terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eu, Analista de Sistemas?!

Quem entrar em meu perfil do Facebook verá uma informação curiosa e que parece fora de lugar em minha biografia: a de que eu estudei Análise de Sistemas no IFSP – Instituto Federal São Paulo, antes denominado CEFET.

Só para deixar claro: não cheguei a me formar, abandonei o curso logo no primeiro semestre, portanto que ninguém pense que sou “Analista de Sistemas” :P

Passar no vestibular, especialmente numa Universidade Pública é um sonho almejado por todos os vestibulandos e creio que alguns se sentirão mortificados de eu ter por vontade própria aberto mão de minha vaga “na Federal”. De fato, tal é lamentável. E sinto muitíssimo que como isso eu possa ter “roubado a vaga” de outro vestibulando. Esta seria minha segunda graduação, e como eu já me encontrava então empregada e razoavelmente bem-estabelecida em minha ocupação de professora, não me sentia tão estimulada a empreender todo um novo curso superior.

Mas comecemos do início desta história.

No final de 2009 meus caminhos estavam meio nebulosos, e eu me encontrava meio perdida em meus rumos. Nessas horas, dá vontade de jogar tudo para o alto, comprar uma bicicleta ou uma passagem só de ida para Alto Paraíso de Goiás. Mas meu estofo é outro. Preciso de segurança, portanto jamais abriria mão do caminho que já estou trilhando sem ter outro seguro para enveredar.

A forma responsável que eu conheço de “jogar tudo para o alto e começar de novo” é prestar o vestibular e começar uma nova trilha. Tentar um novo caminho, abrir uma nova picada. Dar uma “sacudida” no próprio status quo.

Prestar um vestibular tb é uma forma de testar-se. Verificar se tanta empáfia que nutrimos a respeito de nós próprios ainda é válida ou já expirou por caduquice. Como eu já havia passado, nos tempos do cursinho, tanto na USP como na Unicamp, eu sabia que teria reais chances de ser aprovada caso prestasse um desses vestibulares. Eu sabia que, caso passasse numa dessas Universidades, eu simplesmente não teria coragem de abrir mão da vaga, teria que fazer juz a ela. Para tanto, seria obrigada a me mudar de Rio Claro, deixando uma avó Tula na mão, e abandonar meus 2 empregos, sem nenhuma garantia de sustento após minha mudança.

Mudar de cidade ou “sair de casa” para fazer faculdade é uma aventura à qual apenas nos podemos lançar se temos alguém que nos dê back-up, que nos apóie e garanta nosso sustento durante os estudos. Com isso contei durante minha graduação em História na USP. Mas meu avô Vicente faleceu assim que me formei, e eu não teria nesse segundo curso quem “me garantisse” que eu não iria passar fome ou ter que me degradar, como infelizmente muitas universitárias fazem, o que para mim sempre esteve completamente fora de cogitação.

Voltemos portanto a 2009, comigo à procura de um novo rumo. Não tive coragem de me inscrever num “vestibular”, mas ainda assim pretendia “me testar” para ver se eu continuava tão afiada como à época em que passei em meu primeiro vestibular. O melhor jeito de “me testar sem compromisso” seria fazer o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio.

Eu já havia prestado o ENEM em sua primeira edição, quando eu mesma estava encerrando o Ensino Secundário. Eram à época 63 perguntas, das quais acertei 52, o que me garantiu creio que 3 pontos a mais na FUVEST, vestibular da USP. Com os anos, o ENEM evoluiu. O número de perguntas subiu para 40 por área do conhecimento, mais uma enorme redação. Prova massacrante, em 2 dias. Na minha sala, sentei ao lado de um ex-aluno que se surpreendeu enormemente ao me ver ali, como um alienígena entre adolescentes. Talvez tenha temido que eu estivesse lá para o abduzir... rsrsrs...

A organização do ENEM fez o possível para que os testados não soubessem quais e quantas questões acertaram. Não foi disponibilizado o papel de gabarito que os alunos levam para casa a fim de conferir suas respostas. Ao perceber isso, antes das provas serem distribuídas, perguntei aos fiscais se podia deixar uma folha completamente em branco sobre a mesa para anotar e depois conferir minhas respostas.

- De jeito nenhum! Sobre a mesa, apenas lápis, caneta, borracha, RG e a ficha de inscrição.

Blz. Dei um “jeitinho milimétrico” e anotei todas as minhas respostas, dos 2 dias, em minha ficha de inscrição. E foi só por isso que fui uma das poucas que pôde conferir seus acertos. E isso foi curiosíssimo pois pude verificar que, mesmo sendo formada e professora de História, errei algumas perguntas dessa disciplina, enquanto que na área de “Linguagens e Códigos”, simplesmente, gabaritei.

Neste ENEM 2010, como creio que acontece em todas as edições, houve uma quebra de protocolo. Neste ano em particular, foi na impressão das provas amarelas, que vieram erradas, prejudicando milhões de estudantes. A minha foi a de cor azul e portanto não fui, por sorte, prejudicada pela desorganização dos assim chamados “organizadores” do ENEM.

2010 também foi o primeiro ano em que o ENEM foi utilizado como única prova de seleção para muitos Institutos e Universidade Federais, que aderiram ao SISU, Sistema de Seleção Unificado. Apurados todos os resultados, ao final de janeiro os que haviam prestado a prova deveriam se inscrever no SISU para ver se suas notas os haviam qualificado para alguma vaga em algum lugar do país.

Claro que tudo que parece tão lógico e bonitinho, no Brasil não funciona tão direito assim. Houve uma enxurrada de milhões de acessos simultâneos e, lógico, o sistema caiu. O SISU rapidamente se tornou o SIFU, bombando no Twitter. Milhões não conseguiam sequer se logar no sistema, quanto menos visualizar e selecionar suas opções.

Lá pelo terceiro dia, em hora madrigal bastante aversa, consegui me logar e verificar minha notas em cada habilidade. De cabeça, me lembro que em redação tirei creio que 821. Minha média global remontava a impressionantes 742 pontos num universo em que a “normalidade” estava estabelecida em 500.

Descobri que minha nota me habilitava para diversos cursos, em diversos estados da federação. Como não pretendia ir tão longe, verifiquei especificamente para o estado de SP. Me interessei pela vaga de “História da Arte” na recém-inaugurada Federal de Santos. Também tinha nota para diversos cursos na Federal do ABC. Mas eu não pretendia ir tão longe.

Próximo a Rio Claro, o único campus era o de São Carlos, a 1 hora de viagem. Este campus oferecia um único curso: Tecnólogo em Análise de Sistemas. Sinceramente, como sei de minhas graves deficiências em Exatas, eu jamais considerei a possibilidade de ser aprovada no vestibular de uma “Pública” para Exatas. No máximo, na Física ou Matemática, pouco concorridas. Mas não. Descobri que sim, meus 742 pontos me habilitavam como nona colocada no curso de Tecnólogo em Análise de Sistemas no Instituto Federal São Carlos, que funciona no Campus da UFSCAR.

Me inscrevi on line. :) Uma nova janela, uma nova possibilidade de um futuro radicalmente diferente, se abria diante de mim. Estudando em São Carlos, eu não precisaria me mudar de cidade. Poderia continuar morando com minha avó e todas as noites fazer a viagem de ida e volta.

