O discurso de posse de Obama é permeado de referências religiosas pois a “América” nasceu clamando a si mesma um certo “destino manifesto” de concretização do ideal de uma sociedade livre e perfeita. Obama se colocou como o ápice, a comprovação, de que a promessa não era vazia. O sonho americano tão propalado pode ser atingido. Até pode, se pautado por uma série de renúncias e escolhas acertadas.
A democracia americana, tão complicada para nós, carrega uma série de pressupostos e características estranhas. Lula, por exemplo, jamais seria eleito lá por suas raízes “vermelhas” e sua família disfuncional, leia-se, uma filha fora do casamento. O político americano não separa a vida profissional da pessoal, ele mais “vende uma imagem” do que, de fato, trabalha. Mesmo quando o assunto é religião.
Obama teve que inclusive mudar de igreja pq seu pastor estava queimando seu filme. No Brasil, ninguém sabe se e onde o presidente Lula comunga ou quem é seu padre.
No Brasil dona Marisa Letícia pode fazer quantas plásticas quiser que não vão escrutinar as intervenções em todas as revistas. O Lula pode pegar um sapato, mostrar pros jornalistas e dizer sorrindo: “vcs não vão atirar um em mim não, né? Ó que eu sou corintiano...”. Se Obama fizesse isso, criaria um grande constrangimento, que abalaria a relação entre a presidência e o quarto poder.
Eu prefiro um dolce far niente a ter 5 mil a mais o banco cada final de ano. Tenho dinheiro para viver. Não vivo para ter dinheiro. Prefiro com certeza estar informada sobre o andamento das novelas a ficar malhando.
Mesmo pq no nosso subconsciente, de acordo com Gilberto Freyre, suar é coisa de escravo. Trabalhar é coisa de escravo. Coisas da brasilidade...
Então, Dora, entendo e respeito o arquétipo americano da prosperidade e do conforto. Mas as coisas não são tão simples. Sabemos que o american way of life não pode ser disfrutado por todos. Se todo o planeta vivesse no padrão classe-média americana, precisaríamos de 4 planetas Terra para suprir nossas demandas.
O consumismo exacerbado, simbolizado por sempre novos celulares que precisamos comprar, novos monitores e computadores mais velozes a cada ano, ter que trocar seu VCR por um DVD e logo logo por um Blue Ray, isso é completamente DOIDO pra mim. Eu não preciso ter qualidade técnica de estúdio de cinema na minha sala! Não sou contra a tecnologia, mas sou contra a idéia de que eu apenas serei uma pessoa plena se tiver o último iMac, o último iPhone, o último Wii, a maior SUV, uma casa de 5 suítes com aquecimento central e tiver fotos das férias no Hawaii pra mostrar pra visitas. Não estou dizendo que esse seja o seu caso, mas é essa imagem meio frívola que tenho do “americano médio”.
Para um americano, uma casa não é um local onde seres humanos se abrigam e vivem. Uma casa é uma pilha de dinheiro a ser sacada numa nova hipoteca sempre que possível. Há muito dinheiro de mentira circulando nos EUA e isso acabou resultado na demissão de 480 operários em uma única metalúrgica aqui da cidade onde moro. Todo esse dinheiro de mentira está sendo demascarado e que vai pagar o preço seremos todos nós.
Toda essa terceirização, redução de custos, padronização, cartelização de mercados, transferências de fábricas para locais de legislação mais frágil, é uma onda predatória que está consumindo a economia saudável, que traz prosperidade às comunidades. Está ficando cada vez mais exposto o grave defeito que, do seio do capitalismo, iniciará sua ruína e superação.
Espero estar viva para ver. :)
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