quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Deus como Washington Olivetto

Não sou publicitária nem acompanho com especial atenção a carreira de Washington Olivetto. E este texto não se refere a nenhuma conquista deste premiado profissional da propaganda. E muito menos compará-lo ao Criador. Neste texto uso um episódio da biografia deste famoso publicitário para tentar fazer uma analogia com a relação entre D' e os homens.

O "grande público" conhece Washington Olivetto a partir do mais divulgado episódio de sua biografia: seu seqüestro. Por sessenta dias Olivetto esteve trancado num cubículo sem janelas nem comunicação com o mundo exterior. Isolado, incomunicável, como que numa dimensão oculta. Envelopado como que num Universo paralelo, engolido por um buraco negro. Afastado de todo convívio humano, como um eremita, ermitão. Ou alguém "abduzido" por alienígenas.

Olivetto não foi libertado após pagamento de resgate nem através de investigações policiais. E é a maneira pela qual salvou-se que considero análoga à forma de como D' está para nós, e o "método" pelo qual se dá a comunicação (parcial) entre a esfera humana e a divina.

Enclausurado num cubículo, Olivetto utilizou-se dos únicos recursos à sua disposição: seus músculos e sua voz. Esmurrou as paredes para fazer barulho. Gritou. Implorou por ajuda na esperança de que, através das paredes, do outro lado do muro, houvesse alguém que o ouvisse, que o ajudasse.

Quantas vezes eu e vc, leitor, não ouvimos barulhos, vozes, e até gritos através das paredes, erigidas cada vez mais finas? E quantas vezes vc foi verificar se, por trás daquele barulho, havia alguém pedindo por ajuda? Eu, jamais. Em prol da "boa convivência com os vizinhos" e o "não se intrometer na vida alheia", embora cotidianamente eu ouça criaturas atrás das paredes, prefiro sempre crer que estes sons são oriundos de uma briga de casal, uma criança birrenta fazendo escândalo, ou alguém arrastando móveis.

Apenas imagino a aflição de OIlivetto ao pensar que, através da parede, seus apelos poderiam estar sendo motivo de reclamação entre os vizinhos, incomodados com os ruídos indistintos e abafados. Imagino-o em suas centenas de tentativas desperadas. Seus punhos doloridos de bater infrutiferamente na parede, dia após dia. Sua garganta rouca, gasta de tanto gritar. Por 60 dias, obstinadamente, ele não desistiu de lutar por sua vida e dar seu melhor no pouco que estava a seu alcance. Tentando não enlouquecer e manter a esperança.

Sua perseverança, aliada à Providência Divina, foi fundamental para seu resgate e libertação. O "imponderável" conspirou a favor da vida de Olivetto. Do outro lado da parede alguém o ouviu. E, para além de ouvi-lo, estranhou os barulhos que não cessavam. Havia algo de estranho. O detalhe fundamental para o desfecho feliz e surpreendente desta história é que esta vizinha era a estudante de medicina Aline Dota, proprietária de um estetoscópio. O estetoscópio é um instrumento normalmente utilizado por médicos para auscultar o coração e os pulmões de seus pacientes. Extremamente sensível, ele amplia os abafados sons do funcionamento dos órgãos humanos, os tornando audíveis e analisáveis.

Intrigada com os barulhos que vinham do cômodo na casa contígua, Aline Dota colocou seu estetoscópio contra a parede. E ouviu o apelo desesperado da vítima no cativeiro "Estou preso aqui há 60 dias. Chame a polícia e as rádios. Pode dizer que sou o publicitário Washington Olivetto". Ato contínuo, ela chamou a polícia.

Sua vida estava salva. Através da comunicação entre incomunicáveis, possibilitada pelo instrumento médico providencialmente colocado nas mãos de uma vizinha preocupada o suficiente com o bem-estar alheio para se questionar se aqueles barulhos não eram os de alguém necessitando ajuda. E que teve a iniciativa de fazer alguma coisa a respeito. Coincidência?

Sinceramente, qual é chance de, do outro lado da parede de um cativeiro de um sequestrado, haver alguém na posse de um estetoscópio? E que, além disso, teria a genial sacada de perveter seu uso primário, e ressemantizando a função do estetoscópio, usá-lo para ouvir através das paredes? Creio que seja uma possibilidade estatisticamente muito baixa.

Esta analogia, da comunicação entre incomunicáveis, em planos distintos, através de sinais aparentemente incompreensíveis, que creio que desenhe uma imagem que ilustra como D' se comunica (ou não) conosco. D' não habita nosso plano, nem poderia. Nenhum aspecto essencial de D' está "a descoberto", exposto, visível. Podem ser citados os seguintes princípios bíblicos como demonstração: não podemos ver a face de Deus, pronunciar seu nome, conhecer sua essência, sondar seus desígnios. Apenas ouvir sua voz.

Claro que D' não está preso. Quem está preso, à matéria, somos nós. Utilizando essa imagem do cativeiro de Washington Olivetto, creio que D' está para nós assim como Olivetto estava para a estudante de medicina. Tentando, o máximo possível, se comunicar, esperando que do outro lado da parede alguém o ouvisse. D' está batendo, fazendo barulhos, tentado estabelecer uma relação conosco. A maioria de nós, absorta na corriqueira banalidade do cotidiano, não está nem aí para os barulhos, a princípio indecifráveis, que escuta.

Porém um ou outro está de posse de seu estetoscópio simbólico, que é o uso da razão, aliada à fé, e presta atenção aos sussurros. A partir disso, do se utilizar a razão como instrumento para o engrandecimento de nosso conhecimento de D', podemos passar a ouvi-lo, baixinho, abafado, reverberando através duma barreira instransponível, que não podemos derrubar nem vencer. Não podemos ver sua face, saber muito sobre o que existe "do outro lado", nem tocá-lo. Mas é possível estabelecer algum tipo de comunicação com Ele. É possível ouvi-lo.

D' está batendo. Pode ser à sua porta, do outro lado da parede, ou sussurando baixinho no seu coração.

Talvez esteja na hora de vc parar, apurar seus ouvidos, focar sua lente, e prestar atenção. Não precisa de estetoscópio, basta humildade, boa vontade e o desejo sincero de evoluir, de aprender. Quando vc parar para prestar atenção nas mensagens ocultas que D' nos envia, todos os dias, seguramente vc passará a compreender melhor não só a D' como a si e a sua missão nesse plano terreno.


Knock, knock. Neo.

Sequestro de Olivetto, por Marcos Dvoskin e Paulo Moreira Leite, 11/02/02

Ressurreição espiritual


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