Claro que os projetos imaginários sempre são mais brilhantes e têm cores mais belas que a realidade. Estudando à noite eu teria que abrir mão de trabalhar no turno que garantia a maior parte de meu sustento. Teria que empreender viagem a outra cidade 6 dias da semana, pois teria aula inclusive aos sábados pela manhã, e aula de uma disciplina tão temida quanto renomada “Lógica”... Teria que me esmerar em estudos numa área completamente estranha, com símbolos completamente desconhecidos, aprendendo linguagens completamente inauditas. Chegaria em casa depois da meia noite para ter que estar em sala de aula, a mil por hora, já às 7 da matina. Teria que abrir mão de qquer tipo de “vida social” presencial, não-virtual, que pretendesse ter. Teria que gastar os tubos com a mensalidade da van. Tudo isso elevado ao cubo, pois eram 3 anos de curso.

Mas em princípios de fevereiro não vi nada disso e tudo me pareceu translúcido quando fui, pela primeira vez na vida, à pujante cidade de São Carlos. Nem sabia o caminho. Pedi que minha amiga filósofa Rafaela me acompanhasse, pois ela já havia estado na cidade. Juntas fomos em meu carro até a UFSCAR, e com muita alegria tive companhia ao fazer minha matrícula. Só quem já passou no vestibular de uma Universidade Pública sabe a alegria que é, depois de todo um périplo, de tantos sonhos e projetos, finalmente poder entregar as cópias de seus documentos, oficializar sua matrícula e sentir-se parte de um mundo diferente, universitário. Passar no vestibular lava a alma. É uma realização que ninguém, jamais, poderá tirar de nós.

Feita a matrícula, “mexi meus pauzinhos” para possibilitar que, de fato, pudesse freqüentar o curso, realmente, a sério. Contratei a van, a R$270,00 por mês. Na atribuição de aulas, dolorosamente abri mão de pegar aulas à noite. Depois descobri que por conta disso, minha renda havia caído para menos de mil reais. Com um terço disso comprometido só pela van. Por mais sem ar que isso me deixasse, o real motivo para minha desistência não foi financeiro, mas a soma de cansaço e medo.

Cansaço pois de fato era extenuante viajar todos os dias a São Carlos. Medo pois percebi que teria, de fato, que me esforçar. Teria que quebrar minha cabeça, deglutir em poucos meses um volume inteiro de “Matemática para o Ensino Médio” só para sanar minhas deficiências escolares e poder então estar pari passu para poder me aventurar na Matemática de nível Superior.

Cálculo é algo que para mim se dá à manivela, à luz de velas, no máximo movido a vapor, carvão ou querosene. Tive medo de tentar, quebrar a cabeça, e ao final, não conseguir. Medo que nunca tive diante dos temidos professores da FFLCH, do Francisco Murari, da Márcia Berbel, da Zilda Iokoi. Por mais que suas avaliações fossem difíceis, eu sabia que poderia desenvolver meus raciocínios numa linguagem que domino e conseguiria, no mínimo, algum nível de meio certo.

Em Exatas, não há meio certo. Não há tanto espaço para análises, para outros pontos de vista. Por medo de me esforçar e, ainda assim, falhar, pipoquei, ou “amarelei”. Por 3 meses fui religiosamente às aulas, com relativo sucesso. Fazia participações e comentários que enriqueciam nossas sessões, colhendo em troca muitos olhares admirados de meus colegas, muitos já profissionais da área de informática e mais velhos que eu. Em nenhum momento me considerei “aquém dos demais”, nem nas disciplinas especificamente “exatas”. Mas ainda assim tive muito medo. No dia da primeira prova de “Matemática Básica”, para a qual eu realmente havia estudado bastante, mas não me sentia segura de dominar o conteúdo, ponderei se minha coragem era suficiente para ir e tentar, com a possibilidade real ou imaginária de recolher um retumbante fracasso.

Não me orgulho, mas admito que meu medo superou minha coragem e faltei a prova. Depois disso não tive mais coragem de voltar ao curso. Apesar desse amargor, o gosto que se sobressai ao final da degustação dessa experiência é doce. Fiz novos amigos. Aprendi coisas sobre computação que jamais sonhei saber. Conheci todo um novo mundo e as bases da linguagem da computação. Conhecimentos que já pus em prática em textos publicados neste blog.

Essa experiência também me ajudou a parar de reclamar um pouco de minha vida e parar de ver meus caminhos como fechados. Me trouxe a consciência de que, sim, eu ainda sou capaz de passar no vestibular de uma Universidade Pública, mesmo mais de 10 anos após egressa do Ensino Médio. Me mostrou que todo o mundo está aberto diante de mim, basta eu ter um foco, escolher um caminho e engendrar minhas forças. Qualquer mudança ou novo rumo que eu queira dar à minha vida está aberta diante de mim.

Basta ter coragem para decidir e força para perseverar.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Refogadão de legumes

Quem sabe fazer um bom refogadão é capaz de alimentar sua família durante décadas até que alguém se dê conta de que a cozinheira não é tão sofisticada. Muitos pratos com nomes chiques nada mais são que um refogadão com ingredientes e temperos específicos. Mas o princípio básico aqui exposto está sempre presente nessas preparações.

Nessa receita indico o uso de molho-agridoce, mas qualquer molho pode ser utilizado, desde o banal molho de tomate, até o bechamel, quatro queijos,o madeira, para yakissoba etcs. O objetivo do molho é tornar mais agradável a ingestão de legumes variados, salteados em pouco óleo. Um refogadão acompanhado simplesmente por arroz branco já é uma refeição completa.

Ingredientes:

1 pote de molho pronto de qualquer sabor. Neste exemplo foi usado o sabor chinês agridoce

2 batatas picadas

1 cenoura fatiada

1 pimentão picado

1 abobrinha italiana picada

2 xícaras de carne de soja hidrata e espremida

1 cebola em rodelas

1 xícara de salsa e cebolinha picadas

aprox. 30 ml. de óleo para refogar

1 copo, ou 250 ml. de água

*Se detestar carne de soja, não a use. Se quiser acrescentar outros legumes como vagem, ervilha torta, berinjela, madioquinha, aipo etcs, fique à vontade para inventar variações que se adaptem melhor ao seu paladar.

Modo de fazer:

Numa panela grande, aqueça o óleo e coloque a batata com a cenoura. Mexa por 3 minutos. Deseje o copo de água, misture, tampe a panela, e quando recomeçar a fervura, abaixe o fogo. Deixe-os cozinhar sozinhos por 5 minutos nesta emulsão, mexendo de vez em quando. Acrescente a abobrinha e o pimentão. Tampe a panela e deixe cozinhar por mais 5 minutos, mexendo de vez em quando. Acrescente a cebola e a carne de soja. Tampe e deixe cozinhar por mais 5 minutos, mexendo de vez em quando. Acrescente a salsinha, a cebolinha e o pote de molho. Mexa bem. Tampe. Cozinhe por mais cerca de 3 minutos, mexendo de vez em quando. Verifique principalmente se as batatas já estão cozidas antes de retirar do fogo.

