Ser humano é uma coisa meio estranha, inesperada e atordoante. E cada pessoa deve encontrar sua forma única, seu nicho trófico específico, seu pequeno conjunto individual de características e comportamentos que a configuram como alguém "peculiar", único, precioso e irrepetível.
Nem gêmeos nem clones são na verdades cópias iguais, pois por mais que seus DNA's sejam idênticos, cada um poderá facilmente desenvolver personalidades díspares, ou mesmo que sejam bastante parecidas, ainda assim serão, únicas. Cada ser humano é seu próprio oceano de possibilidades.
Quando somos adolescentes ainda "não sabemos quem somos" e muitas vezes saímos experimentando de tudo, nos encaixando em tribos, torcendo por times, entrando em clubes; pois procuramos, no grupo, encontrar algum tipo de identidade, pois a nossa própria desconhecemos, ou se visto de outra forma, ela ainda está por construir.
Quando somos adultos tentamos, o máximo possível, sermos "normais". Todos querem ser aceitos, e a forma mais fácil disso é recobrir-se do manto da invisibilidade do não se destacar nem chamar atenção, do como faziam os adolescentes, agir conforme o grupo. Humanos são uns grandes "Maria vai com as outras" e essa foi a grande sacada comercial de Mark Zuckerberg. Queremos ser e ter como aqueles que consideramos ser nossos iguais: nossos amigos de infância, colegas de faculdade e de trabalho.
Porém, mesmo com a necessidade de nos sentirmos dentro do espectro da "normalidade", deixamos transparecer traços incontornáveis de nossa psique, tal como cacoetes de linguagem. Da mesma forma que alguém comete repetidamente sempre os mesmos erros de ortografia, pois não sabe a grafia correta, em nosso comportamento sempre repetimos gestos, frases, jeitos de nos posicionar nas conversas, que nos denunciam em nossa individualidade, por mais que tentemos, sempre, emular o comportamento de nossos interlocutores de forma a aparentarmos fazer parte do grupo.
Alguns comportamentos são tão sintomáticos, ou poderia eu dizer característicos e facilmente distinguíveis, que descrevem uma "síndrome" que pode ser associada a personagens ficcionais. Obviamente a ficção é sempre meio pastelão, expressionista, tem as cores excessivamente carregadas e gestuário, obviamente, teatral. Mas ainda assim há casos em que apenas a existência de um super-ego desenvolvido num certo "controle da língua" separa a ficção da realidade.
Descobri que não fosse meu, parcamente desenvolvido, mas algo existente, super-ego, eu já existiria, enquanto persnagem ficional. De dois seriados. De humor. Por incressa que parível, eu, que já fui considerada por alguns a pessoa mais mal-humorada do planeta, sou uma personagem de comédia. Na verdade meu senso de humor é bastante aguçado. Não é minha culpa se ele muitas vezes é politicamente incorreto, sarcástico-satírico ou elaborado demais para alguns outros personagens.... Bazinga!
São estes os dois personagens ficcionais que, misturados, pintam o retrato desta aprendiz de escritora:
Natália Klein de "Adorável Psicose".
Eu não tinha o costume de assistir a essa série até recentemente. Já tinha ouvido falar dela quando certo ex-namorado me disse que assistia a este programa e que ria até não se agüentar mais do tanto que a personagem o fazia lembrar-se de mim. Pelo nome do programa algo me senti ofendida e não me interessei em ir atrás para saber do que se tratava até que, num zapear de canais, me encontrei no Multishow em estilo vintage. Com todas as cores carregadas e expressões histriônicas que eu faria se não temesse o julgamento alheio. Aquela Fernanda que fica trancadinha no meu devaneio estava lá, desbocada, fazendo toneladas de bobagens, se metendo em várias frias. Sempre com tiradas sério-satíricas engraçadíssimas e que deixam seus interlocutrores com um certo entre-olhar de constrangimento que diz "De que planeta saiu essa louca?"
A personagem é inspirada no blog homônimo, que instila por escrito os devaneios e questões existenciais cotidianas mais malucas que adoráveis psicóticos, como eu, desfiam incessantemente no silêncio de suas mentes inventivas.
Blog "Adorável Psicose"
Jô Soares entrevista Natália Klein 05/10/2011
Sheldon Cooper de "The Big Bang Theory"
Se Natália Klein é meu mundo interno, Sheldon Cooper é meu manifestar externo. Talvez isso seja devido a ambos sermos portadores da Síndrome de Asperger, que é responsável por algo como 60% das idiossincrasias de Sheldon Cooper. Ele é seco, pragmático, protocolar, direto, claro e patologicamente sincero, e de tudo isso compartilho, e como consequêcia conheço o certo deslocamento social de que Sheldon Cooper também é vítima.
Pessoas com essa "síndrome de Sheldon Cooper" sentem-se, de fato, meio como Spock, um visitante de outro planeta, que não compreende metade do que se passa nesse mundo, pq as pessoas são tão ilógicas, e nunca sabe como se comportar direito por ser incapaz de dominar a "etiqueta" que rege as interações sociais "aborígines".
Eu percebi que era Sheldon Cooper quando o personagem nem existia, eu contava 11 anos e percebi que meus amiguinhos não compreendiam metade do que eu falava. Pq eu falasse errado? Não, pq eu usava palavras elaboradas, requintadas, exatas, que eles desconheciam. E muitas vezes eu dava foras completos, grandes gafes, pois não dominava o código de comportamento humano, como hoje ainda é fato. Essa sensação de "ser Spock" meio que me acompanha em toda a minha trajetória.
O elemento comum entre ambos os personagens é seu humor: o não-humor. Nenhum deles faz piadas. Sua graça é exraída de frases mal-humoradas, chocantes, sem-noção, malucas, e portanto, creio, engraçadas.
No mais, qualquer coisa que eu escreva será menor que o assistir aos programas. Quem assistir e me conhecer, seguramente irá me reconhecer. Quem assistir sem me conhecer poderá ter uma pálida idéia do conjunto de idiossincrasias que fazem desta autora um ser humano algo, digamos, interessante; e único.
Stranger Than Fiction
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