sábado, 30 de abril de 2011

O gosto de um “muito obrigado”

O ano de 2010 foi para mim especialmente ruim. Creio que nele conheci minha “Noite Escura da Alma” tal qual São João da Cruz. No fundo de meu desespero acalentou-me a canção “Long December” do Counting Crows na qual há o verso:

“Maybe this year may be better than the last.”

Especialmente durante a convalescença e falecimento de minha querida canis lupus angelicus Jade, pedi em minhas orações a Deus que o ano seguinte (este 2011) fosse melhor que o então corrente (2010). Expliquei-Lhe que faltavam-me forças. Faltava-me gana. Faltava-me brio. Faltava-me verve. Faltavam-me motivos. Via-me sem esperança nem perspectivas.

Sei que nosso Pai não nos impõe cargas mais pesadas das que possamos carregar, nem nos aflige com moléstias e revezes que não mereçamos; mas igualmente sei que por Sua Misericórdia, gosta de sempre que possível dar-nos sinais e conceder-nos alentos. Como os oásis, esparsos mas estratégicos no deserto.

Deus está constantemente atento a nós e, a cada minuto, alinhava com cuidado nossa trajetória, co-criada pelas escolhas que fazemos em nosso cego-arbítrio. Em especial, creio, apraz ao nosso Criador uma postura de, como poderia dizer, “rendição”. O colocar seu Destino em Suas Mãos, o pedir humildemente Sua orientação, Sua inspiração. Ou no meu caso, que Ele “desse um alívio” em 2011 pois 2010 fora-me bem pior do que “sofrível”.

É maravilhoso como quando Deus quer dar uma mensagem muito clara, ele é cristalino e ágil. Meu 2011 começou a ser melhor que meu 2010 logo em suas primeiras horas, já no dia primeiro de janeiro.

Acordei tarde por quádruplo motivo. Era sábado. O dia anterior fora Reveillon. Era feriado, dia da “Confraternização Universal”. Eu estava a gozar de merecidíssimas férias. Nas primeiras horas da tarde, o telefone tocou. Era minha madrinha, Maria José Tomasella. Contou-me que vira na rua de sua casa uma cachorrinha perdida e a “pegara”.

Maria José é uma pessoa com um coração terno até demais, e tem como prática o louvável hábito de abrigar cachorros que encontra perdidos pela rua, como é infelizmente tão comum no Brasil. Como sua casa não é tão grande, limita-se a ter, no máximo, 4 cachorras, sempre fêmeas, por vez. Sendo experiente nisso sabe diferenciar, ao ver na rua um cachorro, se ele é um vira-latas acostumado à “vida livre” e, portanto, capaz de se manter, ou um cachorro de estimação que está perdido, em pânico pelas ruas a procurar seus donos. A cachorrinha que acabara de encontrar estava nesta segunda categoria. Certamente tinha família, da qual perdera-se.

Como a cachorrinha estava muito assustadiça e desconfortável em meio às demais cachorras de Maria, ela havia-me ligado para perguntar se eu poderia abrigar temporariamente a cachorrinha que acabara de encontrar, pois como Jade falecera, eu não tinha nenhum cachorro em casa. Hesitei um segundo pois a casa em que moro não é “minha”, não está em meu nome. Contudo como minha avó estava viajando e não retornaria até o final do mês, aquiesci.

Enquanto dirigia até a casa de Maria perguntei-me se esta cachorrinha não seria um presente que Deus estava a me dar para melhorar meu ano e aplacar a dor que sentia e anda sinto pela ausência de Jade. Lá chegando, peguei-a em meus braços e por ela senti imediata ternura. Era s.r.d. (sem raça definida), pequena, multi-cor de ocre, cinza, branco e marrom.

Enquanto a levava de carro no curto trajeto até minha casa já pensava no nome com a qual a batizaria. Seria “Nina”, de “Angelina”. Um nome muito bom para uma canis lupus angelicus. Trouxe-a à casa e ela imediatamente começou a farejar seu novo ambiente para, excusem-me, ambientar-se. Logo comecei a demarcar seu território quando ela tentou entrar na cozinha e dei um silvo a la César Millan, The Dog Whisperer. Peguei um potinho de margarina para servir-lhe água, que bebeu abundantemente, sem receios.

Eu já começava a enamorar-me da idéia de tê-la para mim quando o telefone tocou uma segunda vez. Novamente era Maria José. Disse-me exultantemente feliz que acabara de passar por sua rua um rapaz desesperado procurando por sua cachorrinha que fugira. Como ele passara gritando pela rua se alguém achara alguma cachorrinha, Maria José saiu e o abordou na calçada. Disse que achara uma cachorra e deu-lhe meu endereço. Arrematou que não era certeza se a cachorra que ele procurava era a brevemente Nina.