Sirva com arroz.

sábado, 17 de setembro de 2011

A importância da delicadeza e da simpatia

Muitas habilidades essenciais à vida em sociedade não são explicitamente ensinadas aos mais jovens. E por conta disso muitos passam décadas dando murro em ponta de faca e se dando mal na vida sem ter a menor idéia do porquê.

Eu mesma só agora já adulta me dou conta do quanto girei em falso e agi contra mim mesma sem o perceber, por pouco entender quando mais jovem as “regras sociais” que regem a interação humana.

Talvez isso seja devido a eu ser portadora de algum espectro de autismo, talvez apenas pela falta de orientação em “inteligência emocional”. De toda forma, parte do erigirmo-nos como seres humanos é nos dar conta e superar nossas dificuldades.

Tenho certeza de que Deus não é cruel para nos manter presos por tempo além do estritamente necessário neste lacrimarum valle, portanto creio que Ele apenas nos mantenha aqui até adquirirmos os conhecimentos necessários e passarmos com sucesso pelas experiências que nos habilitam à candidatura a planos melhores.

Portanto, daquilo que vc tem mais dificuldade vc não deve fugir, mas encarar de frente. Só assim não precisará mais ver-se de novo diante da mesma situação, num eterno retorno na guigul nemashot ou “roda da vida”.

A “delicadeza” normalmente é uma qualidade associada às mulheres, o assim chamado “sexo frágil”. Mas ela é necessária a todos os seres humanos. Se pretendem se “dar bem” socialmente, pelo menos.

Especialmente no Brasil, é preciso aprender que tudo passa pela dinâmica da relação inter-pessoal. No Brasil a relação pessoa-pessoa (informal) sempre passa à frente das relações formais chefe-subordinado, atendente-cliente, professor-aluno, candidato-eleitor etcs.

Ou seja, antes de ser avaliado por seu chefe como “eficiente”, seu atendente como “bom cliente”, seu aluno como “bom professor” ou ao seu eleitor como “bom político”, vc será bem ou mal quisto pela sua impressão pessoal de proximidade e “amizade cativante”.

Portanto, aprendam e conformem-se: enquanto empregado, seu chefe não te avaliará pela sua capacidade de trabalho, enquanto cliente a vendedora não te atenderá “bem ou mal” pelo tanto que vc está disposto a gastar, seus alunos não te avaliarão pela quantidade de conhecimento que vc tem para lhes passar, se vc for político seus eleitores não te avaliarão pela sua honestidade e seu trabalho parlamentar: todos te avaliarão baseados em sua aparente “simpatia”. Se vc em cada ocasião em que esteve diante deles estava bem-alinhado, sorridente, de bom humor, se os saudou com entusiasmo, perguntou se “está tudo bem” e disse que, com você está tudo, sempre, ótimo.

Quando mais jovem eu não entendia absolutamente pq as pessoas perguntavam sempre ao me encontrar se “estava tudo bem” se elas, de fato, não estavam interessadas em se estava tudo bem ou tudo mal comigo. Depois de quebrar a cabeça por muitos anos compreendi que essa é uma saudação protocolar, que busca apenas confortar e reafirmar a “simpatia” das pessoas que se encontram.


Eu também não entendia a questão do “beijo de saudação”. Em países latinos, as pessoas se saúdam com um “Oi, tudo em?” arrematado por um, ou dois, ou três beijos no rosto. No Brasil, a quantidade de beijos depende do Estado da Federação. No estado de SP, um beijo basta. No RJ, são necessários 2 ou 3. E não foram poucas as vezes em que deixei cariocas com bico feito e o beijo “no ar” ao afastar meu rosto satisfeito após o primeiro beijo. Grande gafe...

Ao encontrar algum conhecido, eu sempre ficava com a dúvida se eu devia fazer o gesto do beijo ao cumprimentar ou não. Normalmente sempre optei por não o fazer, até perceber que as pessoas me julgavam antipática pelo simples fato de não haver cumprimentado-as com um ósculo.

Outra questão que sempre me foi difícil foi quando e quantas vezes eu deveria saudar meus conhecidos. Por exemplo, ao passar pelo corredor de me local de trabalho ou estudo, mesmo que só de passagem, ao ter meu trajeto cruzado com alguém que conhecia, sempre ficava na dúvida, já que não estava “de bobeira” se deveria parar para fazer um cumprimento e perguntar, mesmo sem querer saber se “estava tudo bem”. Normalmente sempre optava por seguir adiante em meu caminho.

Só me dei conta de que isso é um grande erro quando ouvi, inadvertidamente, uma colega de faculdade falar a meu respeito: “Eu não falo mais com ela, outro dia a gente se cruzou no corredor e ela fingiu que não me conhecia”. Eu não “fingi que não a conhecia”, simplesmente estava com pressa e não parei para a saudar.

Mas aprendi então que sim, toda vez que eu cruzasse por um conhecido, mesmo que eu não estivesse com vontade ou tempo para tal, sim, eu era obrigada a parar, abrir um sorriso, dar um beijinho no rosto e perguntar se “está tudo bem”, só para eu ouvir um “tudo bem” em troca e poder seguir o meu caminho sem ser julgada como “antipática”. Mesmo que eu encontrasse no trajeto 30 conhecidos, eu teria que parar, individualmente, diante de cada um deles e repetir o procedimento de interação social protocolar, ao menos se eu não quisesse me ver malquista.

Uma cena ocorrida na faculdade ilustra isso cristalinamente. Numa plenária no auditório “Fernand Braudel”, estavam meus colegas sentados em grupo, todos próximos. Quando eu cheguei, fiz um gesto coletivo saudando todos com a mão. Muitos nem responderam. Sentei-me no grupo. Um minuto depois chegou uma outra colega, bem mais popular que eu. Ela chegou e foi, de um em um, dando beijinhos individuais. Demorou uns 15 minutos, mas ela beijou individualmente a todos, inclusive eu, distribuindo sorrisos felizes. Então compreendi pq ela, mesmo sendo muito pouco brilhante, era disputada para os trabalhos em grupo, enquanto eu, que tinha contribuições intelectuais a fazer, muitas vezes era preterida. O que importava não era a capacidade de trabalho, mas a de cativar simpatia nos demais.

Ouro detalhe da interação social no Brasil é o uso de sufixos de tamanho e intensidade. E de locuções que “suavizam” ou “tucanam” o real sentido da frase. É impressionante como fazemos o uso do diminutivo e gostamos de um “inho”. Brasileiros tomam “cafezinho”, tomar “chazinho”, fazem “lanchinho” e “festinha”, na qual tomam “copinhos” de “choppinho” ou “cervejinha”.

A respeito do uso de locuções, sempre tento ser econômica e exata. Se há um verbo exato, pq usar um verbo genérico acrescido dum substantivo? Aprendi que isso se faz pelo menos motivo do emprego dos diminutos: suavizar, dar delicadeza e maior simpatia à frase.

Lembro-me ainda hoje vividamente do dia em que me ensinaram a importância da delicadeza na expressão humana. Eu tinha cerca de 13 anos. Estava no banco de trás do carro de Dona M, mãe de minha amiga T. Estávamos voltando de algum lugar em direção às nossas casa, e dona M me deixaria à porta, como sempre fazia com as amigas da filha, boa mãe que era, e ainda é.

