É curioso como quando vamos ficando mais velhos passamos a nos observar e compreender melhor. E como essa compreensão às vezes é acionada por coisas muito banais.
Estava eu esta semana assistindo a um programa de TV e a certa altura a moça ia a uma loja de roupas e experimentava diversos modelos, auxiliada pela prestimosa vendedora. A certa altura, enquanto a consumidora desfilava com um vestido pela loja, a vendedora se esmerava em elogios:
- Uau, esse tom de amarelo ressalta o bronzeado da sua pele, vc fica com um brilho especial!
A consumidora estava toda faceira com os elogios da vendedora.
Para muitas pessoas essa cena não tem nada demais, mas para mim ela se assemelha aos piores tipos de tortura. Então percebi o porquê de um aspecto exterior de minha personalidade.
Ando de fato meio maltrapilha em meu cotidiano. Uma vez certo aluno disse que eu me vestia como uma "mendiga" (não, ele não estava me ofendendo, apenas comentando "de boa"), e que meu estilo contrastava com o de outras professoras, sempre em cima do salto e com a escova em dia.
Depois deste comentário passei a reparar mais ao meu redor (coisa alheia à minha natureza) e vi que ele tinha razão: estou entre as professoras menos vaidosas de todas as escolas que frequento.
Mas eu não sabia ao certo o porquê.
Desde muito jovem nunca gostei muito de vendedoras em geral, pagas para elogiar e sempre empurrar mais mercadoria. Quando entro em uma loja com vendedora, ela vem solícita dizer:
- Já foi atendida?
E digo: - Sim, já.
Ou então:
- Quem está lhe atendendo?
Respondo: - Eu mesma.
Mas elas não desistem, ao perceberem que eu simplesmente não quero ser atendida, passam a me seguir pela loja, como um abutre à carniça. Dá vontade de virar pra elas e dizer:
- Querida, eu não vou roubar nada, vc não precisa ficar "de olho" em mim.
Eu entendo que elas são treinadas para isso e que o gerente fica lá do fundo supervisionando pra ver se elas azucrinam bastantes às clientes para sempre comprarem mais e mais; mas eu sou do tipo de gente que não precisa da opinião dos outros para decidir entre o amarelo indiano e o marroquino. Sou do tipo de pessoa que precisa de tempo para ler os rótulos, paciência para refletir se o preço vale a pena, e não alguém me pentelhando pra me fazer gastar dinheiro que eu não tenho, muito menos inquirindo do lado de fora do provador: "ficou bom?", como quem diz: “Vai logo que eu vivo de comissão”.
Quando eu tinha namorado e precisava comprar roupas, eu levava ele à loja e lhe dizia:
- Distrai a vendedora enquanto eu tento comprar alguma coisa.
Por isso na maioria das vezes, quando vou passear no shopping entrar na maioria das lojas está completamente fora de cogitação pois sempre há um vendedor solícito à porta, que para mim, bloqueia a entrada. Assim sendo me contento a entrar apenas nos grandes magazines, onde posso anonimamente revirar varais de roupas e prateleiras de mercadorias e não preciso perguntar, um a um, qual é o valor de cada item.
Por isso vivo sempre cheia de roupas meio sem graça e sem estilo. Gostaria de poder comprar roupas melhores, mas está além de minhas capacidades psicológicas conseguir fazer compras e ao mesmo tempo aturar uma adolescente mal-paga desesperada por sua comissão tentando me empurrar mercadorias pois a nova coleção logo vem aí e o mercado precisa girar.
Mesmo entrar na livraria, só é possível aos domingos, quando a loja está tão apinhada que todos os vendedores estão ocupados demais para ficar perseguindo uma cliente que parece não se decidir por nada.
Para mim é inimaginável eu um dia protagonizar a cena do programa de TV sobrecitado, desfilar por uma loja com uma roupa sob a apreciação da vendedora sobre o tom do vestido contraposto à minha tez.
Estava eu esta semana assistindo a um programa de TV e a certa altura a moça ia a uma loja de roupas e experimentava diversos modelos, auxiliada pela prestimosa vendedora. A certa altura, enquanto a consumidora desfilava com um vestido pela loja, a vendedora se esmerava em elogios:
- Uau, esse tom de amarelo ressalta o bronzeado da sua pele, vc fica com um brilho especial!
A consumidora estava toda faceira com os elogios da vendedora.
Para muitas pessoas essa cena não tem nada demais, mas para mim ela se assemelha aos piores tipos de tortura. Então percebi o porquê de um aspecto exterior de minha personalidade.
Ando de fato meio maltrapilha em meu cotidiano. Uma vez certo aluno disse que eu me vestia como uma "mendiga" (não, ele não estava me ofendendo, apenas comentando "de boa"), e que meu estilo contrastava com o de outras professoras, sempre em cima do salto e com a escova em dia.
Depois deste comentário passei a reparar mais ao meu redor (coisa alheia à minha natureza) e vi que ele tinha razão: estou entre as professoras menos vaidosas de todas as escolas que frequento.
Mas eu não sabia ao certo o porquê.
Desde muito jovem nunca gostei muito de vendedoras em geral, pagas para elogiar e sempre empurrar mais mercadoria. Quando entro em uma loja com vendedora, ela vem solícita dizer:
- Já foi atendida?
E digo: - Sim, já.
Ou então:
- Quem está lhe atendendo?
Respondo: - Eu mesma.
Mas elas não desistem, ao perceberem que eu simplesmente não quero ser atendida, passam a me seguir pela loja, como um abutre à carniça. Dá vontade de virar pra elas e dizer:
- Querida, eu não vou roubar nada, vc não precisa ficar "de olho" em mim.
Eu entendo que elas são treinadas para isso e que o gerente fica lá do fundo supervisionando pra ver se elas azucrinam bastantes às clientes para sempre comprarem mais e mais; mas eu sou do tipo de gente que não precisa da opinião dos outros para decidir entre o amarelo indiano e o marroquino. Sou do tipo de pessoa que precisa de tempo para ler os rótulos, paciência para refletir se o preço vale a pena, e não alguém me pentelhando pra me fazer gastar dinheiro que eu não tenho, muito menos inquirindo do lado de fora do provador: "ficou bom?", como quem diz: “Vai logo que eu vivo de comissão”.
Quando eu tinha namorado e precisava comprar roupas, eu levava ele à loja e lhe dizia:
- Distrai a vendedora enquanto eu tento comprar alguma coisa.
Por isso na maioria das vezes, quando vou passear no shopping entrar na maioria das lojas está completamente fora de cogitação pois sempre há um vendedor solícito à porta, que para mim, bloqueia a entrada. Assim sendo me contento a entrar apenas nos grandes magazines, onde posso anonimamente revirar varais de roupas e prateleiras de mercadorias e não preciso perguntar, um a um, qual é o valor de cada item.
Por isso vivo sempre cheia de roupas meio sem graça e sem estilo. Gostaria de poder comprar roupas melhores, mas está além de minhas capacidades psicológicas conseguir fazer compras e ao mesmo tempo aturar uma adolescente mal-paga desesperada por sua comissão tentando me empurrar mercadorias pois a nova coleção logo vem aí e o mercado precisa girar.
Mesmo entrar na livraria, só é possível aos domingos, quando a loja está tão apinhada que todos os vendedores estão ocupados demais para ficar perseguindo uma cliente que parece não se decidir por nada.
Para mim é inimaginável eu um dia protagonizar a cena do programa de TV sobrecitado, desfilar por uma loja com uma roupa sob a apreciação da vendedora sobre o tom do vestido contraposto à minha tez.