Fui para a frente da casa e em meio minuto chegou o rapaz, de moto.

- Foi vc que encontrou uma cachorrinha?

- Só um minuto, vou trazê-la.

Voltei do quintal com ela no colo e vi brilhar um raio de luz no amplo sorriso que o rapaz abriu através do portão. Enquanto a entregava a ele, dirigiu-se a ela com termos carinhosos, familiares entre ambos, aos quais a cachorrinha respondeu com efusiva alegria. Não havia dúvida de que ela o reconhecia como membro de sua família. Ele abraçou-a e, olhando bem no fundo de meus olhos disse emocionado, com uma sinceridade tão pungente que me fez estremecer:

- Muito obrigado. Nem sei como te agradecer. Foi um minuto só de descuido, deixamos o portão aberto, e a Julie fugiu. Deixei meu filho em casa chorando desesperado. Nossa, 2011 tava começando horrível para mim! Mas agora...!

Abri eu também um amplo e radiante sorriso, sentindo o doce sabor da realização de um ato de generosidade reconhecido e desfrutando sem hesitação nem escrúpulos do suave e terno sabor doce que aquele olhar profundo e sincero de agradecimento me propiciou. Entregar Julie incólume a sua família de origem não melhorava só o 2011 deles. Sinalizava-me também que Deus estava atento aos meus pedidos e esclarecia-me logo ao primeiro dia do ano que este 2011 seria muito melhor e mais feliz que o anterior.

Disse-lhe, timidamente como me sói:

- Que bom, agora vcs terão um 2011 ainda melhor!

Foi maravilhoso sentir o gosto de que eu começava meu 2011 realizando minha primeira mitzvá (boa ação) logo no primeiro dia do ano. Foi especial que ela envolvesse o cuidar de uma cachorrinha. E melhor ainda foi perceber, como que lendo as entrelinhas do alinhavo de Deus para este meu ano que este não fora um fato aleatório, mas com um propósito.

De me dar esperança. E alento.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tocando em Frente

Composição : Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Sinto que seguir a vida
Seja simplesmente
Conhecer a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua historia
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua historia
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz


http://www.youtube.com/watch?v=lgY8ykUBY5k


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Duma alucinação coletiva

Aos que estão à procura de curiosidades psiquiátricas, já adianto: o relato a seguir não se refere a uma experiência verdadeira, e raríssima, de uma alucinação compartilhada. E tampouco é um relato ficcional. Trata-se de uma ilusão coletiva de que estávamos a compartilhar uma alucinação. O motivo do engano seguirá explicado abaixo.

O estado de Minas Gerais, no sudeste do Brasil, possui uma certa aura de história, de assombro, de mágica. A cidade que melhor exemplifica isso é a mística São Tomé das Letras, ponto de romaria de todo tipo de bicho-grilo, pessoal da Nova Era e metidos a alternativos em geral. Reza a lenda que de São Tomé segue um túnel que a liga a Machu Picchu, no Peru. Não que alguém já tenha percorrido tal caminho e retornado para contar a história...

Já tive a alegria de viajar algumas vezes a Minas, e conheci as seguintes cidades: São Lourenço, Cambuquira, Lambari, Poços de Caldas, Mariana, Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas do Campo, Bueno Brandão e Extrema.

Extrema, apesar de ser uma cidade muito pequena (quando a visitei, aos 16 anos, tinha 20 mil habitantes) carrega uma certa aura mística semelhante à de São Tomé das Letras. Não há como explicá-lo, mas a cidade tem uma certa vibe, um ar mais leve, um céu mais azul, uma atmosfera de despojada sacralidade, se é que isso é possível. Similar à de Brasília. Também já ouvi dizer que Extrema tem uma base geológica estabilíssima. E, se em 2012 as placas tectônicas começarem a enlouquecer, Extrema é o único destino de fuga no qual conseguiria imediatamente pensar.

Fui convidada para ir a Extrema por minha amiga T, que tinha uma amiga lá, para uma aventura num feriado. Fomos. Ao chegar, fomos recebidas numa república, e lá conheci C, vulga “Preta”. Sim, ela era afrodescendente. Já entrada nos seus 20 anos, Preta era super cool e descolada. Vestia-se, portava-se, e vivia de forma alternativa, não era careta “Como nossos pais”. Era enfermeira, sustentava-se e morava sozinha. Não propriamente “sozinha”, pois Preta tinha uma filha, S, com pouco mais de 1 ano de idade.

