato com seus amigos. Quanto ao reducionismo, eu não considero o foco no sexo como algo ruim. Ruim é o desequilíbrio. Se há muitos tipos de amor: universal, misericordioso, caridade, sexual, erótico, carnal, intelectual, profissional etc., o importante não é supervalorizar um em detrimento do outro, mas ter em mente qual o foco que se busca com cada tipo de relação. Não vou procurar uma cônjuge ou uma namorada para compartilhar apenas meu amor pelos livros com ela. A base de nossa relação, querendo ou não, é o sexo. Porém, e quando não estamos fazendo sexo? Aí sim é o momento de exercitar os outros tipos de amor, pois quando o sexo não for mais possível, a relação se manterá simplesmente porque outras formas de amor ainda se preservam.
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