sábado, 24 de setembro de 2016

Nome de personagem ecológico

 

É comum as pessoas não gostarem de seu próprio nome. Afinal, com qual autoridade alguém pode escolher o nome de outro ser humano? É uma escolha muito importante e frequentemente os pais não dão a devida atenção a este processo tão importante.

Quando estudamos Literatura os professores nos ensinam que os autores dos livros, ao escolher escolher o nome de seus personagens, muitas vezes já colocam "inserido no nome" algo da personalidade que projetam sobre aquele ser. E daí em diante passamos a cada filme ou livro ver no nome dos personagens "pistas" sobre sua real essência.

Por toda a minha vida cri ter um nome banal, sem nenhum significado ou "duplo sentido". Desde os doze anos falo fluentemente inglês e tenho tido contato com francês, alemão, italiano, castelhano, hebraico e até japonês sem nenhuma indicação de que meu nome tivesse qualquer "subjacência"... Até que...

Soube da existência de um programa na TV americana chamado "Between Two Ferns", programa de entrevistas com o humorista Zach Galifianakis https://en.m.wikipedia.org/wiki/Between_Two_Ferns_with_Zach_Galifianakis e só então procurei por "Fern" num dicionário de língua inglesa e descobri que significa "SAMAMBAIA"!

Nada demais se meu sobrenome não fosse "Ramos", ou "Palmer" em seu correspondente em Inglês. Sim, meu nome equivale a "Ramos de Samambaia". Sim, eu sou um personagem ecológico de um romance água com açúcar nova era "BEM VERDE"... 

E não só quem escolheu o meu nome não tinha a menor ideia disso como eu mesma passei 30 anos de minha vida sem me dar conta de que meu nome é sim um clichê ecológico risível. Tal como "River", "Leaf" ou "Summer" Phoenix, só que acidentalmente!

Na faculdade eu tive uma colega cujo nome do meio era "Relva" e ela explicava aos outros "é por causa da 'grama' mesmo" e eu ria internamente. Pois é. Meu próprio nome é uma referência ecológica completa e eu nem sabia! 



quinta-feira, 21 de julho de 2016

Dez conselhos que a Fernanda de 34 anos daria pra Fernanda de14 anos



1 - Não tenha pressa. Para nada. Para casar, ter filho, escolher profissão, para nada. A vida é longa e você tem que pensar muito bem antes de tomar decisões definitivas. Não se contente com o primeiro cara legal que aparecer no seu caminho. Outros melhores te aguardam.

2 - Não fume. Fumar na década de 1990 era legal, mas agora já não é tanto. Isso só vai prejudicar sua saúde e te fazer gastar muito dinheiro à toa.

3 - Cultive as boas amizades. Amigos de escola são inestimáveis e te trazem uma sensação de segurança. Amigos de faculdade te ajudarão a ter mais oportunidades de emprego. Cultive-os. Não perca o contato com eles.

4 - Jamais se deixe dominar por ninguém. Família, namorado, melhor amigo, patrão, por ninguém. Ouça com atenção os conselhos das pessoas, especialmente as mais velhas, mas jamais permita que outra pessoa te domine.

5 - Tenha a si mesma como prioridade, sempre. Você é a única pessoa preocupada com o seu próprio bem-estar. Se você mesma não se valorizar, ninguém o fará.

6 - Preste atenção nas aulas de Matemática. Na escola parece que não servem pra nada, mas a maioria das profissões que pagam bem são da área de Exatas.

7 - Não tire fotos comprometedoras, não exagere nas selfies, e nudes jamais! 

8 - Pense antes de falar. Nascemos com duas orelhas e uma boca pra ouvir muito mais do que falar. E em boca fechada não entra mosquito. Se abstenha de "tiradas engraçadinhas" em que só você vê graça. A Fernanda de 34 anos passou por incontáveis situações constrangedoras ao tentar fazer piadas.

9 - Não perca seu tempo comparando sua vida com a de outras pessoas. Cada um tem sua própria trajetória, seus percalços e merecimentos. Enquanto você perde o seu tempo se ressentindo que fulano fez algo que você gostaria, esse mesmo fulano se ressente que você alcançou algo que ele almejava.

10 - Não tenha medo. Você é jovem e tem a vida toda pela frente. Se joga! Tope, encare, vá, viaje, tente, pule e voe! Você só é jovem uma vez e a vida de adulto é muito chata!


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Quatro motivos porque somos contra a compra e venda de filhotes de raça.


Você tem uma cachorrinha fêmea de raça. Ela é muito linda, fofa, meiga, uma gracinha. Aí você pensa "Ah, que mal tem? Vou cruzar minha cachorrinha, vender os filhotinhos, fazer algumas famílias felizes e de quebra ganhar uma graninha extra, que mal tem?" 

Aí você compartilha o anúncio da venda dos filhotinhos, tão lindinhos, e não entende porque aparecem uns malucos que se dizem "protetores de animais" te criticando. O que é que você está fazendo de errado, trazendo lindos filhotinhos de raça ao mundo? Que mal tem isso? 