O detalhe curioso é que a filha de Preta era loira. De olhos verdes. Explicou-nos que o pai de sua filha era “alemão” (o que no Brasil implica, genericamente, que ele era loiro), e assim saíra a filha, ao pai. Impossível não ter o pensamento malicioso de que fossem trocados os gêneros dos pais de S, fosse sua mãe loira e seu pai negro, rapidamente todos duvidariam se ele era mesmo o pai. Mas como sobre quem é a mãe não jazem dúvidas, e fora testemunhado por muitas pessoas que cachinhos dourados nascera de mãe negra, ninguém duvidava que S. era filha de C. Negras terem filhos loiros, caucasianos, é um dos fatos curiosos da vida que dão um colorido todo especial à nacionalidade brasileira. Prova empírica de que el alma no tiene color.

Certa noite deste feriado aprontamo-nos para comparecer à festa da Casa Redonda, num local algo afastado da cidade. Fomos as três, eu, T e Preta à casa do namorado desta última, D, para fazer o que no Brasil é conhecido por “esquenta”: encher a cara antes de ir para a festa, ou “balada”. Na casa de D bebemos bastante, jogamos videogame, contamos histórias e, enquanto nos preparávamos para sair, ligamos o rádio. Procurando uma sintonia, em meio a axés, sertanejos e pagodes, encontramos no dial um suspiro de alívio num acorde conhecido: sintonizamos a melodia de “Losing my religion”, o maior sucesso da banda americana R.E.M. Música deliciosa, clipe lindo. Maravilha. A certa altura um de nós disse:

- Mas essa música não está tocando há muito tempo?

Prestamos atenção, esperando o final da música. Terminou. Um segundo, dois segundos. Novas notas começaram a tocar. Notas inconfundíveis, conhecidas, de “Losing my religion”, do R.E.M. Não podia ser. Inquirimos ao D.:

- Fala sério, vc tem esse CD e colocou a música no repeat!

Negou, renegou. Ele não tinha “Out of time” (estávamos em 1999, quando para se tocar uma música de sua escolha em casa era necessário comprar seu CD, original). Não era o leitor de CD que estava acionado, mas a rádio FM. OK. Esperamos a música terminar para ver qual viria em seguida. Depois dos 2 segundos de suspense, novas notas começaram a tocar. Notas inconfundíveis, conhecidas, de “Losing my religion”, do R.E.M. Não podia ser.

Verificamos o aparelho de som de D, ainda pensando que ele estava a nos pregar uma peça no estilo candid camera. Ejetamos o CD do leitor. Não era do R.E.M. Desligamos o aparelho. A música cessou. O religamos. A mesma música tocou. Mexemos no dial. As demais estações estavam normais, tocando outras músicas, variadas. Retornamos à sintonia anterior. O que estava a tocar? O riff inconfundível de “Losing my religion”, do R.E.M. Não podia ser.

Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Estivesse um de nós tendo uma alucinação, os demais estranhariam, falariam que a impressão não era verdadeira. Mas não. Estávamos, todos, compartilhando a mesma experiência estranhíssima de uma música repetir-se sucessivamente na rádio, sem explicação. Pensei “Vamos sair logo, pois o clima aqui neste quarto está nos fazendo ‘ouvir coisas’.”

Saímos e nos dirigimos, à pé, para a balada. Comentando pelo caminho a maluquice do inexplicável evento radiofônico, nos aproximamos de um boteco de rua que estava aberto. Ainda a muitos metros de distância percebemos que dele ressoava uma certa música, num acorde conhecido: “Losing my religion”, do R.E.M. Não podia ser.

Caímos coletivamente no riso mais uma vez, ainda desacreditando do que estava acontecendo. Passamos pelo bar e prosseguimos nosso caminho. Dobrando uma esquina, caminhamos pela calçada de uma casa com a luz acesa e rádio ligado. Pela janela aberta revoavam notas musicais num acorde conhecido e luminosidade que principia amarela, e esverdeia-se prum tom vivo, claro e metálico de cigarra: “Losing my religion”, do R.E.M. Não podia ser. Caímos coletivamente no riso mais uma vez, de novo desacreditando de nossos próprios ouvidos, mas já algo convencidos de que algo estranhíssimo, sobrenatural, estava acontecendo. Que estávamos a testemunhar algum tipo de “mensagem subliminar tsunâmica divina”. Ou que estávamos a alucinar coletivamente.

No caminho, enquanto vencíamos a um milharal ainda ouvindo de longe tocar em volume baixo o riff inconfundível de “Losing my religion”, foi impossível não questionar-me se eu estava em algum episódio de “The X-Files”, “Twilight Zone”, ou mesmo no filme “Feitiço da Lua”, e se o meu presente percebido estaria girando em falso, reiniciando-se sucessivamente. Estaria o Long Play de minha realidade riscado? Estávamos prestes a ser abduzidos no milharal? Éramos vítimas de algum tipo de experiência militar esdrúxula? A imagem do ET mineiro de Varginha espocou em minha mente enquanto me lembrava que o governo brasileiro foi o único, até agora, a reconhecer que sua força aérea testemunhara experiências com OVNI’s: Objetos voadores não identificados.

