Uma das características definidoras do ser humano é nossa insaciável sede por "mais". Nunca nos consideramos felizes, realizados, completos. Nada nos basta. Diferentemente dos animais, contentes com a barriga cheia, "a gente não quer só comida", mas tb bebida, arte, diversão balé, cinema, um (ou vários) "grande amor", filhos, emprego estável, viagens, roupas bonitas, perfumes, carro do ano e a tão comentada "felicidade".
E sempre achamos q todos os outros são muito mais felizes q nós. Sentimos q se falharmos em apenas um item dos q aparentemente são necessários para uma "satisfatória" vida burguesa, somos completos fracassados. Nos comparamos aos outros. E a cada foto de nossos amigos sorridentes na Europa ou na Polinésia, nos sentimos um pouco pior, como se estivéssemos "ficando para trás" e deixando de "aproveitar a vida" q todos os outros parecem "curtir adoidado", menos nós.
A melancolia nascida do marasmo do cotidiano nos deixa a impressão de q não estamos "vivendo", mas apenas vendo o tempo passar, e perdendo inúmeras oportunidades q jamais voltarão.
Não percebemos q na mesma medida q "invejamos" as fotos de um amigo cercado por seus filhos, do outro lado da tela este mesmo amigo inveja nossas fotos sozinhas. Nós invejamos sua vida familiar enquanto ele inveja nossa vida despreocupada. E assim retroalimentamos nossa frustração coletiva...
Sábios são os versos de Renato Russo: "Digam o que disserem / O mal do século é a solidão", às vezes parece q nossas "vidas virtuais" apenas servem para aumentar nossa tristeza e depressão. Comparamos nossas vidas, e temos pena de nós mesmos, nos sentimos girando em falso enquanto os outros progridem, rumo ao sucesso q nunca teremos verve para pleitear. Vemos os outros tomando corajosamente posse da vida q gostaríamos de ter, mas q não tivemos coragem suficiente para correr atrás. Os outros recebendo medalhas na Olimpíada q arranjamos alguma desculpa para não ir.
E é neste momento q devemos fazer uma escolha. Se vamos deixar "os caminhos da vida" colocarem cabresto nos nossos sonhos. Se vamos escolher "não escolher", mas "deixar a vida nos levar" e permitir q as circunstâncias nos encaminhem pelas trilhas corriqueiras, fáceis e bem iluminadas, q não nos apresentam desafios, nem conquistas. Ou não.
Foi num desses momentos, em q sentia simplesmente "deixar-me levar" pelos acontecimentos, e vendo o quanto o simplesmente "trabalhar" me deprimia, percebi q eu PRECISAVA fazer "mais alguma coisa", algo q simplesmente me desse "prazer", alegria, "distração", algo q "ocupasse meu tempo" e me trouxesse a sensação de estar contribuindo, construindo alguma coisa. Realização q, sinto, nunca encontrarei em meus alunos...
Eu já tinha um blog, e vendo q ele me trazia essa "satisfação" q eu tanto procurava, perguntei-me pq não criar mais blogs. E assim, me perguntando qual seria o "mote" do meu novo blog, "inventei" um: tirar fotos de flores. Agora eu tinha um bom motivo pra sair de casa: registrar no meu "Inventário de Flores Urbanas" toda a belíssima flora gratuitamente posta diante de meus olhos. E, com isso, meu cotidiano ganhou toda uma nova cor, e minha existência ganhou mais um propósito. Link: http://inventariodefloresurbanas.blogspot.com.br/
Mas ainda me restavam centenas de horas vazias, q eu gastava sem propósito, assistindo inúteis e inúmeros programas de TV. Percebi q havia outro aspecto da minha vida sobre o qual poderia blogar: minhas habilidades artesanais. Desde criança sempre gostei de trabalhos manuais, e fazê-los sempre me trouxe satisfação. Já tinha dezenas de peças únicas, exclusivas, feitas com minhas próprias mãos, e percebi q valia, sim, a pena publicá-las.
E, ao indexar minhas artes prontas, me senti estimulava a fazer mais delas. Aprendi a tecer em tear e comecei a fazer cachecóis. Conforme eles foram se acumulando, percebi q poderia presenteá-los às pessoas de minha estima. Poderia, com minhas mãos, confeccionar coisas bonitas, únicas e exclusivas. E, ao dá-las de presente, não só me sentia útil, como entregava aos outros em forma de arte um pouco de meu carinho por eles. E essa sensação acrescida do "orgulho" de exibir minhas peças na internet, e vê-las elogiadas. Assim nasceu o blog "Tessituras de Penélope" e adicionei "artesã" à minha descrição pessoal. Link: http://tessiturasdepenelope.blogspot.com.br/
Recentemente, vendo outro aspecto em q eu era em algum grau "boa", e sobre o qual tb poderia bloggar, criei 2 blogs "espelho": um em inglês, outro idêntico em português, para divulgar minhas receitas. E assim nasceram os blogs "Easy Foodie" e seu gêmeo "Comidinha Simples". Eles apenas engatinham, ainda vou configurá-los e devidamente divulgá-los quando já tiverem um bom acervo de receitas para oferecer aos leitores. Links:
http://easyfoodie.blogspot.com.br/
http://comidinhasimples.blogspot.com.br/
Agora já tenho 5 blogs nos quais publico regularmente. Fazer isso me traz certa sensação de "eternidade", e de estar de alguma forma contribuindo para a indexação, organização e "upload" do analógico para o digital de coisas úteis, interessantes. Me sinto colaborando com a construção de um novo mundo de ideias, disseminando conhecimento, ajudando a "cultura" com o q tenho a contribuir: minhas reflexões, as lindas fotos da flora q me cerca, divulgar minhas peças de artesanato "oxigenando" a palheta de possibilidades de outros artesãos, dando receitas simples e deliciosas, muitas q eu mesma inventei, propiciando q outros tb possam degustá-las.
Bloggar não só ocupa as muitas horas vagas de minha vida, como adicionou propósitos a ela. Publicar as coisas q faço com prazer e esmero na internet me estimula a fazer artes ainda mais belas, inventar receitas ainda mais gostosas, procurar flores q nunca antes vi, elaborar textos sobre assuntos nunca antes publicados.
Bloggar torna minha vida muito mais rica, interessante e cheia de sentidos. Recomendo a todos ter ao menos 1 blog, um "domínio", seu pequeno "minifúndio virtual" no qual possam se expressar, se eternizar, elaborar seus pensamentos, sua visão de mundo, divulgar seus hobbies, paixões, e a beleza q vê em estar vivo.
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Bela postagem Fernanda!
ResponderExcluirA escrita é uma meditação sem fim.
http://jefhcardoso.blogspot.com lhe convida e espera para ler e comentar “O Grande Circo Nonsesense – Vila Abranches”. Abraço.