Ou você leva os filhotinhos pra uma feira de pets e aparecem uns loucos protestando contra os maus-tratos aos animais, contra os canis de fundo de quintal, mas você não tem nada a ver com isso, né? Seus filhotinhos são "puro fruto do amor", ainda que vez por outra você saiba que alguns deles morrem logo depois de vendidos. Que pena, né? São tão pequenos e frágeis... Mas não dá pra devolver o dinheiro...

Os protetores de animais nada têm contra cachorros de raça. Amamos cachorros. E gatos. E todos os pets. Sem raça, com raça, de meia raça, de qualquer jeito. O que somos contra é a irresponsabilidade, a exploração e o abandono. Vamos, portanto, tentar explicar pra você, que nós acreditamos que goste de cachorros, porque você deveria parar de cruzar o seu e vender os filhotes.

1 - Você está arriscando a vida, e explorando biologicamente, seu próprio cachorro, a cada gestação. Cada gravidez traz inúmeros riscos de complicações e problemas, ainda mais em raças pequenas. Por melhores que sejam os cuidados que você dedica à fêmea matriz, cada gestação sacrifica o corpinho da sua fêmea.

2 - Você está causando danos psicológicos à fêmea matriz e aos filhotinhos prematuramente desmamados. Imagine o que é uma mãe ser engravidada uma vez por ano, amamentar só até os três meses e ter seu bebê arrancado de si e vendido, como se fosse mercadoria. E para o bebê, ser separado da mãe tão cedo... Não parece legal, né? Se não é legal pra você, porque seria legal para aquela que você chama de "filha"?

3 - Cada filhote vendido é um cachorro de rua a mais que nunca encontrará um lar. Cada pessoa que compra um cachorro, se não fosse possível comprar, adotaria um, que seria retirado da rua. Portanto, cada lindo filhotinho que você traz à vida tira o lugar que poderia ser ocupado por um cachorro de rua.

4 - Cachorros não são mercadoria, e muitas vezes são comprados por pessoas irresponsáveis, que os abandonarão assim que derem "problema". Tome-se por exemplo o filhotinho presenteado no auge da paixão, num dia dos namorados. E depois que o namoro acaba? E o filhotinho lindo, que cresce demais para morar em apartamento? E aquele que late demais, e os vizinhos reclamam? Sim. Muitos desses acabam simplesmente abandonados na rua, pro dono "se livrar do problema". E, na rua, acabam se reproduzindo sem controle. Mas seus filhotes mestiços não serão adotados, porque  a "avó matriz" continua produzindo lindos filhotinhos, até morrer.

Nós, protetores de animais, acreditamos que você seja uma pessoa boa, que realmente ama seus cachorros, e pedimos que você reflita sobre esse texto e se questione se realmente é certo continuar cruzando seus filhinhos e vendendo seus netinhos.

Porque para nós o amor não tem preço. E filhos e netos não se compra nem se vende.





terça-feira, 14 de junho de 2016

A história de Cacau



Há mais de três anos, desde que passou o luto por minha avó, eu não atualizava este blog. Por diversos motivos, que ainda explicitarei. Mas sobretudo por estar a esperar por algo de realmente bom para escrever.

Há alguns meses atualizei meus perfis incluindo a descrição "noachide operária de 'tikkun olam' e um pseudo projeto de 'boddisattva'." "Tikkun Olam" se traduz por "retificação do mundo". E mais do que ganhar dinheiro , ter sucesso ou "felicidade" isso é o que sempre tive como objetivo principal a atingir em minha vida. E é a respeito de uma pequena contribuição neste sentido que escrevo agora.


No começo deste 2016 na atribuição de aulas escolhi, além de minha escola sede, voltar a dar aulas numa escola que eu já conhecia de anos anteriores, situada num distrito afastado 6 kms da cidade, chamado Assistência, entre Rio Claro e Piracicaba. Tivera boas experiências lá na outra vez. 

Começando a dar aulas, vi que a escola alimentava com restos de merenda a uma cachorrinha, branca com manchas marrons. Como sempre tive e gosto de cachorros, peguei simpatia por ela, e aos poucos a fui observando. Dois meses depois de iniciadas as aulas, outra cachorrinha, pretinha, com gravidez a termo, meio que "invadiu" a escola, e pariu na sala de informática. Em alguns dias o Canil Municipal, pressionado, a buscou com seus filhotes.

Ouvi conversas aqui e ali que a outra, branquinha, precisava ir embora antes que aparecesse grávida. Um aluno disse que de final de semana ela ia pedir comida no bar, e às vezes apanhava dos bêbados do boteco. Isso cortou meu coração. E passei a observá-la mais de perto.