Por outros lugares passamos a seguir, e vários tocavam intrigantemente a mesma música. Ganha um sorvete quem adivinhar qual. :P Chegando à Casa Redonda, felizmente, lá não tocava R.E.M., pois a casa tinha DJ e não dependia da programação do rádio.

Na tarde posterior acordamos comentando o acontecimento, nos questionando se de fato ocorrera ou se havíamos tido uma inexplicável alucinação coletiva. Como a cidade era pequena, a dúvida não prosseguiu por muito tempo.

Saímos para arranjar algo para comer e na padaria ouvimos ao comentário geral:

- Vc ouviu à radio ontem? Parece que o radialista adormeceu sobre sua mesa de trabalho e acidentalmente acionou a repetição de uma música, que ficou tocando a noite inteira, até que chegou o radialista do plantão da manhã e trocou o “disco riscado”. Ficou tocando “Losing my religion”, do R.E.M., até hj cedo!

Gargalhamos coletivamente à larga do curioso incidente radiofônico que para nós, por estarmos “alterados”, achamos ser algo sobrenatural, ou até digno de preocupação e atenção psiquiátrica. Pequenos incidentes randonicamente mágicos como este adicionaram um charme extra a Extrema, às minhas experiências adolescentes e à minha sensibilidade musical.

P.S.: À época eu desconhecia o significado da expressão sulista, creolle, cajun. Muitos anos depois ouvi Michael Stipe relatar que “to lose thy religion” é algo análogo ao que no Brasil é referido por “perder a linha”, “ver tudo vermelho”, “armar um barraco”, “fazer uma cena”, “perder a compostura”, “se espalhar”, “descer do salto” ou das tamancas.

sábado, 16 de abril de 2011

De Alanis Morissette e os meus 1990

Pergunta retórica:

“Como vc se dá conta de que testemunhou uma celeríssima mudança sócio-cultural?”

- Quando vc, ainda nos seus 20 anos, percebe que as músicas que vc cantou na sua adolescência já são senis, datadas, impossibilitadas pela atual conjuntura.

Percebi isso reouvindo 2 músicas de Alanis Morissette, ambas compostas há menos de 15 anos e, já agora, sem sentido pelas circunstâncias materiais.

O disco adulto de estréia da canadense Alanis Morissette foi lançado em 1996 sob o nome “Jagged Little Pill”. Apenas soube dele 1 ano depois, quando contava eu 14 anos e estudava na E. E. “Professora Irene de Lima Paiva” ao lado dos meus ainda amigos Maristela Matsuda, Romeu Marinho Cardona Ubeda, Gisele Ferreira Bailer, Thaís Nogueira Dias e Camila Nalesso de Andrade. Juntos cursamos as sétima e oitava séries, passando conjuntamente por inúmeras experiências definidoras de nossa personalidade e que ainda nos fazem sentir carinho uns pelos outros, apesar da distância no tempo e no espaço em que jazem estas lembranças.

Outros amigos desta época dos quais me lembro com apreço são as gêmeas Cristina Harumi, que namorava ao mulato de olhos verdes Martinho, e Cristiane Hatsumi, bem como do Sérgio “Chaminé", da Aline "Tuca", do Élcio desenhista, da Rosana, do lindíssimo Fábio (Binho), do Victor VTR, do Daniel/Abel e do Wagner. Curioso que dos 15 amigos supracitados, 6 são nipo-brasileiros. Nunca havia parado para pensar nisso, mas creio que 30% de nossa sala de aula era nipônica. E todos eram “puro-sangue”, nenhum mestiço. Rsrs...

Nas minhas fotos com meus amigos é impossível não reparar o quanto a composição étnica de nosso grupo é representativa da variabilidade racial dos brasileiros. Quase como se nos tivéssemos imposto cotas. Ou quase como se aceitássemos amigos tal como viessem; pretos, brancos, japoneses, de olho azul, verde ou vermelho; heteros, homos; pobres ou ricos. Desta forma final foi. Temos 2 brasileiras típicas, latinas, misturas em variados graus neste grupo em mim e Gisele, além de um de magníficos olhos azuis no Romeu, uma oriental na Maty e mais tarde um negro no Chicote.

Grupo de melhores amigos que poderia servir de exemplo arquetípico num anúncio sobre a irmandade e harmonização universal das raças e opções sexuais, dados que 2 de nós revelaram-se posteriormente homossexuais, contando com total acolhimento do grupo. Por essas e por outras continuamos mais do que amigos, mas irmãos ligados pelos laços eletivos duma amizade bem-cimentada, antiga e profunda. Entregaria sem temores a chave de minha casa e minha senha no banco para qquer um deles, sem temores. O mesmo não posso dizer sobre grande parte dos que são ligados a mim pelo sangue...