Minha bexiga estava apertada, quase estourando, e eu profundamente incomodada disse:

- Pára no banheiro que eu preciso mijar!

Dona M fez uma cara estranha, que eu absolutamente não compreendi o sentido. Estávamos numa avenida, no meio do caminho, não dava para ela parar imediatamente, mas como eu pouco estava ligando pra isso, continuei a repetir que “precisava mijar” o mais rápido possível. Dona M não se irritou, mas com uma expressão de experiência me disse:

- Fernanda, tudo bem, já entendi, vou parar assim que der, mas deixa eu te dizer: vc é mocinha e não fica bem vc falar que precisa “mijar”. Fala que vc precisa “fazer xixi” que fica mais bonitinho.

Emborquei meu crânio 35 graus à direita em minha comum expressão de tilt diante de uma linha que não fecha e repliquei:

- Mas “mijar” e “fazer xixi” não é a mesma coisa?

Dona M. sorriu e explicou pacientemente:

- No fundo, é a mesma coisa, mas falar “fazer xixi” é melhor para uma mocinha. Quem “mija” é quem não tem educação. Sua mãe nunca te ensinou isso?

Naquele momento, sentada no banco de trás do carro de Dona M, comecei a suspeitar que eu era uma coadjuvante elencada a contragosto numa grande farsa. Demorei mais 15 anos para ter certeza absoluta disso. De que quem deveria zelar pela minha educação e pelo meu bem-estar estava pouco se lixando em me ensinar as coisas mais importantes que precisamos aprender na vida. Demorei décadas para perceber que quem deveria me promover e ajudar estava a me sabotar e prejudicar. Então dei um sorriso búdico e entendi pq sempre me ornei de ícones que afastam a inveja: joaninhas, pimentas, espadas de são-jorge, olhos gregos. Eu sabia inconscientemente que o inimigo estava muito próximo.

Pelo menos agora posso ver claramente, e talvez ajudar a orientar outros que como eu não puderam contar com uma boa educação emocional.

Portanto, fica a dica. Na próxima vez que vc se ver diante de uma copeira, se vc virar e dizer simplesmente “me traz um café”, a chance de beber um bom café é de 35%. Já se vc se aproximar com um sorriso, perguntar o nome dela, disser “Oi, tudo bem?” e pedir por um “cafezinho” assim, no diminutivo, as chances de beber um bom café saltam para 85%. E isso se replica em todas as situações de interação humana.

É preciso, sempre, delicadeza e simpatia. Mesmo que vc não esteja com saco para isso. Mesmo naqueles bad hair days, em que tudo dá errado e vc está se sentindo péssimo, vc deve saudar entusiasmicamente a todos com sorrisos efusivos, perguntar como eles estão e dizer que com vc está tudo, sempre, ótimo. Se agir de outra forma, vc corre o risco de os outros acharem que vc está "virando a cara" e sendo provocativamente mal-educado em relação a eles.


Dave Matthews Band – Mother Father


Danuza Leão


Alanis Morissette – You learn


Christina Crawford – Mamãezinha querida


William Shakespeare – Hamlet


“Miss Congeniality” – Miss Simpatia


sábado, 10 de setembro de 2011

O Onze de Setembro de 2001

Formiguinhas históricas que somos, normalmente não nos damos conta dos fatos determinantes que se desenrolam no espaço de tempo em que vivemos. A História com agá maiúsculo se descreve na longa duração braudeliana, e nossas consciências são como lanternas fracas que iluminam apenas uma pequena fração da realidade, que está diante dos nossos olhos, e cuja configuração é deformada pelo lusco-fusco de nossos conceitos.

Por estarmos tão perto, atados ao dia-a-dia, não vemos a curva, a parábola que descreve a longa duração, e menos ainda os picos e quedas das conjunturas. Vemos apenas os pequenos pontinhos dos acontecimentos, sem perceber que se nos afastarmos alguns passos veremos que estes pontinhos das efemérides descrevem zigue-zagues de conjunturas. E se andarmos muitos mais passos atrás, veremos, talvez, a longa curva descrita pelas conjunturas e na qual os acontecimentos individuais, embora integrantes, perdem sua definição detalhada diante do “esquema geral”.

Escrevo isso justamente para estabelecer que nós, testemunhas oculares da História, gostamos de dar maior relevo aos acontecimentos que nos são contemporâneos do que eles realmente merecem.

Após o 11 de setembro, muitos foram os alarmistas e até “profetas do Apocalipse” que viram neste fato algo parecido com os grandes eventos históricos secularmente sedimentados, que alteraram determinante os rumos da História. A respeito disso, lembro-me de uma cena curiosa passada no ano de 2003.

Eu estava cursando História, e fazendo Iniciação Científica com o Professor Doutor István Jancsó. Professor Titular da USP, diretor do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros “Sérgio Buarque de Hollanda”, apesar de húngaro, István era um brasilianista e intelectual muito respeitado e requisitado pela imprensa para entrevistas.

Nesta feita, estávamos em sua sala pessoal no Departamento de História (sala que não mais existe, foi desfeita numa reforma) quando o telefone tocou. Por nosso orientador, todos nós do grupo de Iniciação (que em sua máxima extensão abarcou, além de mim a André Nicacio Lima, “Godinho ou Gêngis”, Mainá Pereira Prada Rodrigues, “Mainas”, Andréa Paula Placitte, “Dea”, Bruno Fabris Estefanes, “Garfield”, Maria Inês Panzoldo de Carvalho, Júlia Relva Basso e Henrique Palazzo) tínhamos alta deferência, e lhe facilitávamos a vida nas pequenas coisas que podíamos, como ir buscar um café, uma xerox e atender ao telefone. Neste dia o atendi durante uma reunião com o professor. Do outro lado disseram:

- Boa tarde, aqui é da [revista] Caros Amigos. Gostaríamos de entrevistar o doutor István para uma matéria. Ele está disponível?

Passei o telefone para ele, e ficamos observando sua conversa ao telefone. Após a secretária transferir a ligação para o jornalista, István abiu seu típico sorriso e falou eu seu característico sotaque que nada tinha de húngaro, e muito da indolência baiana:

- Oi, meu amigo! Pode falar!... Hum... Não, não, de jeito nenhum! Vocês jornalistas... Ah, você conhece a história daquele menino que ficava avisando toda hora que tinha um lobo à espreita? Pois é... Não, ainda não, você ainda não pode escrever isso. Faz o seguinte, passa amanhã no IEB e a gente conversa melhor. Te espero então. Tchau.

Desligou enquanto dava um sorriso búdico. Balançou complacentemente a cabeça numa expressão negativa dum avô cheio de doçura que vê o netinho fazer uma traquinagem. Soltou uma risada solta, calma e pausada, Levantou seu indicador no ar, como lhe era tão típico ao ter um ponto que pretendia explicar. Seguiu-se a pausa dramática que todos conhecíamos e amávamos enquanto ele articulava a primeira sílaba vocal de seu pensamento abstrato, talvez em húngaro. Nos disse:

- Esses jornalistas, sempre tão desesperados, alarmistas, quase histéricos... rsrsrs. Sabem o que ele me perguntou? Se podia escrever em sua matéria que os Atentados de 11 de setembro são o fato que porá fim à História Contemporânea e iniciará uma nova era... rsrsrs... Ele estava querendo decretar o pentapartismo, e não mais o quadripartismo histórico... rsrsrs... Amanhã vou mandar ele ler Filipe II” de Fernand Braudel e tentar lhe explicar a diferença entre estrutura, conjuntura e acontecimentos...