Ela sempre ficava ao lado da inspetora. Comecei a cogitar abrigá-la para ser castrada. Perguntei a esta inspetora, Bete, se a cachorrinha tinha nome. Disse que a chamava de "Maria Encrenca". Não era um bom nome. Tirei uma foto e publiquei num grupo do Facebook perguntando como poderia castrar uma cachorra de rua gratuitamente.

Me indicaram o centro de Zoonoses de RC, liguei e me deram seis meses de prazo. Me casdastrei, pensando se em seis meses a cachorrinha ainda estaria na escola.

Foi então que um grupo de protetoras de animais, que nunca me viram pessoalmente até agora, se dispuseram a pagar pela castração da cachorrinha, se eu me dispusesse a lhe dar abrigo, "lar temporário", no jargão dos protetores. Morando sozinha num apartamento de dois quartos, topei. Era uma sexta-feira.

Na segunda, alto outono, trouxe a cachorrinha pra minha casa e lhe escolhi um nome que acreditei não só lhe cabia como lhe traria bons augúrios: Cacau, pois era branca e marrom, como um bombom de chocolate branco, e igualmente doce. No mesmo dia, horas depois, Rio Claro teve uma enorme tempestade. Na mesma semana levei Cacau para castrar, mas descobrimos que já  era castrada, então as protetoras da AICA de RC trocaram o pagamento da castração pela vacina V10, que tem duas doses.

Compartilhei, e comigo diversas pessoas, a foto da Cacau para adoção, e apareceu uma família interessada, levei Cacau até a casa deles de carro, pois queria me certificar das condições e com quais pessoas ficaria. Era um casal com duas crianças, uma delas bebê, numa casa de classe média baixa. Senti firmeza e lá deixei Cacau com o compromisso de ir buscá-la se qualquer coisa desse errado.

Fiquei feliz, segura que Cacau  estava em seu lar definitivo e até compartilhei pros meus amigos a notícia de que Cacau tinha tido um final feliz. Porém, uma semana depois, me mandaram ir buscá-la alegando que ela não tinha se dado bem com a filha menor do casal. A busquei em menos de 24 horas, de volta ao meu apartamento.

Já sabia a essa altura que Cacau era inteligente e de boa índole. E que estava disposta a fazer todo o possível para se agarrar a esta chance que lhe estava dando, de ser uma "cachorrinha de família ", e não mais uma cachorra de rua, à mercê das maldades dos bêbados. A cada momento percebi que Cacau estava bem disposta, a dar o seu melhor, a aprender, evoluir, mesmo com o choque de do nada deixar de ser uma cachorra de rua e virar uma cachorra de apartamento.

Não roeu nada. Nada destruiu ou sujou a toa. Não se entendeu muito bem com Amy, e pôr isso não pensei em mantê-la. Mas sempre por culpa da Amy, que a pentelhava e enchia o saco. Cacau nunca foi de sua parte agressiva ou hostil com minha Amy. Mas amizade entre elas não ia rolar.

Depois de sua primeira devolução, decidi divulgá-la aos meus alunos, imprimi um cartaz e passei em uma sala. Falei dela em outras. Alguns alunos se interessaram. Lhes dei meu telefone. Dois dias depois veio um aluno, feliz e sorridente:

- Professora, falei com meus pais, e eles concordaram em ficar com a Cacau!

Combinamos certinho, ele me passou o endereço, e fui lá entregar Cacau num sábado de manhã. Dei os mesmos alertas que à família anterior, que a buscaria se houvesse qualquer probelma. Era uma casa um tanto menos favorecida materialmente que a anterior. Na segunda-feira seguinte seria a segunda dose da vacina v10 da Cacau e deixei combinado de ir buscá-la. Qualquer problema já a devolveriam.

Qual não foi minha surpresa, ao chegar e perguntar à mãe do aluno, e ela muito mais receptiva, dizer que a Cacau era ótima, muito dócil, estava dando tudo certo. Só me pediu se poderia comprar uma casinha, pois não tinha condições. Comprei a casinha, levei pra vacinar, comprei coleira com medalhinha de identificação com o telefone celular dela.

A fui decolver quando o aluno, Davi, estava chegando da escola. Ele literalmente deu alguns pulos de alegria quando me viu tirar do porta malas do meu Uno Mille a casinha da Cacau. Grande, de compensado de TetraPak. Mas o suficiente para ela se esquentar. Adicionei um colchonete que já usava no meu apartamento, que coube perfeitamente dentro da casinha.

Há um mês "Maria Encrenca" estava na rua, passando frio e fome, sendo agredida por bêbados. Hoje, Cacau está vacinada, vermifugada e medicada, em uma casinha quentinha e fofa, cuidada por uma família, e especialmente por um menino de onze anos chamado Davi. E o fato de que eu de alguma forma propiciei que todo esse bem acontecesse a Cacau me traz profunda alegria e a sensação de que vim ao mundo para fazer coisas deste tipo, e que mais coisas assim quero fazer. É este tipo de história que quero contar a respeito de minha vida e de minha presença neste mundo. Espero que Deus me ajude a ter muitas mais histórias como essa para contar.






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