À essa época, entre nossos 13 e 14 anos, havia 2 “tribos” básicas em nossa escola: os pagodeiros e os rockeiros. Como nunca vi em mim talento para balançar ritmadamente os quadris nem sentia pulsar em minhas veias reminiscências afro-brasileiras, eu, e meus amigos (em grande parte sansei – ou seria nikkei?), éramos, portanto, dos “roqueiros”.

Conheci Alanis pela MTV, ou “/Ême-Tê-Vê/”, como diria Caetano Veloso, ao assistir ao seu belíssimo videoclipe para “You Oughta Know”. Rapidamente comprei seu CD, e o ouvia compulsivamente em meu leitor de CD ganho no bingo. Alanis era forte, resolvida, poderosa, no manche de sua vida. Cantava suas confissões sexuais, adolescentes, seu coração partido, suas indecisões, seus planos, suas reminiscências e traumas infantis. Sua voz era carregada por uma raiva que eu partilhava e uma resolução pela qual ansiava.

Grande parte do motivo de eu ter-me tornado fluente em inglês foi o desejo de cantar com perfeição suas letras, quase raps cantados raivosamente. Alanis era de uma beleza tangível, não-desafiadora, algo “comum”, ainda que perfeitamente plástica. Numa expressão americana, ela era “the girl next door”, com seus profusos, abundantes e longos cabelos castanhos. Impossível não remeter a Alanis a inspiração para a cachoeira loura de Julia Stiles no filme desta época que lançou a carreira do tristemente já falecido à la River Phoenix e James Dean, Heath Ledger. Toda a atitude confrontadora e auto-suficiente de Julia Stiles em “10 things I hate about you” é tributária do arquétipo da moça independente, bem-resolvida e reativa inspirado em Alanis, que estabeleu o arquétipo da rebeldia adolescente feminina no fim dos 1990. E portanto, minha meta pessoal. Aos 15 anos meu sonho eram compor músicas como Alanis. Em especial, sua belíssima “Unsent”. Ainda farei minha própria Unsent, ainda que em prosa, repassando e nomeando todos meus ex-namorados. Estou ainda angariando coragem... ; P

O sucesso de seu primeiro álbum, pela Maverick de Madonna foi assombroso. Digno de remontada nota também foi o intervalo e a alternância temática entre seu primeiro e segundo álbuns. E mui surpreendente, para todos, executivos e consumidores da indústria fonográfica, foi a coragem de Alanis em conscientemente abrir mão do sucesso retumbante previamente garantido para seu segundo álbum, fosse ele uma variação sobre o tema do primeiro.

Mas entre seu primeiro e segundo álbuns Alanis passou por uma experiência que transformou seu próprio caráter: foi à Índia numa jornada espiritual, tal como The Beatles, que então conheceram Ravi Shankar, aventurando-se por novas sonoridades e paradigmas mentais. Após a abertura de seus caminhos e perspectivas, Alanis não mais poderia cantar sua vingança contra ex-namorados e suas atuais companheiras; não mais poderia culpar seus pais por todas as suas frustrações; não mais poderia colocar-se orgulhosamente como vítima ferida inocentemente pelas circunstâncias. Seus temas, sua postura, sua sonoridade, até o timbre de sua voz, mudaram completamente. Atingiu, como se diria em inglês, “the point of no return”.

Comprei o álbum antes de ver seu primeiro clipe na MTV. Sobre o Compact Disc, jazia uma foto de Alanis, nua, em posição fetal. Não vaidosamente à la Preta Gil. Mas candidamente à la Eva antes da fruta. Em seu segundo álbum Alanis desnudou-se para o mundo. E muitos de seus fãs não estavam preparados e rejeitaram seus segundo álbum, que revelou-se um relativo fracasso de vendas. A Iluminação não vende. O que vende são o sexo e a raiva, coisas baratas. Mais uma vez, ponto para Alanis por sua coragem. Por empreender e musicar sua valiosíssima jornada de engrandecimento espiritual.

Enquanto “Jagged Little Pill” soa como um rompante de uma adolescente revoltada, “Supposed Former Infatuation Junkie” soa como a lição de uma bodhisattva.

E é quase incompreensível a disparidade temática e sonora entre os dois discos. São discos de artistas diferentes, com certeza. O primeiro de uma moça auto-centrada, o segundo de uma mulher exo-centrada, ou mesmo acêntrica, crescida, despida das ilusões das aparências e do cultivo da auto-satisfação, como é tão típico no Ocidente.