O jornalista, que embora escrevesse na respeitadíssima Caros Amigos, não tinha a menor idéia do que é História para achar que podia, 2 anos depois, dizer que os ataques perpetrados pela Al Quaeda eram tão importantes quanto a Invenção da Escrita (circa 4000 a.C.), a Queda de Roma (476 d.C.), a Queda de Constantinopla (1453) e a Revolução Francesa (1789). Citei estes fatos pois estes foram estabelecidos como as marcas que separam as 4 divisões do quadripartismo histórico nas seguintes eras: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Esta última iniciada pela Revolução Francesa e que, dizem os historiadores, continua em nossos dias, e queria o jornalista decretar encerrada. Risos para sua pretensão.

Hoje, véspera de completarem-se 10 anos dos piores atentados terroristas da história, pelo menos dos Estados Unidos, ainda é grande a leva dos alarmistas e profetas do Apocalipse. E como historiadora, tentando dar alguns passos atrás para divisar melhor a “imagem geral” desenhada pelos acontecimentos, é fácil compreender o porquê disso, pó-lo em perspectiva, e até “justificar” essa postura.

Como cada um de nós acha que o próprio umbigo é o centro em torno do qual o mundo gira, nos considerados testemunhas privilegiadas da História, e destinados e testemunhar acontecimento mais importantes que todos os que se desenrolaram antes de nós. O que não vemos perde importância. O que testemunhamos, já que nós somos tão importantes, tem que ser igualmente um fato chave, que alterará a História do Mundo, tanto quanto, achamos, nossa própria existência o fará. O nome disso é “Síndrome de Messias”, algo que o Cristianismo implementou profundamente em nossas estruturas psicológicas da longa-duração. Desde que Jesus morreu sucederam-se pelo menos 80 gerações. E cada uma delas teve certeza de ser a última, aquela que testemunharia as convulsões apocalípticas do “Juízo Final”. Eu, que vivi a virada do segundo para o terceiro milênio, a pretensa passagem para a “era de Aquário”, testemunhei o messianismo de meus contemporâneos e sua expectativa de que o mundo acabasse em 2000, depois em 2001 no “Bug do Milênio”, e agora se aguarda ansiosamente pelo 2012 profetizado pelos maias. Risos para nossa pretensão.

Como não há como eu mesma projetar-me fora da curva, pois minha consciência individual é apenas uma lanterninha fraca que ilumina muito pouco, para encerrar este texto redigirei meu próprio testemunho pessoal de como os atentados às Torres Gêmeas do World Trade Center me impactaram pessoalmente. No futuro, creio que todos serão perguntados “Onde você estava quando aconteceram os atentados do Bin Laden?”. E todos, seguramente, se lembrarão vividamente de sua experiência pessoal. A minha segue abaixo.

Eu tinha 18 anos. O fuso horário oficial de Brasília conta uma hora a menos que em Nova York. Era manhã e eu estava assistindo a aula no cursinho pré-vestibular. Um dia muito comum. No horário do intervalo, lá pelas 9 e meia, quando o primeiro avião atingiu a primeira torre, os atendentes da cantina nos disseram que um avião havia batido contra “um prédio alto” em Nova Iorque. A princípio, claro, todos achamos que teria sido um acidente. E nesse nível foram os comentários durante as aulas que faltavam até o meio-dia. Terminado o turno escolar, corri para casa e liguei na CNN.

Eu vi o fim do mundo.

Eu vi o Inominável. Eu vi o Horror, o Horror.

Ao vivo, live, diante de meus olhos, eu vi o começo da tão temida Terceira Guerra Mundial. Eu vi ruírem todos os esforços diplomáticos da segunda metade do século XX.

Chocante. Inesperado. Só quem acompanhou em real time os acontecimentos deste dia pode dimensionar o impacto psicológico dos atentados. E como o “imponderável” conspirou a favor de nossos maiores medos. Quem só sabe deste fato bem sedimentado pelos anos não carregará, felizmente, o trauma do desastre em cada ínfimo e escabroso detalhe. Não carregará em sua memória centenas de horas de jornalismo mostrando as pessoas assando nos prédios ainda em pé. Sacudindo panos nas janelas. Se espatifando, às dezenas, em torno do prédio.

E, muito pior, as cenas, minuto a minuto, dos prédios ruindo, um após o outro. A poeira tomando Manhattan, cobrindo os engravatados, os ricos e poderosos, aqueles que regem o mundo a partir de Wall Street. Milhares de nova-iorquinos peregrinando à pé pela ilha, chocados, machucados, respirando ar contaminado, indo, mas sem saber para onde.

Quem souber dos atentados de 2001 apenas por ler ou “ouvir dizer” seguramente perderá a dimensão de um detalhe que não escapou às testemunhas contemporâneas: absolutamente ninguém considerava possível que os prédios ruíssem. Esse “absolutamente” é, de fato, absoluto. Por isso supracitei o termo “imponderável”. O objetivo calculado por bin Laden era apenas “ferir” às torres gêmeas. Símbolos do Comércio Mundial, os mais altos prédios da Capital do Mundo Ocidental, tal qual Roma foi um dia, pareciam tão sólidos quanto a economia capitalista neo-liberal. Nada, nem bombas nem aviões pareciam capazes de as derrubar. Destruir as torres não era o intento da Al Quaeda. Sequer os terroristas foram capazes de dimensionar as conseqüências e a severidade de seus atentados.

Tanto ninguém achava que qualquer das torres pudesse ruir que parte dos mortos não estava nas torres quando os aviões as atingiram: são bombeiros e socorristas que acorreram ao Ground Zero para ajudar às vítimas. Subiram pelos prédios sem considerar o “imponderável”. Mas este sobreveio e a segunda torre a ser atingida foi a primeira a ruir, sepultando centenas de bombeiros heróicos do NYFD – New York Fire Department.

Muito mais impressionante que o fato de dois aviões de passageiros terem sido lançados contra o símbolo máximo do capitalismo yankee foi o colapso posterior das torres. Isto desnudou a fragilidade do sistema que considerávamos pétreo. O colapso demonstrou que as estruturas do Capitalismo, que achávamos sólidas e à prova de tudo, eram muito mais frágeis do que nossos medos antecipavam, e que poderiam ir facilmente ao chão. Não sob o ataque de um elefante, mas pela picada de um mosquito que ninguém achava tão virulento.

Nunca tínhamos ouvido falar de Osama bin Laden ou da al Quaeda. Descobrimos que muito mais perigosos são os inimigos que desconhecemos, ou que não levamos em consideração.

