quinta-feira, 6 de março de 2008

Eu

Justo eu,tão certa de ser eu mesma
Agora não mais me sinto tão segura
Que não serei incluída na resma
E olho-me com tal candura

Vejo o rosto desfigurado
Que já não me é atribuído
Com tal olho marejado
Lá não me vejo reconhecido

Vejo, mas não mais me conheço
Antecede, ainda que similar
Mesmo, mas em muito difere
E neste desatino adormeço
E com minha (ou será tua) própria língua fere
Não mais minha personalidade
Neste rosto poderei encontrar
E a minha própria identidade
Com ele veio a se misturar

Eu, tão segura de ser, de si
Vejo-me em pranto teu
Espelhando as lágrimas de Orfeu
A desdita do jovem Romeu
De dar-me a chave ele esqueceu

Rosto tão belo quanto Deus me deu
Não mais me reconheço no meu
Não mais segura de que eu mesma seja o eu.

(1998)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Açores

Esquecendo a mim mesma
Procurando a verdade escondida
Nos cantos escuros esquecida
Um pouco de realidade vertida
Sobre o chão de terra batida
Pelos pés do escravos ainda em vida
Acordando quando mal o dia rompia

Procurando a mim mesma
Entre meus poemas e meus amores
Minhas felicidades e minhas dores
Meus amantes e meus senhores
Minhas inspirações e meus licores
Perdida no arquipélago de Açores

Encontrando a mim mesma
Nos segredos escondidos do passado
Tentando entender o que não foi perdoado
Segurando meu coração quebrantado
Dizendo o que nunca foi falado
Achando o que nunca foi encontrado
Lembrando o que nunca foi retratado
Procurando os sentidos e as respostas calados

Vendo minha alma se contorcer na dor infinda
Da dúvida se posso em encontrar ainda
Fitando a aurora boreal
Tentando diferenciar a fantasia do real.

sábado, 1 de março de 2008

Alive

The blood still passes along in my veins
But it's almost gone
By the slice we've made on ...

...My heart is still beating
But wait and you'll see it stopping
My brain is still working
But soon it'll be burning

My name will no longer be aforesaid
Nobody will ask how was my day
My body will get hard'n'cold
So, be brave 'cause you won't
See me getting old
There will be no more pain
'Cause it'll be the end of the game

My lips no more words will say
And my legs won't walk away
Some might cry, but I'll be okay.

(1998)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Diários de Motocicleta

Para quem ainda não assistiu, vale a pena. Para quem nunca ouviu falar deste filme de Walter Salles, ele é a adaptação do livro "De moto pela América do Sul" (Notas de Viaje) de Ernesto "Che" Guevara.

Nos mostra a trajetória de Che pelas pessoas da América, a descoberta das injustiças, das diferenças e semelhanças. Mas não é um filme sobre a descoberta do outro, mas sobre a descoberta de si. Che descobre quando contraposto a estas pessoas o que ele estava no mundo para fazer: transformar esta realidade árida, cultivar e fazer crescer o impossível.

Há uma fala muito interessante no episódio dos mineiros chilenos:
Seus olhos tinham uma expressão sombria e trágica. Cotaram do companheiro desaparecido em circunstâncias misteriosas e que aparentemente havia terminado no fundo do mar. Foi uma das noites mais frias da minha vida. Mas conhecê-los me fez sentir mais próximo da raça humana, tão estranha para mim.

Como exemplo, Che nos incita, nos provoca. Nos diz: vc tem grandes sonhos, quer ser imortal? Vá atrás e consiga. Por muito tempo isso parece possível, quantos sonhos alimentados apenas de ar... Mas a gente vai fugindo dos próprios sonhos ao deixá-los para depois. Tudo o que parecia tão possivelmente próximo deixa de ser importante quando caímos no marasmo da jornada de oito horas, que não nos dixa muito mais tempo do que para um happy hour com hora certa de acabar, com pessoas com as quais vc te pouca intimidade e pouco assunto...

É um filme um pouco monótono, sem grand finale, sem mocinha. E nada disso se sente, magnetizados que ficamos por aquela personagem, embrião se um grande herói. Deu capa da Veja, esta semana "Che, a farsa do herói". De Veja, era de se esperar. Ser atacado pela revista Veja quarenta anos depois de sua morte é apenas mas um dos fatos que engrandecem este homem, este simples latino-americano que lutou para transformar seu mundo.
Que tivéssemos todos a mesma coragem.

domingo, 23 de setembro de 2007

Inocência Perdida

Nunca achei que fosse aprender e mudar tanto.

Chega um momento da vida no qual vc percebe, simplesmente percebe, que atingiu o ponto a partir do qual vc estará muito mais consciente de si mesmo.

É quando a inocência se perde.

Nossos olhos se abrem e passamos a ser como deuses, conhecedores do bem e do mal.

Antes, eu não poderia vislumbrar este processo, que só é percebido quando chega a seu fim: vc percebe que é adulto e chegou a hora de vc dar um rumo a si mesmo, pára e pergunta: o que verdadeiramente estou fazendo de minha vida? E todos aqueles grandes sonhos com os quais vc gastou boa parte dos seus pensamentos?

Para quê tudo isso?

As coisas agora perderam seu manto de mágica, quando ainda era possível acreditar em coisas tolas, quando qualquer coisa parecia possível.

Estou mais observadora.
E mais atenta.
Apenas muito recentemente tenho descoberto muitas coisas, muito interessantes, e é sobre elas que pretendo falar, na medida do possível, neste blog.

Não que as coisas estejam fazendo mais sentido agora, na verdade quanto mais se aprende, mais se fica confuso sobre a ordem geral de tudo, mas as pequenas coisas estão vindo à tona. Os detalhes sobre os acontecimentos e as pessoas.

Parece que o manto de ilusão que a inocência criara diante de meus olhos se partiu, como um véu que turvava minha percepção que e agora as coisas têm nova luz.
Será isso apenas uma nova ilusão?

Há uma frase famosa que diz que não vemos o mundo como somos. E é assim mesmo.
Acho que agora estou tentando ser uma observadora mais neutra, crítica e científica da vida. Espero que a jornada seja proveitosa.
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