A primeira “música de trabalho” com clipe deste segundo álbum, creio, foi “Thank U”, em cujo clipe Alanis canta, completamente despida, em Nova York; com apenas suas madeixas para cobrir-lhe os seios. Impressionante como a cena de “Vanilla Sky” em que Tom Cruise corre por uma Manhattan vazia. Assistir a ambas estas cenas foi brainstorming, transformador. Assim como ver Alanis interpretando ninguém menos que “Deus” no filme “Dogma” com Matt Damon e Ben Affleck. E ouvir sua inédita “Uninvited” nos letreiros finais de “City of Angels” com Nicholas Cage e Meg Ryan.

Após este seu segundo álbum, com estatura suficiente para reescrever o rock ocidental havia pouco mais que Alanis poderia fazer além de honrar seu egado inegável. Seu terceiro álbum “Unplugged MTV” trouxe uma combinação dos dois discos nateriores num novo arranjo. Antologia acrescida pelas inéditas “No Pressure over Capuccino” e “King of Pain”, cover do The Police de Sting.

Seus posteriores “Under Rug Swept” e “Flavors of Entanglement” trouxeram músicas quase dignas de Alanis, mas que nem de longe são uma evolução de “Supposed Former Infatuation Junkie”; e até creio que evoluir além disto seria pedir muito a quem quer que seja, e precise pelos próprios meios prover sua reiteração material ampliada, como diria o Professor Doutor István Jancsó, para minha tristeza já falecido.

Alanis compôs a trilha sonora de minha adolescência. E deu a deixa, com seu segundo álbum, para que toda uma geração ampliasse seus horizontes e possibilidades espirituais. Antes que Madonna pintasse seu cabelo de preto, se enveredasse pela pseudo-cabala e gravasse “Frozen”, Alanis já divulgara em CD sua experiência na Índia e a negação de seu ego.

Ao longo de todo o sobrecitado post, creio que estejam os leitores a se perguntar como músicas tão universais e atemporais como as de Alanis podem soar algo datadas. O demonstro.

Em Unsent, canta:

I’ll always have your back and be curious about you. About your career, your whereabouts...”

Em Hands Clean canta:

Fast forward to a few years later and no one knows except the both of us.”

Versos impossíveis atualmente, pós 2004, na era das redes sociais, que já não há segredos sobre relacionamentos íntimo-pessoais; e já não perdemos contato com nossos ex.

Grande parte de minhas emoções foram e continuam a ser musicadas pela trilha sonora dos álbuns de Alanis Morissette. Vejo com tristeza que as atuais gerações não a conheçam. Cantar a plenos pulmões e chorar com as músicas de Alanis contribuiu enormemente para definir meu caráter e meus paradigmas emotivos.

Thank U, Alanis for everything.

Minhas preferidas:

You Oughta Know

You learn

Forgiven

Head over Feet

Ironic

Thank U

Sympathetic Character

That I would be good

Can’t Not

Ur

I was hoping

Unsent

Joining you

Heart of the house

Uninvited

No Pressure over Cappucino

King of Pain

Hands clean

Flinch

Precious Illusions

sábado, 2 de abril de 2011

De como processo meus pensamentos

Pensamentos e sentimentos nem sempre são expressos por palavras. E muitas vezes é difícil traduzir ao vernáculo coisas que se intui, infere, teme, sente ou pressente. Não sei se todos, mas ao menos as mulheres, naturalmente multi-tasking podem não apenas fazer como pensar em várias coisas ao mesmo tempo, em plurais códigos ou linguagens.

Nesse exato instante, enquanto escrevo este texto, realizo múltiplas outras atividades: assisto TV, navego na Internet, fumo meu cigarro e bebo meu refrigerante, enquanto tento conciliar o movimento do meu diafragma, das minhas mãos e a postura de minha coluna. Estes são apenas meus processos conscientes, como os que apareceriam listados se eu desse apenas um (1) Control+Alt+Del no meu sistema. Porém, além desses, passam-se simultaneamente inúmeros outros algoritmos, sobre os quais, talvez, eu não tenha nenhum controle ou mesmo consciência. A psique humana é partida em diferentes níveis, e muitas vezes nossas ações são condicionadas por pensamentos que nem sabemos que pensamos. Mas que estão, ágrafos, nas profundezas, condicionando e determinando nossas ações.

A grande questão dos pedagogos é compreender como a apreensão dos conceitos é processada pelo cérebro infantil. O pedagogo mais incensado na pedagogia brasileira na verdade era um biólogo, Jean Piaget. Que aplicou extensivamente seu método em seu filho, cujo final da vida, aliás, foi o suicídio. Grande sucesso! :P

Bom, a respeito disso seguem-se três curiosidades particulares sobre como fui desperta para estas questões “abstratas” do como se dá o processamento cerebral, diferentemente em cada ser humano..

1 – Certa vez, contava eu 9 ou 10 anos. Estava eu no quarto detrás da pensão da Dona Rosa, à rua João Migliari número 13, Tatuapé, quando Regina, em meio a uma conversa, das poucas boas que empreendemos, perguntou-me:

- Quais são os seus planos para o futuro?