Não testemunhei aos “Treze dias que abalaram o mundo” na crise dos mísseis de 1962, mas teleassisti ao dia que sacudiu o mundo, como eu o conhecia. Vi a Grande Potência que emergiu da Guerra Fria e unipolarizou o mundo após 1991 colocada de joelhos, agora não pela vizinha Cuba e pelo Comunismo, mas por um grupo terrorista sediado no longínquo e (até então) facilmente esquecível Afeganistão e pelo fundamentalismo religioso islâmico. E este novo inimigo é muito mais difícil de combater que “os vermelhos”.

Durante a Guerra Fria assistimos à disputa de dois Estados, legítimos, governos constituídos, signatários de convenções internacionais, que se sentavam em mesas para negociar, que atendiam ao telefone. Inimigos equivalentes com os quais se podia dialogar. Liderados por chefes de Estado responsáveis, que não desejavam levar o mundo a um holocausto nuclear, que seria a Terceira Guerra Mundial entre EUA e URSS, que pareceu tão próxima entre as décadas de 1960 e 1970...

Essa “guerra tradicional” entre elefantes poderosos estatais não mais existe. Nossa guerra do século XXI é assimétrica, de guerrilha, do tipo que os americanos sempre perderam, dede o Vietnã. Não há comparação entre os “atentados de 11 de setembro” e a batalha de Waterloo, por exemplo. Nem Osama bin Laden nem George W, Bush chegam a poucos centímertos da estatura de Napoleão Bonaparte nem do duque de Welington.

Os atentados de 11 de setembro não foram levados a cabo pelo governo do estado do Afeganistão contra o governo dos Estados Unidos da América. Os atentados são responsabilidade de uma (múltiplos risos) ONG – Organização não-Governamental. “Organizada” em células terroristas. Com as quais não há negociação. Que não assina nem respeita ratados. Que talvez até tencione acelerar o “apocalipse”, ansiando pela chegada de seu próprio messias, o Mahdi.

Só para arrematar, quem em 2001 dissesse que hoje o presidente americano teria por nome do meio um “Hussein” igual ao de Saddam e por sobrenome um “Obama” tão parecido com o prenome de Osama, e que ainda por cima seria negro e havaiano, seguramente seria considerado completamente louco e fora de si. Talvez tanto quanto consideramos desprovidos de razão aqueles que viram no 11 de setembro de 2001 um fato histórico digno de iniciar uma nova era.

Apenas a longa duração poderá dizer quem é o louco e quem é o lúcido. Vamos aguardar.


Cássia Eller - O Segundo Sol

Melancholia

π (pi/1998)

Nós que aqui estamos por vós esperamos

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Da inquebrantável perseverança humana

Seres humanos são curiosos. Somos dos únicos animais com consciência histórica, com memória de nossa trajetória pessoal e capazes de transmitir conhecimentos ou “cultura” às sucessivas gerações. A isso se chama “Civilização”.

Outros animais possuem também certa memória emotiva referente aos entes amados que já se foram. Um bom exemplo é o dos elefantes, com sua memória paquidérmica. Ao passarem pelo local de falecimento de um ente querido, mesmo muitos anos depois, os elefantes fazem certa deferência, como a demonstrar respeito pela memória do ente falecido. A ararinha azul é um dos poucos animais naturalmente monogâmicos, e que conhecem a viuvez da ausência do parceiro sexual perdido.

Dos animais com os quais convivi, minha cachorra Jade enviuvou por 2 vezes: de Lucca e de Uísque. Sua “saudade” do ente querido perdido não excedeu uma semana. Nos primeiros dias do falecimento de seus esposos, ela ainda os procurava pela casa. Excedida uma semana, ela pareceu “esquecer” ou “superar rapidamente a perda” de seus companheiros, sem grandes traumas.

Com os seres humanos não é tão fácil “esquecer”, “superar”, “seguir adiante”, pois nossa consciência histórica nos traz sempre presentes as lembranças do passado, a balizar e dar parâmetros para nossas ações futuras. E, apesar disso, é surpreendente a capacidade humana de recomeçar, do zero se necessário. Inúmeras vezes. Numa perseverança inquebrantável.

A respeito disso, nascer na América, no “Novo Mundo” é significativo. Nativos da América trazem uma carga de permanências, nexos identitários menos vincados. Em nosso cotidiano não somos confrontados com reminiscências psicológicas e ruínas milenares. Há mais história por construir do que por reconstruir. De certa forma somos “como cultura”, menos traumatizados que os asiáticos ou europeus. Não que isso resulte em pessoas essencialmente diferentes em seu convívio diário inter-pessoal.

A dinâmica do relacionamento inter-pessoal estabelecida no Ocidente reza que “cada panela tem sua tampa” e que “sempre existe um chinelo velho para um pé cansado” ou seja, que a Felicidade é encontrar sua “alma gêmea”: alguém do sexo oposto que nos complete, nos traga a “Felicidade” e com quem constituiremos uma família ao gerar descendentes.

Especialmente às mulheres, todos os “contos de fadas” e “histórias de ninar” nos ensinam a perseverar por conseguir o objetivo máximo das princesas da Disney. As histórias de Cinderella, Aurora, Branca de Neve, Ariel, Bella, Jasmine, Pocahontas e afins, todas, têm uma trama comum: a mocinha que atinge a “Felicidade” ao encontrar seu príncipe encantado. Todas essas estórias acabam na cena do casamento com a frase “E foram felizes para sempre”...

Lindo. Maravilhoso. Poético. E ilusório.

Toda e cada menina demorará cerca de 30 anos para perceber isso. Que não existe “príncipe encantado” e que a dinâmica de relacionamento inter-pessoal conhecida como “amor romântico” é uma ilusão.

Ilustrarei esse argumento a partir de um caso específico. O da cantora country norte-americana Shania Twain. Shania é uma mulher muito bonita, e com uma voz de anjo. Seu maior sucesso é a música românticaYou're Still The One”, em português: “Você ainda é o único”, ou “Você ainda é aquele (um especial)”, ou “Você ainda é o escolhido” * . Nesta música Shania enaltece seu amor pelo seu então marido Robert Lange entoando:

“Eles diziam, "Eu aposto que eles nunca conseguirão"

Mas somente olhe para nós aqui

Nós ainda estamos juntos e fortes (...)

(Você ainda é aquele)

Você ainda é aquele para quem eu corro

Aquele a quem eu pertenço

Você é aquele que eu quero na vida

(Você ainda é aquele)

Você ainda é aquele que eu amo

Aquele com quem eu sonho

Você ainda é aquele que eu dou um beijo de boa noite

Eu estou feliz por nós termos conseguido

Olhe o quanto longe nós chegamos meu querido.”

Belo. Romântico. Inspirador.

E completamente falso. Nem Shania nem seus fãs o sabiam. Só soubemos neste 2011 o motivo pelo qual Shania “sumiu da mídia” por muitos anos mesmo sendo uma cantora de imenso sucesso. O revelou num programa de Oprah Winfrey. Relatou que não conseguia mais cantar seu maior sucesso sem chorar compulsivamente e sentir-se completamente lograda, enganada, aviltada, enquanto ser humano. Pois o alvo dos versos lindos e românticos que antes cantava a plenos pulmões lhe havia dado a pior rasteira de sua vida, o golpe mais baixo e inesperado, contra o qual não haveria proteção nem sobreaviso.