Emborquei meu crânio à esquerda 37 graus, como faria um ciborgue de Blade Runner diante de um paradoxo não previsto por seu logaritmo e repliquei reticentemente:

- Como assim: “futuro”?...

Até conhecia a palavra, abstratamente. Não sabia que o “futuro” poderia ser algo palpável, manipulável, planejável. Respondeu-me:

- Ah, aquilo que está por vir. Vc não pensa a respeito de como vc quer estar daqui a 10, 20 anos? As coisas que vc quer fazer, estudar, sua profissão, essas coisas...?

Não lembro-me o quê respondi-lhe, provavelmente que queria ser astronauta ou veterinária, como fazem todas as crianças. Mas lembro-me até hoje como para mim até este momento a realidade era um “eterno presente” ao qual eu simplesmente assistia o desdobramento. A partir de então, ganhei uma nova perspectiva: eu não estava determinada a ser apenas uma espectadora passiva do transcorrer de minha vida, mas eu poderia ter, conscientemente, positivamente, pró-ativamente, por vontade ponderada, alguma influência determinante nos acontecimentos do porvir. Descobri que eu poderia “arquitetar” algum tipo de futuro. Que eu poderia, tal qual um analista de sistemas, reeditar o logaritmo que rege o programa do rumo de minha vida. E que, a depender do que eu fizesse, ela poderia “nunca mais” ser a mesma. A partir de então passei a “pensar” bastante a respeito do meu “futuro”, coisa que não fazia até então.

2 – Doutra vez, contava eu entre 11 e 12 anos, pois tal episódio desenrolou-se na quadra de esportes do Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Vila Formosa, São Paulo, capital. O Colégio de freiras, anexo ao convento. Não o Externato, então anexo ao Seminário. Estava eu sentada na arquibancada da quadra quando um colega de sala, na tentativa de flertar comigo, disse em meio a uma conversa:

- Peraí que eu vou adivinhar no quê vc está pensando.

Eu não estava pensando em absolutamente nada, e como ele começou a fazer alguns gestos pretensamente mágicos, colocando 3 dedos na minha testa como se estivesse a sugar meus pensamentos, lembrei-me do famoso mágico Houdini, pois recentemente assistira, na TV a cabo, a um especial sobre ele. Cogitei que se meu pretendente de fato tivesse “poderes sobrenaturais” descrever-me-ia uma cena pictórica. Depois de algum jogo de cena, o garoto concluiu:

- Vc pensou: “Será que ele descobriu que eu gosto dele?”

Encerrou a frase com uma piscadela. Ri e retruquei:

- Mas não é assim que se pensa!

- Claro que é assim. Quando pensamos ficam “dançando frases” na nossa cabeça. Eu capturei a sua.

Estranhei. Não era assim que eu pensava, em frases. Meu pensamento não se processava por palavras, mas por imagens e coordenadas. Ainda hoje, quando me lembro de algo, a primeira coisa que espoca é o cenário, e sua localização geográfica, para posteriormente ganharem ânimo as cenas pictóricas, para apenas numa fase final isso ser traduzido no código alfabético em vernáculo português brasileiro. Estranhei tal qual um replicante diante de um processo cujo noves fora não dá zero que a forma do pensamento do meu colega fosse diferente da minha, e perguntei-me se havia algo de errado comigo e meus pensamentos.

Nesse episódio dei-me conta de que os pensamentos humanos, para além do evocar coordenadas geográficas, sensações, cheiros, cenas e imagens instantâneas, poderiam ser traduzidos ao código explícito da linguagem. E, sob esta forma, transcritos e/ou narráveis.

3 - Algumas pessoas, naturalmente, nascem com deficiências, ou incapacidades de processamento incontornáveis. Para exemplificar, segue a observação sobre nossa “bússola” natural. Tenho uma altamente desenvolvida “inteligência espacial”. Id est: não me perco. Tenho um senso de direção muito bom. Para que deem algum crédito ao que narro, segue um relato que surpreende até a mim.

Uma de minhas lembranças mais antigas é da impressionante altura dos muros da chácara Elizabeth, a 50 metros de onde estou sentada agora. Contava eu 3 anos de idade. Lembro-me de estar deitada no banco detrás de um Fusca bege, vinda de São Paulo. Pus-me de pé no banco para olhar pela janela e vi, através do vidro, o pé de unha de gato a recobrir o muro impressionante, altíssimo. Regina estacionou seu Fusca na sarjeta da casa onde estou agora, cuja frente era então muito diferente, ajardinada.

Era sábado ou domingo. A casa estava fechada. Não havia ninguém. Regina viera de São Paulo, trazendo-me na garupa, para a casa de seus pais, onde residiam suas duas filhas mais velhas, de sopetão, sem avisar. E não era feliz o motivo da “surpresa”.