Ser vítima de adultério ou “levar um chifre” é coisa que todos os seres humanos temem e, em certa medida, até esperam. “Ser traído”, para além de “levar chifre” pode ser ainda mais sério se o protagonista da traição não é ligado a nós por um relacionamento sexual, mas pelo de amizade.

Ser traído por um amigo é muito pior do que “levar um chifre” de seu parceiro sexual pois diante dos amigos, que achamos ser nossos companheiros e estarem ao nosso lado, nos despimos ainda mais plenamente do que diante de nossos “amores”. Relacionamentos amorosos/sexuais vêm e vão. Amigos, de verdade, são eternos. Nos sustêm, auxiliam, dão colo, ombro e compreensão. Amigos são os irmãos que escolhemos, com os quais temos afinidades e múltiplas lembranças compartilhadas. Nos quais temos plena confiança.

Confiar em nossos amigos nos traz certo “descanso” e a sensação de que não estamos completamente sozinhos no mundo: nos faz crer que temos aliados, companheiros de trajetória, que estão ao nosso lado para nos dar suporte e nortear pela vida.

Assim creio eu e assim cria Shania Twain. Até descobrir, no auge da beleza, da riqueza, da forma e do sucesso que seu “the one”, aquele quem escolhera como “príncipe encantado” para ser o pai de seus filhos, seu companheiro pela vida, estava a manter um relacionamento extra-conjugal.

Estivesse seu marido botando-lhe um chifre com “uma qualquer”, anônima, Shania poderia rapidamente se recuperar. Pois algo deste tipo, embora seja trágico, até o esperamos, por ser muito corriqueiro. Mas a facada que o marido deu a Shania a feriu muito mais fundo. A mulher com quem ele se relacionava era Marie-Anne Thiebaud, a assim considerada, “melhor amiga” de Shania.

“Melhor amiga” que transa com o seu marido? Alguém percebe algo muito errado nesta sentença? Aparentemente Robert e Marie-Anne não viram nisso nenhum impedimento. E nem se preocuparam sobre que tipo de conseqüência esta relação teria sobre Shania, que foi cruel e vilmente traída por duas das pessoas em quem mais confiava na vida.

Como poderia, depois dessa facada na carótida, Shania continuar a cantar a bela You're Still The One”, e com ela embalar milhões de paixões românticas? Como poderia Shania ver-se diante de milhares de pessoas num show e se apresentar a plenos pulmões cantando esta música tão linda, composta para um amor, que agora ela o sabia aviltado, desfeito, renegado de forma tão traiçoeira, tão baixa, tão inesperada?

Como poderia Shania perseverar na vida depois de descobrir tão dolorosamente que todas as suas ilusões, de amor e de amizades, eram irreais? Após perceber que mesmo aqueles sobre os quais havia depositado décadas de confiança, eram capazes de a trair, de agir em suas costas, de lhe causar uma ferida tão profunda?

Após descobrir que aqueles que achava serem-lhe mais “aprochegados”, que ela pensava “estar do seu lado”, estavam pouco se lixando tanto para ela, como para a ética aparente das relações inter-pessoais. Estavam apenas preocupados consigo próprios e com a quantidade e variedade de suas relações sexuais...

A história da cantora Shania Twain seria trágica e postular se se encerrasse, assim, sem final feliz, com ela conformada, descrente, havendo desistido da vida e de confiar nas pessoas. Com plena razão, diga-se de passagem. Porém Shania, como eu, é humana. E, apesar de não ser brasileira, “não desiste nunca”. Nos dá mostras da inquebrantável perseverança humana e de que a esperança, de fato, é a última que morre.

Neste 2011, ao sair de seu casulo de dor Shania compareceu à Oprah não para relatar sua trágica desilusão. Mas para lançar seu novo programa de TV “Why Not?”, “Por que não?” No qual “explora” as histórias de pessoas que, como ela, foram levadas a duvidar de seus entes maisqueridos e da própria vida. E que, apesar de tudo, perseveram, inquebrantavelmente, esperançosamente, em se reconstruir. Apenas para tornar toda a história ainda mais rocambolesca e digna de novela, atualmente Shania é casada com o então marido da então amiga Anne-Marie. A então senhora Lange tornou-se a senhora Thiebaud enquanto a senhora Thiebaud virou a senhora Lange. Pois é...

Que todos tenhamos a mesma força e perseverança inquebrantáveis de Shania para nos reconstruir sempre, apesar de todas as desilusões e as facadas que levamos pelas costas.

Dave Matthews - Dodo

Legião Urbana - Metal contra as nuvens

Carlos Drummond de Andrade - Quadrilha

Vanessa da Matta - Boa Sorte / Good Luck

Freddie Mercury feat. Mont Serrat Caballe - How Can I Go On

* A acepção “escolhido” foi retirada dos filmes “Matrix”. Repetidas vezes dizem “Neo is the one” traduzido por “Neo é o escolhido”. Alguns poderiam traduzi-lo por “Neo é o ungido”, mas isso é assunto para outro texto...

sábado, 3 de setembro de 2011

De como aprendi a ser assertiva. Ou do Psitacismo

“Assertividade” é uma qualidade rara e preciosa. No dicionário escolar, assertivo/a é aquilo referente à uma afirmação. Não somente. “Assertiva” é uma afirmação além da própria afirmação. É uma sentença que em si traz segurança e certeza. “Assertividade” não se refere ao conteúdo do que foi dito, mas à atitude de quem o disse, de não deixar margens para dúvidas.

Cedo na vida percebi que a receptividade dos ouvintes àquilo que dizemos é diretamente proporcional à empáfia com que o afirmamos. Se dissermos uma grande verdade em voz frouxa e reticente ninguém dará muito crédito. Já se dissermos o maior absurdo arrogando-nos ares de suma autoridade, recolheremos dos ouvintes olhares de admiração e expressões de reflexão profunda sobre a grande sentença proferida.

Mesmo que seja uma piada, se vc disser com postura intelectualóide e vocabulário psitáico*, te levarão a sério e alguns ainda farão comentários filosóficos a respeito enquanto fazem “cara de conteúdo.” :)

Como sempre quis ser levada a sério, estudar a fundo todos os assuntos de forma a pronunciar opiniões embasadas sempre foi uma preocupação minha, mesmo antes de conhecer o significado do verbo “embasar”. Ser criança, e portanto ter suas opiniões descartadas e alvo de riso, sempre me foi desconcertante. Cedo percebi que não me levavam a sério pelo fato de eu ser criança e, sendo criança, saber pouco sobre as coisas. Como eu não podia apressar meu envelhecimento, ao menos podia me dedicar a adquirir conhecimentos enciclopédicos sobre as coisas, de forma a adquirir mais respeito frente aos “adultos” e colegas. Já na adolescência percebi-me a “assessora para assuntos aleatórios” da turma. E ainda sou do tipo de pessoas que saca da manga informações curiosas que ilustram e trazem certa picância às conversas das quais participo.

Porém saber as informações é apenas meio passo para “impressionar” aos outros. A outra metade é ter a postura certa ao enunciar as informações: isso é “assertividade”. Isso eu não tinha: a forma. Aprendi a adquiri-la a partir do episódio infantil abaixo relatado.