Vendo-se diante da casa trancada, algo desesperou-se e perguntou-se o que faria. Onde passaria a noite? Teriam eles deixado a chave da casa com alguém? Com certeza, dado que meu avô era um homem muitíssimo precavido. Com quem? Talvez com seu companheiro de caserna, Coronel Orlando Tomasella. Talvez com seu pai, seu Luís. Ou seu irmão, Hélio Israel, que creio que a esta altura já namorasse sua “irmã” de criação Maria José. Porém, Regina não sabia chegar à casa do “Lando” ou de seu Luís. Não sei de que forma, expliquei-lhe que eu sabia onde era a casa de seu Luís. E guiei-a, não sei se a pé ou de carro, até lá, onde com sucesso obtivemos as chaves da casa de meu avô. Aos meus 3 anos de idade minha bússola já era melhor que a de Regina.

Ela não foi a única pessoa que conheci possuidora de uma “bússola quebrada”. Minha amiga filósofa Rafaela Barros Bordignon igualmente, observei, apesar de ser uma pessoa inteligentíssima em outros quesitos, é capaz de perder-se até num tabuleiro de xadrez. O uso desta imagem não é arbitrário.

Famoso é o ensaio de Sérgio Buarque de Holanda “O semeador e o ladrilhador”, no qual tangencia as diferenças entre a colonização castelhana e a portuguesa na América a respeito do planejamento urbanístico, ou sua ausência. Explicita o caráter precário, provisório, acochambrado, gambiarrado, temporário, visando apenas um eterno presente, que os portugueses deram às feições de suas vilas coloniais americanas. Não realizavam nenhum tipo de planejamento urbanístico, e suas cidades apresentavam uma disposição orgânica, sinuosa, arredia, enigmática e sibilante.

Na América espanhola o paradigma foi outro. As vilas foram ladrilhadas, planejadas, urbanizadas, desenhadas de forma racional e geométrica, descrevendo tabuleiros de xadrez, se a cidade fosse vista de cima.

Raras são as cidades brasileiras planejadas. Rio Claro é uma delas. É difícil confessar, mas sinto-me muito bem, e profundamente confortável em Rio Claro não apenas por ela guardar boas reminiscências familiares, mas para além e independentemente disso, por ela ser um cidade algo mais racional e compreensível que a tresloucada megalópole que é São Paulo, capital de meu estado pátrio, ou mátrio.

O mapa de Rio Claro descreve um tabuleiro de xadrez, com coordenadas facilmente apreensíveis. Suas ruas não têm nomes, mas números, que seguem uma lógica estudada. No eixo norte-sul correm avenidas, independentemente de seu calado ou tráfego. No eixo leste-oeste correm ruas, independentemente de seu calado ou tráfego. A partir da estação ferroviária, traçam-se, paralelas e retilíneas, a cada 100 metros, as ruas 1, 2, 3, 4, sucessivamente. À direita da estação ferroviária numeram-se as avenidas pares: 2, 4, 6, sucessivamente. À esquerda da estação ferroviária, numeram-se as avenidas ímpares: 1, 3, 5, 7, sucessivamente.

Da posse das simples instruções acima alguém possuidor de bom senso geográfico consegue rapidamente localizar qualquer endereço que lhe for dado na área urbanizada (existente até a década de 1980) em Rio Claro, e com facilidade chegará a qquer endereço explicado como: “Moro na rua 5, entre as avenidas 11 e 13”. Coordenadas exatas, que prescindem de qquer outra indicação.

Quando eu mesma preciso meu endereço, digo: “Moro na rua 11 BNH, entre a av. 40 e 42. A rua 11 BNH fica entre as ruas 11 e 12, perto da rotatória da (rua) 14 com a (avenida) 40. E alguém habituado com Rio Claro imediatamente saberá onde eu moro.

Não quem nasceu com a “bússola quebrada” e é capaz até de perder o próprio carro no estacionamento do supermercado...

Não pensem que sou altamente funcional em variados quesitos. Uma incapacidade ou deficiência expressa que carrego como handicap é minha dificuldade no processamento de contas e equações matemáticas. Sou uma analfabeta matemática e qualquer cálculo além das simples 4 operações básicas que dominei já aos 7 anos é-me sobrehumanamente difícil.

Peçam-me para decifrar hieróglifos sem a pedra de Roseta ou analisar a um filme de David Lynch sem tomar LSD e eu farei boa figura. Produzirei, no mínimo, um embromation razoável.

Peçam-me para calcular um Delta ou um simples X e exibirei, vexatoriamente, minha total burrice em processar dados exatos, precisos, matemáticos. Não consigo compreender até hoje de que forma letras e números, algarismos indo-arábicos, podem se misturar...

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