Uma das poucas coisas boas que Regina fez por mim foi me levar repetidas vezes em férias a Campos do Jordão. E uma das piores foi impingir-me, inclusive nessa circunstância, a presença de seu ex-marido, JR. Numa dessas situações, como eu não queria ficar com ela e, por consequência, ser obrigada a partilhar da presença de seu ex-marido, eu estava em Campos do Jordão à procura do que fazer, já que estar com minha mãe, devido à companhia assessória, não era agradável.

O hotel da AFPESP – Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo em Campos do Jordão é, ou pelo menos era, maravilhoso. Além de amplo e confortável, contava com muitas instalações sociais, um bosque incrível, salas de TV, de chá, jardins e salões de jogos em várias modalidades. Um dos salões do subsolo contava com tabuleiros de vários tipos, inclusive xadrez.

Fugindo à presença desagradabilíssima daquele que Regina escolheu para a inseminar, eu estava neste salão a jogar xadrez sozinha. Como se tal fosse possível... Mas era mais agradável que estar com “minha mãe”...

Eu tinha cerca de 11 anos, mas já me achava a “suma enxadrista”, mesmo só sabendo mover as peças, pois já ganhara de muitos adultos com meu parco conhecimento. Eu já era então, como me soe, “cheia de mim”, cega por minha própria arrogância forjada como armadura diante da difícil realidade que enfrentava. Que enfrento. Mas pelo menos à qual não me furto. E tento refletir sobre.

Um senhor de cabelos brancos, também hóspede do hotel deve ter achado curiosa a cena de uma criança jogando xadrez consigo mesma. Se aproximou e perguntou:

- Quer jogar?

Apreciei seu sorriso e topei. Ele se sentou e juntos rearranjamos as peças. Ele me deu o benefício das brancas que iniciam o jogo. Joguei como costumava, as jogadas que eu já conhecia, que sempre haviam resultado em vitória, mesmo contra adultos. Dessa vez não estava dando certo. Meu oponente fazia lances inesperados, desafiando a dinâmica à qual eu estava acostumada, do jogar xadrez com pessoas que não tinham a menor idéia do que estavam fazendo. Percebendo minha surpresa, ele me disse:

- Eu sou professor de Matemática e ensino xadrez aos meus alunos.

Arrematou a frase com um sorriso maroto de Curupira. Meu cérebro fez “Ôpa! Agora a questão está num outro patamar. Agora ficou difícil, a coisa é séria.” Não costumo ser competitiva por certo sentimento construído ao longo de minha experiência escolar de “não chutar cachorro morto”, “ficar na moita”, “ser discreta” ou não atrair desnecessariamente a inveja dos demais. Por isso fui aprendendo a nem sempre expor publicamente meus conhecimentos, pois isso pode atrair sentimentos de inveja dos demais, se estes se sentirem diminuídos ou ameaçados por uma concorrência que, se não podem combater diretamente, poderão sabotar “na surdina”, “por debaixo dos panos”, insidiosamente, “pelas costas”.

[Um desdobramento disso é que, atualmente, quando um colega de trabalho me pergunta “onde eu fiz faculdade” respondo genericamente: “em São Paulo”. Normalmente isso é suficiente para dar cabo à curiosidade. Antes eu respondia orgulhosamente “na USP”; recolhia um imediato olhar de desconcerto e ganhava um inimigo para o resto do ano. Aprendi que declarar-me formada “na USP” humilhava aos demais. Portanto, mesmo tendo orgulho de minha formação, não a saio anunciando por aí, pois isso atrai, socialmente, mais inveja do que admiração.]

Resolvi jogar xadrez “a sério”, desafiando-me em movimentos nunca antes tentados. Eu estava indecisa, refletia sobre os vários desdobramentos de cada jogada, e as variadas reações possíveis de meu oponente, que, afinal “sabia jogar xadrez”. A cada etapa o jogo ia ficando mais espinhoso, e crescia o grau de dificuldade das decisões. A certa altura, enquanto eu refletia absorta brandindo meu indicador sobre o tabuleiro, processando qual seria a peça que eu iria mover, meu oponente disse:

- Fernanda, posso te ensinar uma coisa muito útil? Quando vc fica dançando seu dedo sobre o tabuleiro a esmo, vc demonstra ao seu oponente que está indecisa, não sabe qual peça irá jogar e portanto não tem um “plano”, uma visão global de como o jogo irá caminhar. Mesmo que isso seja verdade, e vc esteja perdida, na hora do jogo vc precisa fingir que está um passo a frente do seu adversário. Se vc fizer lances decididos, impetuosos, olhar no olho do seu adversário, ele vai ficar com medo de vc e achar que vc sabe mais do que de fato sabe.

Ele me disse que mais importante que saber jogar xadrez era aparentar saber jogar xadrez. Eu não percebi, mas ele estava me ensinando a “trucar”, a “blefar”, e dando uma das mais valiosas lições que todos precisamos aprender na vida: a importância de saber fazer uma poker face. Naquele momento, como eu era criança, achei que a lição só aplicava aos jogos. Depois aprendi que a vida é um grande jogo no qual quem é amador nem se dá conta de quais são as regras. E quem se profissionaliza aprende aos poucos as delicadas regras das interações sociais, como devemos nos pronunciar e nos posicionar no mundo. E como muitas vezes é mais valiosa a aparência do que a essência.

Aprendi a partir disso que as palavras e gestos podem ser usadas como armas, e que podem ferir mais do que socos e punhaladas. A ferida de uma facada cicatriza. O trauma da lembrança, nunca. Ou eventualmente, quando refletimos profundamente a respeito.

* "Psitáico” é referente ao papagaio e demais aves da família dos psitacídeos. Essas aves distinguem-se por sua penugem colorida vibrante chamativa, seu bico forte capaz de arrancar falanges humanas, e sua capacidade ímpar de vocalização que simula e reproduz a voz humana. Uma linguagem psitáica/de papagaio é aquela vistosa, colorida, forte, rebuscada, cheia de palavras elaboradas, com "ismos" e "logias", proparoxítonas até! Uma fala carregada de psitacismo seria popularmente chamada de “falar difícil”, usar a “linguagem dos bacharéis”, pronunciar-se conforme o léxico ancestral erudito do português. Nesta que é uma das línguas mais difíceis de dominar em seus variados tempos, plurais pessoas e diferentes radiciações; dominar a “norma culta” do português e ser capaz de “falar difícil” sem se enrolar nas concordâncias é, em si, um feito admirado pelos demais. E uma habilidade que muito cedo me empenhei em adquirir.

Uma “frase psitacídea” é portanto uma asserção enunciada por um papagaio: segura, em voz alta, com palavras bonitas, bem articuladas, difíceis, e... sem nenhum conteúdo. Curioso perceber que o papagaio é assertivo pois não tem nenhuma dúvida, nenhum segundo pensamento, sobre aquilo que diz. Pelo simples fato de que é incapaz de refletir sobre o conteúdo daquilo que enuncia.


Capital Inicial - Fogo

Lady Gaga - Poker face

Billy Idol - Dancing with my self

The Platters - The great pretender

"Searching for Bobby Fischer"

"Little man Tate"


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